Inesperado escrita por Rocker


Capítulo 7
Capítulo 6


Notas iniciais do capítulo

Eu sei, eu sei, demorei. Mas as coisas aqui estão realmente difíceis e minha mãe é uma chata que não quer me deixar continuar a escrever. Por isso pode ser que eu demore um pouco com as postagens, estou fazendo isso escondida dela >.



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Capítulo 6

Estavam descendo a rampa para chegar ao porto, quando lorde Bern apareceu.

– Meu rei! Meu rei!

O lorde trazia nas mãos uma espada coberta com um material grosso e duro.

– Recebi essa espada de seu pai. - disse ele. - Escondi numa caverna em segurança, todos esses anos.

– É uma espada narniana antiga. - comentou Edmundo, surpreso e encantado.

– É da Idade do Ouro de Nárnia. Tem sete espadas desta. Presentes de Aslam, para proteger Nárnia. Seu pai as confiou a nós. Aqui. - estendeu-a a Caspian. - Pegue.

Caspian hesitou.

– E que ela proteja o senhor.

Caspian a pegou e a admiriu; a multidão aplaudiu.

– Obrigado, milorde. - agradeceu Caspian. - Vamos achar seus cidadãos perdidos.

Antes que chegassem ao bote, porém, Caspian disse a Edmundo. - Edmundo. - e estendeu a espada a ele.

Não seria justo com o menor. Caspian havia oferecido a espada de Pedro, seu irmão, a Edmundo e ele a negara, alegando que foi dada a Caspian como presente. Seria mais do que justo entregar-lhe ao menos uma espada de que fora de seu tempo como governante daquelas terras. Edmundo admirou a espada e se sentiu satisfeito e agradecido por ter aquela relíquia em mãos.

~*~

Estava quase anoitecendo, o sol quase afundava no oceano, e Selena ainda permanecia acordada, sentada sobre a cabeça de dragão, apesar de tudo que passaram nas Ilhas Solitárias. Drinian, que não poderia dormir no momento, vigiando o percurso que o Peregrino traçava no mar, ia até ela a cada dez minutos, alegando que ela devia estar cansada e que deveria se retirar. Mas sempre dizia que não, que não estava cansada. E realmente não estava, ao menos não fisicamente - mesmo depois de limpar sua espada e suas roupas, outras de tomar um banho e vestir roupas novas. Mas psicologicamente ela chegara a pensar que não conseguiria suportar mais nada.

Ela passara anos esperando por este dia. Anos! Ela estava finalmente indo procurar por seu pai, seu herói! Antes de Caspian dizer-lhe sobre essa aventura ela já tinha se conformado de que seu pai nunca mais retornaria, mas quando soube, seu mundo mudara uma segunda vez. Esperança era a palavra. Ela tinha tido esperanças! Esperanças de que viveria a aventura que sempre sonhou, esperanças de que nada daria errado, esperanças de que acharia seu pai vivo e teriam ao menos um terço da vida normal que tinham tempos antes. Mas toda essa peça de vidro frágil se quebrara no momento em que Lorde Bern dissera para não esperar algo muito positivo. Afinal, Lorde Bern estava preso há anos em uma masmorra nas Ilhas Solitárias, o que teria acontecido a seu pai?

De repente, Selena ouviu passos atrás de si.

– Vai embora, Drinian, não quero ir dormir agora. - ela disse rudemente, pela centésima vez.

Mas então algo diferente aconteceu. Drinian teria insistido imediatamente, como fizera das outras vezes. Ou ele teria mudado de tática? Selena virou-se para olhar quem a observava e encontrou um par de olhos negros analisando suas feições molhadas pelas lágrimas.

Edmundo.

– Bem, eu não sou o Drinian, ainda tenho um pouco de cabelo na cabeça. - ele comentou divertidamente, tentando melhorar um pouco o clima para a menina. E conseguiu arrancar um pequeno sorriso no canto dos lábios dela.

– Oi, Eddie. - ela disse e se virou novamente para frente, tentando disfarçar as lágrimas que ainda se formavam e as bochechas rosadas por chamá-lo tão intimamente.

Edmundo subiu na cabeça verde do dragão, se sentou recostado no outro chifre, no direito, e olhou atentamente para Selena, observando seus traços delicados de uma adolescente frágil, mas que continham uma expressão firme de alguém que passara por muita coisa para a pouca idade. Os olhos castanho-esverdeados com um brilho doloroso, visto com a ajuda dos restantes raios solares que refletiam neles. Edmundo gostava de pensar que eram as portas para sua alma.

– O que foi, Sel? - perguntou ele, preocupado, esticando o braço e limpando algumas lágrimas que escorriam pela bochecha dela.

– Sabe, eu acho que sou uma iludida. - ela soltou de repente, o tom de voz tão amargo e seco que chegou a assustar o menino.

– Ora, por quê? - ele perguntou, mesmo não querendo se intrometer nos assuntos dela.

Mas por mais que ele a estranhara ali no primeiro dia, sabia que devia perguntar, quem sabe pudesse ajudar? Afinal, eles teriam que conviver durante algum tempo, nada melhor do que procurar uma amizade. Lúcia conseguira nos primeiros dias mesmo uma amizade de Lena. Sua irmã sempre fora amigável, e Selena parecia ter tanto uma atmosfera receptiva quanto persuasiva - isso ele percebera quando ela convenceu Caspian a descerem nas Ilhas Solitárias - e agressiva - ele bem se lembrara de quando ela se livrara das amarras com um punhal e tentara atacar os mercadores de escravos. Se até mesmo Caspian, meio fechado como era, conseguira uma amizade tão forte com ela a ponto de considerá-la sua prima de sangue, por quê ele não conseguiria? O problema, talvez, fosse que no fundo não fosse isso que ele queria.

– Acho que não aguento mais um choque de pensar que meu pai esteja morto. É desolador. - Selena disse, arrancando o menino de seus pensamentos e fazendo-o anotar em sua lista mental outro ponto de sua personalidade: sua sinceridade. Edmundo permaneceu em silêncio, permitindo-a continuar. - Eu já tinha me conformado de que meu pai estivesse morto antes de saber dessa viagem de busca. E quando eu embarquei, acabei criando esperanças para serem destruídas assim que Lorde Bern disse que meu pai podia não estar vivo!

Selena limpou o restante das lágrimas que haviam se acumulado. Ter Edmundo ali perto era um conforto. Mas ele não precisava mais ver nenhuma lágrima sendo derramada. Edmundo tentou encontrar as palavras certas.

– A esperança é a última que morre, Sel. - ele disse e viu um sorriso aparecendo no rosto dela.

– Obrigada, Eddie. - ela agradeceu e ficaram alguns minutos em silêncio, observando o Peregrino atravessando as águas.

– Por quê está aqui? - Edmundo perguntou, quebrando o silêncio que não lhes era desconfortável. - Digo, por quê veio com Caspian, ao invés de esperar por notícias?

Selena sorriu. Ninguém nunca havia feito-lhe essa pergunta. Desde o dia em que ela anunciara que embarcaria naquele barco, tudo o que os outros sabiam fazer era julgá-la, dizendo que não era coisa para uma garota fazer. Sempre dizendo que era uma aventura arriscada, como se ela não adorasse um aventura. Nunca ninguém ao menos se importara de saber seus motivos. Mas Edmundo sim. Ela sabia desde o primeiro momento que ele era diferente e agora sabia que gostava disso.

– Eu não tenho mais ninguém. - ela respondeu simplesmente. - Nenhuma família.

– Mas e Caspian? - perguntou o moreno, confuso. - Ele não era seu primo?

Selena sorriu amargamente e Edmundo percebeu o quanto ela sofrera. E ela tinha o quê? Dezesseis anos? Era de sua idade e nem por isso ele poderia julgá-la. Ele havia vivido durante quinze anos em Nárnia em sua primeira ida, vivera muito mais coisas do que alguém com o dobro de sua idade.

– Caspian não é meu primo de verdade. Só por consideração. Os sete fidalgos foram como irmãos para o pai dele e eu criei uma amizade muito grande com Caspian em pouco tempo.

– Pouco tempo? Desde quando se conhecem?

– Pouco depois da guerra entre narnianos e telmarinos. Quando foi seguro para que eu aparecesse novamente. - Edmundo a olhou confusa, então ela resolveu contar toda a história. E ele, claro, ouviu-a atentamente. - Antes de rolarem as notícias de que o filho do antigo rei Miraz tinha nascido, meu pai soube que estava sendo procurado. Então ele se juntou com os outros fidalgos e desapareceram. Eu e minha mãe fugimos, tentamos nos manter seguras, pois sabíamos que os guardas do rei viriam atrás de nós. Vivemos durante algum tempo com uma tia que morava num vilarejo próximo à Arquelândia, até que Caspian retomou seu trono por direito e saiu à procura dos descendentes dos fidalgos, mas só eu fui encontrada. Caspian me ofereceu um lar no castelo e eu fui, depois de ele insistir tanto e a partir daí nossa amizade cresceu. E quando ele soube que os fidalgos vieram para os mares, ele resolveu vir e eu vim junto. Não perderia isso por nada.

Eles ainda permaneceram algum tempo em silêncio, absorvendo as palavras dela até que ele se pronunciou.

– Mas e sua mãe e sua tia?

Selena suspirou. - Em algum momento, houve uma invasão telmarina no vilarejo e mataram muitos de nós, inclusive mulheres e crianças. Minha mãe e minha tia estavam nesse meio.

– Sinto muito. - o menino disse, abraçando-a impulsivamente pelos ombros.

Num primeiro momento, Selena ficara paralisada, mas então ela apoiou a cabeça no ombro de Edmundo, procurando o conforto que encontrara na última vez em que conversaram a sós. E encontrara.

– Ainda não entendi o que você disse sobre não perder isso por nada. - disse Edmundo, causando uma risada na menina. Edmundo tivera a mesma sensação de sinos tocando quando foram apresentados, dias antes.

– Bem, eu não sou o tipo de garota que fica presa em casa, esperando alguma coisa acontecer. Sou mais do tipo que fazem as coisa acontecerem.

– É, percebi isso hoje. - ele comentou brincalhão, referindo-se ao momento em que ela se livrara das amarras no templo nas Ilhas Solitárias.

– Além disso, eu não perderia a oportunidade de possivelmente conhecer os reis antigos. - Selena disse e se virou para ver a reação dele.

Mas ela, com certeza, não deveria ter feito isso. Ela percebeu que os olhos negros dele estavam próximos demais e seu hálito de menta batia contra respiração, deixando-a extremamente tonta e fora de si.

Stra, Restimar, vá se deitar, a senhorita está cansada.– eles ouviram a voz de Drinian não muito longe, mas graças a Aslam ele não estava muito próximo deles.

Selena se afastou rapidamente de Edmundo e tossiu levemente, enquanto ele coçava a nuca envergonhadamente. O que acabara de acontecer afinal? Desde quando ele ficava tão encantado por simples olhos castanho-esverdeados?! Ele, definitivamente, precisava procurar algum psicanalista. Estava ficando louco!

– Bem, acho que o capitão sem cabelo já me perturbou demais. - ela brincou, lembrando-se de como Edmundo apareceu ali e arrancando uma risada dele. - Boa noite, Eddie.

– Boa noite, Sel.

Selena pulou para o convés e passou por Drinian, que estava recostado ao mastro principal, olhando-a risonho. Ela sabia que ele havia visto toda aquela cena a agora a olhava de mania maliciosa, e a única coisa que ela foi capaz de fazer foi mandar-lhe língua infantilmente enquanto ia silenciosamente até seu camarote, cuidando para não acordar Lúcia.


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