Snowy Days escrita por akumuffin


Capítulo 14
Inútil


Notas iniciais do capítulo

Esse capítulo estava pela metade faz alguns meses, mas eram só umas 500 palavras mesmo. O resto é de agora. Sangue e suor.
Vou explicar tudo nas notas finais~ Boa leitura.



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P.O.V – Nico

Por acaso, em algum momento da sua vida, você já se sentiu como se fosse a pior pessoa do planeta? Como se a única pessoa que realmente importava em meio a aqueles outros sete bilhões tivesse simplesmente ido embora? E o pior de tudo, sabendo que tudo isso foi culpa sua?

Porque era exatamente daquele jeito que eu me sentia agora.

Eu sentia o sangue brotar na superfície da minha pele, minhas unhas sujas fazendo pequenos ferimentos na palma da minha própria mão, que estava fechada em punho. Qualquer outra pessoa sairia correndo para a enfermaria colocar alguns curativos rosa da Hello Kitty, mas eu sequer me importava com o meu bem-estar para fazer isso. Meu coração estava quebrado, e a pior parte disso tudo é que eu mesmo poderia ter impedido isso.

O que eu tinha na cabeça quando fui falar aquelas coisas imbecis? Eu tinha vontade de abraçar aquele rapaz com toda minha força e enchê-lo de beijos na frente de todos, de poder sentir o seu gosto mais uma vez ou talvez só convidá-lo para jogar videogames de novo, mas tudo o que eu recebera fora aquele buraco dentro de mim. Se alguém tivesse me atingido com uma bala, provavelmente doeria menos.

Agora eu já estava dentro da minha sala, observando constantemente o sangue que se espalhava na minha mão esquerda, desejando que aquilo tudo coagulasse de uma vez. Mas como a sorte nunca esteve ao meu lado, aquilo obviamente não aconteceu.

Conforme o tempo passava meus colegas da aula de biologia entravam, ocupando mesas aleatórias que geralmente ficavam perto de seus amigos e conversando em um volume um tanto alto demais, como todo dia. Não demorou muito até que a professora entrasse na sala, pedindo silêncio. Depois que todos se calaram, a aula sobre o superinteressante sistema respiratório teve início.

Na verdade, eu queria que meu sistema respiratório parasse de funcionar.

Mas eu não podia, infelizmente. Se eu segurasse minha respiração ali, aguentaria no máximo 30 segundos resistindo ao impulso de inspirar oxigênio mais uma vez. Não há nada que eu possa fazer, pelo menos agora.

Passei o resto da aula vadiando e desenhando coisas aleatórias em meu pequeno bloquinho: Eu e Percy felizes, um gato que eu vi na rua esses dias, um olho feito em um estilo realista que terminou em desastre. Como eu não podia dar o fora dali, resolvi criar meu próprio mundinho. Um mundinho onde eu não preciso aprender absolutamente nada sobre pulmões ou coisas do gênero. Um mundinho que foi levado à ruína quando a professora parou ao lado da minha classe, viu o ferimento na minha mão e me mandou para a enfermaria.

[...]

Conforme o tempo passava, meu tédio apenas aumentava; Eu tentei criar diversos passatempos, como olhar os flocos de neve da janela, brincar de fingerskating e jogar snake no celular até a bateria acabar. A enfermaria realmente era um lugar terrível. Havia azulejos brancos em todos os lugares, e os armários cheios de remédios me davam arrepios. Eu preferia voltar para casa e me trancar no quarto do que continuar ali.

Mas quando eu já estava considerando pular pela janela pra fugir, a porta se abriu. Uma mulher consideravelmente nova que usava roupas completamente brancas passou por ali, fechando a entrada logo em seguida. Ela caminhou despreocupadamente até onde eu estava, observando-me com cuidado durante todo o caminho. Depois que se aproximara o suficiente, ela colocou uma mecha castanha de seu cabelo atrás da orelha.

— Você é o Nico, certo? — A enfermeira sentou-se em um banco perto da maca, observando-me com atenção enquanto eu acenava com a cabeça. — Ok. Posso ver seu machucado?

Estendi minha mão com um pouco de receio, estranhando um pouco o fato dela não ter perguntado nada a respeito dos hematomas no meu rosto. Eu sabia que ela tinha percebido — afinal de contas, quem não tinha? — mas parecia que ela fingia não notar. Eu estava realmente confuso, mas deduzi que era simplesmente o jeito que eles cuidavam dos ferimentos de alunos: um machucado de cada vez.

Ela analisou minha mão por um tempo, depois aplicou um pouco de água oxigenada e enfaixou o local cuidadosamente. Eu gemi um pouco durante o processo, porém tudo terminou bem. A faixa estava realmente apertada, mas não era nada que eu não pudesse suportar.

— Pode me dizer como que você se machucou, Nico? — A enfermeira me perguntou, de uma maneira assustadoramente casual. Ela parecia preocupada, mas não do jeito que uma enfermeira do primário pareceria; era complicado explicar. Talvez fosse alguma coisa que as pessoas que vão tratar adolescentes estudam na faculdade.

Demorei um pouco para responder a pergunta, uma vez que eu estava perdido nos meus pensamentos. Só acordei do meu devaneio quando ela me perguntou se estava tudo bem.

— Uhh... — Olhei para o chão, coçando a nuca com a minha mão boa. — Digamos que minhas unhas sejam muito afiadas e que eu tenha ficado muito irritado. É, foi basicamente isso.

Ela pareceu atender o recado. Eu agradeci silenciosamente por não precisar dar mais detalhes, já que aquilo acarretaria uma longa história que de certa forma era muito pessoal. Três vivas para as enfermeiras legais.

Ouvi batidas na porta. A enfermeira pediu para que eu esperasse um minutinho e foi atender quem quer que fosse o infeliz que iria me fazer companhia.

A instrutora disse algumas coisas, mas não prestei atenção. Fiquei observando a janela, como se aquele pedaço de vidro fosse a coisa mais interessante do mundo. Que clichê.

Só fui ver quem que me faria companhia quando este sentou ao meu lado. Era um cara que provavelmente estaria no segundo ou terceiro ano do ensino médio, que tinha músculos definidos, cabelos loiros, e uma série de ferimentos. O mais feio era o de baixo do seu nariz, que por sorte não havia sido quebrado.

— C-cara do moletom do Pikachu? — Só fui perceber o quão bobo aquilo soava quando as palavras já tinham saído da minha boca. — O que você está fazendo aqui?

— Eu tenho um nome, sabia? — Ele fez um beicinho tão falso que chegava a ser engraçado. Não tinha como ele realmente esperar que eu lembrasse seu nome. Eu estou na metade do ano e não faço ideia do nome da metade dos meus professores.

— Sou horrível com essas coisas. Só sei que é alguma coisa com J, tipo sei lá, Juan. — Bufei. —O que aconteceu com você? Conseguiu ficar pior que eu.

—Briga de rua. Tentaram me assaltar quando eu estava indo pra escola hoje, mas bateram em mim porque eu não tinha dinheiro nenhum. Dei uma surra neles, mas também não levei a melhor. — Pude ouvir o ar sair de suas narinas com um tanto de cansaço. — Achei que essas coisas só acontecessem de noite.

Eu assenti, apesar de ainda estar um tanto chocado. Aqueles machucados eram pra valer mesmo.

Ele poderia ter morrido.

E eu não sei por que me importava com isso.

Tentei falar alguma coisa para apoiá-lo, mas ele parecia confiante como se aquilo fosse uma coisa do dia-a-dia dele. De certa forma, isso era meio inspirador.

Olhei para o lado. A enfermeira continuava conversando com a orientadora. Ela não estava prestando atenção em nós.

— Mas... está tudo bem agora? — Perguntei, quebrando aquele silêncio constrangedor. Encostei minha mão levemente no seu ombro, um tanto receoso em machucá-lo.

Ele confirmou com a cabeça.

— Acho que você precisa se preocupar mais consigo mesmo do que comigo, cara. O que aconteceu?

— Longa história.

[...]

Agora nós dois andávamos um ao lado do outro, no caminho de casa. Jason tinha alguns curativos na cabeça, mas como estes acabaram chegando ao fim, a enfermeira colocou alguns de Pokémon aqui e ali. Na enfermaria, tomamos umas xícaras de chá e conversamos um pouco. Depois disso a enfermeira nos liberou, já que não tinha como assistirmos aulas do jeito que estávamos.

Continuamos em silêncio por um tempo. Eu sabia que ele deveria estar realmente curioso para saber o que aconteceu comigo, mas ele não se arriscava a perguntar qualquer coisa. Eu já estava começando a ficar tenso. O silêncio sempre fora um grande amigo meu, mas aquilo já estava começando a ficar desconfortável.

— Quer comer alguma coisa? — Eu perguntei, sem pensar. Geralmente serviam almoço para nós na escola, mas acabamos saindo de lá cedo demais para aproveitar isso.

— Por mim tudo bem. — Eu pude ver que ele estava um tanto confuso por causa do convite inesperado, mas simplesmente ignorei.

Fomos à uma rede de fastfood ali por perto, e foi uma questão de tempo até que nós dois estivéssemos sentados em uma das mesas apertadas do lugar, ambos comendo suas respectivas comidas. Ele devorava um Big Mac enquanto eu brincava com as fritas do meu McLanche Feliz.

— Seu nome é Jason, não é? — Falei com uma batata na boca, como se ela fosse um cigarro. Lembrei-me do nome dele depois de observá-lo comer por um tempo.

— É. — Ele limpou o rosto com o braço, e depois deu um gole no refrigerante. Eu não fazia ideia de como que uma pessoa conseguia fazer tanta bagunça para comer um hambúrguer. — Que bom que lembrou. Você ia me magoar desse jeito, Nico. — Ele fez biquinho mais uma vez.

Não pude conter um riso. Eu podia conhecer Jason há pouco tempo, mas ele realmente parecia ser um cara legal, afinal de contas.

— Não acha que você é velho demais pra comer McLanche feliz? — Ele me perguntou, observando meu brinde dos Smurfs com certa curiosidade. — Tipo, vem muita pouca comida nesse negócio.

— Eu como pouco. — Respondi simplesmente, ainda entretido com as batatas. O pacotinho já tinha sido esvaziado. — Além disso, minha irmã costumava me trazer para comer com ela de vez em quando.

— Por que ela parou?

— Ela morreu. — Respondi rispidamente, bebendo um gole do meu refrigerante em seguida.

Depois de todos aqueles anos, a morte de Bianca ainda era algo tão estranho para mim. Eu nunca sabia como lidar com isso, então toda vez que mencionavam esse assunto eu reagia de uma forma diferente. Às vezes eu ficava extremamente nervoso, em outras eu me afastava, mas agora... Eu simplesmente disse aquilo como se fosse algo do cotidiano. Como se minha irmã fosse apenas mais uma das incontáveis pessoas mortas nesse mundo. Um fantasma como qualquer outro.

Jason parecia em choque. Eu conseguia ver que ele estava tentando formular alguma coisa para dizer, mas o esforço de seus lábios era inútil. A garganta dele só emitia um ruído semelhante ao da TV quando está sem sinal.

— Me desculpe. — Ouvi ele falar, quebrando aquele pequeno clima que se formara entre nós.

— Ela se foi faz tempo. Eu era uma criança, nem me lembro de muita coisa. — Dei de ombros. — Agora se me permite menino Pikachu, eu estou indo embora. Acho que já tá na minha hora.

Eu sequer tinha começado a comer meu hambúrguer, mas isso não foi um problema. Simplesmente peguei a caixinha vermelha do lanche e comecei a arrumar minhas coisas. Saí dali, despreocupado. Agora era só voltar com a minha rotin...

Bosta.

Senti uma mão no meu ombro.

Aquela mão no meu ombro.

As borboletas que há muito tempo tinham hibernado em meu estômago agora começaram a voar violentamente. Não sei se aquilo era ânsia de vômito ou simplesmente nervosismo, mas eu realmente não estava me sentindo bem.

Encarei Jason, que estava falando algumas coisas que o galã da novela diria. Eu não ouvia nada, mas já supus que era só merda mesmo.

Eu não ouvia nada.

Minha visão ficava cada vez mais nebulosa.

Eu estava completamente tonto.

Até que eu caí.


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Notas finais do capítulo

http://socialspirit.com.br/fanfics/historia/fanfiction-os-herois-do-olimpo-snowy-days-1398877/capitulo14 leiam as notas iniciais do capítulo do socialspirit porque o nyah tá de cu doce comigo.
comentem que eu respondo TODOS os que disserem alguma coisa desse capítulo