Tout! escrita por Ukka


Capítulo 1
VILA DE SANGUE E FOGO




Este capítulo também está disponível no +Fiction: plusfiction.com/book/44585/chapter/1

 

PRELÚDIO

Em tempos de muito poder dos humanos, os elfos estavam sendo massacrados a cada lugar que passassem. Se um humano simplesmente fosse fisicamente aparentado com um elfo, também corria sério risco. Em Arton as coisas eram assim. Os tempos de ‘caça’ foram ficando cada vez mais violentos, mais gente sendo morta, cidades destruídas. Nesse mesmo tempo, um assassino vem até o mundo outra vez, desafiando a vontade dos vinte Deuses do panteão. O assassino amedrontou toda Arton, com todos os paladinos que cercavam o mundo, e guerreiros épicos que o caçavam mundo afora.

Todos os povos temiam que os elfos acabassem de uma vez por todas, pois sem eles, nãp haveria o equilíbrio perfeito. Então, humanos e elfos se uniram para continuar a espécie, nada que já não tivesse sido feito antes, mas dessa vez, com mais freqüência que nunca. Os meio-elfos começaram a povoar o mundo, alguns possuíam as orelhas características da espécie, outros não, que passavam despercebidos como humanos nas cidades. Muitos deles viraram bardos misteriosos, para esconder sua verdadeira origem, outros, combateram os caçadores, que, em menor número, começaram a matá-los desenfreadamente.

Com o tempo, as maiores cidades começaram a procurar os suspeitos de chacinas élficas, e a guerra entre elfos e homens foi, aos poucos, se acalmando. Mesmo assim, nas pequenas cidades, o terror continuava. Mesmo sendo poucos, os caçadores punham medo nos habitantes de pequenas cidades, mesmo que não houvesse nenhum elfo. Os caçadores eram agora chamados de ‘Agouros da Morte’. Eles já não se importavam em matar humanos, apenas faziam isso pela pilhagem obtida com a morte deles. Nesse tempo, qualquer objeto élfico era valioso, e todos os que os tinham, eram tomados como elfos ou meio-elfos, sendo assim, mortos pelos Agouros da Morte.

Com o tempo, eles foram esquecidos, mas as famílias passavam de geração em geração o medo dos caçadores. O nome Agouros da Morte foi esquecido, e mais uma vez, o mundo tinha uma certa paz, onde os humanos e elfos, juntos, construíram vidas, e histórias diversas. Os elfos agora, em paz, podiam voltar à profissão que mais chamava a atenção para eles: seriam Magos, Bruxos, Necromantes, sem que, com isso, fossem mortos. O mundo, voltaria ao ‘normal’ tanto quanto possível.


VILA DE SANGUE E FOGO

Capítulo 1

Naquela manhã tudo estava bem. Eu havia saído para comprar frutas com a minha mãe... Estava tudo tão bem que eu até estranhei que ela não estivesse sorrindo naquele dia... Acho que ela já sabia.

Chegamos em nossa casa, era uma casa bem simples, feita de madeira como me lembro, assim como todas as outras da nossa vila. Numa vila no meio da floresta não há muita matéria para fazer as coisas, apenas madeira e pedra em abundância. O pouco metal que havia, era trazido pelos aventureiros e mercadores, que pagavam a sua estadia na estalagem com os produtos de sua caça ao tesouro, às vezes coisas feitas de metal, ferro ou aço.

Quando eu e minha mãe, por volta das três horas da tarde estávamos em casa, ela bordando um tecido, que eu me lembre, élfico, e eu brincando com minhas bonecas de pano, ouvimos gritos vindos da praça. Havia um homem lá, era ele quem provocava esses gritos. Lembro-me das pessoas caindo sem reação quando ele disparava com aquele objeto, que eu nunca tinha visto. A mamãe correu comigo para dentro de casa. Ela derrubou muitas coisas, e virou a mesa sobre as nossas cabeças e me segurou forte sobre o seu colo.

–Tudo vai ficar bem. – dizia ela. – Não chore.–Mas eu não estava chorando.

Logo eu senti um cheiro de madeira sendo queimada, mas não sabia de onde vinha. Foi aí que a mesa foi puxada, e eu pude ver que toda a vila estava pegando fogo. Havia um homem pálido, cabelos pretos, curtos e espetados, vestido de preto, fitando a mamãe com cara de satisfação por ver que ela sentia medo pelo fato de ele estar ali.

–EU NÃO SOU UMA ELFA! – Gritava ela, pensando que ele era um caçador – POR FAVOR, VÁ EMBORA!

–Dona... Eu não vim aqui atrás de elfos. – Dizia ele enquanto apontava aquele objeto estranho para a minha cabeça. – Eu vim aqui pra ter o imenso prazer de ouvir os gritos e sentir o cheiro de sangue!

A mamãe se desesperou com aquelas palavras, e colocou sua cabeça à frente da minha, o homem se assustou pelo movimento brusco e disparou. Foi como se aquilo atravessasse a mamãe, e entrasse na minha cabeça e me deixasse cega... Não sei se aquilo foi um segundo ou uma hora, mas aquela dor não cessava... Depois disso, a dor passou, finalmente, e eu pude enxergar: Eu estava ensopada com o sangue da minha própria mãe!

–MAMÃE! – Eu gritei, enquanto chacoalhava o corpo inerte da minha mãe. Ela tinha morrido, e não havia nada que eu pudesse fazer.

Ele me puxou pelo braço, enquanto me levava aos poucos pra longe dela, mesmo que eu lutasse para me libertar.

–Pegue alguma coisa de sua mãe, pra quando você crescer, se lembrar do que eu fiz, aí você vai me odiar e me matar. – Ele falou isso com tanta calma que eu parei de chorar, então ele me livrou de sua mão.

Eu fui até o corpo da mamãe, e peguei o bracelete de madeira em seu pulso. Eu sabia que não mais a veria depois daquilo. Coloquei o bracelete em meu braço, e fui em direção ao homem, ele já me esperava na porta. Nós saímos daquela vila, eu deixei tudo aquilo pra trás, toda a minha vida ficou com o fogo que tomava a vila, ela morreu junto com a minha mãe e todos os habitantes daquele lugar. Após algumas horas de caminhada, ele finalmente olhou pra mim, e eu pude ver que seus olhos, ao invés de brancos, eram negros como a noite, e no lugar que devia ter a cor do olho, era branco, apenas destacava-se a pupila. Isso me deu medo, e eu tentei correr. Ele foi mais rápido que eu, e me agarrou antes que eu pudesse dar cinco passos sequer.

–Ora, sua danadinha... – disse ele, bravo com a minha tentativa de fuga – Você já não tem pra quem voltar!

Eu gelei naquele instante. Ele estava desamarrando uma coisa na calça, mas eu não pude ver o que era, pois ele estava me segurando de costas para ele, deitada no chão da floresta... Então, com habilidade, ele amarrou as minhas mãos para trás com algum tipo de fita, e me virou de rosto pra cima, e fez outro nó na altura do meu tórax, e saiu de cima de mim.

–Isso é só pra ter certeza de que você não vai fugir.

Durante aquela viagem, eu não dei uma palavra. Ele me deixou acordada por várias noites enquanto viajávamos. Passamos até três dias andando sem parar... Sem dormir. Por várias vezes ele esqueceu de me dar água e me alimentar, por isso desmaiei várias vezes, e ele sempre reclamava quando eu acordava.

–Ah, como eu detesto criança mimada... Aposto que aquela inútil da sua mãe nunca te deixou um dia sequer sem comer...– Eu nunca respondi nada a ele, pois ele nunca perguntou nada, apenas afirmava... E as afirmações nesse caso... Estavam sempre corretas.

Depois de andar por vários dias, eu diria que até um mês, finalmente chegamos a uma cidadela. Ele nos hospedou numa estalagem barata que havia por lá, e me largou no quarto que ele alugou, no primeiro andar, selando a porta para que eu não pudesse atravessá-la. Mas eu não ia fazer isso, o que eu mais queria era tomar um banho e descansar...

Eu entrei no banheiro, me despi e entrei numa banheira de madeira, que ficava abaixo de uma nascente mágica de água, que as pessoas chamavam de chuveiro, por fazer barulho semelhante ao da chuva. A água estava fria, mas tudo bem, eu só precisava me acalmar e dormir... Será que “ele” vai me deixar dormir? Ah, eu penso nisso outra hora, por enquanto, vou continuar com o meu banho... Quando eu saí do banheiro, eu vi a figura dele estirado na cama mais próxima da porta, sem camisa, com o braço direito tampando os olhos... E eu pude perceber que ele usava faixas semelhantes à que usou pra amarrar os meus braços pelo corpo inteiro, e que ele tinha pequenas cicatrizes pelo corpo todo... Estaria ele ferido por todo o corpo? Ele tirou o braço de cima dos olhos para poder me ver.

–Ei, pirralha! – Eu olhei uma grande mala aberta no chão – Tem uma muda de roupa ali na sua cama. – Ele se referia à cama no outro extremo do quarto. – Se troque que eu vou tomar um banho...

Quando ele foi ao banheiro, eu vesti as roupas. Pareciam ter sido feitas pra mim mesma! Era uma calça curta e uma blusa sem mangas. Depois disso, eu me sentei ao lado da mala no chão. Eu sabia que ele iria reclamar se visse eu mexendo em suas coisas, mas minha curiosidade foi maior. Eu acho que levei meia hora bagunçando aquilo tudo, parecia que não tinha fim! Foi aí que ele apareceu. Ele estava vestido com uma calça de tecido preta, e estava sem as faixas. Não havia nenhum arranhão, e mais nenhuma cicatriz!! Desapareceram!!

–Ei!– disse ele quando parou de enxugar os cabelos – O que cê ta fazendo nas minhas coisas??

Eu corri para debaixo da minha cama, assustada. Ele apenas riu, e saiu do quarto. Ele voltou depois de algum tempo com uma bandeja cheia de comida, e eu me atrevi a sair devagar de debaixo da cama, receosa, pra ver se conseguia algo.

–Você quer?

–Humm... Sim...– Eu falei muito baixo, e ele fingiu que não escutou.

–Hã? – ele falou com a boca cheia.

–SIM!– ele demorou um pouco pra responder, por que ele estava engolindo a comida.

–Agora sim!

Ele separou um prato pra mim, e me entregou. Eu fui pro cantinho da parede comer, enquanto ele comia sentado no chão, olhando por entre as aberturas da cerca da varanda do nosso quarto. Quando eu terminei de comer, ele se levantou e chegou junto de mim para pegar meu prato.

–Por que seus olhos são negros?

–Pirralha, eu não vou ser seu mordomo, quando quiser comida outra vez, você que desça pra buscar!!

E então ele saiu para o andar de baixo outra vez.

 

 


Não quer ver anúncios?

Com uma contribuição de R$29,90 você deixa de ver anúncios no Nyah e em seu sucessor, o +Fiction, durante 1 ano!

Seu apoio é fundamental. Torne-se um herói!


Notas finais do capítulo

--- --- --- A fic já está no capítulo 18, mas vou postar semanalmente...
Visitem a comunidade da fic, e participem =D
http://www.orkut.com.br/Main#Community?cmm=93964328



Hey! Que tal deixar um comentário na história?
Por não receberem novos comentários em suas histórias, muitos autores desanimam e param de postar. Não deixe a história "Tout!" morrer!
Para comentar e incentivar o autor, cadastre-se ou entre em sua conta.