Batman contra os fantasmas do passado escrita por O Viajante


Capítulo 7
O Levantar do Morcego


Notas iniciais do capítulo

Peço desculpas pela demora em postar.
E olha só, a trama está começando a dar uma guinada. Esperem coisas legais a partir de agora. Boa leitura.



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O quadrado colossal e onipotente se erguia no meio do Centro Financeiro de Gotham. As construções antigas e titânicas deixavam a nítida impressão de que as pessoas eram meros detalhes no meio daquela paisagem. Ali ficava a Bolsa de Valores e os muitos bancos. Todos destituídos de decoração. Mas o Museu Olympus não. Ele era como uma cicatriz no meio daquela cidade. Ou poderia muito bem ser o contrário. Ele ser o único pedaço de pele limpa em meio a tantas cicatrizes.

Enquanto a cidade era cheia de pináculos e morbidez, o Museu passava algo mais suave, como um campo cheio de ninfas, e até os Campos Elíseos. A sua entrada tinha uma escada colossal, longa e absurdamente larga. Ao fim dos degraus, várias colunas brancas se erguiam para o alto, sustentando uma cobertura com um retângulo, onde o relevo mostrava figuras mitológicas importantes. O grande portão de madeira clara era esculpido com a imagem das doze musas.

Mas claro que toda essa glória divina só existia com a luz do Sol. Ao cair da noite, era só mais um abrigo de sombras e movimentos suspeitos. Talvez não por ladrões, mas pelos espíritos que assolavam Gotham. Na escuridão, em meio às estátuas que ficavam no topo, uma figura silenciosa se movia. Caminhava pelas bordas, procurando o jeito certo de entrar. Caminhou lentamente até a claraboia, e se abaixou. Até aquilo tinha um dispositivo com senha para abrir.

Dick retirou alguns ferros finos e curvos da cintura, e começou a abrir o aparelho. Era cheio de fios pretos.

— Droga, sempre achei que quando fizesse isso, era só cortar o fio vermelho. Estou me sentindo um ladrão. – sussurrou ele.

A voz de Barbara era calma e compenetrada. Com certeza ela estava mais tensa e concentrada que ele. Muito mais.

— Corte o primeiro fio da esquerda, logo em seguida desconecte o terceiro e conecte-o na última entrada. Com cuidado, ou isso pode explodir seu lindo rosto.

Como é?

Ela riu. — Não leve tudo tão a sério, azulão.

Após a claraboia ser aberta, Dick ficou em pé, na ponta do vazio. Inspirou fundo e relaxou o corpo, observando uma estátua bem abaixo. Deu um passo silencioso para frente e se deixou cair na escuridão. Despencou rápido e leve, mas seus pés não atingiram a cabeça da obra de arte. Então ele envolveu as pernas no pescoço da escultura, e ficou pendurado de cabeça para baixo, com os braços abertos.

Sua mão direita foi até a cintura, de onde ele tirou uma pequena cápsula do tamanho da palma da mão. Dick apontou para frente e apertou, soltando spray. Em poucos segundos, a substância que não evaporizava tão fácil, se espalhou lentamente, revelando dezenas de lasers vermelhos. Ele inclinou a cabeça para baixo e viu um laser a poucos centímetros do seu nariz.

— Ah, que beleza. Mas como eles conseguiram entrar aqui sem disparar os alarmes?

Dick estava se portando como um invasor pelo simples fato de que a política do banco era “não queremos fantasiados se metendo em nossos negócios”. E ele tinha pouco tempo até a polícia chegar. Sendo bandido ou não, estaria muito ferrado se fosse encontrado ali. Ferrado não era bem o termo, já que ninguém conseguiria pegar ele.

Tomando força com as pernas, ergueu-se. Inspirou fundo, calculou mentalmente, inclinando-se um pouco para frente. Então pulou, passando por cima de vários lasers, com uma habilidade ímpar, e pousando em pé com as costas coladas na parede. Caminhou lentamente para o lado, apalpando a parede no escuro, até que tocou no painel. Nove dígitos e um pequeno monitor. Ele retirou da cintura algo parecido com um pen drive, e encaixou embaixo. Segundos se passaram, e as luzes secundárias acenderam, também desaparecendo os lasers.

Logo foi para o corredor, observando tudo debaixo de luzes fracas. Quadros ornavam as paredes, e pequenas esculturas aos pés da parede. Impaciente, correu por alguns metros, até achar algumas gotas de sangue no chão. Dick se aproximou e abaixou, analisando. Pensava e pensava. Levantou-se, e correu mais rápido. Ao fim do corredor, o esperava a parte mais importante do museu. O Salão dos Olimpianos. Quatro corredores que vinham das quatro direções do museu, se encontravam ali. Estátuas de deuses e titãs. Vasos e bustos. Tudo que um aficionado por mitologia poderia querer.

A luz fraca dava um aspecto misterioso e divino às esculturas. Como se fossem realmente criaturas vivas que visitavam esse mundo velho e moderno, carregando sobre si o peso de eras antigas. Asa Noturna percebia tudo isso, até que andando até o meio do Salão, pôde contemplar melhor a estátua do grande Zeus, o deus dos deuses. Onipotente, a estátua tinha seis metros de altura. Ele estava sentado em seu trono, com um raio na mão, e a barba espessa caindo sobre o peito. Branco como a neve, mas aos seus pés havia algo muito diferente de neve.

Havia cadáveres. E muito sangue.

Os corpos dos seguranças, caídos ao chão. Mas não era exatamente isso que chamava a atenção. Tinha uma bandeja em cima de uma grande pedra, provavelmente outra peça do museu. E sobre essa bandeja, pousava a cabeça de um homem. O herói se aproximou lentamente. Na parte frontal da pedra, foram escritas letras gregas, desenhadas com sangue.

— Oráculo? Acho que temos um problema.

Já na Batcaverna, Batman encarava o grande monitor do computador. A voz grossa dele era dirigida a Dick. — Está me dizendo que você foi atacado por... harpias?

— Sim, em pleno trânsito. Estavam atrás de um peixe pequeno do tráfico.

A foto da cabeça estava estampada na tela principal, enorme. Na tela menor, do lado direito, era possível ver as letras de sangue na pedra, e embaixo a tradução.

SACRIFICAMOS AO DEUS DOS DEUSES.

— O nome do criminoso decapitado era O Touro. – continuou Batman. — Touros eram usados em sacrifícios a Zeus.

Dick então olhou para Batman.

— Está pensando no mesmo que eu?

— Obviamente. – respondeu o detetive, cerrando os olhos. – Maxie Zeus voltou.

— Mas por que ele fez isso? – perguntou Dick, apoiando as mãos no gigante teclado do computador.

— Para avisar que chegou. Para avisar que não está de brincadeira. E para insinuar que quer o controle das empresas de faixada de Gotham. O Touro era um empresário muito influente.

Batman se levantou da cadeira, e começou a caminhar, indo em direção à passarela que levava até o Batmóvel. Já não bastasse o que vinha acontecendo, agora isso? Mais um lunático para ele se preocupar? Um louco que acreditava veemente que era Zeus, e se não bastasse, havia encontrado outros loucos que acreditavam serem os Olimpianos.

— Está indo atrás dele? – perguntou Dick.

Batman parou na frente do Batmóvel, e olhou para ele de lado.

— Não ainda. Tenho negócios pendentes essa noite.

— Ah, vai chutar a bunda de quem? – O rapaz perguntou, erguendo as sobrancelhas.

— Russos. – e já em cima do carro, se jogou para dentro do assento. Logo o vidro deslizou, a turbina do Batmóvel foi ativada, e Batman dirigiu em direção ao corredor que o levaria para fora dali.

Dick inspirou fundo, e olhou para os lugares onde ficavam as fantasias dos heróis. Algumas do Batman, a antiga roupa de Robin do próprio Dick. Seguida pela fantasia do Tim Drake, e por último, a menor, a do Damian. Se aproximou e colocou a mão sobre o vidro.

O enterro não havia sido público. Foi fechado, no cemitério da família. Ele se lembrava bem de Alfred falando de alguns versículos da bíblia. Mas ninguém ali estava ouvindo as palavras de conforto. Ninguém ali estava preocupado com o céu maravilhoso que ficava lá em cima. Naquele momento, estavam preocupados com o que iria acontecer desde agora. Todos com roupas sociais escuras. Bruce, Selina, Tim, Alfred e Barbara.

Dick tinha marcado o rosto de todos. Principalmente o de Bruce. Enquanto os outros mostravam dor, tristeza, o de Bruce permanecia firme e sério. Mas Dick o conhecia. O conhecia muito bem. Por dentro, sabia que o todo poderoso Batman estava mais machucado que qualquer um ali. E sabia que quando ele estivesse sozinho, iria chorar sem que ninguém visse. E permanecer ainda mais tempo na solidão que o perseguia desde pequeno.

Deixando o Batmóvel em um corredor escuro, coisa que ele sempre fazia, subiu para a escuridão do topo dos prédios. O alvo dele era um prédio que ainda estava em construção.

Dentro dos muros improvisados em volta da obra, vários carros luxuosos estavam estacionados. De um lado, russos, do outro, terroristas que estavam em Gotham. A cidade era um ótimo ponto para todo tipo de transação suja e corrupta. Ali se podia arranjar contatos de todos os países. Batman era um só, e há anos ele estava ali. Os crimes só tendiam a aumentar. Valia a pena correr o risco.

Instantes depois entrou o último carro, e alguns capangas de roupa elegante fecharam as portas. Uma parte ficou ali, montando vigia. E outros ficaram espalhados pelos quatro cantos. Pistolas e metralhadoras. O topo do prédio já se perdia na escuridão. Lonas balançavam no vento frio, e vigas expostas apontavam em várias direções.

Um homem já com algumas rugas no rosto saiu de dentro do carro. Usava terno branco, e o cabelo penteado para trás era bem volumoso. Atrás dele, vinham outros dois capangas, carregando maletas.

— Trouxe a carga? – perguntou, com a voz rouca.

— Obviamente que sim.

Respondeu o russo, com um sotaque forte. Diferente do senhor, ele era mais enérgico. Tinha um rosto oval e um sorriso cínico estampado no rosto. Parecia jovem demais para o cargo que ocupava, mas ninguém sabia dizer exatamente o que ele já havia feito. Ele estalou os dedos, e abriram o porta malas de um carro maior, como aquele de funerais.

De dentro, puxaram uma grande caixa retangular de ferro. Um pouco maior que um caixão, e o colocaram em pé, com bastante esforço. O comprador acenou com a cabeça, e os dois capangas abriram as maletas, mostrando barras de ouro.

— Podem pegar a mercadoria.

Outros capangas foram até a grande caixa com linhas que se encaixavam, e assim que apertaram um botão, rodas se projetaram embaixo. Mas antes que pudessem começar a empurrar, um Batrangue cortou o ar veloz e atingiu a mão de um dos homens, ricocheteando na caixa, criando algumas faíscas, e se cravou no chão.

Todos observaram aquele pequeno objeto, atônitos. Segundos se passaram até que apontassem suas armas para o alto. Olhos afiados, corações batendo forte.

— Matem aquele covarde! Tragam a mercadoria para cá! – gritou o senhor.

Espertos, os criminosos quase iam levando a mercadoria, e as malas com o ouro. Ou seja, iriam sair sem pagar nada. Mas um russo percebeu e começou a metralhar eles. Vários caíram baleados no chão de terra, mas Batman pulou do alto atrás dele com a grande capa se espalhando, envolvendo o braço no pescoço do bandido e o puxando pra baixo. Ficou em pé e olhou em volta. Seus olhos brilhavam no escuro.

Metralhadoras foram descarregadas contra ele, que se abaixou, girando e indo para o lado. Nesse tempo, retirou vários batrangues da cintura, e jogou todos contra os mafiosos. Acertou-os na clavícula ou no peito. Vários caíram, mas não era suficiente. Agora ele usava pequenas granadas de efeito moral, desviando dos projéteis brilhantes que penetravam a fumaça branca.

Um grupo de capangas se fechou contra a silhueta dele, dentro da fumaça. Tossiam, e usavam a força que ainda tinham para tentar acabar com ele. Mas assim que o atacaram, a silhueta voou para cima. Em segundos, todos estavam no chão, derrubados pelo efeto da fumaça. Batman novamente caiu do céu, em pé. Rosto abaixado e sempre soturno. A fumaça agora desaparecia aos poucos. Olhou para o lado, e viu que o grande compartimento já não estava mais lá. Marcas de pneu e portões de ferro quebrados indicavam que alguém havia fugido.

Sem perder tempo, correu, e retirando o lança-arpéu da cintura, disparou contra o prédio do outro lado da rua. Enquanto a corda vibrava no ar, desenrolando até que o gancho se fixasse na ponta do topo, ele pulava para cima do muro, logo se jogando em direção à rua. Batman quase caiu no chão quando um carro buzinou, a poucos centímetros dele, mas o defensor de Gotham foi puxado para o alto, impedindo a batida.

Ao chegar no topo do prédio, pousou na ponta, abaixado. A capa fez uma grande ondulação, e antes que a cauda se esticasse no chão, o herói já corria. Acionou um botão no pulso, e continuou pulando os prédios. Podia ver o carro fugitivo no final da avenida. O físico de Batman era de dar inveja a muitos. Como Dick havia dito uma vez, era impossível você usar a roupa do Batman por algum tempo, e não ficar forte. O peso e os aparatos exigiam uma excelente condição física, combinados a uma agilidade encontrada apenas nas artes marciais.

Os ouvidos treinados captaram o barulho distante de um potente motor, e Batman sabia o que estava chegando. Correu veloz para a ponta do prédio enorme, e se jogou lá de cima. No começo da avenida, de onde Batman havia começado a perseguição, o Batmóvel no piloto automático desviava velozmente dos outros carros. Enquanto o Morcego se aproximava do chão, abriu a capa, que tinha um condutor elétrico embutido, isso permitia que ela se enrijecesse ao comando dele. Feito isso, o Homem-Morcego planou pela noite, por cima dos carros. Então caiu novamente no assento do Batmóvel.

Sempre sério, calado, calculista. O vidro deslizou e a turbina pegou impulso. Ele estava indo fazer justiça.


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Notas finais do capítulo

O que acharam? Críticas, sugestões, ou elogios? Algo a ser melhorado? Não deixem de falar.



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