Tudo Por Você escrita por Renata Leal


Capítulo 1
Suco de Laranja




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A gente se acostuma tanto com a vida em um lugar que não pensa em nenhum momento que ela pode mudar de uma hora pra outra. Eu nunca iria imaginar que me separaria de amigos tão próximos, que deixaria a vida, que conquistei durante dezesseis anos, para trás. Eu não quero fazer drama, mas é muito difícil pra mim. Sair de um lugar que você já conhece e que você está acostumada para morar em outro que você não conhece ninguém. Tudo bem, eu conheço uma pessoa, mas não vem ao caso.

Eu sempre morei no Rio de Janeiro. E esse ano, minha mãe teve a ideia brilhante de publicar uma matéria em uma revista que todo o Brasil pode ver. Essa revista chegou nas mãos de um cara famoso e dono de uma empresa jornalística e minha mãe foi contratada. Que bom! Não, pois essa empresa é em Curitiba. Parabéns, mãe, vamos nos mudar.

- Crianças! Vamos para Curitiba. – minha mãe disse. Só um detalhe: eu tenho dezesseis anos e Felipe, meu irmão, tem vinte. Portanto, qual o motivo da minha mãe nos chamar de crianças?

Meu pai concordou na hora. Meu irmão não queria ir e muito menos eu, mas como a vontade da autoridade prevalece, vamos ser arrastados para a casa dos nossos tios. É isso ai. Enquanto meus pais não podem comprar uma casa lá, vamos viver na casa da Marcela, minha prima.

Desde pequena sou apegada ao meu irmão e graças a Deus são poucas as nossas brigas.

Aqui estou eu arrumando as minhas coisas no quarto da Marcela. A casa é grande, muito espaçosa, mas não tem mais um quarto sobrando, então eu e meu irmão vamos dormir no quarto da nossa prima.

- Gabi, eu estou louca pra te apresentar umas amigas minhas, você vai amar todas! – ela disse, animada.

- Que ótimo! – falei, tentando parecer alegre. Acho que não funcionou.

- Tem a Júlia, a Paula e a Vitória. Todas já sabem que você está aqui e amanhã, como é o primeiro dia de aula, estão muito animadas para te conhecer. – ela disse, quase dando pulinhos de alegria. Sinceramente, não vejo a maior graça nisso. Quando minha mãe aceitou a proposta, eu ainda estava em aula no Rio de Janeiro, portanto não foi difícil me matricular num colégio de Curitiba.

- Que bom, Marcela, fico feliz em saber que vão gostar de mim. – falei, dando um sorriso falso.

- Ai, credo, o que você tem?

- Nada, só estou um pouco cansada. – falei, desviando o olhar.

- Termina de arrumar suas roupas e desça, ok? Vou preparar um sanduíche pra gente. – ela disse.

- Tudo bem. – falei e ela saiu do quarto. Finalmente paz.

Terminei de guardar as roupas e desci para comer sanduíche. Decidi dormi cedo então nem demorei pra subir porque eu estava muito cansada com a viagem.

- Boa noite, pessoal – falei, me despedindo.

- Já vai dormir? – o Felipe perguntou.

- Sim, estou cansada.

- Vou com você. – ele disse pondo o braço sobre meus ombros. Dei um tapinha nas costas dele e ele sorriu.

Deitei na cama e logo adormeci.

۞

Acordei com o sol batendo no meu rosto. Coloquei meu braço sobre os meus olhos e ouvi alguém me chamando.

- Acorda, Gabi, é o nosso primeiro dia de aula! – a Marcela sussurrou para não acordar o Felipe.

- Tudo bem, estou acordada. – falei com uma voz rouca e sem a mínima vontade de sair de casa.

Levantei e me arrumei. Mordi uma maçã e meu tio nos levou até o colégio. Chegando lá, a Marcela e as amigas estavam dando gritinhos e pulinhos logo de cara, como se não estivessem se visto há anos.

- Gabi, essa são as minhas amigas. Júlia – ela disse apontando para uma menina ruiva – Paula – uma menina morena com mexas loiras – e Vitória – uma menina com o cabelo cor-de-mel. Todas muito metidas e populares. Simpatizei com elas, pareciam legais, mas o grupinho em si, não me fazia muito bem, pois sempre fui bem discreta, e elas o oposto.

Não tenho nada contra o grupo de populares, mas o que mais me irrita é a facilidade com que chamam atenção das pessoas e o desejo que eles tem de fazer isso. Qual é a graça em ser notado?

- Prazer. – falei baixinho. Todas me cumprimentaram.

Peguei meu horário na secretaria e fomos para a sala. O primeiro horário não era com as meninas, então sentei no fundo porque eu não conhecia ninguém. Uma menina morena e sorridente sentou ao meu lado.

- Você é nova, não é? Sou a Letícia. – ela falou.

- Oi, eu sou a Gabriela. – disse sorrindo pra ela. Parecia ser gentil. Tinha o mesmo olhar que o meu e, pelo que notei, era igual a mim.

E então o professor entrou e começou uma aula chata de Física.

۞

- Gabi! – Marcela gritou enquanto eu pegava meu lanche no refeitório.

- Droga! – um menino alto, moreno e muito bonito, se esbarrou em mim e derrubou suco de laranja na minha comida. – Meu Deus, me desculpe, eu não te vi!

- Tudo bem, não se preocupe! – falei, tentando ser simpática.

- Como não? Venha, vamos pegar outro almoço pra você. – ele falou, colocando a bandeja na mesa onde a Marcela estava. Vi risos e cochichos, olhei para trás e eram as amigas da Marcela olhando pra mim.

Que beleza, em pleno primeiro dia de aula me esbarro com um gato desses. Parabéns, Gabriela.

- Como você se chama? – ele perguntou, enquanto me acompanhava na fila.

- Gabriela.

- Sou o Rodrigo.

- Prazer. – falei sorrindo.

- Você é nova?

- Sou.

- Hum... Veio da onde? – ele disse tentando puxar assunto. Ponto para ele. Sou péssima em fazer novas amizades e puxar assunto. Acho que, às vezes, parece um incômodo quando tento puxar algum tipo de assunto. E também eu não sei o que falar. Faço o tipo tímida. Muito tímida.

- Rio de Janeiro. Minha mãe recebeu uma oferta de emprego, então fui arrastada para aqui.

- Tenho que agradecer a ela. – ele diz. Sarcasmo.

- O quê?

- Eu estava brincando – ele diz, rindo.

- Ah. – falei, sem graça.

- Você conhece a Marcela?

- Sim, ela é minha prima e estou na casa dela.

- Que ótimo! Temos uma amiga em comum.

- Conhece ela? – perguntei.

- Sim, somos muito amigos. – ele disse com aquele sorriso maravilhoso.

- Ah. – falei. Eu queria perguntar o motivo da pergunta, mas acho que ele já deve ter me visto com ela, então preferir não perguntar.

Fomos para a parte aberta do refeitório e ele me pediu para sentar ao lado dele.

- Gabriela... – alguém me chamou.

- Oi - falei virando. Era a Vitória e ela estava parada atrás de mim com a bandeja na mão. Ela me encarou. – Alguma coisa errada?

- Sim. Uma coisa. Você está no meu lugar.

- O que? – perguntei.

- Isso mesmo. – ela disse.

- Qual foi, Vi? Deixa ela ficar aqui... Derrubei o lanche dela, só estou sendo gentil. – Rodrigo disse pra ela.

- Como é? Não entendi. Gabriela, acho que você entende que eu tenho direito de sentar ao lado do meu namorado. – ela falou um pouco irritada. Namorado? Verdade? Eles namoravam? Hum...

- Como? – falei.

- Para de show, Vi! A Gabi é nova, deixa ela sentar onde ela quiser. – o Rodrigo continuou me defendendo.

- Desculpa, Vitória. Eu acho que o Rodrigo tem razão, eu tenho que sentar onde eu quiser. – falei me levantando e procurando a Letícia. Ela estava na fila conversando com um menino.

Nem olhei para trás porque eu não queria arranjar confusão em pleno primeiro dia de aula.

- Letícia.

- Gabi! Vamos sentar juntas... – ela disse.

- Claro.

- Ah! Quase ia esquecendo... Esse é o Breno, um amigo.

- Oi, eu sou a Gabriela. – falei.

- Oi. – ele disse com um sorriso leve. Não olhei para ele, mas notei que ele me encarava.

Sentamos eu, a Gabi e o Breno na mesa. Notei que a Vitória me encarava e discutia com o Rodrigo.

- Aconteceu alguma coisa? Você parece séria.

- Mais ou menos – falei. – Conheci o Rodrigo hoje e ele foi muito educado comigo...

- O Rodrigo? Aquele ali? – ela disse apontando.

- Sim, esse mesmo, você conhece?

- Se ela conhece? O colégio inteiro conhece esse menino. Ele é o maior galinha. Apesar dele não ter feito nada para mim, nunca fui com a cara dele. – Breno falou. Ele não fazia o tipo de ser encrenqueiro. Parecia tímido. Era bonito. Realmente bonito.

- Sim. Ele está com a Vitória – ela disse.

- Isso mesmo. Ele pediu pra eu sentar com ele e ela fez o maior escândalo e mandou eu sair dali.

- Ridícula. – Letícia comentou.

Contei tudo o que tinha acontecido. Breno estava sempre calado. Observador, como eu.

- Conhece a Marcela? – perguntei.

- Sim, ela é simpática. Acho que a única de lá – Letícia disse, bebendo um gole do suco de laranja.

- É minha prima – falei.

A conversa foi rolando até que o sinal bateu e voltamos para a sala de aula assistir mais aulas chatas.

۞

Eu estava sentada com a Marcela, esperando o pai dela vir nos buscar.

- Ei, Gabi! – alguém por trás tocou meu ombro. Virei e era o Rodrigo.

- Oi. – falei secamente.

- Desculpa pela Vi. Ela é muito ciumenta e não suporta me ver com amigas exceto as dela.

- Tudo bem, não me importo.

- Ficou chateada? Ela não se comportou muito bem, eu sei, mas...

- Eu não fiquei chateada, não. Não se preocupe. Em falar nela, cadê ela? – perguntei. – Cuidado pra ela não me ver e fazer outra palhaçada.

- Gabi, desculpa, sério. Eu não tenho culpa, não precisa falar assim comigo.

- Não, não, eu que tenho que te pedir desculpa. Eu estou cansada da viagem, início de aulas me estressam. Tudo bem, ok? Só não se preocupe.

- Certo – ele disse me encarando. – Vou indo, gente. – ele disse olhando pra Marcela e, em seguida, pra mim novamente.

- Tchau. – a Marcela falou. Ele foi pra casa andando. – Eu sei que você não simpatizou com a Vitória, mas tenta entender o lado dela: o namorado é o maior galinha e ela está apaixonada por ele desde o ano passado. Ela tem medo de perder ele.

- Precisava ela falar daquela forma comigo, Marcela? Eu só estava sentada ao lado do Rodrigo porque ele pediu! Precisava ela fazer aquele drama... Eu estava beijando ele? Agarrando ele? Não.

Admito que eu ficaria brava se visse meu namorado sentado ao lado de uma menina. Não tiro a razão dela, mas que menina dramática.

- Tudo bem... Só não converse muito com ela porque ela não foi muito com a sua cara.

- Por que?

- Porque ela tem medo de me perder também. A Vitória é muito mimada e ela já se decepcionou muito.

- Entendi. Deixa pra lá, não vou cruzar o caminho dela. Conheci a Letícia e gosto de andar com ela.

- Pode andar comigo também.

- Tudo bem, mas prefiro ficar mais com a Letícia para não atrapalhar o lado da Vitória. Deixa assim, é melhor.

- Você quem sabe.

O pai da Marcela chegou e entramos no carro. Chegando em casa, almoçamos e dormi à tarde. À noite assisti uns episódios de um seriado e fui dormir.

۞


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