Zoe acordou totalmente cansada, não sabia quantas horas -ou dias- havia dormido. Sua cabeça estava doendo, o corpo pesado. A luz machucava seus olhos. O Sol estava alto e refletia diretamente na janela a sua frente, após alguns instantes seus olhos haviam se ajustado a luminosidade e pode ver, mesmo de longe, o jardim do palácio.

Notando que estava sozinha, olhou para o lado e viu sobrada sobre a mesa de cabeceira, uma muda de roupa. Pensou então em se vestir, usava apenas uma espécie de camisola da enfermaria. Ao se levantar sentiu uma forte tontura, tudo a sua frente girou. Ao cair, duas mãos extremamente fortes a seguraram, era Eric. Colocou-a sentada na cama e Zoe pode ver seu rosto, expressão indecifrável, era difícil dizer se aquela era uma cara de repreensão ou de preocupação.

–Não deveria tentar se levantar sozinha, senhorita, ainda está se recuperando - a voz de Eric era calma, porém firme, soava como uma repreensão.

–Por quanto tempo eu dormi?

–Cerca de três dias e três noites.

–Ah, parece que foi grave o ferimento - com a cabeça baixa, a voz de Zoe soava como arrependida.

–Você foi envenenada, provavelmente por sangue de demônio -disse Eric sentando na beira da cama de Zoe- Não se preocupe, só está fraca, pois não come há dias.

Eric se viu tocando a mão de Zoe por um instante, mas a tirou rapidamente. Sentiu uma espécie de choque, sabia o que significava. Levantou-se abruptamente.

–Bom, vou chamar alguém para te ajudar e te levar aos seus aposentos.

–Realmente preciso de ajuda, sinto uma dor de cabeça terrível - levou à mão a cabeça.

–Ah, quanto a isso.

Eric se aproximou de Zoe novamente, levando a mão a acima de sua cabeça, fechou os olhos e disse duas palavras silenciosas enquanto fez um movimento com a mão. O efeito foi imediato, e Zoe sentiu-se bem novamente.

–Melhor? -a sombra de um sorriso passou pelo seu rosto.

–Bem melhor -Zoe sorriu afetuosamente.

Afastando-se de Zoe novamente disse:

–Já vou indo, tenho meus deveres a cumprir. Até mais.

E saiu do quarto antes que Zoe pudesse responder. Ela também havia sentido o choque em sua mão e ficou se perguntando o porquê de aquilo ter acontecido. Não achava que eletricidade era um de seus poderes, isso era coisa de filmes de super-heróis. Ficou olhando, deitada em sua cama, para o jardim. Flores cresciam lá fora, tão bem podadas, havia uma fonte no meio, o jardim não era colorido com flores de cores chamativas, eram todas de cores escuras e cercadas por uma alta parede de pedra, quase toda recoberta por trepadeiras.

Não demorou pouco mais de três minutos para que Larissa entra-se na enfermaria. Quando viu Zoe acordada foi correndo em sua direção.

–Oh, querida, que bom que está acordada! Ficamos tão preocupadas -o sorriso de Larissa era como o de uma mãe preocupada com um filho.

–Já estou bem, não é? -Zoe retribuiu o sorriso, mas não como se estivesse feliz.

–Como se sente? Alguma dor?

–Tive uma breve dor de cabeça e tontura, mas já passou - preferiu não comentar sobre o episodio com Eric.

–Que bom, querida. Venha vou te ajudar a levantar, vá, tome um banho, suas roupas estarão no banheiro junto com uma toalha. É por aqui - apontando o caminho, Larissa ajudou Zoe a levantar e levou-a até o banheiro.

–Dormi tanto e me sinto tão cansada.

–Está sem comer, querida. Não podíamos acorda você, e nem conseguiríamos se quiséssemos.

–O que eu tive foi sério.

–Bem, foi sério sim, foi preciso chamar Eric, foi ele quem a curou, nós só cuidamos de você por esses três dias.

–Sou grata a isso, e a você ter se arriscado para me trazer para cá.

O sorriso de Zoe se extinguiu do rosto, lembrou-se da mãe e que não teve tempo para se despedir, pegar suas coisas ou avisar que estava de partida. Vendo o olhar triste de Zoe, Larissa perguntou:

–O que foi , querida? Não se sentes bem?

–Acabo de lembrar-me de minha mãe, não me despedi dela, muito menos peguei minhas coisas, nenhuma roupa.

–Não precisa de nada do mundo humano aqui, e sua mãe, você poderá mandar cartas, logo chegará à época de férias, e com sorte poderá ir vê-la.

–Eu não entendo -Zoe foi tomada de tristeza.

–Você irá entender tudo no colégio de moças, querida. Agora tome seu banho. Leve o tempo que precisar, estarei na sala ao lado.