P.O.V JIN

– Monterey - Califórnia

Está escuro, mas a escuridão era minha maior força. Eu nunca a temi, ela era minha companheira. Neste momento corro pela floresta atrás de um metamorfo idiota. Sim, eu sou um caçador de demônios, a parte mais interessante é que eu também sou um demônio. Na verdade sou meio humano e meio demônio.

Minha história é complicada. Meu pai é um demônio, minha mãe um anjo. Difícil de entender como foram se apaixonar. Quando eu tinha dez anos minha mãe desapareceu. Eu e meu pai saímos à procura dela, na época eu era apenas uma criança, mas tive que ir junto, meu pai precisava me preparar para vida.

Meu pai sumiu há um mês durante uma caçada quando perseguimos um demônio de classe três. Classificamo–los com uma escala de periculosidade entre um e sete.

Infelizmente não conseguirei encontrá–lo sozinho e é duro admitir isso. Creio que vou ter que recrutar uma pessoa especial para me ajudar, e acho que ela não terá tanta escolha.

– Chega de correr, acha mesmo que vai escapar? – gritei para o demônio.

Essa perseguição já está me cansando. Aumentei minha velocidade, provavelmente corro a uma velocidade de, mais ou menos, três vezes mais que um simples humano e não era meu limite.

– Estou chegando – aviso a minha vitima.

Serio que ele pensa que pode escapar? Metamorfo idiota. Saquei minha Salder da cintura e disparei. Um risco vermelho rasga a escuridão da floresta e acerta em cheio as costas do idiota que cai estremecendo.

A Salder é uma pistola preta com linhas vermelhas, parece que foi feita de larva de vulcão, pois ao disparar a parte vermelha brilha como larva, ou quando esta perto de um demônio. Como consegui? Roubei de um caçador de recompensa do inferno e o matei com ela.

Aproximo-me devagar, o metamorfo está deitado de bruços. Com o pé o viro de frente para mim e fico olhando ele deitado.

– Volte para o inferno – falo com um sorriso no rosto.

Ele toma minha forma na mesma hora.

– Vai se matar? – Indaga.

– Sim, vou – miro em sua testa.

Percebendo que está preste a voltar de onde nunca deveria ter saído o peste toma outra forma... Essa forma...

– Vai me matar maninho? – É minha irmã, com dez anos. Antes de eu e meu pai cairmos no mundo e deixá–la com nossa avó. Não sei por que, mas eu tremi. Não podia matar minha própria irmã.

– Me dê essa arma maninho – ela pede.

– Seu miserável, como ousa – atirei na testa do demônio.

Não costumo deixar minha mente tão exposta, certamente o desgraçado viu alguma imagem de alguém importante e tentou usar contra mim, mas o importante é que o mandei de onde nunca deveria ter saído.

O corpo dele foi se deteriorando letamente até virar um pó preto e desaparecer.

Missão cumprida. Sento minha pele queimar no pulso, ergui–o e vi surgir uma pequena tatuagem de uma cruz, bem pequena, uns dois centímetros.

Volto para o bar de estrada onde eu tinha deixado meu carro, entro e giro a chave. O velho Camaro ronca e volto para estrada. Ligo o radio e coloco minha musica preferida, Faint – Linkin Park.

Logo estarei de volta, maninha. Aguarde–me.

(P.O.V LYN)

Salem - Oregon

Estou no meu quarto ainda terminando de me arrumar para a escola, minha avó estava me chamando pela quarta vez. Pego minha mochila e desço as escadas pensando no que teria para o café. Mal chego à cozinha e minha fome simplesmente evapora.

Não acredito no que vejo quando chego, lá estava ele, meu irmão, que não vejo a anos, sentado na mesa da cozinha conversando com a minha avó. Sinto o olhar de surpresa dele sobre mim. Ele está muito diferente do que me lembro. Também quando o vi pela ultima vez ainda era criança, não lembro muito bem dele, mas sinto a mesma coisa que antes, raiva por ter ido embora e me deixado sozinha, por ter ficado com o papai e eu sem ninguém da minha família, alem da vovó. Ele se levanta para me cumprimentar, está bem mais alto que eu, quase 30 cm.

– Oi maninha­­ – ele vem me abraçar, estendo a mão mantendo distancia. Jin me olha por alguns segundos e aperta minha mão de leve.

– Oi... Vó, estou atrasada, já vou indo – falo.

Viro-me sem fome alguma e ando em direção a porta.

– Me espere, vou com você – olho para a porta e vejo meu irmão saindo e me seguindo.

– Você perguntou se quero sua companhia?

– Precisamos conversar.

Começamos a caminhada, muito quietos, um silêncio muito profundo, eu já tinha aquele caminho de cor, então ando olhando para o chão. Já ele olha em volta. Minha mochila está bem pesada hoje, estou levando a apostila nova e a velha, então está mais do que o normal, tanto que quando tento ficar parada, começo cair para um dos lados. Ele deve ter percebido isso e se oferece para levá–la.

– O que você quer falar comigo?

Entrego a mochila a ele.