Batman contra os fantasmas do passado escrita por O Viajante


Capítulo 1
Nas sombras da morte




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Silêncio mortal.

Uma lâmpada solitária e branca no teto iluminava o Cavaleiro de Gotham. Calado, cabeça baixa. Imerso em seus pensamentos perturbados. Suas mãos estavam levantadas de forma diagonal, cada uma para um lado. Seus pulsos cobertos por algemas grossas que se conectavam a correntes enormes que subiam para o teto, e passando além da lâmpada, se perdiam no escuro, como se fosse infinito. Sob a máscara sombria, seu rosto estava castigado. Do seu nariz saía um rastro de sangue seco que ia até o queixo. Sua boca rígida como se nunca tivesse proferido uma única palavra. As sombras cobriam parte do seu rosto, dando mais rigidez aos seus traços. No chão branco e esterilizado havia gotas grossas de sangue. Suas pernas doíam, o cansaço o açoitava como se toda a areia do mundo estivesse nas suas costas. Mas ele permanecia ali, parado.

Além do círculo luminoso que envolvia ele, havia apenas escuridão. Total negritude e mais nada. Sentia dezenas de olhos o observando, mas nenhum barulho era emitido. Perguntava-se em silêncio o por quê que aquilo tudo havia acontecido? Ele não tinha sido bom o bastante? Onde ele falhou? Por quê diabos tudo tinha que cair na cabeça dele? Em um momento quase depressivo, cenas e memórias que deveriam estar esquecidas voltam como fantasmas do passado.

Uma luz à sua frente se acendeu.

Agora, dois círculos luminosos estavam em meio ao escuro, e ele ergueu a cabeça. Queria chorar, mas não podia. Não podia. A figura à sua frente o deixou sem reação por alguns instantes. Conhecia aquele rosto tão bem quanto conhecia os becos escuros e as cicatrizes de Gotham. E por falar em cicatrizes, Batman estava olhando para uma que ia de orelha a orelha.

Mesmo adormecido – ou estaria morto? – aquele maldito palhaço continuava sorrindo. Um sorriso sádico, deformado. Uma cicatriz podre que com certeza revelava o seu senso de humor interior. Risos cobertos de horror. Será que ele sabia de algo? Seria tudo isso mais uma piada? Resistindo ao cansaço, Batman moveu os pulsos com força, tentando se soltar. Cerrava os dentes.

- Argh... CORINGA!

Sua voz rouca cortou o ar como um chicote. Se ao menos ele alcançasse seu cinto. O cinto! Ele olhou imediatamente para a cintura, mas... o cinto não estava mais lá. Olhou novamente para o palhaço adormecido. Ele estava com a cabeça pendida para trás. Amarrado com muita força numa cadeira, ele podia ver pela pressão que as cordas grossas faziam contra seu peito e braços, até a barriga. E à sua frente havia uma mesa branca. Era só isso que a segunda lâmpada mostrava. Além disso, escuro total. Batman olhou para cima, e para os lados. Ele precisava sair dali.

Um movimento foi percebido. A cabeça do Coringa havia caído para a frente. Batman olhou fixamente para ele. Um sorriso sutil surgiu nos lábios vermelhos do palhaço. Depois um sorriso que mostrou seus dentes. E logo em seguida uma risada baixa. Até que ele arregalou seus grandes olhos e fixando-os no Homem-Morcego, ele riu sua risada sinistra.

- HA HA HA!

Ele riu, como se tivesse visto a piada da sua vida. Como se tivesse conseguido fazer o Batman andar de fio dental no meio da cidade. Havia algo de insano naqueles olhos. Olhos insanos.

- Vamos Morcegão, admita. – ele inspirou fundo, puxando o ar para os pulmões. – Esse moleque vale ouro. Não importa quantas vezes eu e você tentemos matar ele. Ele sempre volta. Eu bateria palmas, se eu não estivesse...

Nesse momento o barulho de vidro se quebrando é ouvido, e do teto bem distante, junto com vários cacos de vidros, caiu com toda força um corpo no chão, espalhando sangue. Estava totalmente amarrado, o corpo meio contorcido, o rosto esmagado contra o chão. Mas era possível saber quem era. Aquela roupa, aquele cabelo...

- ALFRED! – um grito longo e cheio de dor foi ouvido. Soluços de choro. Caiu sobre as pernas. Batman queria se ajoelhar, queria ir até seu velho amigo e tutor e ajuda-lo. Contorceu-se como uma besta em cativeiro. E olhou para o alto. Além do escuro, dava para ver a claraboia quebrada, e uma silhueta escura o observando. Impassível. Insensível.

- Mortos ressuscitando, Batman chorando, chuva de mordomos... – Coringa esticou a cabeça para a frente, para poder observar o corpo no chão, um pouco à frente da mesa. – Quando eu sair daqui irei virar padre, porque estamos no fim dos tempos! – ele riu e se contorceu, deliciando-se com a cena.

Coringa não se lembrava de como viera parar ali, e nem se importava com isso. O que importava era que a noite estava ficando divertida. E ele estava assistindo tudo de camarote.


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Notas finais do capítulo

Espero que tenham gostado, e bom, esse é só o início.