O Trono Tomado escrita por Eddgar


Capítulo 1
Capítulo 1


Notas iniciais do capítulo

Gostaria de pedir que comentem. É muito bom ler a opinião de vocês. Ajuda o escritor e muito; nos dá inspiração.Obrigado.



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O silêncio reinava com glória até que três batidas desesperadas chamaram a atenção do velho. O som não vinha de longe, e após se levantar e apurar os ouvidos, logo percebeu que eram toques na porta. Sua expressão então saltou rapidamente de concentrado em suas anotações à atônito convicto. Um leve arrepio correu seu corpo pelo simples fato de nunca, em toda sua solitária vida, ter recebido uma visita — o velho estava inclinado a acreditar que de fato era uma pessoa em sua porta. Viver todo esse tempo sem um ser falante ao seu lado trouxe-lhe apenas o esquecimento de como uma pessoa de fora realmente era. Agora, entretanto, aquelas batidas repentinas serviram-lhe de estímulo para essa recordação.

— Existe mais alguém nesse deserto verde? — Perguntou ele a si mesmo num tom baixo. E, claro, não obteve resposta.

Em sete passos arrastados o velho então chegou à porta. Havia decidido pelo menos até ali chegar. Hesitou alguns segundos mas por fim abriu–a, tomando um pequeno susto com duas súbitas imagens eufóricas que lhe apareceu.

— Precisamos de ajuda, senhor! Não nos negue um lugar. — E as figuras transpassaram a porta num único passo. Pareciam cansadas, mas não para invadirem uma casa. Foram rápidas como um réptil.

O velho rapidamente fechou a porta e se virou, dando de cara com as aparências estranhas logo ali. E em duas frases, que naturalmente surgiriam apenas em pensamento, mas que por motivos ignorados saíram-lhe da boca, o velho se deixou aperceber do fato num tom surpreso e pensativo.

— Uma mulher e uma criança! Uma jovem mulher e uma jovem criança.

Porem as visitas recém chegadas ignoraram aquelas palavras e se entregaram à busca de um lugar para se esconderem. Encontraram uma mesa velha no canto do que seria a sala e instintivamente se jogaram debaixo; a jovem arrastava pelo braço o menor. O velho observou a cena sem nada entender. E somente depois de já começar a curvar um pequeno sorriso inocente mediante o desespero inexplicável daquelas almas é que decidiu pedir um esclarecimento e pôr fim àquela aflição.

— O que está havendo? Quem são vocês, meus caros? — O velho não se impôs bruscamente. Perguntou-lhes com serenidade para evitar mais transtornos desnecessários. Ainda assim, mesmo que com toda sua cautela à mostra, sua aparência embaraçosa falou mais alto ao menor e este se escondeu ainda mais atrás da jovem.

O velho percebeu o receio do garoto mas não recuou, simplesmente esperou uma resposta. E não tardou ela veio, sob uma voz ainda cansada.

— Eles querem nos pegar… — a jovem fez uma pequena pausa, respirou e continuou. — Nós dois estamos sendo perseguidos desde ontem.

O velho crispou o cenho.

— Espere… — Estava confuso. E para as perguntas que queria fazer não sabia muito bem quais palavras usar. Então por fim decidiu se apossar daquelas que lhe surgiram naturalmente. — Quem são vocês? Estão fugindo de onde, de quem e por que? Estão mesmo correndo desde ontem?

E foram perguntas demais. A jovem estremeceu e seus olhos se encheram d'água, cada lágrima lhe pesou como uma má recordação. E o menor, que ainda seguia acoado atrás dela, sentiu sua repentina mudança e num súbito ataque a abraçou fortemente; a garota revidou, também o envolvendo com a mesma intensidade.

Permaneceram no gesto durante alguns minutos, até que de repente o garoto se acalmou. E foi nessa hora que o velho então percebeu os laços. Apesar de há muito não estar habituado com sentimentos humanos, sabia que aquele não era um mero laço manipulado pelo medo, desespero ou coisa do tipo. A fisionomia dos dois não denunciava, mas na mente do velho o fato era quase gritante.

— Vocês dois são irmãos? – Continuava com seu tom calma e agora ponderado.

A resposta foi sim, dito apenas pelo balançar da cabeça. "Eu deveria ter ido por partes…", o velho penitenciou a si mesmo com uma negativa severa em sua mente. Fora o bastante para agora seguir o caminho certo.

— Venham, saiam dai de baixo, não precisam se esconder, agora estão seguros. – E direcionou-lhes um olhar convicto.

De fato o velho não sabia o que era estar seguro para eles, visto que não conhecia seus motivos de temor, mas decidiu acalma-los com aquelas palavras e passar estabilidade, assim como também confiança.

As duas almas então se esgueiraram de sua cobertura pouco eficaz e se posicionaram em frente ao velho. O silencio se estabeleceu. Veio uma pequena lembrança de uma mulher abraçando seu filho e dizendo a ele palavras de conforto, mas o velho conteve seu impulso de fazer igual. Fixou-se simplesmente naqueles jovens misteriosos de histórias mais misteriosas ainda, e esqueceu um passado.

— Como vocês se chamam?

— Sah e Élian — Respondeu a maior.

O velho gostou. Talvez já estivesse na ora de alguém pronunciar seu próprio nome naquela casa. Alguém que não ele.

— Venham. Venham para a cozinha — deixou passar sua apresentação. — Estão com fome, sede? Querem algo para comer? — Os dois o seguiram.


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