Como já dizia um velho ditado: quem está na chuva é para se molhar. Uma vez que eu tinha me tornado sonserino o mais sensato a se fazer era me tornar um sonserino.

–Ei novato, você ainda tem outro ritual sonserino. Esteja hoje a noite no campo de Quadribol. Estaremos te esperando- disse Draco, assim que me sentei.

–Tudo bem Isaac, você vai se sair bem!- disse Ella tentando me acalmar.

Pelo menos eu teria uma chance de provar a mim mesmo de que era um sonserino.

Depois de toda a comemoração, jantamos. Eu me acostumaria fácil com aquela vida. Comer, dormir e estudar. Era, praticamente o que eu fazia em casa, tirando as tarefas.

Assim que o jantar terminou, descemos para a sala comunal onde ficamos até que o monitor nos mandou subir para nossos quartos e dormir. Fiz o que foi mandado.

Me deitei na cama e esperei pela hora de descer para o campo. As onze e meia me levantei e fui até a janela. Estava estranhamente frio para uma noite de Setembro, um frio fora do normal. Então vesti um cardigan e calça jeans.

Desci as escadas o mais rápido e silencioso que conseguia. Por volta da meia-noite cheguei ao campo e qual foi minha surpresa ao saber que não estávamos sós. Vários alunos; dos quinto, sexto e sétimo anos; de todas as casas. Todos vestidos com suas roupas trouxas, nada de uniformes.

–Por onde você andou? Estamos te esperando há horas!! Ah, não interessa, vem logo!- fui puxado por um menino.

Assim que cheguei vi Ella encostada na parede do vestiário. Ela usava o cabelo ruivo em um coque frouxo, um top e calça jeans que pareciam ter sido mastigadas por um cachorro. Roupas bem diferentes do que ela costumava usar.

–Onde está todo mundo?

–No vestiário, logo eles sairão para te passar as instruções. Relaxa!

–Você está bem... Diferente- disse lançando um olhar sob as roupas que minha prima vestia.

–Ah... Isso!? Aqui em Hogwarts posso ser eu mesma. Londres é minha segunda casa, Isaac. Meu lugar é aqui! Draco e uns garotos apareceram na porta.

–Dominic, Ethan e Ryan, apresentem-se na linha de largada em quinze minutos- ele gritou porta adentro, e se virou para mim- Você também!

Olhei para Ella em busca de alguma explicação e ela apenas acenou para onde três garotos gigantes estavam. Me juntei a eles e esperei. Um deles tinha o corpo coberto por cicatrizes. Ele era bem forte, e julgando seu porte eu nem gostaria de imaginar como ele arrumara aquelas cicatrizes. Todos eles vestiam regatas, que deixavam os músculos expostos. Pelas costas das camisas eu pude ver um rabo de dragão e supus que vinham da mesma tatuagem que Ella tinha em suas costas. Logo, vi Draco e três de seus amigos se aproximando de correntes enormes. Quando eles chegaram mais perto, não acreditei no que via. Meus olhos só podiam estar me pregando uma peça. Não podia ser real!

–Bem novato... Sua tarefa será competir com três de meus melhores corredores. Se você conseguir chegar, você entra. Caso o contrário, apenas lamento.

Eu já havia participado de corridas. O treinador sempre nos mandava correr. Já havia visto corridas de carros e cavalos na televisão, mas dragões?!

–Caso você esteja muito apavorado, esse são bebês. Você precisa ver as mães...

Como se eu não estivesse nervoso o suficiente!

–Subam logo, meninas!- gritou um dos garotos. -Senhoritas, que tal se vocês deixassem o novato escolher o dragão dele!?- sugeriu Draco.

Haviam quatro dragões montados com celas e rédeas, eles rugiam e cuspiam vapor - uma vez que bebês ainda não tinham fogo. Lado a lado estavam um dragão verde que parecia estar adormecendo, um dragão que parecia fazer parte da decoração de alguma casa, um dragão que parecia ser dar choques devido a sua cor de cobre e ao final, um dragão que se agitava de um lado para o outro batendo a cauda cheia de cornos.

Escolhi o dragão acobreado, por ser menor. Eu me dirigi até meu bebê dragão, que não era tão bebê assim, e o olhei nos olhos. Pude ver no reflexo meus olhos tomando a cor de suas escamas. Pensei em lugares calmos,e assim que toquei a minha besta ele estava manso como um cãozinho.

"Ótimo!"

Todos me olhavam esperando a qualquer momento que meu bebezinho me arrancasse uma perna ou a cabeça. O maior e mais forte dos garotos tentava subir no dragão mais agitado. Acho que já sei como ele conseguiu todas as cicatrizes...

–Ah vamos la Tale, você já fez isso antes!- dizia o moreno tentando domar Tale. Os outros dois já haviam montado seus dragões, assim como eu.

–Todos para a largada!- gritou Ella. Conduzi meu pequeno tesouro de bronze até o local que Ella indicava.

–Dominic anda logo com isso!- esbravejou Draco.

Dominic então conseguiu domar Tale e se juntou a nós. Ella estendeu uma bandeira branca á nossa frente:

–3... 2... 1!

Puxei a rédea e decolei. Assim que tomamos altitude procurei a chegada, que estava localizada no Lago. Avistei a bandeira vermelha e puxei Cooper, apelido carinhoso que eu havia dado ao meu dragãozinho, em direção a ela. Senti um vapor quente acima de nós e quando me virei avistei Dominic e Tale. Eles logo se parearam ao nosso lado. Tentei puxar Cooper para cima mas cai da cela assim que Tale me acertou com sua cauda, o que fez ele perder a estabilidade e assim, o perdi de vista. Quando pensava que estava ganhando o dragão de carnaval nos alcançou, e com ele o dragão verde também. Ambos assoprando vapor em mim. Os dragões se separaram e me prensaram entre eles. Desviei meu caminho para a ponte tentando escapar, mas fomos ultrapassados. Enquanto voltava para a rota de voo Dominic e Tale nos encontraram. Tale estava ainda mais agitado e soltou um rugido que arrepiou meus pêlos. Cooper respondeu o rugido e deixou Tale ainda mais nervoso.

E então, o inimaginável aconteceu: Tale cuspiu em mim e labaredas avermelhadas se desprenderam de sua boca. Cobri o rosto com meu braço. O calor do fogo pareceu irritar Cooper, que, em um impulso, deixou Tale para trás. Logo voamos para perto do Lago e avistamos os outros dragões lutando pelo primeiro lugar. Puxei as rédeas de Cooper e desviamos pela torre de astronomia. Uma vez que despistamos todos os dragões, nos aproximamos da linha de chegada e pude avistar Ella e Draco com uns amigos.

Olhei ao redor a procura de mais algum dragão, sem sinal.

Então aterrissei Cooper.

–Onde está Dominic?- perguntou Pansy.

Agradeci, mentalmente, a Cooper pela corrida. Desci e tirei o casaco, vendo os estragos que a corrida havia feito a mim e a minhas roupas.

–Ei novato, quero ver você no vestiário!- disse Draco - Ella, assim que ver Dominic, Ethan e Ryan os mande para o vestiário.

Sai do campo para o vestiário. Assim que entramos Draco mandou que eu tirasse a camisa e me sentasse no banco de costas. Eu o fiz. Logo senti como se estivessem furando minha espinha.

–O que é isso?!

–Você se provou um de nós. O ritual está completo.

Me virei e vi todos, inclusive Dominic, Ryan e Ethan sem camisa e nas costas de cada um, gravado na pele, um dragão. Deixei todos ali em silêncio e voltei para meu dormitório. Assim que cheguei, arranquei a blusa e fui até o espelho. Eu estava todo curado dos cortes, mas a queimadura ainda estava la, assim como a tatuagem. Eu me encontrava coberto de fuligem e folhas, então resolvi tomar um banho. Assim que água quente foi de encontro ao meu corpo relaxei todos os meus músculos, mas quando a mesma encontrou a queimadura em meu braço e peito senti uma dor alucinante. Queimaduras de dragões eram realmente dolorosas. Depois do banho me enrolei na toalha, me deitei na cama e adormeci.

Aquela tinha sido uma noite e tanto!