Tudo Por Você escrita por Renata Leal
– Rodrigo? Não pode ser... – Letícia falou surpresa. Ela não estava concordando comigo. Tinha que ser o Rodrigo! Só ele tinha motivos para ficar chateado!
– Claro que é ele! – falei.
– Não, Gabi, não é. Ele não seria ridículo a ponto de fazer isso! Você viu o que ele colocou na carta! Você viu que ele desejou coisas boas para você! Você viu que ele está te superando...
– “Estar me superando” não quer dizer que superou, Leti! – rebati.
– Você só pode estar louca. Não é o Rodrigo, eu tenho certeza!
– Tudo bem... Deixa pra lá... – falei. Precisava encerrar aquele assunto que já estava me deixando estressada.
۞
Em pleno domingo. Sem nada pra fazer. Eu, Felipe e Letícia estávamos assistindo a um filme na televisão.
A campainha toca.
– GUILHERME?!
Não é possível! O que ele está fazendo aqui?
– Gabi! Que saudade! – ele invade a casa e abraça. Me carrega, pra falar a verdade. Continua alto, forte, alegre e... Bonito...
– Não posso acreditar! O que você está fazendo aqui e como me achou?
– Você disse que estava na casa da Marcela, não disse? Estou com a minha tia... Ela conhece a Marcela e os pais dela. Só podia ser a sua prima. Adivinhei.
– A sua tia?
– Sim, a tia Marta. Já te falei dela... Ela mora aqui neste bairro.
– Você está falando sério? Meu Deus! Que coincidência! – gritei abraçando-o novamente.
Apresentei o Guilherme para a Letícia e ele cumprimentou o Felipe. O Guilherme é um amigo meu de infância! Fazíamos absolutamente tudo juntos! Brincávamos juntos, saíamos juntos, comíamos juntos... Tudo. Éramos melhores amigos! Mas, nos afastamos quando ele precisou se mudar e eu tinha me esquecido completamente da tia que ele tinha me falado. Nunca passou pela minha cabeça que ele voltaria.
– Você continua linda! – ele disse. Sempre sorridente.
– E você continua alto! – brinquei.
Ficamos os quatro conversando.
– Já assisti a esse filme um milhão de vezes! É o máximo... – Guilherme comenta.
Meu celular toca.
– E ai meu amor o que você está fazendo? – era o Breno.
– Oi amor! Estou vendo um filme e você? – perguntei.
– Nada... Pensando em você... Resolvi te ligar. – ele disse. Fofo.
– Bobinho. Eu também pensava em você.
– Mentira... – ele disse rindo.
– Ah, você é um besta, isso sim! Claro que penso em você!
– Então tá bom... – ele diz ainda rindo. – Pode ir ver seu filme... Eu só liguei porque eu estava com saudades... E...
Escuto risadas. Risadas altas. – Gabi, você está perdendo a melhor parte! – o Guilherme grita.
– Está vendo o filme com alguém, amor?
– Sim, sim. Está eu, o Felipe, a Letícia e o Guilherme.
– Guilherme?
– Sim... É um amigo meu de infância que descobriu onde eu estava e a tia dele mora por aqui, então veio me ver. Tem anos que a gente não se ver!
– Ah... Entendi. Bom, vou deixar você ver a melhor parte do filme, não quero te atrapalhar não, princesa. Beijo! A gente se ver amanhã...
– Beijo, amor. Até amanhã. – ele desliga.
– AH, Gabi, você perdeu a melhor parte! – o Guilherme reclamou.
– Ela nem liga... Pode perder tudo para falar com o queridinho dela... – brincou Letícia. Eu rio.
– Queridinho? – o Guilherme pergunta rindo.
– Sim. O namoradinho dela.
– Namorado? Cresceu, hein, Gabi? Namorando? – ele diz dando umas cotoveladas de leve no meu braço.
– Pois é... O tempo passa. – falei.
– E como... – ele completa.
O filme vai rolando... Algumas risadas, alguns comentários, algumas brincadeiras...
– Hum... Gente nova por aqui... – ouço uma voz familiar. Vitória. O que ela está fazendo aqui? Quando chegou?
– Gabi? É seu amigo? – a Marcela pergunta.
– Sim... Vitória, Marcela... Esse é o Guilherme, um amigo meu de infância.
– Prazer... – a Vitória é a primeira a dizer. O Guilherme levanta e dar dois beijos, um em cada bochecha dela. E mais dois beijos, um em cada bochecha da Marcela. Notei que a Vitória ficou encantada com ele. Finalmente. Tomara que parta pra outra! Já estava na hora... Ou melhor, já passou da hora... Fixou-se muito no Rodrigo que tornou-se chato isso.
As meninas se juntaram a nós e terminaram o filme conosco.
O Guilherme foi embora umas seis da noite e a Letícia umas oito horas. Eu não queria entrar mais no Facebook porque não queria ver aquele anônimo idiota falando comigo. Da próxima vez que ele falasse alguma coisa, iria bloqueá-lo.
۞
Estávamos nas últimas semanas de aula. Provas. Graças a Deus o ano estava acabando. Eu, por enquanto, não tinha tirado nenhuma nota abaixo da média. Também, né, do jeito que eu estudo... O tempo inteiro... Não poderia ter outro resultado.
Fizemos um grupo de estudos toda sexta-feira. Eu, o Breno e a Letícia nos reunimos na casa da Marcela e estudamos. O Felipe, por ser mais velho, ajuda quando precisamos.
Estávamos no intervalo. Eu, Letícia e Breno na mesma mesa, como sempre.
– Posso sentar com vocês?
– Claro! – digo, rapidamente.
Uma menina com o cabelo castanho-claro, de óculos e pele bem branca estava parada na frente da nossa mesa.
– Desculpem ser tão intrometida, mas é que eu não tinha a quem recorrer.
– Como assim? – a Letícia pergunta.
– Sofro de bulimia. Minha melhor amiga... Ou melhor, uma menina que se diz “amiga” minha, me viu vomitando no banheiro. Foi a maior grossa... Começou a discriminar as pessoas que tem anorexia e bulimia, dizendo que são fracassadas... Fui obrigada a mentir e dizer que a comida tinha me feito mal. Foi aí que notei que ela não era uma amiga de verdade...
Eu conhecia aquela menina.
– Quem é você e quem é essa menina? – Breno perguntou sendo simpático.
– Por favor, eu imploro, não contem nada pra ninguém... Não sei nem o motivo de eu estar aqui... Eu só... – os olhos dela se encheram de lágrimas. Ela chorou timidamente. – Eu só não tinha pra onde ir... Meus pais não podem saber... Me desculpem... Eu...
– Por favor... Não chore. – a Letícia tentou consolá-la – Não se preocupe, não vamos falar nada. Qual o seu nome?
– Sou a Lisa – ela começou. – Eu era do grupinho das populares, mas há um tempo não me sentia bem lá. – sabia que a conhecia – Foi a Vitória. Tinha que ser ela. Ela sempre foi assim... Ela é assim... Nunca vai mudar.
– Estamos com você, não se preocupe. Vamos te ajudar. – falei sorrindo. Ela sorriu de volta. A Vitória tinha ultrapassado os limites.
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