A noite estava fria e uma fina camada de gelo cobria o grande gramado que rodeava a catedral da cidade, a neblina obscurecia a visão e apenas o luar iluminava o pequeno distrito situado na Península Olímpica. Saltos gastos castigavam a calçada de pedras fazendo um barulho irrtantemente agradável, pelo menos aos ouvidos da loira que puxava a jaqueta mais junto ao corpo no mesmo momento em que soltava lentamente a fumaça do cigarro já quase no fim. Ela era mesmo viciada naquela porcaria. Parou apenas por um momento para poder olhar para trás por sobre o ombro, se visse algum policial estaria definitivamente em maus lençóis. E ela não queria mais encrenca para sua vida, não quando ela mesma já era a personificação da encrenca.Apressou o passo ao constatar que era a única alma viva num raio de pelo menos cinquenta metros e jogou o toco do cigarro bem em frente a igreja.

Ah, como se sentia bem agindo dessa maneira, agindo contra as ditas regras daquele que não teve piedade em destruir sua vida e acabar com qualquer resquício de algo bom dentro dela. Acabada. Totalmente. E com certeza com uma passagem só de ida para o inferno.

Alcançou a estrada movimentada que delimitava a cidade, pisou fora do distrito podre em que vivia e alcançou a rua. Parada na beira de estrada com as mãos frias nos bolsos da jaqueta, o vento cortante bagunçando seus compridos fios louros e a boca pintanda num vermelho sangue, pulsante. Fechou os olhos e inalou o ar frio da noite. Um carro parou e o vidro se abaixou lentamente, ela já conhecia o olhar que o homem dirigiu a ela mesmo nunca o tendo visto na vida. Ela vira esse olhar estampado em muitos outros homens. Mais do que ela gostaria, definitivamente. Merda. O que ela estava fazendo ali, afinal? Estava mais do que claro de que não conseguiria fazer isso nem em um milhão de anos. Virou as costas deixando o homem falando sozinho. Não queria pensar em nada, a única coisa que queria no momento era mais um cigarro.