Snowy Days escrita por akumuffin


Capítulo 11
Problemas


Notas iniciais do capítulo

Desculpa por não responder todos os comments do último capítulo, é que eu ando meio ocupada com tudo aqui e daí às vezes fico meio sem tempo :'D Vou tentar responder tudo hoje, yay.

De qualquer forma, boa leitura~



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P.O.V. – Nico

Nós nos separamos, e aquilo resultou em uma risada nervosa de ambas as partes. Sabíamos que estávamos correndo um risco só com aqueles pequenos toques, mas eu não tinha ideia de como o fazer parar de se preocupar com uma coisa daquelas. E além disso, eu gosto de beijar ele.

Rapidamente desencostei nossas mãos e peguei dois controles, entregando um para ele e ficando com o outro para mim. A abertura do jogo apareceu na televisão, com carros à velocidade máxima, garotas em roupas curtas e tudo o mais. O irônico era que eu não tinha nenhum interesse por meninas. Na verdade, nunca tive. A primeira pessoa que eu gostei pra valer foi Percy, e ele estava no meu lado agora.

Enquanto aquele vídeo cheio de coisas sem noção era exibido na TV, eu calmamente fui andando até a porta, sem dizer uma palavra até chegar lá.

— Nico? O que você está fazendo?

Soltei um sorriso de canto, e calmamente tranquei a porta do meu quarto, rodando a tranca até que eu pudesse ouvir um clique.

— Acho melhor prevenir qualquer um de nos interromper. — Dito isso, eu me aproximei de novo e sentei na almofada do lado de Percy. — É só nós não fazermos barulho.

Nós ficamos jogando por um tempo considerável, com bastante empurrões, xingamentos e risos durante todo o tempo em que estávamos nos divertindo na pista de carros virtual. Bati muitas vezes (na maioria delas, de propósito) no veículo de Percy, e saindo muitas vezes da pista, mas no final quem ganhou foi ele. Ele esfregou na minha cara a sua vitória, e eu fingi estar irritado. Mas era impossível ficar irritado de verdade quando a única pessoa do mundo que você realmente gosta está sorrindo daquele jeito.

Depois disso, a mãe dele ligou e Percy acabou tendo que ir embora, por mais que não quisesse. Antes de sair do meu quarto ele roubou mais um beijo de mim, e só depois disso ele destrancou a porta e foi embora. Meu pai guiou ele até a saída e despediu-se, mas assim que Percy desapareceu entre os degraus da escada e a porta foi fechada de novo, sua expressão deixou de ser aquela amigável para dar espaço à severa, que eu só vi ele usar quando estava sozinho comigo. Dei um passo para trás por impulso, um pouco amedrontado.

— Nico. — Ele começou, cruzando os braços. Eu pude sentir a repulsa no jeito que ele pronunciara meu nome. — Pode me dizer o que você pensa que estava fazendo com aquele garoto no seu quarto?

Engoli em seco. Será que ele tinha visto alguma coisa?

— Jo-jogando videogame. — Respondi, sentindo as minhas mãos tremerem levemente. Dei mais um passo para trás, mas ele me acompanhou.

— Não foi isso que eu vi.

— O... o que você viu? — Tentei recuar mais, porém eu dei de cara com a parede.

— Você e aquela... aquela bichinha. — Os olhos escuros dele me fulminavam, dizendo cada palavra como se fosse o nome de uma doença. Foi nessa hora que eu tive a confirmação de que meu pesadelo era real, e de que eu nunca conseguiria um pingo de felicidade naquele mundo. Meu pai, a pessoa mais homofóbica daquele universo, tinha descoberto a respeito do meu caso com Percy, sendo que não fazia nem um dia que eu estava junto a ele. — Nico, você é uma desgraça pra sua família. Se Bianca ou Maria estivessem aqui...

Trinquei os dentes e dei um passo para o lado, começando a andar na direção do meu quarto. Tentei parecer indiferente quanto o assunto, mas minha raiva ficou bem aparente quando eu parei no meio do caminho e me virei para ele, fazendo uma careta.

— A única desgraça aqui é você.

[...]

Escola. Eu já não gostava daquele lugar, mas no momento eu tinha total repulsa dele. Recusei a ir às aulas, mas meu pai me obrigou a ir. O que era um tanto hipócrita da parte dele, considerando o que tinha feito comigo. Meus olhos estavam roxos e minha boca, parcialmente inchada. Também tinha um pouco de sangue seco no meu nariz, mas eu sequer tinha me dado ao trabalho de limpá-lo. E provavelmente existiam muitos outros ferimentos espalhados por aí, mas só estes apareciam por causa do casaco que tapava praticamente todo meu corpo.

Eu caminhava lentamente até a minha escola, sem me preocupar com a possibilidade de me atrasar. Não estava ansioso para saber como que meus colegas reagiriam, ou como que eu explicaria o que tinha acontecido sem mencionar qualquer coisa sobre minha sexualidade ou o fato de eu ter beijado um garoto. Provavelmente acabaria mentindo e falando alguma coisa sobre uma briga qualquer, e depois aquele bando de idiotas ia dar o fora. Mentiras. Minha vida estava repleta delas. Poucas vezes em minha vida eu falara a pura verdade. A única pessoa com quem eu sempre fui honesto era Bianca, e agora ela já não estava mais nesse mundo. Às vezes eu tinha vontade de entrar naquelas histórias sobre mitologia grega e resgatar a alma dela e a da minha mãe do submundo, mas eu sabia que era impossível. Deuses não existiam. Era só eu, e a calçada cheia de neve e o caminho que eu teria que trilhar até chegar no inferno em si, também conhecido como colégio. Não tinha nenhum ser divino me observando e pensando em me dar uma chance a mais. Aquele era o mundo real. E o mundo real sempre foi injusto daquele jeito, e nunca ia mudar.

Soltei um suspiro. O que Percy faria se me visse daquele jeito? Ele me abraçaria? Gritaria comigo? Xingaria meu pai? Realmente, eu não fazia a mínima ideia. Na verdade acho que seria melhor evitá-lo por hoje, pelo próprio bem dele. Não queria que ele me visse assim.

Molhei meus dedos com saliva e dei o melhor para limpar o sangue seco que antes saíra do meu nariz. Fiquei com o lugar molhado e tive a sensação de que ali era umas dez vezes mais frio do que qualquer outra parte do meu corpo, mas simplesmente ignorei. Não faltava muito até que eu chegasse à escola, afinal de contas.

Quando passei pelas portas de vidro do lugar, chequei o relógio do meu celular. Nove e vinte da manhã. Como as minhas aulas começavam às nove em ponto, eu teria que ficar esperando até que o primeiro período passasse para que eu pudesse assistir alguma coisa, então não tinha perigo de eu acabar encontrando Percy enquanto todos os alunos se dirigiam para as suas respectivas salas. Perfeito, não é? Quase.

Encontrei o dono dos olhos verdes que tanto me importunavam sentado em um dos bancos dali, encarando alguns trabalhos dos alunos da aula de artes que realmente não eram lá muito interessantes. Aparentemente, ele não me viu chegar.

Gelei no mesmo instante que o vi, e acabei entrando no banheiro antes que ele se desse conta da minha presença. Eu sabia que eu não conseguiria ficar o tempo inteiro trancado ali junto com os mictórios, os vasos sanitários e companhia, mas era melhor do que ter que encará-lo no mesmo instante que cheguei.

Fui correndo na direção das pias, e me encarei no espelho. Nem a pessoa mais otimista do mundo diria que eu estava bonito, a menos que tivesse um fetiche estranho por garotos que parecem terem sido empurrados de uma ladeira cheia de pedras. Joguei um pouco de água no meu rosto e cocei os olhos. Eu sabia que aquilo não ia dar certo de qualquer jeito, mas era bom não ficar parecendo tão horrível na frente da única pessoa que eu beijei durante toda a minha vida que não era da minha família.

Encarei meu reflexo no espelho, e fiz uma careta. Eu era um pedaço de merda ambulante.

Desistindo de tentar “despiorar” meu estado, acabei saindo do banheiro não tão relutantemente assim, já que o cheiro do lugar já tinha começado a me dar nos nervos. Dei uma olhada nos arredores, e acabei percebendo que o único banco que tinha no corredor era aquele em que Percy estava sentado ou seja: Eu não tinha escapatória. Ficar de pé durante meia hora sequer era uma opção, e sentar no chão também não. A sala da minha segunda aula ficava praticamente ali do lado, e digamos que eu também não seja muito de andar, por mais que fosse uma distância tão curta como essa. Vir a pé pra escola já era o suficiente.

Sentei-me na extremidade oposta do lugar em que Percy estava sentado no banco e virei o rosto, tudo em completo silêncio. Se eu tinha uma certeza naquilo tudo, é que aqueles minutos que se seguiriam seriam os mais longos da minha vida.


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Notas finais do capítulo

Hoho, o que vocês estão achando? 8D Só não me matem, plis hsagsahsaghasgas Nee, comentem! uwu