Querido Diário,
Confesso que surgir em um mundo estranho do nada é como nascer novamente.
É assustador. Aos poucos estou me adaptando a esse lugar. Desculpe meu caro por não voltar tão cedo a rabiscá-lo, mas é que tive uma semana dura e com muitas descobertas. As coisas que vejo já não me incomodam tanto.
As pessoas daqui não são tão diferentes do mundo que vivíamos. Não mesmo! Aqui também existe corrupção, infidelidade, preconceito. O que diferencia é a forma de sobrevivência.
Diário, não entendo porque diabos eu tenho que matar insetos, animais, pragas. Dizem aqui, que é eliminando esses bichos que me tornarei um grande guerreiro. Isso me deixa confuso. O pior de tudo é que to ficando rico de tanta moeda que acho nesses ratos inúteis. Mas tenho quase certeza que é por causa desse povo sonhador que acredita em “poço dos desejos”. Só pode! Esperto que sou desço nas cavernas pra juntar uma graninha... Hehe!
Estou muito mais forte também, tenho músculos. Já não tenho tanta dificuldade de enfrentar os bichos. O estilo de vida do povo aqui me lembra muito os contos de J.R. R Tolkien e sua Terra Média. Mas admito diário, acredito estar sonhando ainda, acredito estar vivendo em um mundo de fantasia. E eles o chamam de Tibia.
Mas sonhos não duram tanto tempo assim, e estou até escrevendo. Mas to muito, mas muito confuso.
Descobri duas pontes da qual não posso atravessar. Uma delas tem o Dallheim, guardião da passarela, que sempre diz para que eu fique mais forte, e insiste em me curar que nem o monge louco. Só tem macumbeiro nesse mundo. A outra eu tento passar, mas algo me bloqueia, como se uma parede mágica me impedisse de seguir adiante. Uma espécie de “área V.I. P”.
O esquema de compras e trocas aqui é muito ridículo, porém é a única forma de não ser passado para trás. Somos obrigados a estender as duas mãos, uma com o objeto ou dinheiro que vamos entregar, e a outra vazia para receber. É rápido, agradecemos e seguimos nosso rumo. Perdi muito dinheiro até aprender. Já tomei até sangue acreditando ser o tal “fluído da vida” que muitos procuram por aqui. O maldito me cobrou gp$ 40,00 por aquele frasco. Tenho medo de adoecer por isso estou aqui no templo escrevendo e de minuto em minuto dizendo “oi” ao Cipried já que o monge doido aqui é curandeiro também.
A disputa por comida aqui é complicada. Somos obrigados a matar coelhos, galinhas e ovelhas para comer. Vi um jovem caçando e fui ajudá-lo a pegar uma lebre que dava muitos olés nele. Achando que ele iria dividir comigo a caça ele começou a gritar: - Noob! Noob! Ladrão! - Foi por ai que comecei a notar o egoísmo do povo.
Sinto-me muito sozinho aqui diário. Você é meu único companheiro. É triste surgir em um lugar que não sei se realmente existe. Cair de cara em um templo que talvez nem exista. Espero acordar desse suposto sonho. Talvez, nem seja sonho. Mas vou sobrevivendo na medida do possível. Hoje me senti mal com as barbaridades que vejo. Pessoas mortas, falta de companheirismo. Espero estar animado outro dia. Tenho apenas você para desabafar.
Mas chega de tanta melancolia querido amigo, vou dar duro aqui pra conseguir ficar mais forte e passar daquela ponte. O outro lado parece ser bem mais interessante. Alguns dizem que só lá que conseguiremos achar outros baús e tesouros. Estou muito empolgado para ter a tão cobiçada Armadura “Chain”, a calça “Studded”, e ir atrás do presente do bibliotecário Seymour pra ele me dar o tal do Elmo “Legion”. Eu hein! Voltarei a rabiscá-lo quando tiver concluído, e mais feliz.