Acordei em uma casa diferente. Após alguns segundos, meus olhos percorreram o cômodo onde eu estava, descobrindo que não morava mais em casa, e sim na que minha avó comprara para alugar. Concluí que eu era o inquilino. Depois de pensar nisso, percebi que estava só de cueca e Marianna, originalmente uma garota que eu conheci ao fazer pela a segunda vez a prova do IFF, dormia ao meu lado na cama, provavelmente nua. Engoli em seco.

O que está acontecendo?, perguntei-me mentalmente.

Alguns segundos depois, as “memórias” retornaram. Os meus planos de ser um escritor, trabalhar em algo relacionado à informática ou com petróleo, resgatar Thayla do Mato Grosso e Guilherme de Guapimirim, entre outros, não saíram como planejei. Nesse momento, me veio alguns questionamentos e uma certa raiva de mim mesmo.

Que merda estou fazendo? Eu não devia estar com a Thayla agora? Por que ela está aqui? Por que eu estou errando pelos os desejos de minha mãe? Eu sou livre agora! Eu...!

Marianna acordou, e, ainda sonolenta, me abraçou pelas as costas. Seus seios encostaram e acariciaram as minhas costas, e admito ter tido um arrepio de tesão. Ela sussurrou em meu ouvido:

– No que está pensando?

Engoli em seco novamente.

– Ah, não importa – ela disse após um longo silêncio. - Quando você vai me pedir em casamento?

Deixei escapar um “iiihhhh”.

– O que você quer dizer com isso? Você não disse que me amava?

Suspirei. Eu estava fazendo tudo errado. Após refletir um pouco, percebi que precisava tomar uma decisão brutal, porém necessária.

– Marianna, eu não posso ficar com você. Eu tenho que resgatar a outra.

– Que outra? – ela pergunta, confusa.

Eu ouvi, repentinamente, um assovio. Bem alto e, se eu estivesse um pouco mais distraído, divino. Depois disso, o mundo ficou cinza e paralisado, e aos poucos começou a fragmentar-se. Comecei a ficar desesperado. Vozes que eu não escutava há anos começaram a reverberar por todos os lados. E então, suando frio, senti como se tivesse me afogando e, dois segundos depois, eu retornara para o dia oito de Dezembro de 2013, e quem assoviou foi João Victor. Nunca pensei que ficaria tão feliz em ouvir a voz dele. Minha mãe me lembrou em que época estávamos, e até agora sinto uma sensação estranha com este pulo temporal e virtual.