Novamente, eu estava toda dolorida caída em algum lugar. Mas, dessa vez, o lugar era quente a aconchegante. Muito diferente do chão daquela floresta.

Daquela floresta.

Sentei, sobressaltada, no lugar quente e macio.

Eu estava em um quarto, constatei, depois de olhar o local. As paredes eram feitas de pedra, não havia decoração. A mobilia se resumia a cama onde eu estava, uma mesa de estudos, onde estava uma vela gasta, e um baú de palha.

Apesar de ser pequeno, era confortável.

Levantei cuidadosamente. Parecia que o tombo que levei do barranco não foi tao feio assim.

Caminhei lentamente para a grande janela do outro lado do quarto. Quando cheguei, fiquei completamente sem fala.

À minha frente, estendia-se a vista mais linda que eu já vi, e que provavelmente vou ver.

Um vale enorme, coberto por arvores, com um rio prateado correndo no meio, seguia até aonde a vista alcançava. Um por do sol estonteante acontecia no fim dele, onde grandes aves voavam em circulo.

-Então finalmente acordou? - uma voz feminina soou atrás de mim.

Virei assustada, para encarar a dona da voz.

Uma mulher, aparentando ter seus vinte anos, com o cabelo longo e dourado, a pele muito clara, usando um vestido azul safira com uma calda gigantesca me encarava com olhos azuis igualmente safíricos. Perecia a Barbie.

-Quem é você? Onde estou? Quem me trouxe até aqui? O que está acontecendo? - soltei, de uma vez, todas as perguntas.

-Nossa, calma querida. Você gosta de fazer perguntas, hein? - ela riu delicadamente.

Continuei olhando para ela, que andou até a cama e se sentou.

-Sente-se aqui comigo.

Obedeci, hesitante. Ela não parecia ser uma má pessoa.

-Como você se chama? - perguntou.

Levantei uma sobrancelha.

-Responda primeiro as minhas perguntas – retruquei.

Ela riu novamente.

-Qual a graça?

-Você é exatamente como eu esperava.

O que?

-Que quer dizer com isso? O que está acontecendo?!

Ameacei levantar, mas ela segurou meu braço levemente, me fazendo permanecer sentada.

-Já vou explicar. Mas, antes, pode por favor pegar a pedra que está no seu bolso?

Arqueei as sobrancelhas. Como ela sabia?

Novamente, obedeci hesitante.

Nós duas ficamos olhando a pedra pérola por um tempo, na palma da minha mão

-Como conseguiu essa pedra? - perguntou.

Fiquei na duvida se falaria ou não, mas resolvi falar. Seus olhos me passavam confiança.

-Hum, não sei bem. Eu estava em uma visita no Palácio de Versalhes, e vi esta pedra em um colar. Mas ela era vermelha, rubra. De repente, mudou de cor e começou a tremer. E depois voou para a minha mão e eu desmaiei. Acordei em uma floresta.

Ela assentiu silenciosamente.

-O que você sentiu ao vê-la?

Encarei profundamente a forma em minha mão

-Não sei dizer. Ela estava me hipnotizando, me chamando. Como se quisesse que eu a pegasse.

Ela abriu um enorme sorriso.

-É realmente você!

A encarei, confusa.

-Eu sou o que?

Ela suspirou, pegando minhas mãos

-Primeiro, vou me apresentar. Sou a Rainha Christabel, de Velvet.

Olhei para ela, pasma.

-Você é o que?

-Sou Christabel, Rainha de Velvet.

Christabel? Rainha? Velvet?

Iniciei um ataque de riso assim que entendi o que as palavras queriam dizer.

-Qual a graça? - ela não parecia muito feliz comigo.

Tentei parar com os espasmos musculares da minha barriga, para tentar responder.

-Bom, - respirei fundo – é que você disse que é rainha. Mas, não existem mais rainhas, a não ser a da Inglaterra, e não existe um lugar chamado Velvet – Achei melhor não falar que Christabel é um nome muito brega – Você só podia estar brincando.

Ela adquiriu um ar sério.

-Não estou brincando. Sou rainha, e você está em Velvet.

Pisquei algumas vezes.

-Hein?

Ela pareceu confusa.

-De onde você é... qual o seu nome?

-Sharon.

-De onde você é Sharon?

-Sou da Inglaterra.

-Onde fica a Inglaterra?

Franzi a testa.

-Você não sabe onde fica?

Ela negou.

-Na Europa.

Pendeu a cabeça para o lado.

-O que é Europa?

O que?! Que tipo de brincadeira era aquela?! Como alguem pode não saber onde fica a Europa?!!

-Você está falando serio? - perguntei.

Ela olhou vagamente para mim por um instante, e, de repente, seus olhos adquiriram um brilho de clareza.

-Acho que já sei o que aconteceu. Você não conhece Velvet. Eu não conheço essa tal de Europa. Parece que estamos falando de dois mundos diferentes. E estamos! - nesse momento, Christabel passou a falar para si mesma – você foi trazida para cá do seu mundo pela pedra. Para terminar o que Lana começou a tanto tempo.

Han? O que?

-Do que você está falando? Quem é Lana?

Ela me encarou.

-Lana foi uma guerreira que viveu a muito tempo. A melhor de todas. A melhor, porque ela criou a melhor das armas. Uma arma que apenas ela podia controlar. Que a fez ficar invencível. Mas, o poder dessa arma atraiu muitos, que precisavam dela para ter seu poder. Assim, ela morreu, tentando proteger a si mesma e a sua criação.

-A arma é essa pedra?

-Sim. Lana a criou a partir de seus sentimentos. Ela era extremamente emotiva, e com um grande poder espiritual, que permitiu que ela materializasse esses sentimentos, dando origem a pedra, que respondia a sua vontade.

-Como?

-A Pedra aumentava as habilidades mais fortes de Lana. Como ela era muito emotiva, conseguia controlar as pessoas, induzindo-as a sentir o que queria que elas sentissem, controlando suas mentes. Esse poder era muito cobiçado, e as pessoas começaram a querer controlá-la. Ela morreu tentando impedir que isso acontecesse. Infelizmente, no momento de sua morte, Lana sentiu raiva. Raiva por ter criado A Pedra, raiva das pessoas que a estavam matando, raiva de ser quem era. A Pedra, que era a materialização de seus sentimentos, se tornou rubra, e criou seres a partir da raiva, que são chamados de Angr. Estamos em uma constante guerra contra eles, e a única maneira de derrotá-los é com A Pedra, que estava desaparecida até agora.

Olhei fixamente para a pérola em minhas mãos

-Mas, por que ela mudou de cor? Por que ela voou para a minha mão?

Christabel continuou com os olhos fixos nos meus.

-A Pedra também era pérola quando Lana era viva. Parece que ela respondeu à sua alma.

Respirei fundo.

-O que isso significa?

Ela suspirou.

-Significa que você é descendente da Lana.

Parece ainda mais loucura quando escuto isso em voz alta.

-Como isso é possível? - sussurrei

-Você possui as mesmas caracteristicas que Lana, Sharon – explicou – A sua alma é como a dela era. A Pedra te reconheceu, e respondeu a isso. E, você é a nossa ultima esperança contra os Angr.

Sacudi a cabeça.

Eu estava em uma excursão da escola. Encontrei uma pedra brilhante que muda de cor. Essa pedra me trouxe para um outro mundo não sei como. Aqui, uma mulher chamada Christabel disse que é rainha de um lugar chamado Velvet e disse que sou descendente de uma guerreira chamada Lana e que tenho que lutar com alguma coisa chamada Angr.

-Acho que... preciso ficar um pouco sozinha – falei, me levantando e indo em direção a janela.

-Perfeitamente – Christabel respondeu.

O silencio reinou no quarto depois da batida surda da porta se fechando.