Inesperado escrita por Rocker


Capítulo 23
Capítulo 22




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Capítulo 22

A visão clara da serpente se chocando contra o barco, a fim de se livrar do dragão que se agarrara à sua pele escamosa cobriu os olhos de Selena assim que ela saiu do camarote. Ripchip logo passou do braço do dragão para a pele escamosa da serpente, desembainhando a espada.

– Por Nárnia! - gritou o ratinho, munido de sua natural coragem, e fincou a espadinha na pele do nariz da serpente, que urrou.

Ripchip o atacava repetidas vezes, sem dó alguma e sem medo de cair dali. A serpente, porém, continuava a se mexer violentamente e lançou o ratinho para longe - este que teve a sorte de conseguir se segurava numa corda ligada à vela do barco.

– Eustáquio, aguente firme! - gritou ele assim que recuperou o equilíbrio.

Não houve muito efeito de incentivo. A serpente conseguiu finalmente se livrar do dragão, que saiu voando por cima do barco com certa dificuldade em se manter no ar. Estava prestes a dar meia volta para atacar novamente o monstro, quando este já a o havia pego pelas asas e mergulhado no mar. Segundos depois, a serpente apareceu afastada dali, com o dragão preso pelos dentes. Sacudiu a cabeça, torturando o pobre dração alaranjado, e o jogou contra um rochedo com força total. O dragão arfava com a dor que sentia pelo corpo. A serpente estava prestes a dar o golpe final quando o dragão reagiu e lançou uma rajada de fogo sobre a cabeça da serpente, que submergiu de volta na água.

O lorde empurrou aos marinheiros, à procura de espaço até a borda.

– Xô, criatura! - ele urrou, lançando sua espada.

– Não! - gritou Caspian.

– A espada! - gritou Edmundo.

Mas já era tarde demais e a espada já se encontrava cravada no ombro esquerdo do dragão.

– Eustáquio! - gritou Lúcia, desesperada.

O dragão levantou voo, mesmo com dificuldade. Voou para uma abertura iluminada no céu de nuvens negras.

– Não, não! Volta aqui! - gritava Lúcia para o ar, pois o dragão já não mais a ouvia.

– Estamos perdidos, perdidos! Dá meia volta no barco! - bufava o lorde, subindo as escadas para o leme, empurrando um marinheiro e pegando o timão.

– Detenham esse homem! - gritou o marinheiro jogado ao chão.

O barco teve um movimento brutal devido à direção do lorde. Drinian se aproximou dele, e deu-lhe um soco. O homem, fraco e insano, caiu desmaiado no chão sem pestanejar.

– Tripulação! Todos às suas posições! Remos acelerados! - Drinian gritou ordens aos pulmões.

Os marinheiros se dispersaram, ansiosos para retomarem seu trabalho e se livrarem de uma vez por todas daquele lugar. Lúcia olhou atônita para aquele movimento. Andiantaria realmente? Antes eles precisavam encontrar uma saída! Olhou para a abertura iluminada no céu, por onde Eustáquio passara, e pediu.

Aslam, por favor, nos ajude.

E então uma gaivota apareceu, fazendo seu costumeiro som agudo, passando pela abertura iluminada.

A salvação que Aslam lhe trouxera.

~*~

Selena olhava toda a atitude daqueles que trabalhavam. Estavam nervosos, claro. Mas não para aguém que acabara de enfrentar uma serpente gigante e feiosa. Será que nenhum deles podiam sentir a tensão no ar? Não a tensão do medo e ansiedade, claro. Mas aquela tensão que prediz que algo está prestes a acontecer. Poxa, só ela sentia isso? Não era possível! Uma coisa que ela aprendeu durante os ataques que sofreu da névoa verde, era que um medo nunca ia embora até ser cortado completamente até a raiz.

– Selena, você está bem? - perguntou Lúcia e Selena balançou a cabeça para se concentrar, mas sem espantar os pensamentos.

Edmundo, que observava atentamente o lugar onde a serpente desaparecera no mar, virou-se ao ouvir a pergunta da irmã.

– Ainda não acabou. - disse Selena, olhando para o mesmo ponto que Edmundo observava segundos antes.

– Também sentiu isso? - Edmundo perguntou, franzindo o cenho.

Selena assentiu. - Um medo nunca vai embora até ser cortado pela raíz. - refletiu seus pensamentos em voz alta.

Edmundo se arrepiou ao ouvir tal frase, mas não entendeu o que a menina quis dizer realmente.

– Ainda pode voltar? - perguntou Lúcia, preocupada.

Selena assentiu e se afastou, ainda com o arco de Susana em mãos, mas Edmundo a segurou pelo pulso.

– O que vai fazer? - perguntou ele.

– Vou fazer o que precisar para matar esse animal. - ela respondeu, convicta de que conseguiria. Poderia até mesmo falhar, mas faria sempre o meu melhor.

– Você não pode! - ele exclamou. - Você pode morrer!

– Acho que se esqueceu, Eddie - ela disse, sorrindo tristemente sarcástica. -, que eu já não tenho nada a perder.

Cara, como fui me apaixonar por uma menina tão teimosa?!, perguntou-se Edmundo, observando-a se afastar.

~*~

O dragão voava para onde da Ilha Negra, dolorido e com dificuldade. Certa hora tentou arrancar a espada de sua carne com suas próprias garras, mas nada conseguiu. Estava cansado e seu corpo pedia por um repouso. Estava prestes a se deixar lançar na água cristalina que já tinha abaixo de si, até que viu um bom pedaço de terra estendido à sua frente, como um pedido convidativo para que lá pousasse. E assim ele o fez. Um pouso sem sucesso algum, e o dragão foi arrastado alguns metros pela areia limpa.

~*~

A serpente finalmente retornou. Urrando, e desceu. Isso por duas vezes, enquanto os marinheiros lutavam para remar com toda a força, e o ratinho os incentivava.

– Vamos, usem toda a força que tiverem! - dizia Ripchip.

A serpente apareceu novamente. Dessa vez, sem piedade e sem qualquer indício de distração. Ela estava furiosa. Ela passou por cima do barco, e caiu sobre a madeira, esmagando-o com o corpo pesado. Um marinheiro se jogou para o lado, impedindo que a serpente o carregasse para o mar.

– Gael, venha cá! Corre! - gritou Lúcia, puxando-a para longe do corpo da serpente, que dava sua segunda volta ao redor do Peregrino.

Edmundo correu da segunda volta do corpo da serpente, e se jogou contra Selena, fazendo-os cair longe e evitando que ela fosse esmagada.

– Você está louca?! - ele perguntou, desesperado.

– Eu estou procurando um bom ângulo! - Selena gritou a resposta por cima do barulho de cordas arrebendando, madeira se quebrando e água adentrando a embarcação.

– Por quê? - Edmundo perguntou, ainda com o corpo sobre o dela.

– Para acertar no olho daquele bicho! - Selena empurrou-o pelo peito, e recuperando o arco e flecha que fora parar não muito longe dali.

– Ei! Edmundo! - eles ouviram o grito de Caspian e rapidamente se viraram. - Vamos espetar a serpente, esmagar ela contra as rochas. - e meneou a cabeça em direção as rochas atrás do corpo da serpente.

– Vire a bombordo! - Edmundo gritou de volta. - Eu vou levar o bicho pra proa!

Caspian assentiu e Edmundo correu por entre os marinheiros em direção à cabeça do dragão. Lúcia procurava por Selena em todos os lados, atrás do arco e flecha que ela percebera ainda estar em sua posse. Selena, porém, corria pelo convés, desviando dos marinheiros atrapalhados e dos ataques esmagadores do corpo da serpente. Edmundo entrou na boca do dragão, e se equilibrou sobre a língua levantada e um dente alto. Pensou por alguns segundos, enquanto a serpente ainda fazia seus ataques.

O que eu faço? O que eu faço?, perguntava-se, desesperado.

Até que se lembrou das palavras de Selena, minutos antes da serpente reaparecer.

Um medo nunca vai embora até ser cortado pela raíz, dissera ela.

E o modo de cortar um medo pela raíz não seria encará-lo de frente? Edmundo sabe que sim. Mas ele conseguiria? Se Selena estava enfrentando a insanidade, ele conseguiria enfrenter uma serpente gigante que está devorando o navio. Além disso, ele salvaria a si e aos outros. E evitaria que Selena fizesse alguma besteira. Decidiu-se, então, por fim. Pegou a lanterna e mirou nos olhos da criatura, finalmente chamando sua atenção para ele.

– Venha me pegar! - gritava ele para a serpente, agitando a luz e enlouquecendo o animal. - Olha, eu estou aqui!

A serpente se adiantou e, segundos antes de arrancar a parte superior da cabeça, Edmundo recuou, salvando-se de ser engolido.

– Não! - gritaram Lúcia e Selena, desesperadas ao ver aquilo.

– Edmundo! - gritou Caspian, quase soltando o leme.

Mas o moreno estava inteiro.

– Droga. - resmungou Selena, correndo em direção ao garoto, na proa. - E depois eu que sou a insana.


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