Ao chegarmos no lago dos patos, nos dividimos em dois grupos. Eu e Alice ficamos em um, e Piper no outro, com Laura e o resto dos garotos. Ao meu grupo, foi designada a tarefa de checar o freezer. Laura nos deu as direções para chegarmos lá, e então entramos na cabine da cozinha.

Esta, aliás, era enorme. Pelo menos o dobro da minha casa. O que fazia sentido, já que no acampamento haviam o dobro de pessoas da minha casa. Quer dizer, bem mais que o dobro, mas...

– Julia. - chamou Alice. - Pra que lado ela disse que era a o freezer?

– Direita. Última porta a direita.

Os garotos que vieram conosco, Peter, Lewis, Kyle, Daniel, Sean e Josh guiaram o caminho como cavalheiros. Não que houvesse muito perigo numa cozinha vazia, a não ser, talvez, as facas nas gavetas.

Paramos em frente a uma porta, e então a abrimos. Um vento frio inundou a cozinha e eu estremeci. Kyle se aproximou mais de mim.

– Então... quem quer ir primeiro? - murmurou Peter.

– Alguém devia ficar e segurar a porta. - sugeriu Lewis.

– Eu fico! - gritei imediatamente. - Sou claustrofóbica, então...

– Não se preocupe. - disse Kyle. - Sean pode ficar.

Sean era um garoto enorme. Não seria problema pra ele segurar uma porta pesada como aquela. Mas ainda assim...

– Além do mais, - continuou Kyle, sorrindo. - Você é a mais esperta. Precisamos de você.

– Hã, obrigada, acho. - murmurei.

Começamos a entrar, e, ao passar por Sean, murmurei:

– Segure essa porta com a tua vida, senão eu juro...

– Não se preocupe, pequena Julia. Tudo ficará bem.

Ao chegar ao freezer, vi o penguin logo de cara.

– Ali está! - corri e o alcancei.

Mas assim que minhas mãos tocaram o penguin, a porta fechou-se com um estrondo, e as luzes se apagaram.

Meu coração parou de bater, eu juro. Minhas mãos começaram a suar e eu gritei como uma condenada.

– PUTA QUE PARIU, ALGUÉM ABRE ESSA PORTA. AGORA. calma, Julia, respira, tem ar aqui dentro pra pelo menos mais uma hora... uma hora... inspirar, expirar. dentro fora. calma.

Alice estava do meu lado em um segundo. Ela sabia como eu era claustrofóbica. Kyle também se ajoelhou e começou a me tranquilizar, mas tudo o que eu sabia é que eu estava morrendo, e eu podia sentir o ar escapando de meus pulmões, e o freezer preto ficando na completa escuridão...

*****

– Julia. Ju.- ouvi a voz suave de alguém. - Acorda, por favor.

Abri meus olhos lentamente. Eu estava em um quarto de paredes brancas e beliches esverdeadas. Minha cabine. O acampamento, o freezer...

Inspirei profundamente e levei as mão para o peito.

– Eu morri? - sussurrei.

Piper entrou em foco no meu campo de visão.

– Não, sua idiota. Sua claustrofobia atacou e você desmaiou.

– Ah. - foi a única coisa que consegui dizer.

Eu não estava morta. Tinham me tirado do freezer. Aleluia, irmãos.

– O que aconteceu depois?

– Bem, tiramos você lá de dentro. Aparentemente, fazia tudo parte da pista do outro time. Mas o jogo acabou assim que você desmaiou.

– Por quanto tempo eu apaguei?

Ela deu de ombros.

– Uns quarenta minutos. Mas todos estão lá fora. Os monitores estão preocupados, quase ligaram pra sua mãe...

– O que?!

– Relaxa, eu falei que era melhor não. Mas é melhor você dar as caras antes que eles mudem de ideia. Como se sente?

– Estou bem. - murmurei, e comecei a me levantar.

Ao chegar lá fora, dois braços fortes me puxaram pelos ombros e me abraçara. Me sufocaram, na verdade.

– Ju, como você está? - as únicas pessoas que me chamam de Ju são a Alice e a Piper, e nenhuma das duas tem esse braços fortões.

Kyle.

– Hã, estou bem. - respondi, soltando-me de seu abraço.

Laura e uma mulher mais velha se aproximaram de mim.

– Julia, como se sente? - perguntou Laura.

– Bem. Só um ataque de claustrofobia...

– Sinto muito, não pensamos que fosse haver algum problema com claustrofobia neste jogo, mas Liam...

Este, aliás, chegou correndo neste momento, um olhar de remorso puro em seu semblante.

– Julia. - suspirou ele. - Me desculpe. Fui um idiota, não pensei que talvez você viesse para o freezer, esqueci que você era claustrofóbica...

– Não tem problema. - tranquilizei-o. - Você mal me conhece. Não tem o dever de se lembrar de todos os meus problemas.

Ele sorriu, aliviado. A mulher me observou por alguns momentos, e então ela e Laura se retiraram, com um aviso de que eu devia descansar.

– Quem é ela? - perguntei a Liam.

– Madame Clare, a diretora do acampamento. Normalmente ela dorme de manhã e patrulha a noite, mas qualquer incidente devemos acordá-la, então...

– Ela patrulha a noite? - esguelou Piper.

Liam riu.

– As regras são levadas a sério aqui. Todos na cama depois da meia noite.

Ele então virou-se para mim.

– Cerimonia da fogueira hoje, ás oito e meia. Venha. Vou te recompensar.

– Como? - indaguei, erguendo as sobrancelhas.

Ele piscou e sorriu.

– Você vai ver.

E então saiu correndo, de volta para seja lá de onde ele veio.

– Ju. - chamou Piper, baixinho.

– O que? - sussurrei de volta, ainda observando Liam correndo.

Então ela se aproximou e sussurrou no meu ouvido.

– Ele quer teu corpo nu, querida.

Eu virei tão rápido que a chicoteei com meu cabelo. Nos encaramos por um momento, e então desabamos em risadas.

Bati de leve em seu braço.

– Que viagem, garota.