Eu estava no meu quarto quando escutei uma explosão. Olhei para as camas ao lado da minha. Onde estariam mamãe, papai e Mya?

Percorri os corredores, que estavam mais silenciosos do que nunca. Pensei que estariam todos no Campo de Treinamento, ou comendo no Refeitório. Mas não estavam.

Assim que entrei no Refeitório, vi os corpos. Dezenas de corpos jogados no chão.

–Essa não... Mamãe!

Mamãe trabalhava ajudando na cozinha. Se todos estavam mortos aqui fora, o que poderia ter acontecido com ela?

–Mamãe... MAMÃE!!!

Balancei-a, chamei por ela... Mas era tarde demais. Os dois tiros em sua cabeça comprovavam o que já havia percebido. Ela estava morta.

Lágrimas escorreram por meu rosto. Não tinha forças para levantar.

Desejei que tudo fosse um sonho, desejei que eu ainda estivesse dormindo em meu quarto.

Uma pequena e suave voz, fez-me abris os olhos novamente.

–Jim?

Virei-me surpreso. Era Mya.

Corri e a abracei com força. Ela ainda estava viva.

–Jim, o que aconteceu com todo mundo? Estão brincando de dormir?

Olhei para o corpo de mamãe.

–Mya... A mamãe, ela...

Meu silêncio fez com que Mya entendesse. Apesar de ter apenas três anos, conseguia entender as coisas como um verdadeiro adulto.

–O papai também?

Balancei a cabeça.

–Eu não sei onde o papai está agora, mana.

–Eu o encontrei na sala de ferramentas, mas fiquei com medo de entrar e acordá-lo... Ele também foi para o céu? -Pequenas lágrimas escorriam por seu rostinho de boneca.

Pobre Mya, perder os pais com apenas três anos. O que seria dela se algo acontecesse comigo?

Peguei sua mão e andei para fora da cozinha.

–Vamos pra onde?

–Temos que sair daqui, Mya. Se não vão nos matar também.

Corremos pelos corredores, havia corpos por todos os lugares, e o cheiro de sangue começou a me enjoar.

A base parecia um labirinto, e acabamos nos perdendo.

Depois de algumas horas tentando sair daquele Labirinto do Horror, eu senti.

Uma dor percorreu meu corpo, fazendo-me gritar. Algo havia atingido minha costa. Um tiro!?

Mya gritou.

–Corra Mya! -Ordenei.

Ela pareceu confusa, não sabia se me obedecia ou se permanecia ao meu lado.

–Agora! -Gritei. Ela correu.

Após alguns segundos, escutei passos vindo da direção oposta à de Mya. Alguém alto e encapuzado chegou perto. Seus olhos estavam cobertos por um capuz, mas pude sentir que ele queria matar. Matar todos. eu não podia deixá-lo encontrar Mya. Que ele matasse todos, menos minha irmãzinha.

Por impulso, ou próprio medo, dei-lhe um chute na cara. Com esforço, levante-me e comecei a socá-lo. Dei socos até seu rosto estar sangrando e ele cair no chão, quase inconsciente.

Percebi que ele ainda não estava morto, mas logo morreria.

Corri. Corri para encontrar Mya.

Encontrei-na escondida num dos dutos de ventilação. Eu estava perto, quase ao seu lado, quando outra bala atingiu-me. Dessa vez na cabeça.

Era o assassino. Ele estava morrendo, mas iria levar-me junto como vingança.

Eu estava morrendo, dando meus últimos suspiros... Pelo menos eu pude morrer olhando os belos olhos azuis de Mya. Isso fazia tudo valer a pena.

"Alguém... Por favor, alguém cuide dela. Cuide de Mya. Ela é só uma garotinha. Cuidem da minha irmãzinha. Ela parece frágil, mas sei que no fundo é destemida e corajosa. Amem ela incondicionalmente, amem com todas as forças que tiverem... Desculpe Mya. Desculpe por não ter protegido papai e mamãe. Sinto muito por ter deixado você ver seus corpos frios e sem vida... E principalmente por ter que me ver morrer na sua frente, como um verdadeiro fracote. Desculpe-me. Eu peço que viva, viva por mamãe, viva por papai, viva por mim... Mas principalmente, viva por si mesma. Viva incondicionalmente. Por favor... Viva. Esse, é meu último desejo."

Fui abraçado pelos braços da morte logo em seguida. Morri com o rosto de Mya em meus pensamentos. Morri como um guerreiro. Mas, principalmente, morri com a certeza que Mya cresceria.

E que não seria apenas uma garota.

Mya seria alguém.

Alguém que realmente valesse a pena.

Eu tenho certeza disso.