Scared about Clary escrita por Anne


Capítulo 1
Infância




Este capítulo também está disponível no +Fiction: plusfiction.com/book/446371/chapter/1

"Eu já tive uma família e uma vida normal um dia. Até que dia nove de novembro, tudo mudou. Eu tinha sete anos. O relógio marcava seis da tarde. Eu estava sentada no mesmo balanço de sempre, parada, o olhar perdido, admirando o nada... Na verdade, eu estava olhando pra ele.Ele, que tinha cabelo loiro e um pouco encaracolado. Ele, dos olhos indecifráveis e do tom de voz mudo. Ele, que ninguém mais podia ver.

Enquanto estava distraída, podia ouvir gritos. Mas continuei ali, observando-o, parada. Desejando ouvir sua voz. De repente, ele abre a boca, pronto pra dizer algo, mas não diz. Ele aponta para a janela do meu quarto. Meu e da minha irmã. E ao olhar pra cima, lá estavam eles. Minha irmã, minha mãe e meu pai. Mas o que estava acontecendo? Eu não conseguia entender. Minha mãe sorria, mas não era o sorriso que ela costumava ter. Sorria e amarrava a boca da minha irmã com alguma coisa que de longe eu não podia ver. E meu pai... A espancava. Dando socos, tapas, e chicotadas. Mas ela não podia mais gritar.

Levantei do balanço e corri até o quarto na adrenalina. E então, os vi de perto. Aqueles olhos não pertenciam a eles. E estavam longe de pertencer. A pupila estava dilatada num tom branco, meio puxado pro cinza, e as pálpebras estavam inchadas.

Minha mãe continuava sorrindo, e o rosto da minha irmã estava manchado de lágrimas e sangue. Os olhos dela estavam quase se fechando... E então eles se aproximaram de mim.

Primeiramente, meu pai acariciou meu rosto, e em seguida, levantou um canivete. Então eu soltei o grito que estava me sufocando por dentro sem que eu ao menos tivesse me dado conta.

O grito afastou eles de mim, e eu não pude entender o porquê. Sai correndo o mais rápido que pude, descendo as escadas com toda minha velocidade, mas eu estava com medo e minhas pernas tremendo, então não pude evitar, tropecei e rolei a escada inteira. Quando finalmente senti meu corpo no chão, estava com muita dor, como se algo tivesse perfurado minhas costas, braços e pernas. Levanto os olhos e vejo as pantufas azuis de minha mãe. E agora, seus olhos e seu sorriso pareciam pertencer a ela mesma.

- Calma, filha. Está tudo bem. Venha comigo.

Eu fui ingênua e a segui. Ela me levou até o balanço de volta. O menino já não estava mais ali, o céu já começara a ficar escuro e dava pra ver a lua. Então de repente senti algo, ou melhor, alguém segurar minhas duas mãos atrás das minhas costas, e amarrá-las. Senti também uma pancada nas costas, e assim, cai no chão.

Não lembro de muita coisa depois disso, só de ter começado a rezar. Muito. Eu rezei, e naquele instante, a dor parou. Eu me senti no céu, e por isso pensei que tivesse morrido. Mas não, eu não havia. Pelo contrário, eu matei meus pais. E quando eu morrer, irei para o inferno, onde é o meu lugar. É isso o que as pessoas tem me dito por todos esses anos. E é nisso que eu aprendi a acreditar, por um bem maior.

Como castigo de Deus, se é que ele existe, passo algumas horas do meu dia vendo espíritos, sombras, vultos, demônios e tudo que se possa imaginar. Mas eu não tenho medo deles. Quando criança, até tinha, confesso. Mas aprendi a me defender e a me acostumar com as presenças. Aprendi a lutar contra eles. Aprendi que sou muito mais poderosa do que um dia imaginei ser. Aprendi e aceitei o fato de que vim nesse mundo para ser isso: Um monstro. Uma amaldiçoada. Uma assassina.

Não tenho amigos, não tenho família. Não tenho ninguém próximo a mim. Até mesmo os assassinos tem medo de mim. Porque eles não são como eu. Eu sou a pior criatura que existe. E é por isso que estou aqui, pagando pelo crime que cometi."

Meu coração se contorce ao ler a confissão por escrito que eu escrevia todos os dias, quando tinha dezesseis anos, obrigada pela minha psiquiatra, no reformatório onde eu vivia. Eu fugi de lá faz alguns meses, e hoje vivo numa casa abandonada no meio da floresta, com meu não-sei-definir-o-que-é. Ele se chama Érick e passamos anos juntos no reformatório. Ele é extremamente agressivo e bom de cama. E trás cigarros pra mim toda noite. Bom, o que posso dizer? Eu gosto. Não dele. Do sexo dele, e dos cigarros.


Não quer ver anúncios?

Com uma contribuição de R$29,90 você deixa de ver anúncios no Nyah e em seu sucessor, o +Fiction, durante 1 ano!

Seu apoio é fundamental. Torne-se um herói!




Hey! Que tal deixar um comentário na história?
Por não receberem novos comentários em suas histórias, muitos autores desanimam e param de postar. Não deixe a história "Scared about Clary" morrer!
Para comentar e incentivar o autor, cadastre-se ou entre em sua conta.