A Menina Fantasma escrita por Carol Sequetho


Capítulo 1
A Menina Fantasma


Notas iniciais do capítulo

Eu fiz isso...pra dar de presente pra uma amiga minha...então espero que ela tenha gostado..



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 Bem, vou contar-lhes agora uma antiga história que acompanha (ou "da") minha vida. Acontece que muito tempo atrás, havia uma menina sentada em baixo de uma árvore. Seus longos cabelos eram negros como a noite sem luar, a pele era esbranquiçada quase da cor de osso, seus lábios eram vermelhos da cor do próprio sangue, e os olhos também possuíam uma cor avermelhada, mas era um vermelho mais intenso e escuro, quase se assemelhando ao preto. Ela vestia um vestidinho todo preto, e continha em sua cabeça um arquinho branco, aparentava ter pouco mais de 10 anos. E eu sempre via-a ali, todos os dias, no mesmo horário. A menina nunca sorria, nem falava com ninguém, apenas ficava ali, olhando pro nada, parecia tão perdida... as outras crianças que moravam por aquela região nunca falavam com ela, todas diziam apenas que ela era de dar medo, e por isso preferiam ficar a distância. Afirmavam também que qualquer um, com o mínimo de sanidade, faria o mesmo! Pois bem, eu não sou qualquer um. Então em uma das frias tardes de novembro enquanto voltava do meu trabalho, vi a mesma menina ali, sentada em baixo da mesma arvore, tremendo de frio. Se fosse qualquer outra pessoa teria passado direto, e a ignorado. Mas como eu não era qualquer pessoa, me aproximei da mesma e sorri. perguntei seu nome:

—Qual seu nome menina?

Ela me olhou meio sem jeito, como se não estivesse crendo no meu ato, e respondeu tão baixinho que se eu não estivesse tão perto dela nem teria ouvido:

—Meu nome é Lilian senhor.

—E então Lilian, não deveria estar em casa a essa hora, querida? Está muito frio aqui fora, diga, Onde estão seus pais?

A menina fez uma carinha mais triste do que a que ela carregara normalmente e falou com um tom meio sombrio:

—Meus pais estão mortos senhor. Eu não tenho mais casa para voltar.

Eu, é claro, fiquei comovido com as palavras da garota. Eu sempre adorei crianças e além do mais não via nada de ruim em leva-la comigo pra casa. Então eu fiz o convite que aquela doce garotinha tanto precisava

—Não quer vir pra casa comigo, querida?

Ela mais uma vez me olhou como que em dúvida, então se levantou e respondeu um ''Sim'' baixinho, eu estendi minha mão e ela a segurou como quem se agarra a vida, ao chegarmos em meu apartamento eu dei-lhe algo pra comer e dei-lhe umas roupas velhas de minha irmãzinha para vestir -Alicia sem dúvida não iria se importar afinal nada daquilo a servia mais - Porem a menina agradeceu e pegou somente a blusa de frio vestindo-a por cima do vestidinho.

Dias se passaram comigo e a menina na mesma rotina: Eu acordava todos os dias fazia o café para nós, via teve com ela e depois ia pro trabalho, então a tarde ela me perguntava como tinha sido meu dia e as vezes me pedia um ou dois brinquedos que havia visto em comerciais na teve, eu logicamente dava-os a ela. Lilian era uma criança doce porem muitas vezes fria. Quanto mais tempo ela ficava comigo mais nós apegávamos um ao outro... Depois de um mês passado, alguns vizinhos (e amigos) incomodados com a presença de Lilian começaram a me perguntar quanto tempo mais eu iria ficar com aquela criança, nas palavras de meu melhor amigo Hugo: ‘Você não percebe?!Essa criança não é normal Charles, ela nunca troca de roupa, nunca chora…você nem ao menos sabe de quem ela era filha! A uma aura estranha ao redor dela Charlie… se afaste enquanto ainda a tempo!'' claro, eu não o ouvi, sempre quis ser um pai e agora com Liliam eu estava me sentindo assim. Bem, minha irmã me apoiou na ideia de adota-la legalmente afinal ela precisava voltar aos estudos... e a ter uma vida social... nas palavras de Alice: ''Gosto da menina, não importa o que digam se está feliz cuidando dela, Charlie, então por mim tudo bem. Mas vamos tornar as coisas legais...assim ela vai se sentir melhor...'' Alie (como eu chamava minha irmã desde que erámos crianças ) sempre me apoiava em tudo.

Quando fui tentar adotar a menina eu e Alice resolvemos levar o caso a um júri, seria mais fácil -concluiu Alice - Leva-la a um júri do que a um orfanato, por que no orfanato correríamos mais risco de perde-la...

Quando cheguei ao júri e disse o nome da criança eles simplesmente me indicaram a um necrotério, lá um homem assustador me contou a história de ''Lilian Hans'' e sua família: todos haviam sido brutalmente assassinados e a menina fora a última a ser morta por tanto ela viu seus pais e seus outros dois irmãos (Um menino de 13 anos e uma menina de 2 anos) serem brutalmente assassinados.

Eu contei a Alice o que o homem havia me dito, mas ela não poderia ser um fantasma…ou poderia? Lilian era tão real... todos podiam vê-la, ouvi-la, toca-la ... Alice e eu procuramos a ajuda de uma médium, claro, a mulher me explicou que não havia o que temer em Lilian, se ela fosse um espirito maligno eu já estaria morto a essa altura do campeonato, ela disse também que talvez a ''criança'' apenas estivesse esperando alguém que lhe desse algum conforto, afinal, pelo que eu lhe contara sobre sua morte, ela deveria estar bastante traumatizada... Eu?! bem... sabia que teria de dizer a Lilian que agora eu sabia que ela não era mais humana, Alice disse que isso não era preciso ''Deixe que ela fique com você Charlie, você a ama como filha, não precisa ser assim...'' mais eu não podia ouvi-la, aquela criança deveria ir pro céu... seu tempo na terra já havia terminado.

Aquela tarde, cheguei em casa muito, muito triste... como de costume Lilian estava me esperando sentada em frente à Teve, quando me viu ela se levantou correndo e saltou em meus braços dizendo, ''Boa tarde Charlie! Como foi seu dia? estava com saudades…'' Eu tive vontade de chorar…juro que tive! Aquela criança parecia tão real, suas mãos tão pequenas brincavam agora com meu cabelo todo bagunçado e ela já tinha um pequeno sorriso beirando-lhe os lábios…                  

—Está tudo bem com você Charlie?!Por que tia Alice não veio me ver hoje?!

—Lilian, precisamos conversar…

Eu disse sério, sentando-me no sofá e a colocando no meu lado.

—Eu sei o que aconteceu com você Lila….

Eu tinha dado a ela aquele apelido…

Ela suspirou, um suspiro triste…sofrido... magoado... e seus olhinhos encheram-se d'água pela primeira vez desde o dia em que nos conhecemos… e eles também perderam o pouco do foco que lhes restava como se estivessem perdidos em lembranças passadas...

—Charlie... eu estou com medo...

Ela disse chorando.

—Está tudo bem Lila, eu não vou te machucar…mas você tem de ir... sabe que sim… seu lugar não é com os vivos...

Eu disse sentindo meus olhos começarem a marejar.

—Charlie...?

Ela fez meu nome como uma pergunta…e eu me arrepiei ao ouvir aquilo.

—Sim?

—Obrigada...

Ela disse, e eu fiquei confuso, porque raios ela estava me agradecendo?

—Por que?

Eu perguntei, ela me deu um sorriso sincero, e beijou meu rosto do lado esquerdo dizendo com lagrimas nós olhos:

—Por ter cuidado de mim quando ninguém mas me queria...

Então a pequena Lilian desapareceu sem deixar o menor vestígio de sua existência, eu nunca mais voltei a vê-la... E dois meses depois me mudei daquela cidade , não podia mais continuar ali... tudo naquela maldita cidade me lembrava a 'minha' pequena Lila, a criança fantasma que me fizera sentir como é ser um pai, nunca me esqueci das coisas que ela disse ou das palavras tão infantis. Da forma com que aquela pequena criança dizia meu nome com tanto carinho. Eu nunca falei de Lila pra ninguém, meus amigos e até alguns vizinhos me perguntaram por ela algumas vezes ''Hey, Charles o que ouve com aquela pirralha estranha que estava morando com você?'' eu respondia que ela tinha ido embora por conta própria, apenas Alice sabia o que realmente havia ocorrido. Eu me casei e não quis ter filhos. Minha esposa - Elisabeth - nunca me perguntou o porquê, e acho que em parte dela via a dor nos meus olhos sempre que falávamos sobre ter uma criança. Certa vez alguns anos atrás, contei a ela minha história e  Liz, apenas me abraçou e disse ''Deveria ter me contado antes querido...'' ela era uma mulher incrível...

Fui visitar o tumulo de Lila esse ano, lá não pude conter o choro ao ver uma foto sua com o mesmo vestidinho preto, o mesmo arquinho branco... porém a pele não era cor de osso, seus olhos eram verdes não vermelhos e seus lábios estavam tingidos de rosa e não vermelho.

Sempre me lembrarei dela como minha filha. E espero que ela sempre se lembre de mim como seu segundo pai... ou quem sabe um irmão mais velho?


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Notas finais do capítulo

Espero que tenham gostado ♥ Por favor comentem