Blood Slaves escrita por Jéssica Aurich


Capítulo 29
Tudo o que vai, volta


Notas iniciais do capítulo

Sei que não é dia de postagem, mas o capítulo já estava pronto, então não quis segurar. Penúltimo capítulo da fic o/

Boa leitura



Este capítulo também está disponível no +Fiction: plusfiction.com/book/446223/chapter/29

Capítulo 29: Tudo o que vai, volta

Seth já não se mexia. Eu tinha medo que estivesse realmente morto dessa vez. Ele sofreu nas mãos daquela vampira louca até que seu corpo não aguentou e caiu na inconsciência. Lobos não deveriam se curar rapidamente? Jacob disse que eles podiam, mas Seth estava apagado em uma poça de seu próprio sangue, todas as feridas abertas e sem dar qualquer sinal de melhora.

— Sabe, pensei que meu filhotinho fosse mais divertido. — Raven estava sentada em um banquinho, encarando Seth com cara de decepção. — Durou muito pouco.

Encarei Raven com todo o ódio que pude reunir. Aquela mulher era louca. E pensar que era esse tipo de sangue com que Edward vinha se alimentando desde então. Pensar nele fez meu coração se apertar e mais lágrimas ameaçaram cair. Chorei tanto por Seth que achei nem ser mais capaz de fazer aquilo. Será que algum dia eu voltaria a ver meu namorado idiota? Ou os meus amigos? Minha família?

— Queria fazer isso com você. Cortar pedacinho por pedacinho, sangrar até não sobrar nada para aquele Edward filho da puta. Mas ainda sou nova nesse lance de vampiro, tenho autocontrole zero. — Revirou os olhos, como se fosse um fato inconveniente corriqueiro. — Por mais que te deteste, seu sangue seria uma tentação, ao contrário do meu filhotinho, e nós não queremos que você morra tão rápido, não é mesmo?

Se eu tivesse um pouco de coragem eu puxaria aquelas correntes até que meus pulsos fossem cortados. Tinha certeza de que seria mais rápido e menos doloroso do que qualquer coisa que aquela doida estivesse tramando. Mas eu não tinha coragem. Detestava a mim mesma por ser tão fraca.

Raven chegou perto de mim com alguma bebida. Franzi meus lábios, mas ela era bem mais forte que eu e me fez tomar tudo.

— O que é isso? — Tentei perguntar. Percebi que minha voz saiu meio arrastada. Eu estava sendo drogada.

Raven respondeu com uma risada, aquela risada estranha que me fazia ter calafrios e se aproximou com um balde e uma esponja, dando-me um banho. Senti um cheiro forte de mato. Provavelmente mais uma de suas poções malditas.

— É o seguinte, vamos brincar mais uma vez, dessa vez de pega-pega. Você foge e, cada vez que eu te pegar, quebro alguma coisa sua.

Raven guardou o balde. Depois foi até a pedra que bloqueava a entrada e a puxou para o lado, deixando que a luz da lua entrasse na caverna. Era noite, mas de qual dia? Há quanto tempo eu estava ali?

— Vou te soltar e você corre. Nem pense em se recusar a brincar ou vou ficar realmente nervosa. — Ela puxou uma chave do bolso da calça que usava, destrancou minhas correntes. E eu corri.

Nem pensei em desafiar a louca, aquela era minha chance de chamar atenção. Os lobos estavam atrás do Seth e os Cullen também deviam estar atrás de mim. A cada duas passadas que eu dava, tropeçava em algum arbusto, ou pedra. Senti minha cabeça rodar, como quando tomava remédio para dormir. Tentei gritar, mas a voz não saia, foi levada junto com todo o meu equilíbrio.

O que antes era esperança de ser encontrada, agora era desespero. A única que me encontraria ali seria Raven.

Senti alguma coisa fria tocar minhas costas e antes que percebesse, fui jogada contra uma árvore. A dor do baque parecia partir meu corpo em dois.

— Te peguei — falou rindo.

Tentei me levantar, mas a dor não deixou, então tentei fugir o mais rápido que pude engatinhando. Não consegui ir muito longe, a sola do sapato dela pressionou minha panturrilha. Senti meu osso sendo partido e chorei de dor. Um grito mudo escapou de meus lábios e outra risada escapou dos dela.

Tentei me arrastar para longe, mas fui arremessada pelo ar antes de qualquer coisa. Voei pela floresta e minha coluna bateu contra outra árvore. Era tudo tão intenso que já nem podia sentir mais dor, apenas virei para o lado e vomitei sangue. Sangue.

Era noite, eu estava meio dopada e imersa em dor, mas juro que os olhos de Raven escureceram. Então ela estava em cima de mim e seus dentes se cravaram no meu pescoço. Todas as outras dores pareciam carícias perto daquela. Não foi nada prazeroso como quando eu doava para Edward.

Só foi bom porque eu quis que fosse bom. Eu quis te dar prazer. Esse mesmo prazer pode se transformar em dor.” Lembrei das palavras de Edward e senti na alma a verdade delas. Era como se rasgasse a minha carne, seus dentes agindo como uma serra e sua saliva como um ácido sobre a ferida.

De repente Raven foi arrancada de cima de mim e jogada longe, como ela mesma fez comigo. Ouvi um rosnado ao meu lado, que reconheceria em qualquer lugar. Agora ela ia aprender a nunca pisar no calo do meu vampiro mal humorado. Eu queria fechar meus olhos, entregar-me à inconsciência, mas meu corpo não deixava. Havia dores intensas demais por todo ele, puxando-me de volta para a realidade. Então resolvi aproveitar o espetáculo.

O rosto de Edward era uma máscara de puro ódio. Nem mesmo em nossas piores brigas o vi transtornado daquela maneira. A noite já não era mais tão noite assim e as primeiras cores do dia deixavam a cena ainda mais visível.

— Você não podia se contentar com o que tinha! Teve que vir atrás do que era meu! — Edward jogou o corpo da vampira contra uma pedra próxima, como uma boneca de pano. Raven ria dele, como se nem dor sentisse. Cada parte dolorida do meu corpo se revoltava com aquilo.

— Eu fiz um favor à sua humana sem sal! Eu também era sua, também me fez promessas, mas na primeira oportunidade que teve me descartou! — Raven pulou em cima de Edward, presas à mostra, mas ele apenas a pegou e jogou contra outra árvore.

— Você nunca deveria ter me trocado. Mas se quer saber, agora até entendo um pouco sua fixação por essa humana — Ela se levantou, limpando sangue de um ferimento no rosto que já se curava. — O sangue dela é maravilhoso.

Edward voou para cima dela, mordendo seu pescoço e arrancando um pedaço de pele. Tudo o que ela fazia era rir, banhada em seu próprio sangue, o que tornava a cena mais grotesca. Meu estômago embrulhou com a visão de todo aquele sangue e o cheiro forte que ficou impregnado no ar.

A cena ficou ainda mais insuportável de assistir quando o sol começou a nascer. Junto com o cheiro metálico do sangue, senti o cheiro de coisa queimada. Não, cheiro de coisa podre queimada.

Raven deu um grito tão horrível ou até pior que os que Seth deu na caverna. Sua pele se deteriorava e fumaça saia dela. Seu rosto de contorceu em pura dor. Tentou correr, mas Edward a pegou no meio do caminho e a prendeu. Ela se contorcia como um inseto fazia quando atingido por inseticida.

Lembrei de uma conversa que parecia ter ocorrido há séculos, quando perguntei se vampiros queimavam no sol. Edward disse que os mais velhos tinham certa resistência, já os recém-nascidos...

Senti uma forte ânsia de vômito, mas meu estômago não tinha nada para colocar para fora. Queria desviar o olhar, porém meu corpo teimoso ficou petrificado na carne da vampira sendo deteriorada, ardendo até pegar fogo, de fogo se tornar puro carvão e, por fim, seu corpo explodir, sangue, carvão e uma gosma sendo espalhado por todos os lados. Seu grito a acompanhou até o último segundo.

—Bella! — Só então Edward veio até mim, a raiva já longe e agora seu rosto tomado por desespero. Ele mordeu o próprio pulso e o aproximou da minha boca. — Beba. — A bile subiu para minha garganta. — Isso não é um pedido, beba Bella!

Tomei um pouco, mas foi apenas isso. Meu corpo teimoso comandava naquele momento. Queria dizer que o amava, que não me arrependia de nada, e que estava tudo bem. A poção da Raven ainda fazia efeito e o cansaço estava me vencendo finalmente, tirando minha voz de mim, então todas aquelas palavras ficaram apenas no querer.

— Isabella Marie Swan, não se atreva a me deixar! — Finalmente a inconsciência veio me buscar, como uma amiga, e a última coisa que vi foram lágrimas no rosto do Edward. Meu vampiro idiota. Cedi à escuridão feliz por ter certeza de que eu havia quebrado todos os muros dele.

Acontece que a escuridão não era tão minha amiga assim, e a inconsciência também não era tão piedosa. Se o exterior já não mais me afetava, por dentro começou um verdadeiro tormento. Raven nem mesmo na morte me deixou em paz. Ela apareceu para mim, com um sorriso perverso no rosto, seu corpo ainda em chamas, e começou a espalhar aquele fogo por todos os lados.

Senti tudo queimar, tudo arder. O fogo percorria cada veia, cada artéria, lambendo tudo com seu ardor impiedoso. Eu preferia ser mordida novamente. Tentei gritar isso para Raven, mas ela apenas ria do meu tormento e ajudava o fogo a se espalhar ainda mais.

Tentei gritar, correr, mas meu corpo era pedra, um peso morto, não obedecia, só sabia receber aquela dor. Então era aquilo. Eu já tinha sido pesada na balança e condenada ao inferno, sem direito à contestação, e a vampira louca seria meu carrasco particular.

O fogo agora se alastrava pelo resto do corpo. Alcançou meu coração, o devorando a dentadas e partindo para outros lugares. Propagou-se com uma dor insuportável pelos meus braços, pernas, barriga, pescoço, rosto. Nenhuma parte seria esquecida.

Não sei por quanto tempo fui submetida àquele tormento, só me lembro de ter percebido o tempo quando o tormento começou a me deixar em paz e, aos poucos, voltei a tomar consciência do exterior. Primeiro senti um vento frio e cortante contra a ponta dos meus dedos. Antes eu teria fugido daquele frio, teria buscado um agasalho. Agora eu o abraçava e recebia como um velho amigo.

Ele foi mais gentil que a escuridão e mais piedoso que a inconsciência. Foi, aos poucos, alcançando minhas pernas e braços, fazendo o fogo recuar. Raven já não ria mais, eu quem ria para ela agora, triunfante. Afinal, ela não me torturaria na morte também.

Agora eu podia mover meus braços e pernas. Queria levantar, pular, correr, mas ainda havia fogo ali. Aos poucos o vento frio encurralou Raven e seu fogo maldito em meu peito. A dor no peito era mais forte que qualquer outra dor que o fogo tenha causado, tentava arrancar meu coração fora, e o vento frio custou a apagar o fogo dali também. Mas por fim, também triunfou.

Não havia mais fogo. Também não havia mais vento. Não havia mais dor. Já não havia nada. Então finalmente me permiti abrir os olhos para o mundo.


Não quer ver anúncios?

Com uma contribuição de R$29,90 você deixa de ver anúncios no Nyah e em seu sucessor, o +Fiction, durante 1 ano!

Seu apoio é fundamental. Torne-se um herói!




Hey! Que tal deixar um comentário na história?
Por não receberem novos comentários em suas histórias, muitos autores desanimam e param de postar. Não deixe a história "Blood Slaves" morrer!
Para comentar e incentivar o autor, cadastre-se ou entre em sua conta.