Inesperado escrita por Rocker


Capítulo 4
Capítulo 3


Notas iniciais do capítulo

A partir de agora, a Sel terá maior participação. Espero que gostem ;)



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Capítulo 3

– "Onde o céu e o mar se juntam

Doces ondas na espuma

Não duvide, Ripchip,

Para achar o que procuram

Direto ao Leste rumam"

– Que bonito.

Ripchip, que cantava alegremente sobre a cabeça do dragão, deu um gritinho de susto e se virou rapidamente, encontrando Lúcia apoiada sobre os chifres, com Selena sentada sobre a parte do meio da cabeça.

– Obrigado. - o rato agradeceu. - Uma dríade cantou para mim quando eu era só um filhotinho.

– E desde então nunca mais parou de cantar. - comentou Selena.

– Isso não é verdade! - defendeu-se o rato, ultrajado.

– Ora, Rip, você adora ser feito de bobo. - Selena riu, sendo acompanhada por Lúcia e ignorada por Ripchip.

– Eu nunca soube o significado, mas nunca esqueci as palavras. - ele continuou.

– O que tem depois das Ilhas Solitárias, Rip? - perguntou a rainha, mudando de assunto.

– O lugar mais oriental a que se pode chegar é o fim do mundo. - respondeu o rato. - O País de Aslam.

– Acredita mesmo que tal lugar exista?

– Só nos resta acreditar, não é mesmo. - disse ele tristemente e ouviu Selena bufar. - Você não tem fé, Lena?

– Fé! - Lena cuspiu a palavra como se fosse venenosa. - Se fé funcionasse alguma coisa para mim, meu pai não estaria desaparecido.

– Precisamos acreditar, Lena. - continuou o pequeno rato. - Por quê outro motivo você estaria nesse barco?

Selena deu de ombros, sem olhar para ele. - Talvez.

– Bem, eu acredito que o País de Aslam realmente exista.

– E será que dá pra chegar lá de barco? - perguntou Lúcia.

– Bom, só existe um jeito de descobrir. - disse ele, já se afastando novamente. - Eu só espero que um dia eu ganhe o direito de ver. Majestade.

E ele se virou para continuar sua cantoria.

– Vem, Lúcia, senta aqui. - Selena chamou-a e Lúcia se sentou na cabeça do dragão, cada uma recostada em um chifre.

– Eu não sabia que Caspian tinha uma prima. - comentou Lúcia, depois de alguns segundos de silêncio.

Selena sorriu melancolicamente. - E nem eu. Até três anos atrás.

– Depois da guerra que participamos? - Lúcia perguntou, curiosa. - Quando Caspian assumiu o trono?

Selena assentiu.

– Mas, se você é filha de um dos lordes fidalgos, como...?

– Não somos realmente primos. - esclareceu Lena. - Os sete eram tão amigos do pai de Caspian que se consideravam irmãos. Então, com o tempo, eu e Caspian criamos uma ligação forte o suficiente para nos considerarmos primos.

– Eu acho que pode fazer bem essa amizade a ele. - comentou a menor.

– É. - Selena concordou, observando as águas por onde o Peregrino da Alvorada abria caminho. - Fui o consolo dele todas as vezes que o nome de Susana era colocado na conversa.

Lúcia, de repente, se sentiu arrependida por ter tocado naquele assunto. - Ele deve ter sofrido bastante.

– Você não tem ideia.

– Lu, será que...

As garotas viraram o rosto quase sincronizadamente, encontrando Edmundo as olhando meio espantado e meio envergonhado. Na verdade, ele não esperava que Selena estivesse junto com sua irmã. Ele também não entendia porque simplesmente queria ficar perto dela. Achara-a extremamente linda e simpática, e era justamente por isso que ele queria ficar longe dela. Já superara o fato de tê-la a bordo, mas tinha algo naquela garota desconhecida que o deixara encabulado. Então quanto menos mantivesse contato, melhor seria para sua sanidade mental.

Quando percebeu que as duas ainda o olhavam em expectativa - ele sentia o peso do olhar castanho-esverdeado de Lena sobre si -, ele engoliu em seco e falou rapidamente.

– Deixa pra lá, eu falo com você depois. - e saiu dali, à procura de algo útil para fazer e para tentar tirar a desconhecida da cabeça.

E tudo o que Selena fez, foi olhar de modo divertido para a expressão confusa de Lúcia.

– O que seu irmão tem?! - Selena perguntou, segurando a risada ao se lembrar da expressão surpresa que Edmundo fizera quando a viu ali com Lúcia.

– Eu não sei. - Lúcia respondeu sinceramente. - Meu irmão sempre foi estranho.

Elas riram.

– Sabe, eu ainda estou em estado de choque. - Lena admitiu quando as risadas cessaram.

– Por quê? - Lúcia perguntou, confusa.

Selena se sentiu envergonhada de repente. - Eu sempre esperei conhecer os reis antigos, como Caspian havia feito, mas um choque pra mim ver vocês ali no mar.

– Bom, espero ao menos compensar meu irmão. - Lúcia disse, arrancando uma risada de Selena.

E então ouviram sons de espadas se chocando e um murmurinho animado entre os marinheiros que estavam sobre o deque. Selena e Lúcia ficaram de pé sobre a cabeça do dragão e se apoiaram nos chifres, procurando enxergar o que acontecia no deque para causar certo tumulto. E se depararam com Edmundo e Caspian praticando.

– Parece que Rei Edmundo arranjou algo pra fazer. - disse Selena, observando a luta.

– É o que parece. - concordou Lúcia. - Caspian também não perderia a oportunidade.

– Tem razão. E seu irmão é muito bom. - e voltaram sua atenção para a luta.

Edmundo atacava e Caspian defendia-se de modo perfeito. Caspian tentou atacá-lo por cima, mas Edmundo se desviou facilmente. Selena podia ver um sorriso sapeca no rosto de ambos e soube que Edmundo tinha a mesma paixão por luta que ela e seu primo. Edmundo levantou a espada, que bateu na de Caspian por cima. Edmundo deu uma rodada, abaixou-se para não ser atacado e aproveitou a oportunidade para tentar atacar Caspian pela perna. Mais algumas investidas e, segundos depois, Edmundo tinha sua espada no peito de Caspian, enquanto a deste estava há milímetros do pescoço do outro. Gritos e palmas se seguiram, e Selena olhava maravilhada para tudo aquilo.

– Ficou mais forte, meu amigo! - Caspian tocou amigavelmente o ombro de Edmundo, girando a espada.

– É... É o que parece. - Edmundo comentou humildemente.

– Vamos lá! Mãos à obra! - Drinian gritou quando as palmas cessaram.

Selena e Lúcia desceram para o convés e se recostaram na balautrada.

– Majestade. - Drinian entregou uma bebida fresca a Edmundo.

– Obrigado. - ele agradeceu e bebeu alguns goles, antes de se dirigir para onde sua irmã estava, sem nem mesmo perceber que Selena também estava por ali.

Assim que ele abaixou o copo, porém, assustou-se ao ver a garota ao lado de Lúcia. Ele estava prestes a pedir desculpas pela intromissão na conversa entre as garotas quando Selena desencostou-se da balaustrada, com o rosto inexpressivo.

– Lu, eu tenho que organizar algumas coisas nos mantimentos, conversamos depois. - ela disse educadamente e Lúcia assentiu, sabendo que a menina mantinha aquela postura pela presença de Edmundo ali. Depois Selena se virou para ele e, com uma reverência, disse. - Majestade.

Quando ela saiu, Lúcia percebeu a mudança na expressão de Edmundo, que se tornou mais aliviada.

– O que há com você, Ed? - Lúcia perguntou e continuou quando o irmão a olhou confuso. - Por quê simplesmente não dirige a palavra a Lena? Ela é legal.

Edmundo deu de ombros. - Sei lá, não sei explicar. Ela é diferente, só isso.

Lúcia tentou não ficar irritada, pensando que ele tinha algum tipo de preconceito com ela, por ser uma garota a bordo. Ela não tinha ideia, porém, que o irmão quis dizer que ela o deixa diferente. Resolveu então, mudar de assunto.

– Edmundo, será que se a gente for de barco até o fim do mundo, a gente... Cai pela beirada?

– Relaxa, Lúcia, a gente está muito longe de lá. - garantiu Edmundo.

Eustáquio subiu dos alojamentos direto para o deque, limpando as roupas que julgava estarem sujas ou infectadas. Edmundo, que quase se esquecera da presença do primo ali, soltou um muxoxo desgostoso ao vê-lo se aproximar.

– Já vi que estão falando besteira, vocês dois. - disse Eustáquio, escorando-se na balaustrada e cruzando os braços sobre o peito.

– Está se sentindo melhor? - Lúcia perguntou gentilmente ao primo.

– Estou, não graças a vocês! - ele disse emburradamente. - Sorte que eu tenho uma saúde de ferro!

– Uma simpatia como sempre. - disse Ripchip, aparecendo sobre as cordas escoradas na lateral do barco. - Vê se não cai.

– Eu não caí. - Eustáquio entrou na defensiva. - Eu só estava absorvendo o choque.

Edmundo respirava fundo para acabar não batendo no garoto.

– Mamãe disse que minha percepção é apurada, por causa da minha inteligência.

Edmundo engasgou-se com a água que tomava, tentando segurar a risada. Já Lúcia riu delicadamente, enquanto Ripchip pulava para um dos barris ao lado da menina.

– Ele vai acabar nos colocando em apuros. - disse o ratinho.

Eustáquio se irritou, se afastando deles. - Vou te mostrar assim que chegarmos à civilização, vou contatar o Consulado Britânico e denunciar todos vocês por rapto!

E então se chocou contra Caspian, mais alto e mais forte, e se calou.

– Rapto, é? - Caspian tinha um sorriso brincalhão nos lábios. - Engraçado, pensei que tínhamos salvado sua vida.

– Me trouxe contra a minha vontade! - Eustáquio revidou. - Num lugar que, francamente, não tem a menor higiene!

Os outros só sabiam rir de sua histeria.

– É um zoológico ali embaixo! - ele completou euforicamente.

– Esse rapaz só sabe reclamar? - perguntou Ripchip.

– Você ainda não viu nada. - disse Edmundo.

~*~

Selena, por mais que tentasse, não conseguia se concentrar nesta noite. A lua, escondida há vários minutos atrás da grande carga de nuvens, também não ajudava com a luminosidade. Desde que anoitecera, ela estava no que gostava de chamar de "cesta do vigia" no alto do mastro principal. Tinha nas mãos seu livro preferido, que narrava toda a história de Nárnia durante a Idade do Ouro. Agora que os reis mais novos estavam realmente ali, ela queria reler aqueles contos que tanto a encantaram - mesmo depois de alguns dias -, procurando comparar o que as histórias diziam e sobre o que ela observara neles. Ela confirmara que Lúcia era realmente gentil, simpática e meiga como em todas as histórias, mas Edmundo a estivera decepcionando até o momento.

De repente, Selena viu uma luz redonda e regular, focando na parte central da página aberta sobre o colo dela.

– Uma ajuda? - ela ouviu uma voz conhecida e soltou um grito de susto. Até que se virou e viu Edmundo sorrindo divertido para ela.

Ela não imaginaria que ele estivesse ali, falando com ela. E estivera pensando tanto sobre as reviravoltas daqueles dias, que nem percebera sua aproximação.

– Não tem graça. - disse ela, virando-se novamente para fingir que lia. Só havia um problema: a lua ainda estava encoberta.

– Acho que vai precisar disso aqui. - ele disse, estendendo-lhe o que Selena reconheceu como a lanterna dele, enquanto se sentava ao seu lado.

Depois de alguns segundos de hesitação, ela pegou a lanterna e a ligou, ficando maravilhada com o feixe de luz que criou sobre as palavras. Ficaram algum tempo em silêncio, ela lendo avidamente, apenas para tentar esquecer o nervosismo que sentia por tê-lo ali bem ao seu lado, e ele observando o céu estrelado, mas coberto de nuvens, evitando olhar para a menina ao seu lado, para que não sentisse a mesma insanidade inexplicável todas as vezes que estava ao lado dela. Selena ainda se perguntava se ele era louco, ou tinha alguma perturbação mental para mudar completamente seu comportamento de uma hora para outra, mas a verdade é que Edmundo pensara muito antes de tomar qualquer decisão - levara dias, na verdade. Durante aquele tempo, ele pensara se talvez não fosse melhor simplesmente se deixar rolar, tentando criar um vínculo de amizade com ela. O que teria de mal, afinal?

– Onde está Phollux?! - Selena perguntou de repente, reparando que o vigia saíra a mais tempo do que imaginava.

– O vigia? - quando ela assentiu, Edmundo respondeu. - Dormindo.

– Como assim dormindo?! - Selena, indignada, acabara por fechar o livro e desligar a lanterna.

Mas não esperava que quase se perdesse na imensidão negra dos olhos do rei, iluminados apenas pelo luar que começava a despontar pelas nuvens.

– Eu o encontrei quando ele estava indo comer alguma coisa. - Edmundo respondeu, sorrindo. - E me ofereci para terminar o turno dele. E aqui estou eu.

Selena queria perguntar o porquê disso. Ela realmente queria, a curiosidade quase a corroía por dentro. Mas então ela pensou bem: para que perguntar, se ele simplesmente resolvera vir? Lena estava prestes a começar um assunto banal, quando Edmundo consegue ler o título de seu livro.

Reis na Idade do Ouro? - ele perguntou, irônico. - Meio simples e clichê, não acha?

– Talvez. - ela concordou sorrindo. - Mas se diz a história de vocês, talvez não houvesse título melhor.

– Contanto que conte direito a história... - ele comentou.

– Bom, então quem sabe se você me contasse a história eu não pudesse julgar se é verdade ou não.

Selena se arrependera quase no mesmo momento em que disse. Mas Edmundo não achara graça e nem nada, apenas sorriu, feliz por estar ao menos tendo uma conversa normal. Mesmo que tivesse de falar sobre seu passado, ele estava feliz por compartilhá-lo com Lena. E assim se passou, eles conversando sobre o passado de ambos. Selena não teve muito o que falar, ela basicamente dissera que seu pai sumira há pouco mais de três anos e conhecera Caspian quando ele estava procurando pelas famílias dos fidalgos. E ela foi a única encontrada. Mas ela ficara encantada com as narrativas de Edmundo, principalmente as sobre sua terra.


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Notas finais do capítulo

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