–Você é um idiota!

–Não, você é idiota! –Subi as escadas correndo quando ouvi a gritaria.

–Ninguém aqui é idiota. –Falei seria. – John peça desculpas pra sua irmã agora!

–Mas mãe...

–Mais nada! Peça.

–Desculpas.

–Emma, peça desculpas ao seu irmão.

–Desculpas.

–Ótimo, agora um abraço. – Eu tentava parecer séria. Sempre ensinei a eles que não se deve brigar com o irmão.

Henry e eu fomos criados como únicos, então fazíamos de tudo para as crianças serem unidas.

Depois de um lindo abraço eles saíram correndo para o quintal da nova casa.

Tínhamos viajado praticamente o mundo inteiro, e em uma de nossas paradas adotamos John, a mãe tinha o abandonado na África, então decidimos que ele merecia um lar.

Emma foi trazida da Índia. Achamos ela dançando na rua para conseguir dinheiro, então achamos melhor traze-la com a gente.

Nenhum deles parece comigo ou com o Henry. Por mais que eu ainda seja humana e venho envelhecendo, de vagar, não posso ter filhos.

Henry e eu nos casamos no Egito, nosso casamento não é valido na Finlândia, por isso já marcamos uma data para casarmos aqui.

Começamos a trabalhar ajudando famílias abandonadas e gente que precisa de cuidados pelo mundo. Estamos nisso a dez anos já. E pretendemos continuar, só temos trinta anos, somos jovens ainda.

–Amor? –Ouvi Henry me chamar.

–Já estou indo. –Fechei a porta do quarto das crianças e desci as escadas.

–Eu já falei que te amo hoje? –Henry disse enquanto me pegava pela cintura e me levantava para depois me colocar na frente dele.

–Ainda não. –Respondi.

–Eu te amo. – E ele me beijou.

Henry está diferente. Seu rosto agora tem barba e o cabelo não é mais tão comprido.

–Eca!! –Paramos de nos beijar para ver John e Emma parados na porta.

–Um dia vocês vão fazer isso também. –Henry disse. – E espero que a Emma demore muito.

–Não vou fazer isso papai, é nojento. –Ela disse com aquela voz meiga que eu tanto gosto.

–Ótimo. Continue com esse pensamento até os cinquenta anos. –Emma pulou nos braços de Henry e encheu o rosto dele de beijos.

Ela é tão linda. O rosto moreno bem desenhado, cabelos grandes, lisos e pretos. Olhos grandes pretos e cílios enormes, tudo isso com só cinco anos. Vai ser uma mulher incrível.

Senti alguma coisa puxar a barra da minha saia. Quando olhei era John pedindo colo.

Eu o peguei e dei um beijo em seu nariz. Ele tem a pele bem mais escura, cabelos raspados e negros combinando com a cor dos olhos. Lembro que quando o encontramos, ele estava completamente desnutrido e agora está mais forte.

Emma e John são a minha alegria. Pensei que o amor que eu tinha pelo Henry era grande, mas amor que tenho pelo meus filhos e ainda maior, porque eles dois são o resultado do meu amor com o Henry.

–Para tudo que isso merece uma foto! –Alex entrou em casa já gritando.

As crianças desceram do nosso colo e foram correndo abraçar ele. Killan vinha logo atrás trazendo junto com ele uma menininha que eles tinham adotado recentemente. Os dois ficaram três anos na fila de espera e finalmente conseguiram.

–Alex! –Falei e corri para abraça-lo.

–Tchuca! –Ele me abraçou ainda mais forte. –Brenda e Samuel mandaram um beijo e disseram que eles veem ver sua nova casa assim que chegarem de viagem. – Eles dois tinham se casado e estavam em lua de mel.

–Sem problemas. E quem é essa menina linda? –Perguntei.

–Margot, essa é a Madison. –Ele pegou a menina no colo para que eu pudesse vê-la melhor.

–Oi linda. –Ela tinha os cabelos bem curtinhos e cacheados, olhos cor de mel e a pele branquinha.

–Diz Oi. –Alex disse. Madison sorriu pra mim e passou a mão no meu rosto.

A maioria das crianças tem essa reação quando veem que meu rosto é diferente do delas.

–Quer brinca? –Emma perguntou para Madison.

Madison só fez que sim com a cabeça e Alex a colocou no chão. Logo as três crianças sumiram de nossas vistas correndo.

–A casa ta ficando ótima tchuca. –Alex disse.

–Pois é. Falta muito ainda pra ela ficar igual ao que era antes, mas a gente chega lá.

Havíamos comprado a mesma casa de antes, na verdade compramos só o terreno. A casa mesmo tinha sido destruída pelo fogo. Mas estar ali era onde eu queria estar, já que foi naquele lugar onde tanta coisa aconteceu.

As vezes lembro da garota que ficava sozinha na sala vendo filmes de romance e não entendo nada, pensando o porque dela se sentir vazia, e tenho vontade de voltar no tempo só para dizer a ela que tudo vai ficar bem e que em alguns anos ela iria ser a mulher mais feliz do mundo.

Todos os dias me senti feliz por ter Henry e as crianças comigo. Mesmo quando brigamos, nunca me arrependi de ter escolhido passar a vida com ele. Graças ao Henry eu sei o que é ter uma família, o que é ter pessoas importantes na minha vida.

Sinto tanto orgulho de Alex e Killan. Eles dois tomaram um grande passo quando decidiram adotar Madison, e ela com certeza está na família certa.

Brenda e Samuel foram feitos um para o outro. Por isso eu e ele nunca daríamos certo. Samuel foi feito para a Brenda. Eu fui apenas uma ponte para ligar eles dois.

Queria que Edgard estivesse aqui para poder ver o que nós conseguimos juntos. Já que o que ele sempre quis foi uma família, com certeza teria muito orgulho da nossa.

As vezes eu vejo o quanto Henry aparenta ser mais velho que eu, mas isso não me importa nem um pouco. Antes do coração dele parar, daqui alguns muitos anos, entregarei o meu literalmente pra ele.

Meu coração sempre foi e sempre vai ser deste homem maravilhoso que me mostrou a vida.

–Vem gente! –Alex falou.

Sentamos todos no sofá da sala. Henry, eu, John, Emma, Alex, Killan, e Madison.

Alex colocou a câmera em cima da lareira e todos olhamos para a luz vermelha piscando. O flash veio e eu levantei para ver a foto.

A imagem mais perfeita do mundo estava naquela pequena tela. Minha família.