Pov. Pedro:

Eu estava ali. Parado no lugar em que eu menos queria estar. Eu estava no enterro da Malu. A mãe dela tinha organizado algumas homenagens e eu, Arthur e Lara iríamos falar algumas palavras. Vitor e Pâmela também estavam presentes, eles estavam juntos, e depois de tudo, estavam dando muito apoio pra gente.

Arthur foi o primeiro a falar:

– Eu acho que hoje, nem eu nem ninguém queria estar aqui, mas Deus quis assim. Eu não sei por que ele quis tirar você da gente Malu, você era tão feliz, tão alegre, animada, tinha tanta coisa pra viver. Eu passei a noite pensando em porque ele tinha te levado, e a única explicação que eu achei foi que eu acho que ele deve estar precisando de pessoas boas assim do lado dele. – o enterro já estava triste o suficiente, a Malu era muito querida e todos os seus familiares tinham vindo de Brasília, não tinha um que não chorava.

– Nem eu, nem ninguém aqui vai esquecer de você minha princesa, você marcou as nossas vidas, a minha então... Nem se fala. Você foi minha única amiga. Você foi um presente na minha vida, eu quero que você saiba que eu vou lembrar de você sempre. Você é inesquecível. Essa noite eu não dormi, lembrando de todos os momentos que nós passamos juntos, e eu lembrei de um poema uma vez da aula de literatura que você tinha adorado que era assim:

“Pode ser que um dia deixemos de nos falar...

Mas, enquanto houver amizade, Faremos as pazes de novo.

Pode ser que um dia o tempo passe... Mas, se a amizade permanecer, Um de outro se há-de lembrar.

Pode ser que um dia nos afastemos... Mas, se formos amigos de verdade, A amizade nos reaproximará.

Pode ser que um dia não mais existamos... Mas, se ainda sobrar amizade, Nasceremos de novo, um para o outro.

Pode ser que um dia tudo acabe... Mas, com a amizade construiremos tudo novamente, Cada vez de forma diferente.

Sendo único e inesquecível cada momento Que juntos viveremos e nos lembraremos para sempre.

Há duas formas para viver a sua vida: Uma é acreditar que não existe milagre. A outra é acreditar que todas as coisas são um milagre.” Albert Einstein

– Bom princesa, eu quero que você saiba que Einstein estava certo, eu vou me lembrar de você sempre, não importa quanto tempo passe. Infelizmente, hoje você não existe mais em corpo, mas está dentro de nossos corações, e tenho certeza, que na minha próxima vida, eu vou topar com uma garota dos olhos azuis, linda por ai. A garota que vai ser a minha melhor amiga. Você foi um milagre que Deus mandou pra gente e eu nunca vou te esquecer. Eu te amo.

Assim que o Arthur terminou, não tinha uma pessoa que não chorasse. Lara tentou se recompor, recebeu um beijo na testa do namorado e começou a falar:

– Malu, eu lembro como se fosse ontem do dia em que eu te entreguei o seu uniforme de líder de torcida. Naquele momento eu soube que eu tinha achado a minha metade da laranja. Você foi a melhor amiga que alguém pode ter e ninguém nunca, mais nunca mesmo vai tomar seu lugar. Como eu te disse no hospital, eu vou sentir sua falta em todos os momentos da minha vida: no meu casamento, no nascimento dos meus filhos, nas festas, em tudo. Quando que cheguei em casa ontem, minha mãe disse que você foi embora mas que com certeza você virou um anjo. Engano dela amiga. Mal sabia você mamãe, que a minha amiga era um anjo aqui mesmo, na Terra. Ela era o meu anjo. E eu vou sentir sua falta pra sempre. Eu te amo amiga. – Lara falou beijando o cordão que era da Malu.

Era a minha vez. Infelizmente. Eu não queria estar naquela situação.

– Amor, hoje é sem dúvidas o pior dia da minha vida. E é apenas o começo. Essa dor que eu to sentindo agora, ela nunca vai passar. Eu levantei hoje e como sempre, a primeira pessoa que eu pensei foi você, mas diferente dos outros dias, hoje quando eu pensei em você, eu lembrei que você não estava mais aqui, e isso doeu, doeu muito. Eu me lembrei do primeiro dia que agente se viu, nosso olhares se cruzaram e ai surgiu nosso jogo de cores, verde com azul, azul com verde. Agora, eu não posso mais olhar nos seus olhos, eles estão fechados e nunca mais se abrirão. Eu me lembrei da sensação do nosso primeiro beijo, coisa que eu nunca mais vou sentir. Eu me lembrei de quando você falava que me amava, lembrei-me da sua voz. Você sempre foi tão falante, eu pedia pra você até calar a boca às vezes porque minha cabeça doía.

– Hoje, é esse silencio que me mata. Eu me lembrei de quando você deitava nos meus braços e eu gostava de ouvir seu coração batendo, eu queria estar com você até a ultima batida do meu coração, mas o seu parou antes. Eu não sei como viver em um mundo no qual você não existe mais. Eu não vou viver, eu vou sobreviver. É diferente. Eu passei a noite pensando e não entendi porque você se foi, você tinha tantos sonhos. – tentei recuperar o fôlego, por isso parei alguns minutos.

– Eu me lembrei do seu rostinho quando falava dos seus sonhos, quando planejava nosso futuro deitada em meus braços. Eu não vou ter a chance de te buscar na faculdade dos seus sonhos, você não vai escolher o vestido de noiva mais lindo da loja só pra entrar no altar ao som de A Thousand Years instrumental. Você não vai me ver com cara de bobo no altar esperando você. Você não vai me fazer uma surpresa e me contar que eu vou ser pai. Você não vai ter a sensação de ter uma barriga gigante. Você não vai ter seu pequeno Frederico, aquele que ia ser exatamente a cara da mamãe. Não nessa vida. Você foi meu anjo. Você me salvou. E eu te amo com todas as minhas forças. Eu me lembrei de um dia em que eu cheguei no seu quarto e você estava chorando lendo Diário de uma Paixão, e você me mostrou um trecho que fez você chorar.

– Naquele dia eu te falei que aquele trecho era bonito pra quem lia, mas horrível pra quem sentia. Eu te falei que eu não gostava nem de me imaginar no lugar daquele cara, e hoje eu estou aqui, pior do que ele, porque você não vai voltar. Eu não vou ver seus olhos azuis, beijar sua boca, admirar seu sorriso, sentir seu carinho, me perder no seu perfume, nem escutar sua voz. Eu procurei e eu achei o trecho a que me referi. É este daqui:

“A razão porque dói tanto separarmo-nos é porque as nossas almas estão ligadas. Talvez sempre tenham estado e sempre o fiquem. Talvez tenhamos vivido milhares de vidas antes desta, e em cada uma nos tenhamos reencontrado. E talvez que em cada uma tenhamos sido separados pelos mesmos motivos. Isto significa que esta despedida é, ao mesmo tempo, um adeus pelos últimos dez mil anos e um prelúdio ao que virá. Quando olho para ti vejo a tua beleza e graça, e sei que cresceram mais fortes com cada vida que viveste. E sei que gastei todas as vidas antes desta à tua procura. Não de alguém como tu, mas de ti, porque a tua alma e a minha têm que andar sempre juntas. E assim, por uma razão que nenhum de nós entende, fomos obrigados a dizer-nos adeus. Adoraria dizer-te que tudo correrá bem para nós, e prometo fazer tudo o que puder para garantir que assim será. Mas se nunca nos voltarmos a encontrar outra vez, e isto for verdadeiramente um adeus, sei que nos veremos ainda noutra vida. Iremos encontrar-nos de novo, e talvez as estrelas tenham mudado, e nós não apenas nos amemos nesse tempo, mas por todos os tempos que tivemos antes.”

– Eu sei que vai ser assim amor. Eu sei que agente vai voltar, não como Pedro e Malu, mas com outros nomes. Mas nós iremos nos reconhecer, iremos nos reconhecer na afinidade de nossas energias, no chamado de nossos corações, no encaixe dos nossos braços, da nossa boca e das nossas mãos. Iremos nos reconhecer através do nosso olhar, iremos nos reconhecer nos pequenos sinais, pois um amor como o nosso, nunca morre.

*************** 10 anos depois*********************

– Meu amor, hoje faz dez anos, dez anos que você me deixou. Faz dez anos que eu venho aqui nesse cemitério todos os dias com um buque de rosas vermelhas pra conversar com você. – comecei me sentando em cima do tumulo onde estava a mulher da minha vida. Eu cumprira a promessa que eu tinha feito a ela. Eu ia vê-la todos os dias levando as rosas vermelhas.

Muitas coisas mudaram desde que Malu morreu. 4 anos depois de sua morte eu descobri que tinha leucemia. Eu fiz o tratamento, mas parei faz um ano, já não respondia mais, estava pior a cada dia.

Pâmela e Vitor se casaram ano passado e estão pensando em aumentar a família. Sim, desde que Malu se foi, eles viraram nossos amigos e nunca mais se separaram.

Lara e Arthur se casaram no ano em que descobri minha doença. No dia do casamento estava chovendo. Há três anos, Lara olhou pro céu mais bonito que ela já tinha visto na vida e contou pra Malu que estava grávida. Gustavo é um menino lindo, e vai ganhar uma irmãzinha em breve. O nome da filha de Lara e Arthur? Sim, vai ser Malu, Maria Luisa, em homenagem a amiga que eles nunca esqueceram.

Lara usa até hoje o cordão que foi de Malu, cordão esse, que daqui a 5 meses ganhará uma nova dona. Eu tentei continuar minha vida, juro que tentei, mas não há outra Malu nesse mundo. Quando eu descobri minha doença, eu soube que aquilo era um sinal, iríamos ficar juntos como tinha que ser.

– Eu te peço desculpas por não ter casado, ter tido filhos e tudo isso, mas nada disso faz sentido sem você. Nesses dez anos, a única coisa que eu percebi foi que eu te amo. – falei conversando com “ela”.

Eu estava fraco por causa da doença, desmaiava frequentemente e às vezes vomitava sangue, eu piorava todos os dias. Senti meus olhos se fechando e me preparei para o que eu achava que seria mais um desmaio.

Engano meu.

Abri meus olhos e lá estava ela, linda como sempre. Me levantei e fui até onde a mulher da minha vida se encontrava.

– Está na hora não está? – perguntei sorrindo.

– Está. Chega de sofrer, eu vim te buscar. – Malu respondeu.

– Eu esperei muito tempo por isso sabia?

– Ahã, dez anos pra ser exata. – ela me falou rindo.

Naquele momento eu soube que nada havia mudado, ela era a minha Malu, e eu era o seu Pedro. Estava na hora de ir embora, nos prepararmos para voltar em outra vida. Dei uma olhada no meu corpo, ele estava deitado em cima do corpo da Malu, exatamente aonde deveria estar. Nossos corpos estavam juntos, e agora, nossos espíritos também.

– Ta preparado? – ela perguntou me estendendo a mão.

– Eu esperei dez anos por isso. – sorri pegando sua mão. – Eu te amo Malu.

– Eu te amo Pedro.

Finalmente nós estávamos juntos, como tinha que ser, agora é pra sempre.

Nossa história não termina aqui, para quem hoje chora, digo uma coisa: o amor verdadeiro nunca morre vocês ainda ouvirão falar de nós, talvez não como Pedro e Malu, mas como outro casal. Não preciso falar o nome, vocês saberão reconhecê-los pela afinidade de suas energias, pelo chamado dos seus corações, pelo brilho no olhar e pelo sorriso ao se verem.