Blood Slaves escrita por Jéssica Aurich


Capítulo 1
A garota nova


Notas iniciais do capítulo

Primeiro capítulo o/Como eu disse, esses primeiros capítulos não vão se desviar muito da história original. Conforme os personagens forem apresentados eu vou mudando. Realmente espero que gostem.Aaah, e comentem o que acharam :)



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— Pegou tudo, Bella? — perguntou minha mãe.

— Infelizmente deixei tudo. — respondi baixinho.

Não queria que ela ouvisse minhas reclamações, afina, a ideia de mudança fora minha. Estava largando tudo o que amava por quem mais amava.

O quarto ao meu redor permanecia praticamente intocado: a maior parte das minhas coisas não pertenciam ao lugar que estava indo. Na península Olympic, do noroeste do estado de Washington, há uma cidadezinha chamada Forks, onde o sol é um raro turista e a chuva é sua melhor amiga.

Todos os meus pertences eram próprios para Phoenix, cidade ensolarada onde eu morava. Regatas, vestidos de alcinha, shorts, saias curtas, óculos de sol, chinelos... Como eu ia sentir falta!

Olhei uma última vez para o meu amado piano. Mesmo sendo tão importante, preferia deixá-lo para trás como todas as outras coisas. Também fazia parte de uma outra vida.

— Meu amor, sabe que não precisa fazer isso — repetiu mamãe mais uma vez antes que eu entrasse no avião.

— Mamãe, Charlie sente minha falta e você precisa de uma lua de mel. É o momento perfeito para me despachar. — Nunca menti bem, então sempre fui partidária das meias verdades.

— Assim parece que estamos te expulsando!

— Não estão. Essa foi uma decisão minha. Não se preocupe, vou ficar bem — ou o mais próximo possível disso.

A vida toda fomos apenas minha mãe e eu desde que se separou de Charlie, meu pai. Sempre se dedicou a mim mais que o necessário (e a recíproca também é verdadeira). Claro, nas férias eu visitava Charlie em Forks, mas eram os únicos momentos em que nos separávamos. Isso até alguns meses atrás. Ela conheceu Phil, se apaixonou, casou e agora eu estava dando a ela a privacidade que merecia.

Após 4 horas de voo, lá estava Forks me recebendo com um belo tempo chuvoso. Maravilha. Apertei o casaco ao meu redor e fui abraçar meu pai, que me aguardava com um sorriso. Pelo menos alguém estava empolgado com aquela mudança.

Chegando ao estacionamento, lá estava a velha radiopatrulha. Meu pai era chefe da polícia daquela minúscula cidade. Eu definitivamente não ia ficar andando naquele troço, então aquele era um bom momento de pegar minhas economias e gastar em um carro usado.

— Sabe, você não mudou quase nada. Como está Renée?

— Bem, obrigada.

— E as novidades?

— Bom, a única realmente é esta mudança.

— Hum. — O silêncio se instaurou no carro. Charlie não era do tipo falante e eu não conseguia pensar em qualquer outro assunto para falarmos no momento. Aquele era o resultado. Trocamos mais algumas palavras sobre o tempo e só. A nossa sorte foi a viajem até a casa não ter demorado muito.

Lá estava nossa velha casinha de dois andares, dois quartos e um banheiro. Não me agradava muito a ideia de ter que dividir o banheiro com Charlie, mas precisava me acostumar, não havia alternativa. Apenas uma pequena peça não se encaixava no quadro.

— De quem é esse carro? — Um Chevy vermelho desbotado estava estacionado em frente à casa. Era bem grande e parecia ser o tipo de lata-velha extremamente resistente.

— Se quiser, é seu. — Olhei para ele surpresa.

— Está falando sério? — Eu não ia precisar gastar meu dinheiro? Ele não poderia ter escolhido um presente de boas-vindas melhor. Abaracei-o e ele erubesceu em resposta. — Poxa, Charlie, eu amei! Muito obrigada!

— Que bom que gostou — respondeu sem graça.

— Mas como sabia que eu estava precisando de um carro?

— Renée — claro. — Lembra do Billy Jack, de La Push?

— A reserva indígena? Só não me lembro desse homem.

— Sério? Ele costumava pescar com a gente no verão. — Está explicado. Eu amava tanto essas viagens de pescaria... — Enfim, ele estava vendendo a picape por um preço extremamente baixo.

— Sério mesmo, obrigada.

Charlie ajudou com minhas malas e depois me deixou sozinha para arrumar as coisas. Meu quarto era o mesmo de quando eu era pequena, apenas alguns detalhes foram alterados. A cama de dossel fora trocada por uma de casal, a pequena cômoda fora trocada por um guarda roupa, atrás da porta fora instalado um espelho enorme e na escrivaninha um cabo de internet aguardava meu note book.

Minha mãe meio que exigiu esse último detalhe: uma das condições para minha mudança foi que eu conversasse todo dia com ela pelo facebook, mandasse fotos e tudo mais. Não, ligar para ela não era o suficiente.

Enquanto pendurava minhas roupas, ficava pensando no que usaria no dia seguinte. Meu primeiro dia na Forks High School. A garota nova em um lugar onde todos foram criados juntos e conheciam a árvore genealógica completa uns dos outros. Definitivamente não ia ser fácil.

Olhei para a janela: o céu estava cinza. Literalmente. Aposto que a semana toda seria assim. Separei um jeans, camisetinha lisa, um cardigã azul caneta e uma sapatilha preta. Eu sou uma pessoa extremante branca, cabelos e olhos castanhos, então sempre evitava as roupas de tons pastel, não queria parecer um fantasma.

Isso não é o que se espera de quem vem de um lugar ensolarado. Eu deveria ser loira, bronzeada, esportista e ter um corpo de fazer inveja, mas cá estava eu, extremamente pálida e magra, com uma coordenação motora duvidosa. Pensando melhor, meu lugar realmente era Forks.

Quando o despertador me acordou no dia seguinte quase joguei meu celular janela a fora. Não tinha dormido nada, choveu a noite toda e o vento no telhado fazia um barulho insuportável. Como havia previsto, a manhã me recebia com uma neblina densa.

Pelo menos Charlie melhorou um pouco o meu humor. Desci para tomar café e encontrei a mesa toda arrumada e repleta de coisas: pãezinhos, geleias, suco... Claro, tudo comprado. Meu pai não era lá um bom cozinheiro, mas com certeza um fofo.

— Charlie, não precisava de tudo isso! — Dei um abraço nele, deixando suas bochechas escarlates. Esse era um problema que compartilhávamos.

— Eu queria que se sentisse bem-vinda.

— Bom, conseguiu. — Comemos em silêncio, o que foi agradável. Não foi o mesmo silêncio que precisava ser preenchido, como o do dia anterior.

Entrei em minha picape e fiquei feliz quando ela pegou de primeira. Apesar de barulhenta, minha amiguinha funcionava muito bem. Eu ia chegar em grande estilo.

A escola não foi difícil de ser localizada, ficava bem na entrada da cidade. Era um conjunto de construções cinza, com gramado e estacionamento enormes à frente. Em frente a cada construção havia uma plaquinha. Procurei a recepção e entrei.

— Qual seu nome, querida? — perguntou a ruiva atrás do balcão quando informei que era nova por ali.

— Isabella Swan.

— Ah sim, a filha do Chefe Swan. — Ela me entregou o horário e um mapa da escola. — Aqui querida. Seja bem-vinda. — Forcei um sorriso em resposta. Quando fechei a porta atrás de mim, tentei memorizar tudo para não parecer uma retardada andando com vários papéis debaixo do nariz.

Não demorei a encontrar a construção com um “3” na frente, sala do sr. Mason, professor de literatura. Ele me recebeu surpreso e mandou que eu sentasse em qualquer lugar. Antes me entregou a lista de leitura para o semestre.

A aula foi completamente entediante, o homem arrastava cada palavra pronunciada. Fiquei tão aliviada quando o sinal tocou que mal percebi o carinha do meu lado.

— Você é Isabella Swan, certo? — Ele tinha traços orientais, ar de inteligente, alto e óculos quadrados.

— Isso mesmo. E você é... ?

— Eric. Qual sua próxima aula? Posso te mostrar o caminho. — Ótimo, não precisaria do mapa!

— Educação cívica, no prédio seis.

— É perto da minha próxima sala. Vamos? — Pegamos nossas bolsas e saímos da pequena sala. Lá fora garoava. Tchau cabelo lindo e arrumado.

— Isso aqui é bem diferente de Phoenix, né? — Legal, o cara sabia de onde eu vinha.

— Bastante. Mal cheguei e já sinto falta do sol.

— Você não é muito bronzeada.

— Eu sei! Acho que minha pele vinha me preparando psicologicamente para Forks. — Eric deu um pequeno sorriso de lado. Paramos ao lado de outra casinha cinza com a plaquinha “6” na frente.

— Boa sorte! — disse sorrindo. — Te vejo mais tarde.

Sorri de volta e entrei. Ótimo, pelo menos não ficaria sozinha no almoço.

O resto da manhã foi tão monótono quanto aquela primeira aula. Entrava, apresentava-me, assistia à aula e o ciclo recomeçava. Sempre tinha alguém querendo conhecer a garota nova e eu aproveitava esses momentos para não usar meu mapa.

Uma menina baixinha e loira me acompanhou até o refeitório no almoço. No começo gostei dela, falamos um pouco sobre roupas, o que gostávamos de fazer, mas então ela começou a tagarelar demais, então só continuei a acompanhar com “sério”, “nossa” e “legal”. Jessica parecia ser do tipo que precisava ser o centro das atenções ou nada feito.

Sentamos em uma mesa com seus amigos. Era tanta gente que me esqueci dos nomes assim que ela os pronunciou. Acenei para Eric quando o vi, mas ele não veio se sentar conosco.

Jessica dominava o assunto naquela mesa, tal qual pensei, então deixei minha mente e meus olhos vaguearem pelo salão, tentando conhecer os tipos com quem conviveria nos próximos anos. Foi assim que os notei.

Eram cinco bem diferentes uns dos outros, mas parecidos ao mesmo tempo. Dos três meninos, um era grandão − musculoso como um halterofilista inveterado, com o cabelo escuro e crespo. Outro era mais alto, mais magro, mas ainda assim musculoso, e tinha cabelo louro cor de mel. O último era esguio, menos forte, com o cabelo desalinhado cor de bronze.

As meninas eram o contrário. A alta era escultural. Linda, do tipo que se via na capa da edição de trajes de banho da Sports Ilustrated, do tipo que fazia toda garota perto dela sentir um golpe na alto-estima só por estar no mesmo ambiente. A menina baixa parecia uma fada, extremamente magra, com feições miúdas. O cabelo era de um preto intenso, curto, picotado e desfiado para todas as direções.

Eles se assemelhavam em alguns detalhes. Todos tinham pele cor da neve, conseguiam ser mais pálidos que eu. Seus olhos eram estavam rodeados por manchas arroxeadas, como se tivessem passado várias noites em claro. Além disso, todos tinham os traços retos e perfeitos.

Havia uma bandeja cheia de comida na frente de cada um, mas ninguém tocava em nada. Aliás, tampouco se falavam. Eles pareciam se destoar da paisagem ao redor.

— Quem são eles? — perguntei a Jéssica. Ela virou a cabeça para ver de quem eu estava falando e o ruivo olhou para nós duas. Abaixei a cabeça sem graça.

— O ruivo e o grandão são Edward e Emmett Cullen, a pequena é Alice Cullen e os loiros são Rosalie e Jasper Hale. São filhos Dr. Cullen e a esposa.

— Eles são lindos. — Voltei a olhar para a mesa. Podia jurar que o tal Edward estava com um pequeno sorriso no rosto.

— Nem se incomode. O único solteiro ali é Edward. Os outros Hale e Cullen formam casais.

— Mas não são irmãos? — perguntei com certo horror. Lá estava eu, julgando sem conhecer.

— Calma, são filhos adotivos. Os únicos ali que realmente são irmãos são os Hale. O Dr. Carlisle Cullen e sua mulher os adotaram quando eram bem pequenos.

— Legal isso, adotar todas essas crianças.

— É... - Acho que não era a única ali que julgava sem conhecer.

Voltei a olhar para mesa e encontrei o olhar do Edward novamente. Estava com a testa franzida, parecia frustrado. Dessa fez superei a timidez e continuei a encara-lo até que desviasse o olhar. Sorri para mim mesma e voltei minha atenção para Jessica, que continuou a tagarelar. Depois de um tempo, todos os cinco saíram do refeitório juntos com uma elegância e graciosidade que eu definitivamente invejava.

Passei o resto do almoço com aquele pessoal e quando o sinal bateu Jessica me acompanhou até minha próxima sala. Era aula de biologia. Assim que entrei, dei de cara com o Cullen ruivo. A cadeira ao seu lado era a única vazia, então me dirigi até lá. Claro que acabei tropeçando em uma bolsa jogada no chão antes que chegasse lá.

— Oi. — Ele me respondeu com um sorriso duro e um levantar de mão. — Isabella Swan.

— Edward Cullen — respondeu rispidamente. O silêncio após esse contato era quase palpável. Sua ansiedade também era. Olhava o relógio a cada segundo, passava a língua nos lábios e os mordia repetidamente e sentou-se o mais longe possível de mim. Suas mãos estavam cerradas em punhos apertados. Parecia que eu era contagiosa ou algo do tipo.

— Ei, eu te fiz alguma coisa? — sussurrei para ele pouco antes do fim da aula. Edward franziu as sobrancelhas em resposta. — Sei lá, você parece incomodado com minha presença.

— Apenas tenho pressa para o término da aula.

Olhei para o lado constrangida. Ou dizia a verdade, e isso me tronava o ser mais paranoico desse mundo, ou havia acabado de mentir na minha cara. Preferia acreditar na segunda opção. Quando o sinal tocou, o colega saiu apressado com uma graça surpreendente, sem sequer se despedir.

— Você é Isabella Swan, certo? — perguntou um rapaz loiro enquanto eu arrumava meus materiais.

— Nossa, acho que sou uma espécie de celebridade por aqui — brinquei. — Todos sabem quem eu sou antes mesmo de me apresentar.

— Cidade pequena — respondeu sorrindo. — E não acontecem muitas coisas novas por aqui, sabe?

— E você, quem é?

— Meu nome é Mike. — Fomos juntos conversando até a quadra, onde seria a aula de educação física. Mike era de longe a pessoa mais agradável que eu tinha conhecido naquele dia.

Estava com medo daquela aula, justamente porque eu era um desastre ambulante, mas para minha sorte, a treinadora estava passando apenas teoria e regras naquele dia.

Mike me acompanhou até o carro depois da aula e me chamou para sair na sexta. Eu aceitei prontamente. Seria ótimo fazer amizades por ali, tornariam minha vida bem mais agradável.

Quando cheguei em casa e Charlie perguntou como fora meu dia, não menti ao dizer “Não tão ruim quanto eu imaginava”. Sabia que a saudade de Phoenix iria sempre permanecer, mas talvez pudesse me acostumar a Forks.


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