Priston Tale escrita por Yokichan


Capítulo 6
Capítulo 5




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Electro POV On.

 

 

         O treinamento já não mais satisfazia os meus instintos. Ceifar os monstros de Sanctuary Of Darkness havia se tornado algo extremamente nostálgico. Aquele lugar sombrio e habitado por mortos vivos, principalmente, no começo se revelara uma divertida brincadeira para minha foice assassina, mas depois de tanto tempo eu já não via diversão alguma em adentrar aquele templo maldito. Porém, algumas vezes ainda visitava as ruínas do santuário dominado pelas sombras quando convidado por alguns amigos atormentados pelo mesmo ócio que eu.

         Naquela manhã eu havia sido praticamente arrastado por outros dois Pikes para o Sanctuary Of Darkness, recluso na saída da Caverna dos Cogumelos, um lugar medíocre e povoado por guerreiros iniciantes por onde se precisava passar para chegar ao santuário. Eu nunca fora muito paciente com iniciantes, e na maioria das vezes achava graça de quando os via tão inexperientes, e eu sabia que muitos deles jamais chegariam ao meu nível. Pobres iniciantes, eternos iniciantes.

         Na entrada do santuário amaldiçoado, se encontrava um pequeno lago muito raso de águas turvas, praticamente negras, ornadas por algumas rochas altas. Depois daquelas rochas, estava a verdadeira entrada para o santuário. Eu e minhas cópias de classe paramos sobre uma das rochas. Um momento para observar o tumulto bélico na entrada daquele mausoléu, se assim eu pudesse especificar. Mortos vivos e gigantes de rocha negra lutavam contra alguns guerreiros na beira das águas rasas.

 

- Putz, não vou entrar aí. - reclamei retorcendo os lábios em uma careta enojada por baixo da máscara azul que cobria a metade inferior de meu rosto

 

         Os outros dois Pikes me olharam com escárnio, afinal, já sabiam perfeitamente que não me agradava aquele cenário tedioso. Eram ambos meus velhos conhecidos, e já havíamos duelado juntos várias vezes até aquele momento. Como todo guerreiro de nossa classe, traziam máscaras no rosto pálido e longos gorros azuis sobre os cabelos. Um deles saltou da rocha e pousou levemente um pouco abaixo. Observei-o, curioso.

 

- Ei, onde vai? - o outro Pike ao meu lado perguntou, inclinando-se para frente

 

- Vamos salgar alguns zumbis, seus idiotas. - ele nos encarou com seu costumeiro olhar irônico e sádico

 

- Isso não tem mais graça. Vamos para Eura. - propus sem ânimo algum, virando o rosto para outro lado qualquer

 

- Fala sério, Eura é muito longe, e não temos dinheiro para um Core. - o Pike ao meu lado lembrou, infelizmente

 

- Aff, pare de lembrar que não temos dinheiro! - levei meu cotovelo contra o estômago dele, mas sua armadura repeliu o baque

 

- Vamos logo, seus maricas! - o Pike abaixo de nós gritou malicioso - Deixem a novela pra mais tarde. - provocou-nos sorridente

 

- Ora, seu... - o Pike ao meu lado saltou para baixo, visivelmente empolgado

 

- Idiotas. - bufei, não vendo outra escolha a não ser os seguir pelo santuário a dentro

 

         Saltamos todos para a água rasa, correndo por ela até a entrada rochosa de Sanctuary Of Darkness. Os monstros da entrada eram demasiado fracos para nossas foices, de modo que não haveria graça alguma em matá-los em troca de meras moedas de ouro. Por isso que eu gostava dos campos de treinamento de Priston: a cada monstro derrotado, equivalentes moedas surgiam ao chão, como recompensa. Uma forma bastante fácil de conseguir dinheiro.

         Na parte interna do santuário, ao subir alguns lances de escada para uma parte superior das ruínas sombrias, encontramos um grupo substancial de monstros. Seria ali, ou em lugar algum. Um de meus companheiros foi na frente, abrindo caminho entre os zumbis e gigantes rochosos com sua foice reluzente. Aquilo parecia extremamente divertido para ele. Novamente, eu apenas bufei, parado em frente ao grupo de inimigos.

 

- Que inútil. - murmurei, retirando com desânimo minha enorme foice das costas

 

- Pense no dinheiro. - o Pike ao meu lado lembrou sorridente, e então juntou-se ao outro Pike na sutil batalha

 

- Alguém tem que lurar. - comentei, lançando à eles um olhar cretino

 

- Lure você. - um dos Pikes propôs enquanto executava um giro com sua foice, cortando vários monstros simultaneamente

 

- E por que não você? - perguntei, alfinetando-o enquanto brincava com minha foice em uma das mãos

 

         Creio que ele não tenha escutado minha pergunta, pois o silêncio prevaleceu no momento em que ele executava novamente um Tornado, girando sua foice junto ao corpo. Naquele ritmo violento de luta, logo os monstros do local seriam todos derrotados, e não haveria ninguém para atrair novos inimigos. Era esse o sentido de lurar, uma gíria de guerreiros, que consistia em correr ao redor da área de combate, atraindo a atenção de novos monstros. Assim, eles jamais acabariam, e nós não perderíamos tempo esperando que outros zumbis aparecessem.

         Coloquei a mão na cabeça, sobre meu gorro comprido que caía pelas minhas costas, e revirei os olhos, imaginando em que inutilidade aqueles dois malditos estavam pensando. Eu não iria fazer o papel mais nostálgico e cretino naquela batalha, o de ficar correndo atrás de monstros insignificantes. Eu nem deveria estar ali, perdendo o meu tempo. Porém, como eu não tinha nada melhor para fazer em nenhum outro lugar de Priston, resolvi me exercitar um pouco, peculiarmente. Quando ia iniciar a corrida circular, ao redor da área onde os outros dois Pikes estavam lutando, uma voz impediu que meu primeiro passo fosse dado.

 

- Precisam de uma Archer, rapazes? - aquela voz estranhamente familiar perguntou pelas minhas costas

 

- Hum? – me virei rapidamente, encarando a imagem conhecida da Archer segurando seu grandioso Immortal Bow

 

- Ora, acho que te conheço. - ela comentou franzindo o cenho - Ah, sim! - pareceu então lembrar-se, abrindo um sorriso animado

 

- De Richarten. - completei sua lembrança, encarando-a curiosamente

 

- De Richarten, exatamente. - ela lançou um olhar ao arco novo em mãos - Então, estão em três? - ela espiou por sobre meu ombro

 

- Ahn, acho que sim. Quer entrar no grupo? - eu dei de ombros, manuseando minha foice no ar

 

- Garoto esperto. - ela sorriu, parecendo brincar comigo - Eu luro, pode deixar. - e passou por mim rapidamente

 

- Aliás, quem é você? - percebi que ainda não sabia o nome dela

 

- Mystic. E você? - ela perguntou enquanto colocava o arco nas costas para iniciar a corrida

 

- Electro. - respondi, e subitamente um sorriso nasceu em meu rosto; estranho sorriso

 

         Ela era rápida enquanto lurava, e rapidamente a área de batalha ficou repleta de monstros. Eu juntei-me aos dois outros Pikes, no centro do grupo de zumbis. Derrotávamos os inimigos rapidamente, enquanto a Archer atraia cada vez mais monstros para o local. Quando o número ficou grande demais, ela parou e com seu arco poderoso nos ajudou na batalha. As flechas douradas de Mystic deixavam minha visão iluminada, e embora estivéssemos em uma batalha, aquilo me parecia algo bonito.

         Ao final de algumas horas, eu já tinha adquirido dinheiro suficiente para uma semana inteira, e aquele lugar não me interessava mais. Um dos Pikes havia nos deixado por motivo de um compromisso inadiável, e perto de terminarmos aquele combate, o outro Pike também partiu. No entanto, Mystic ainda estava ao meu lado, disparando suas flechas de Fênix contra os zumbis. Era extremamente simétrico e suave o movimento do corpo dela, flexionando-se ao puxar uma flecha no arco, e então a soltando para cortar o ar. Não pude deixar de suspeitar que ela fosse uma guerreira de elite, assim como eu, mas minha curiosidade não era suficiente para que eu perguntasse sobre aquilo.

 

- Vamos parar. - eu disse, guardando minha foice nas costas após ceifar o último dos monstros

 

- Boa pedida. - ela sorriu um pouco ofegante - Há quanto tempo estamos aqui? - refletiu ela em voz alta

 

- Não sei ao certo. - respondi, afastando-me até as escadas - Tempo suficiente, creio eu. - disse irônico

 

- Vamos sair desse lugar. Isso fede à mortos. - ela franziu o cenho enojada, depois sorriu sarcástica

 

- Para onde? - a encarei após rir sutilmente daquela crítica

 

- Que tal um café em Richarten? - ela propôs erguendo as sobrancelhas para mim

 

- Certo. - sorri descendo as escadas ao lado dela - Tem Core? - perguntei

 

- Não, e você? - ela colocou as mãos nos bolsos vazios da armadura

 

- Também. - ri daquilo, não sabendo ao certo onde estava a graça

 

- Oush. - ela murmurou irônica - Vamos comprar alguns na saída do santuário. - ela assentiu decidida

 

         Eu apenas concordei, admirando a maneira decidida como Mystic tratava as coisas. Eu realmente gostava de pessoas como ela, que não hesitam diante dos fatos, que sabem o que querem. Talvez fossemos nos tornar grandes companheiros de batalha, afinal, além de ser uma mulher bonita, ela era uma ótima guerreira.

        

 

Electro POV Off. Mystic POV On.

 

 

         Acabávamos de entrar em um dos bares de Richarten. O sol quase atingia o centro do céu, e não haviam muitos guerreiros no bar naquele momento. Era um lugar rústico, medieval, como tudo naquela cidade. Era uma casa de madeira, com algumas janelas abertas presas em vigas de metal batido, em uma das ruas menos movimentadas de Richarten. Ao lado do bar, ficava o Clã Master, onde um velho conselheiro recebia pedidos sobre os clãs de Priston.

         Sentei-me à uma mesa perto da janela, e Electro sentou do outro lado da mesa, acomodando-se na cadeira daquele jeito que todos os homens decididos fazem. Olhei por um momento para ele, mais atentamente, percebendo o quão misteriosa era aquela classe dos Pikes. Sempre com o rosto coberto por máscaras e usando aqueles gorros compridos, eles eram estranhos, mas também bonitos. Os olhos de Electro eram de um azul belamente vivo. Ele colocou uma das mãos sobre a mesa, e meus olhos notaram o quão grande e elegante ela era, de um tom especialmente bonito. A conversa alta de alguns guerreiros no outro canto do bar me despertou daquelas observações interessantes.

 

- Então, dois cafés? - ele sondou, olhando-me curiosamente

 

- Para mim está bom. - assenti, abrindo um sorriso muito sutil no rosto

 

- Certo. Espere aqui. - e então ele se levantou e foi até o balcão do bar

 

- "Oh Deus, como é tentador..." - pensei perigosamente ao vê-lo naquela elegante caminhada até o balcão

 

         O que eu estava fantasiando? Baixei o rosto e coloquei uma mão em frente aos lábios, escondendo um sorriso malicioso e proibido. Eu estava me sentindo atraída pelo Pike mais bizarro entre todos que habitavam Priston. Obviamente, fisicamente ele era o mais belo, mas eu senti que ele era alguém estranho quando o encontrei pela primeira vez naquela cidade. Perguntas curiosas sobre aquela Sacerdotisa, reações esquisitas diante de minhas respostas, pensamentos refletidos em seu rosto. Eu lembrava-me perfeitamente das feições de Electro quando falamos de Hakuna, a misteriosa Sacerdotisa que havia me vendido o arco. Seria possível que ele estivesse interessado nela naquele dia? Um Pike e uma Sacerdotisa? Oh não, aquilo era totalmente improvável. Novamente, ri perigosamente de meus pensamentos.

 

- O que foi? - ele perguntou sorridente enquanto se sentava à minha frente, colocando duas xícaras de café sobre a mesa

 

- O quê? - perguntei curiosa, sendo desperta de meus pensamentos; peguei uma das xícaras brancas

 

- Você estava rindo tão distraída. - respondeu ele, encarando-me com ironia

 

- Ah, não foi nada. Estava apenas lembrando de algumas coisas. - disfarcei, bebendo um gole de meu café; eu era realmente um fracasso quando precisava ser discreta

 

- Hum. - ele sorriu e encarou a xícara de café entre suas mãos grandes sobre a mesa

 

- "Falei algo errado?" - pensei, enquanto encarava curiosamente a face nostálgica de Electro

 

- Mystic. - ele murmurou, ainda olhando para a xícara - Você soube alguma coisa dela? - ele então me olhou

 

- Dela quem? - imaginei se ele estaria falando da Sacerdotisa, mas seu rosto estava diferente de antes

 

- Hakuna. - ele lembrou

 

- Ah, a Sacerdotisa. - comentei, pasma - Hum, soube que ela está se casando com um Mago essa manhã.

 

- Casando? - ele repetiu incrédulo, invadindo meu olhar com suas pupilas injetadas

 

- Sim. Bom, foi apenas algo que ouvi falar. - amenizei, imaginando o motivo daquela curiosidade de Electro

 

- Onde? - ele ergueu-se abrupto da mesa, encarando-me com desespero

 

- Pillai. - respondi surpresa com aquela reação

 

- Tenho que ver esse casamento! - ele sibilou, saindo apressadamente do bar

 

- Ei, Electro! Espere! - esgueirei-me pela janela, observando-o correr rapidamente pela rua

 

         Ele não respondeu, pois já estava longe demais. O que ele pretendia fazer? O que ele sentia por aquela Sacerdotisa? Que tipo de relação ele tinha com ela? Tudo era tão estranho, e eu não conseguia acreditar que um Pike realmente estivesse interessado em uma mística de Pillai. Se minha suspeita estivesse correta, seria a primeira vez na história que duas raças tão distintas se relacionariam daquela maneira. Todos sabiam que Sacerdotisas casavam com Magos e formavam famílias inteiramente místicas, desde que os tempos começaram em Priston. Mas Electro parecia negar aquele fato, e eu tinha certeza que ele estava com problemas. Só havia uma coisa que eu poderia fazer.

         Deixei algumas moedas de ouro sobre o balcão do bar e saí apressadamente daquele lugar. Os cafés permaneceram solitários sobre aquela mesa de madeira.


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