Metamorfoses Voláteis escrita por Cupcake Says


Capítulo 29
Capítulo 28




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Voltando para dentro Klaus encontra Morpheu de pé, cercado de uma porção de soldados falando todos ao mesmo tempo, ele os assiste falar em silêncio, piscando algumas vezes enquanto eles matraqueiam sobre memórias que ele não tinha mais.

– Sinto muito, mas nunca ouvi nada disso... – ele sorri, como se estivesse cercado de crianças, e não soldados.

Os olhos dele se voltam na direção de Klaus, e ele sorri gentilmente, o rosto inteiro se iluminando devagar com a alegria plácida de ignorância genuína. Klaus por outro lado tem os olhos manchados de guerra, de dor e arrependimentos múltiplos... e o olhar que ele dirige aos soldados faz com que todos caiam em silêncio, afastando-se lentamente do comandante e dispersando-se em outras tarefas.

– Olá Klaus. – ele diz, pitoresco quando o doutor da meia volta para sair da sala, parando-o no batente.

Klaus desce as unhas pela madeira do batente, respirando fundo antes de se voltar ao comandante com uma expressão fechada e meramente profissional.

– Como se sente, Morpheu?

– Muito bem. – ele espreguiça lentamente. – Obrigado por perguntar. Esses homens parecem te respeitar bastante... – ele comenta, olhando os arredores com os olhos caindo sobre todas as coisas com cuidado, olhos cálidos e confortáveis. – Por acaso você os comanda?

Os olhos de Morpheu caem lentamente na direção de Klaus, absorvendo sua imagem como se fosse algo de valor, que merecesse ser cuidado, tão sinceramente gentil e desprendido... Tão livre de maldade ou arrependimento...

A respiração de Klaus se quebra na garganta, a sensação de se estar tão perto, mas tão longe de seu alcance... Tão longe das pontas de seus dedos.

Eram estranhos.

Pois aquele homem não era o Morpheu que havia deixado... Não o amava nem um pouco a menos por isso, não conseguia se forçar a tanto.

– Não... Não sou... – diz, mantendo sua voz linear.

– É uma pena... Seria um excelente líder, tenho certeza. – ele sorri, afável.

Klaus sente os olhos se enchendo de água, a imagem daquele estranho tão gentil, tão próximo...

Mas não era seu.

E algo dentro dele se torcia sempre que se lembrava disso.

E se dessa vez ele simplesmente sentisse repulsa?

E se dessa vez ele o odiasse?

E se aquele olhar tão gentil se convertesse em asco e ele jurasse diversas palavras de ódio, de nojo, de desgosto...

E se dessa vez ele errasse?

Quando ele levanta os olhos do chão Morpheu está a sua frente, sorrindo com complacência.

– Perdão... eu disse algo errado? – ele pergunta, os olhos tão doces e tão preocupados.

– Não... É... Me perdoe... – ele diz, olhando lentamente para o chão novamente. – Eu sou fraco... É culpa minha...

Então de repente braços entrelaçam seus ombros, incertos e um tanto desajustados, até seu rosto estar contra o peito de Morpheu como já esteve algumas vezes antes daquele momento.

– Vai... Ficar tudo bem. – ele diz, mexendo no cabelo do doutor como que para apaziguar sua própria falta de convicção no que falava, já que não sabia o que estava errado para julgar se estaria bem ou não.

Klaus enrosca os braços atrás das costas do comandante, as mãos fechadas em punho na blusa de malha preta, o rosto afundado no peito do comandante, como se tentasse se privar da verdade que o puxava pelos braços. Tremendo e esperando que passasse... que tudo isso passasse.

– Morpheu...

Morpheu tinha apenas uma forte sensação de déjà vu, mas continuou em silêncio, sentindo a figura do homem que não conhecia tremendo contra seu peito como se estivesse lá fora na neve.

– Está tremendo... Está com frio? – ele pergunta, tentando encontrar os olhos de Klaus.

– Estou... Estou sim...

~*~

Sentado numa pedra de gelo, Dantalion observa em silêncio enquanto o sol se põe, refazendo o coque desajeitado que ele sempre usava.

“Dantalion.”

Dantalion olha para trás, geralmente as vozes que ouvia em sua cabeça eram apenas suas, mas nesse caso a entonação o fez expor uma expressão suave e adocicada enquanto virava a cabeça devagar.

“Andras...”

Andras assim como todos os outros tinha as tatuagens de tentáculos pelas costas , torso e braços, mas era um tanto mais alto que os demais, tinha o cabelo castanho escuro numa tonalidade avermelhada que destacava seus olhos de um verde improvável, puxado para o amarelo, uma de suas íris permanecia eternamente contraída num ponto quase imperceptível, enquanto a outra se regulava normalmente a luz ambiente, ele tinha caninos afiados e uma grande cicatriz mais escura no peito.

Estranhamente parecia mais perigoso que os outros.

“Foi atrás do naith hoje... Contou a ele sobre Aleister.”

“Não precisa buscar nas minhas memórias, bastava me perguntar... Sabe que se perdir educadamente faria o que você pedisse...” - ele sorri, suficientemente significativo para que Andras estreite os olhos, a expressão agressiva e predatória.

“Ah, não me olhe assim Andras... Sabe que apenas gosto dessa sua expressão de desprezo.”

Dantalion desce da pedra de gelo onde estava sentado, caminhando na direção de Andras em passos lentos, um ritmo vagaroso que é absorvido tranquilamente pela visão humana, mas que para Andras era visivelmente desnecessário.

“Não tenho o menor interesse em suas memórias, Dantalion... Foi Alloces quem me disse.”

O sorriso nos lábios de Dantalion se desfez quase que de imediato, cruzando os braços sobre o peito numa expressão de desgosto contrariada.

“Oh... Então agora você fala com Alloces? O que mais vocês fazem juntos?”

Andras suspira, empurrando o peso de Dantalion alguns metros para trás até bater em um rochedo, segurando os pulsos dele no lugar antes que arranhasse seu rosto.

“Às vezes me esqueço que você se importa...”

Dantalion o olha com desprezo, a fumaça avermelhada que emana de seus olhos ficando um pouco mais densa.

“Quem disse que me importo? Ou você perguntou isso a Alloces também?”

Apesas dos rochedos quebrados atrás de suas costas ou a força com que havia sido arremessado, não havia realmente se ferido, e Andras sabia disso, era apenas a forma como Dantalion preferia ser tratado, e conhecendo-o como conhecia, Andras sabia lidar com os pequenos momentos de infantilidade que eram jogados sobre ele.

A legião sempre trabalhou em pares, e no caso de Dantalion, Andras era seu par, conheciam-se muito melhor do que aquilo que era prudente, mas ele sempre tivera uma severa dificuldade de aceitar que Andras se aproximasse de Alloces ou Gremory, por motivos que não eram relevantes.

Mas inicialmente pelo fato de Alloces ver o futuro o irritar profundamente, e então havia Gremory... ele tinha seu desprezo simplesmente por existir.

“Na verdade sei disso pelo fato de você nem ao menos tentar se defender... Podia muito bem se soltar se quisesse...Você está esperando alguma coisa. O que é?”

Era verdade que a fumaça que ele exalava pelos olhos não era exatamente decorativa, mas isso não significava que queria usa-la em Andras.

“Você é mesmo um cretino pretencioso, não é?”

Dantalion estreita os olhos devagar, o róseo pálido tornando-se um pouco mais escuro.

“Eu sei que tenho razão... Eu sempre tenho.”

“Está passando muito tempo com Alloces... está começando a falar como ele.”

“Escolho meus aliados com cuidado.” – ele diz abaixando o rosto devagar, na altura do pescoço de Dantalion, onde a pulsação pesada lhe indicava qual o problema. – “Oh... Entendi seu problema.”

“Ah é? Então faça algo.” – ele solta o ar aprisionado nos pulmões, mordendo a língua e fechando os olhos.

“Como quiser...” – ele abaixa devagar, furando a pele do pescoço de Dantalion com os caninos com algum esforço, afastando-se quase que de imediato para dar passagem a fumaça avermelhada que emanava dos furos pequenos.

Dantalion relaxa visivelmente, os músculos perdendo a tensão como se estivesse sendo liberado de um fardo.

E então Andras some e não há mais ninguém ali, estava distraído o bastante com o súbito momento de alívio para perceber o movimento, apenas notou quando seus joelhos cederam pela falta de apoio e ele caiu sentado no meio da neve e pedaços estilhaçados de pedra.

“Odeio quando faz essas coisas, Andras...” – ele pensa, sozinho, olhando as marcas avermelhadas das mãos de Andras em seus pulsos, que podiam ser facilmente confundidas com marcas de grilhões.

Sabia que era impossível, mas conseguia ouvir Andras rindo em algum lugar entre as árvores.

Ou talvez fosse apenas o som das vozes em sua cabeça novamente.


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Notas finais do capítulo

Morpheu ainda é uma criança awkward
hehee
also, Dantalion e Andras
bem, me digam se gostaram uvu