O dia amanheceu e, como sempre, o sol brilhava na janela. Abri os olhos. Notei que estava sozinha. Olhei para o relógio. 10h36min. Que ótimo, sou uma folgada.

– Silêncio! Ela deve estar dormindo! – alguém sussurra atrás da porta.

– Shiu! Entra sem fazer barulho! – outro sussurro.

Ouço a porta ranger e alguns passos delicados começam a surgir. Viro a cabeça para o lado da porta e vejo Breno com uma bandeja na mão. A bandeja tem pão, suco, frutas, iogurte...

– Bom dia princesa – ele diz sentando-se ao meu lado.

– Bom dia... – falo ainda sonolenta.

– Preparei um café da manhã para você...

– Estou vendo... Quanta coisa! Não precisava, eu...

– Precisava sim – ele disse me dando um beijo rápido.

Comi algumas coisas que estavam na bandeja junto com Breno e conversamos um pouco. Ele disse que ia me esperar lá embaixo. Me arrumei e desci. Vi que ele estava na cozinha bebendo um suco.

– Gabi! – a Lisa me chama.

– Vem cá. – Letícia diz.

Subimos. Elas queriam conversar comigo.

– Eu sou sua amiga – Letícia começou. – Somos sua amiga. Você sabe que as amigas percebem coisas que ninguém percebe, não é?

– Pois é – a Lisa falou. – Percebemos que você está um pouco diferente. E nada a vontade com o Rodrigo estar aqui.

– Como assim? – perguntei.

– Gabi – a Lisa falou – Você gosta mesmo do Breno?

– Sim... Claro! Que pergunta! – respondi.

– Tem certeza? – a Lisa perguntou.

– Gabi... Não queremos te enrolar – a Letícia falou. – Queremos saber se o Rodrigo não mexe com você.

– O que? O Rodrigo? Do que vocês estão falando?

– Gabi, você não engana a gente. Pode até enganar qualquer pessoa mas não nos engana. – a Letícia disse.

Paro um pouco pra pensar. Por que elas estão me falando isso?

– Licença... – a Paula interrompe no nosso quarto.

– Desculpa, mas a gente teve que falar com a Paula porque ela conhece o Rodrigo melhor do que ninguém. – a Letícia comentou.

O que? Do que elas estavam falando? Não estou gostando nem um pouco disso...

– Me expliquem, por favor. Não entendi nada.

– Gabi, o Rodrigo é afim de você desde que te viu. Isso é obvio. E você nunca deu bola para ele. Todo mundo pensava que, como as outras, você só era mais uma da lista. Mas, quanto mais você dizia “não”, mais ele queria você. E isso parece normal para qualquer menino, mas não é para o Rodrigo. – a Lisa disse.

– O Rodrigo já levou algumas recusas, mas ele nunca ligava... Tipo... “É só mais uma” e pronto. Ele nunca se importou. Mas, você é diferente. – a Paula disse.

– O Rodrigo gosta de você. Até hoje. – a Letícia falou.

– Eu sei. Ele... Ele... Ele falou isso aqui. Um dia desses.

– Ele falou com você sobre isso? – a Letícia perguntou.

– Foi muito rápido... – eu disse. – Não me importei muito. Eu gosto do Breno.

– Tudo bem, mas... E o Rodrigo? Você nunca sentiu nada por ele? Nem um pouco? Ou você só diz que não porque ele é galinha e está com medo de você ser só mais uma? – a Lisa perguntou.

– Eu nunca senti nada por ele – menti.

Por mais que elas sejam minhas amigas, eu não conseguia admitir. Pra ninguém. A verdade é que eu queria o Rodrigo desde aquele dia do suco de laranja, mas eu não podia! Que tipo de menina eu seria ficando com ele? Uma qualquer pra ele! Eu só seria mais uma da lista! SÓ ISSO! Nunca acreditei Não acredito que ele se importaria comigo...

– Gabi. Por favor. Não se engane. – a Letícia disse.

– Me enganando? – perguntei.

– Sim... – a Lisa respondeu. – Não se engane e nem engane o Breno.

– O Breno nunca foi de ligar para essas coisas de namorar... Mas, quando conheceu você... Ele mudou. Ele ficou até mais legal – ela riu, a Lisa e a Paula riu junto.

– Mas, o que vocês estão querendo dizer? Que eu não amo o Breno e amo o Rodrigo? Vocês acham isso?

– Não é que você não ame o Breno. Você pode até gostar dele como namorado, mas achamos que o Rodrigo mexe com você. – a Paula respondeu.

Eu não sabia mais o que dizer. Eu não conseguia pronunciar uma palavra sequer.

– Pensa nisso, Gabi. – a Letícia disse.

– Vamos descer... – a Lisa falou.

– Se quiser, desce também. – a Paula completou.

E saíram. Me deixaram naquele quarto. E comecei a pensar. É. Talvez, infelizmente, elas tenham razão.

۞

Ficamos até a terça-feira lá na fazenda dos tios da Paula. Tomamos banho de piscina, conversamos, jogamos diversos jogos, brincamos até... Foi muito divertido. Porém, aquela conversa com a Paula, a Lisa e a Letícia não me saia da cabeça.

Estávamos numa lanchonete. Eu, o Guilherme, o Breno, a Lisa, a Letícia e o Felipe. As outras não puderam vir. Pedi um suco de laranja apenas, pois não estava afim de comer nada. O Breno também não pediu nada para comer, apenas um suco. Ficamos conversando durante um tempo.

– Vamos no banheiro – a Lisa disse se levantando junto com a Letícia.

Elas saíram.

– Gabi, vem cá – o Guilherme me chamou.

– O que foi? – perguntei quando estávamos num local um pouco mais afastados.

– Eu deveria ter tido essa conversa com você desde a fazenda dos tios da Paula, mas eu não tive oportunidade... Você nunca largava as suas amigas ou até o Breno – ele riu -, mas agora, finalmente, pude falar com você a sós.

– O que está acontecendo? Me fala! – falei.

– Eu estou afim de uma pessoa – ele disse. – É a Lisa. Eu nunca imaginei que sentiria alguma coisa por ela, mas eu comecei a sentir na fazenda... Porque ficamos até um pouco mais próximos... Conversamos... Temos muita coisa em comum e acho isso legal.

– Por que você não fala com ela? – perguntei.

– Não dá... Você me conhece. Não sou desses. – ele falou.

– Mas, tem que ser. Sabe... As meninas não são de chegar em meninos, como você gosta... Elas preferem que eles tomem a atitude. Pelo menos, algumas preferem isso. Tipo eu. E a Lisa também, claro. – eu falei – Então, acho que seria legal você falar com ela num momento que vocês tiverem sozinhos...

– Tudo bem... Vou tentar. – ele disse. – Obrigado.

– Por nada. Qualquer coisa estou aqui. – falei.

Voltamos para a mesa e as meninas já estavam lá. Sentamos.

Os lanches e as bebidas chegaram. Comemos, conversamos, rimos e depois cada um foi para a sua casa.

Chegando em casa, a Marcela estava vendo TV com a Júlia. Elas me chamaram, mas eu estava muito cansada e resolvi subir para o quarto.

Deitei na minha cama e comecei a pensar em tudo o que as meninas me falaram.

Breno.

Rodrigo.

Breno.

Rodrigo.

A vida podia ser menos complicada. Decisões a serem tomadas... Não podia ser tudo mais fácil? Por que não? Precisava ter tantas barreiras, tantos obstáculos em nossos caminhos? Por que tudo é dessa forma? Por que?

O Breno é a pessoa mais fofa que eu já conheci. Eu gosto de verdade dele. Ele me faz sorrir, ele me faz bem. Ele me ama. Eu me sinto amada por ele. É tão bom se sentir amada... Porém, é tão ruim... Ah! Nem consigo pensar nisso... É tão ruim não conseguir amar na mesma proporção que o outro te ama... Ah! Que raiva de mim mesma por pensar isso! Ele é a pessoa mais maravilhosa que já conheci. Eu me sinto bem com ele... Sendo que... AH!

O Rodrigo. Ah... o Rodrigo. Ele é um galinha ridículo... Que eu, infelizmente, amo. Amo mesmo. Eu preciso admitir isso! Preciso! Pronto. Eu amo o Rodrigo. Mas, não posso! Não posso! Não posso! Não posso! NÃO POSSO! NÃO POSSO! Vou me arrepender tanto no futuro... NÃO POSSO! O Rodrigo já pegou várias, beijou várias bocas... E... “O que aconteceu com ele antes de eu aparecer não é importante, o que importa é o que vem depois... O que importa é a história que podemos construir... Juntos”. É. Parte disso é verdade. Uma parte. Ou tudo. Isso é a pura verdade. Mas, EU NÃO POSSO! Não consigo!

Preciso parar de pensar nisso urgente.

Coloquei os fones de ouvido e fui escolher uma música para o celular. Uma mensagem. Há 30 minutos.

Rodrigo.

Foram poucos dias que passamos na fazenda, era raro você me olhar e mais ainda a gente se falar, mas o meu amor por você cresce cada dia mais. Não consigo ficar longe de você. Vendo você com o Breno lá, doeu tanto... Eu te amo, Gabriela. Eu te amo. Eu te amo muito. – Rodrigo.

Mal percebi que lágrimas escorriam pelas minhas bochechas. Mal percebi que ler aquilo só me fez bem. Mal percebi que eu também o amava.