Lágrimas de Amor escrita por XxLininhaxX


Capítulo 10
POV Carlisle




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Eu não estava acreditando no que estava vendo. Além de Sophie ser completamente sem educação com um dos meus melhores amigos, ainda machucou o filho dele. Eu fiquei tão chocado que não consegui reagir. Estávamos chamando muita atenção. Os seguranças da loja vieram ver o que estava acontecendo. Minha esposa foi até eles tentar explicar que estava tudo sob controle e que não tinha acontecido nada demais. Eu, por outro lado, só conseguia pensar em tentar amenizar a situação, oferecendo minha ajuda ao garoto que gritava histericamente à minha frente. Porém, ouvi minha filha atrás de mim e quando olhei para trás, ela não estava mais lá. Foi tudo muito rápido e, talvez pela primeira vez, não consegui evitar que um filho meu fugisse da minha vista.

– Vão atrás dela. – disse para meus filhos, foi o máximo que pude fazer.

– Que saco! Mal começamos e essa garota já está arrumando problemas! Depois não digam que eu não avisei. – Rose resmungou saindo atrás de seus irmãos.

Eu respirei fundo. Como se já não bastasse toda aquela situação constrangedora e desagradável, ainda tinha que aguentar desaforo de Rose. Resolvi ignorar. Tinha que ver o estrago que fora causado por Sophie.

– Deixe-me dar uma olhada.

– TÁ DOENDO!! – John gritava e eu tentava acalmá-lo.

– Carlisle, tudo bem. Deixa que eu vejo. – Henry me disse.

– De modo algum! O que meus filhos fazem é responsabilidade minha.

Ele calou-se e apenas segurou o filho pelos ombros. Dei mais uma olhada e respirei aliviado. Ela apenas deslocou os dedos do garoto. Bastava colocar de novo no lugar e manter enfaixado por um tempo.

– Segure ele, Henry.

Senti que ele segurou o filho mais firme, então comecei a puxar seus dedos para colocá-los novamente no lugar. O garoto começou a gritar ainda mais histericamente, chamando ainda mais atenção. Ele parecia uma criança esperneando para não tomar injeção. Mas não tinha outro jeito, se demorasse mais para colocar no lugar, poderia haver danos maiores. Continuei com meu trabalho, tentando ignorar o escândalo do jovem. Por um lado achava muito bem merecido. Onde já se viu? Olhar para MINHA filha daquela maneira tão desrespeitosa? Eu já havia escutado de meus filhos o quanto John era insuportável, mas não imaginava que ele seria tão inconveniente. De qualquer forma, ele era filho de um dos meus melhores amigos e não seria justo deixar que meus filhos brigassem com ele. Claro que o resultado seria algo bem pior que apenas dedos deslocados. Não podia nos expor daquela maneira e não permitiria que nenhum filho meu fosse covarde a esse ponto.

Terminei de colocar os dedos no lugar, agora só faltava enfaixar. O garoto já estava mais calmo, mas ainda soluçava bastante. Imagino que ele segurou as lágrimas o máximo que podia, afinal já estava atraindo pessoas demais para o lugar.

– Agora só precisa enfaixar. Eu tenho equipamentos de primeiros-socorros no meu carro. Vocês poderiam me acompanhar? – perguntei já mais aliviado.

– Carlisle, não quero ser indelicado com você, mas eu também sou médico. Pode deixar que eu termino com isso aqui. Talvez fosse melhor você ir atrás da sua filha, ela parecia bastante perturbada com tudo isso. – Henry me disse. Olhei para ele em agradecimento.

– Obrigado, meu amigo. Lamento que isso tenha ocorrido. Ela pedirá desculpas, pode ter certeza.

– Eu sei que sim. Não seja duro com ela. Não parece que fez por mal.

– NÃO FEZ POR MAL? ELA QUASE ME DEIXOU ALEIJADO! – John gritou revoltado.

– Deixa de drama garoto! Isso foi muito bem feito para você. Ninguém manda dar uma de bonzão pra cima das garotas. Sinceramente, não sei a quem você puxou.

Henry saiu falando com seu filho e eu sorri. Realmente John não parecia nem um pouco com o pai. Fui tirado de meus devaneios quando vi Esme vindo em minha direção, completamente desesperada.

– Carlisle! Temos que achar a Sophie! Se ela sumir agora, talvez nunca mais a encontremos! – disse Esme aflita.

– Não se preocupe, meu amor. Vamos encontrá-la. – a abracei, tentando confortá-la.

Saímos da loja e vimos nossos filhos vindo em nossa direção.

– Paizinho! Não conseguimos encontrá-la! – disse Alice.

– Cara, aquela pequena sabe mesmo sumir de vista. – disse Emmett.

– Talvez seja melhor que ela suma mesmo. – disse Rose.

Rosalie Hale Cullen, se você repetir uma atrocidade dessas, eu juro que vai se arrepender! – disse firme, já perdendo a paciência.

– Calma, meu bem. Temos que encontrar a Sophie. – disse Esme apertando meu braço de forma carinhosa. Respirei fundo novamente.

– Muito bem. Edward, você não consegue encontrá-la? Eu pedi para que ela não bloqueasse mais seus pensamentos. – perguntei.

– Pai, tem muita gente aqui. É difícil encontrar alguém desse jeito. – Edward respondeu.

– E você, Jasper? Consegue sentir algum sentimento incomum?

– É como o Ed falou, pai. É difícil com tantas pessoas assim.

Passei a mão pelos cabelos, nervoso. Quanto mais demorássemos, menos chances teríamos de encontrá-la. Ela já não tinha muita motivação para continuar conosco, com uma oportunidade daquelas, ela poderia muito bem desparecer de nossas vidas para sempre.

– Tentem se concentrar. Ela não é alguém comum, com certeza deve ter algo que a diferencie dessa multidão. – tentei novamente.

Eles imediatamente fecharam os olhos e tentaram se concentrar. Ficamos esperando algum resultado. Porém, eles abriram os olhos e balançaram a cabeça negativamente. Desesperei-me. Precisávamos de pelo menos alguma pista, qualquer coisa que nos levasse até ela. Ela poderia estar em qualquer lugar, se já não estivesse longe. Eu não permitiria que todo o trabalho que tivemos para trazê-la a família fosse em vão. Eu a procuraria mesmo que tivesse que ir até o inferno.

– Paizinho, eu vi! – Alice me chamou atenção.

– Viu o que, Alice? – perguntei ansioso.

– E-ela tomou uma decisão. Foi um flash bem rápido, mas eu vi. Ela vai fugir para bem longe, onde não possamos encontrá-la novamente. Não consigo ver para onde ela vai, mas sei de onde ela vai tomar essa decisão. – Alice dizia sorrindo, talvez por conseguir visualizar alguma coisa relacionada à Sophie.

– Onde Alice? – Esme perguntou ainda aflita.

– Ela não está longe daqui. Está perto das escadas, onde ninguém mais vai.

– Vamos lá! – Esme disse, mas eu a impedi.

– Não querida, deixa que eu vou.

– Eu quero ver minha florzinha, Carlisle. Não me impeça! – ela falava firme.

– Querida, por favor. Deixe-me a só com ela. – pedi.

– O que você vai fazer, Carlisle? Por Deus, ela acabou de entrar para a família!

– Não farei nada antes de saber o que realmente aconteceu. Não posso tomar nenhuma atitude antes de entender o motivo disso tudo. – eu disse bastante sério, fazendo Esme suspirar.

– Tudo bem, mas não demore.

– Vão passear pelo shopping. Encontraremos vocês mais tarde. – disse beijando Esme no rosto.

Alice me indicou o lugar exato e rapidamente me dirigi para lá. Eu não sabia exatamente o que fazer, mas estava muito irritado. Aquele comportamento era inadmissível! Qualquer um dos meus filhos que fizesse aquilo teria uma longa “conversa” comigo no escritório. Mas Sophie era totalmente diferente. Eu não sabia como agir. Simplesmente puni-la não seria suficiente para fazê-la entender. Talvez fosse até pior. De qualquer forma, achei melhor esperar por sua explicação.

O local que Alice me indicou estava interditado, por isso não tinha ninguém ali. Era um beco escuro, provavelmente sendo preparado para alguma reforma. Atravessei as faixas e procurei Sophie naquela escuridão. Graças à minha visão de vampiro, conseguia enxergar muito bem. Bem no canto, lá no fundo, vi Sophie sentada. Ela estava completamente encolhida e se balançava para frente e para trás. Ouvi soluços bem baixinhos, ela estava chorando. Não conseguia entender aquela reação. Por que ela estava tão triste sendo que foi ela quem causou tudo aquilo? Será que já estava arrependida? Eu queria entender!

Aproximei-me dela e de repente vi que ela incendiou a própria mão. Fiquei pasmo. O que ela estava fazendo? Apressei-me até ela.

Sophie, pare já com isso! – ordenei, mas ela não parou. – Está me ouvindo?

Ela olhou para mim e senti algo parecido com calafrios. Seu olhar estava tão carregado de tristeza que poderia até dizer que ela estava em depressão profunda. Seus olhos estavam borrados por conta da maquiagem. Tentei me aproximar ainda mais. Sentei ao seu lado e segurei em seu braço.

– Não se machuque assim. Pare com isso! – falei carinhosamente, mas ainda firme.

Dessa vez ela me obedeceu. Apagou o fogo e eu pude ver o estrago que causou. Sua mão estava completamente queimada. Se fosse humana seria algo semelhante à queimadura de terceiro grau. Perguntei-me o quão intenso era aquele fogo que ela controlava. Em alguns segundos causou aquele dano todo, com certeza era algo extremamente forte.

– A culpa é sua. – ela disse bem baixo.

– O que disse? – perguntei, reaquecendo minha ira.

– A culpa é sua. A culpa é sua. A culpa é sua... – ela repetia freneticamente.

Pare com isso agora! – falei firme. – A menos que queira apanhar aqui e agora, sugiro que me dê uma explicação para essa sua atitude.

– E-e-eu sou um monstro! Eu tinha me esquecido disso. – ela sorria de forma sombria. – Eu sou um monstro! Eu sou um monstro! Por quê? Por que tinha que me lembrar? Eu não queria! Eu não queria! – ela falava aflita.

– Não! Você não é um monstro! Não diga isso! – aquilo estava me deixando agoniado.

– É mesmo. – ela parecia me ignorar. – Eu nunca fui humana! Eu sempre fui esse monstro! Indesejada, escória, insignificante, lixo!

Aquilo tinha sido demais para mim. Segurei seu rosto e fiz com que ela me encarasse.

Você – Não – É – Um – Monstro! Entendeu?

– O que você sabe? – ela me olhava friamente.

– Eu não sei de nada! Mas você vai me explicar, agora!

Ela olhou para baixo e eu soltei seu rosto, um pouco mais calmo.

– Eu não sei controlar minha força. Não fiz por mal. Faz séculos que não tenho contato com humanos, não me lembrava de serem tão frágeis assim. – ela falava olhando para o chão.

Então era por isso. Suspirei pesado. Realmente a culpa tinha sido minha. Eu não lhe expliquei nada sobre nosso relacionamento com humanos e eu não tinha nem ideia de como ela se relacionava com eles. Já devia ter imaginado que fazia tempos que ela não se aproximava deles, afinal ela vivia sendo perseguida por outros vampiros. Deveria ter sido mais cauteloso. Estava tão empolgado em torná-la minha filha que esqueci uma coisa tão importante. Talvez fosse cedo demais para que ela tivesse esse tipo de contato com humanos. Talvez devesse acostumá-la primeiro a nosso estilo de vida. Por que não pensei nisso antes? Um pai experiente como eu cometer um erro tão bobo! Estava me sentindo idiota.

– Perdoe-me. – disse, chamando sua atenção. – A culpa realmente foi minha.

– Do que raios está falando? – ela me olhava confusa.

– Eu não devia ter te exposto daquela maneira sabendo de suas possíveis limitações.

– Não seja ridículo! Você não tem nada a ver com isso!

Agora eu que fiquei confuso. Não era ela que estava me culpando há segundos atrás?

– Não foi isso que disse? Por que está me perguntando?

– Eu disse? Eu jamais diria algo assim! Jamais colocaria o peso das minhas atitudes nas costas de outra pessoa! – ela disse, deixando-me ainda mais confuso.

– Sophie, pare de me fazer de idiota! Apesar de ter errado com você, não permito que faça isso. Já disse que você me deve respeito.

– Você que está me fazendo de idiota! Eu... – ela parou de falar de repente.

Ela abaixou a cabeça e colocou a mão sobre a boca, como se tivesse se lembrado de algo. Estranhei. O que estava acontecendo afinal? Eu precisava de respostas. Aquilo não podia ficar daquele jeito!

– Sophie, eu vou perguntar uma única vez e quero uma resposta. O – Que – Está – Acontecendo?

– Não vai demorar. Logo você vai desistir de mim. – ela sorria melancolicamente. – Eu até cheguei a acreditar, pelo menos um pouquinho, no que você me disse. Mas eu não pensei que era tão fraca. Eu sinto muito te desapontar.

Eu estava começando a perder a minha paciência, de novo. Eu não entendia nada que ela estava falando. Uma hora ela me culpava, na outra estava se culpando e, de repente, não falava coisa com coisa. Eu queria entender, mas ela não facilitava. Eu tinha que me acalmar. Nervoso eu não conseguiria fazê-la confiar em mim. Suspirei buscando forças, não seria tão fácil quanto eu pensava.

– Sophie, me escuta. Eu não vou desistir de você, mas preciso que confie em mim. Pare de me enrolar, pare de testar minha paciência. Responda logo a minha pergunta!

– Eu não vou te responder! – ela respondeu e eu, sinceramente, tive vontade de lhe deitar em meu colo e lhe dar umas belas palmadas pelo seu tom atrevido. – Eu sou assim. Eu sou confusa, sou instável, sou estranha. É como se eu tivesse várias personalidades, mas a verdadeira Sophie se perdeu dentro de mim. E-eu não sei mais quem eu sou. E toda vez que eu abro meus olhos, vejo esse monstro! Esse monstro que machuca, que mata, um animal. Ninguém consegue ficar ao meu lado por muito tempo. E-eu sou louca! – ela agora ria de maneira desesperada. – Você acha que é o primeiro a tentar me salvar? Não é! Vários já tentaram, mas ninguém me entende. Não adianta explicar, chega uma hora que perdem a paciência. Até eu já desisti de mim. Não tenho mais esperança de mudar de vida. E mesmo quando acontece de alguém tentar me ajudar e me dar esperança, como é o seu caso, eu sempre estrago tudo. Basta que seja eu. Eu sempre frustro as pessoas, desde que eu nasci. Eu não sou um monstro porque sou vampira. Muito pelo contrário, ter me tornado vampira apenas fez com o que eu já era, virasse realidade.

Eu ouvi atentamente o que ela dizia. Ela falava de uma maneira tão triste que chegava a ser angustiante. Ela realmente acreditava naquilo que falava. E isso era o mais preocupante. Não era um simples complexo, era uma ferida profunda. E não era por conta da vida que ela levava como vampira, era algo que já vinha desde sua vida de humana. E talvez, saber, dos ocorridos não faria a menor diferença. A ferida já tinha sido feita, apenas saber o motivo de sua existência não a fecharia. Claro que eu precisava saber para não pisar em terreno desconhecido, mas aquilo não era o mais importante. Resolvi que esperaria que ela se sentisse segura o suficiente para me contar. Tudo que eu podia fazer naquele momento era provar que eu não era como os outros. Que eu jamais a deixaria, não importando o que ela fosse ou o que fizesse. Eu tinha que deixar isso claro ou ela jamais confiaria em si novamente. Ela precisava sentir a segurança de que não era aquele monstro que acreditava ser. E o único jeito de lhe provar isso era ficando ao seu lado. Eu não podia dar espaço para pensamentos como aquele. Ela precisava entender!

Limpei o veneno que teimava em escorrer por aqueles lindos olhos. Acabei borrando ainda mais a maquiagem, mas isso era o de menos. Estiquei minhas pernas e a ergui para que ela pudesse ficar em meu colo. Era lá que ela tinha que ficar; segura nos meus braços. Eu queria que ela sentisse que comigo ela estaria segura. Queria que ela entendesse que aqueles braços sempre estariam abertos, esperando que ela pudesse estar ali para ser embalada de amor e carinho. Abracei-a bem forte. Não queria que ela saísse dali de jeito nenhum. Eu não perderia aquela menina! Ela era minha garotinha agora e lutaria por ela com todas as minhas forças. Ninguém a tiraria de mim! Ninguém! Senti-a soluçando em meu peito. Ela tentava segurar todo aquele turbilhão de emoções, de dor, de sofrimento. Mas não era isso que eu queria.

– Chore, pequena. Pode chorar o quanto quiser. O papai não vai te deixar. – beijei o topo de sua cabeça e ela se derreteu em meus braços.

Eu queria mandar aquela tristeza para longe. Se pudesse tirar aquele sofrimento dela, se pudesse apagar o passado que tanto lhe causava dor. Sabia que era impossível, mas eu detestava me sentir inútil daquela forma. Tudo que eu podia fazer era consolá-la. Talvez para ela fosse mais do que achava merecer, mas para mim era tão pouco. Eu queria fazer mais! Eu queria que ela sorrisse de alegria e se tivesse que chorar que fosse de alegria também. Vê-la sofrendo daquela forma me fazia sofrer também. Eu precisava ser forte por ela, mas estava em pedaços por dentro. Ficava impressionado com o instinto de proteção que aquela garota despertou em mim. Eu sentia vontade de arrancar a cabeça de cada um dos idiotas que tiveram a audácia de feri-la daquela maneira. Afinal, o que ela fizera de errado para que a torturassem tanto? Ela não aparentava ser maldosa. Aquelas lágrimas não eram falsas. Ela se arrependia de algo que ela não podia sequer controlar. Eu não conseguia conceber aquilo! Eu não permitiria aquilo!

Não sei quanto tempo ficamos daquele jeito. Senti meu celular vibrando várias vezes, mas eu não podia atender. Minha menina precisava de mim naquele momento. Não sei se ela sentiu meu celular vibrando, mas ela foi se acalmando. Eu ainda a tinha embalada em meus braços.

– Acalmou-se um pouco? –perguntei docemente.

– Sinto muito. E-e-eu não queria q-que visse is-isso. – ela soluçava.

– Meu benzinho, você não tem que se preocupar comigo. Eu estou aqui para isso, pra te ouvir, pra te consolar, pra te amar. Você não precisa se segurar comigo, ok?

– Mas você vai desistir de mim. Eu sou um... – tampei sua boca com um dedo antes que ela terminasse a frase.

– A única que pensa isso é você, minha pequena. Alguma vez você me viu dizendo que você era um monstro? – ela apenas balançou a cabeça negativamente. – Então não tem porque você achar que vou desistir por isso.

– Mas é que você ainda não sabe. Hoje foi só o começo. – ela falava como uma criança de cinco anos, me fazendo sorrir tamanha inocência.

– Eu sei o suficiente para dizer que você não é essa coisa terrível que pensa que é. Eu vou te provar isso de um jeito ou de outro.

– Impossível.

– Não acredita? Então veremos por um lado mais prático. Diga-me, você queria machucar o John? – perguntei erguendo uma sobrancelha, como se a estivesse provocando.

– Não. Pra que eu ia machucar aquele garoto? Eu nem o conheço!

– Mas você o fez. Por quê? – continuei provocando.

– Como por quê? Porque eu sou um monstro! Já disse!

– Peeenn... – apertei seu nariz. – Resposta errada! Tente de novo.

Ela ficou pensativa tentando entender aonde eu queria chegar. Sorri com aquilo. Era como ensinar uma garotinha porque comer doce antes do jantar era errado.

– P-porque eu n-não sei controlar minha força?! – ela falava receosa.

– Bingo! Resposta certa! Agora me diga: você pode se culpar por algo que não aprendeu a controlar?

– Posso... – olhei para ela mais firme. – Não?

– Não. Não pode. Sabe pelo que você pode se culpar?

– Pelo que?

– Por ter sido mal educada com meu amigo. Isso você pode muito bem controlar. E sabe o que eu devia fazer com você por isso?

– Me abandonar?

– Peeennn... Resposta errada de novo. Deveria te dar uma punição. Qualquer um dos meus filhos levaria no mínimo dez palmadas ou ficaria de castigo. – ela me olhou com medo. – Mas como supostamente eu tive culpa por não ter considerado o fato de você não ter tido contato com humanos durante anos, dessa vez você escapa. Mas com o aviso de que da próxima vez não terá essa desculpa. Fui claro? – ela afirmou com a cabeça. – Agora preste atenção no que vou dizer: não quero ouvir você dizendo que é um monstro.

– Mas... – a interrompi.

– Nada de “mas”! Esse é um pensamento autodestrutivo e completamente dissimulado. Não vou permitir que se machuque dessa forma. Pequena, ninguém é perfeito. Não vou permitir que se culpe pelas coisas as quais não pode controlar.

– Meu nascimento foi um erro! Eu sou um erro!

– Não é não! Se você nasceu é porque precisava nascer. Nada acontece por acaso, pequena. Tudo tem um propósito e seu nascimento não é diferente. Você pode não entender, mas não pode dizer que foi um erro.

– Ninguém é feliz ao meu lado.

– Eu sou. – ela olhou chorosa para mim. – Ter te conhecido foi realmente algo extraordinário. Você está me proporcionando um aprendizado incrível e está me ajudando a ter mais paciência, a ser mais compreensivo, a ser um pai melhor. Tenho certeza que sua mãe também pensa assim. E também tenho certeza que seus irmãos estão contentes por você ter entrado em nossas vidas.

Ela ficou calada, como se analisasse minhas palavras. Senti que consegui tocar um pouco aquele coraçãozinho.

– Eu posso te abraçar? – ela me perguntou.

– Oh minha pequena! Você não precisa pedir, pode me abraçar quando quiser!

Senti que ela, timidamente, me abraçou. Não me contive, a apertei em meus braços.

– Desculpe causar tantos problemas. – ela falava com a voz abafada em meu peito. – Não é minha intenção, eu apenas... – ela parou de falar. Até imaginei o que ela pretendia dizer e sorri ao perceber que ela se conteve. – Você pode me punir se quiser.

Afastei-a de mim e olhei para ela espantado.

– Como é?

– Bem... – ela parecia sem graça. – Eu sempre me puno de alguma forma. Não queria aceitar que outra pessoa fizesse porque ninguém tem nada com isso. Mas, sei lá, eu quero confiar em você de alguma forma. Ainda não confio, ainda penso que vai me deixar. Mas talvez, eu pensei que, sei lá... – ela não conseguia falar e eu sorri, mas voltei a ficar sério logo em seguida.

– Quer dizer então que o motivo de você ter queimado a própria mão foi...

– Autopunição. – ela completou meu raciocínio.

– Pois bem, acho bom que isso não se repita! Você está proibida de se automachucar, tanto física quanto mentalmente! Se você o fizer, pode ter certeza que terá mais consequências. Entendeu? – ela afirmou com a cabeça. – Então vamos embora agora. Sua mãe deve estar muito preocupada.

Ela se levantou e eu me levantei logo em seguida. Segurei sua mão e saímos daquele beco. Peguei meu celular e vi, nada mais nada menos que, vinte chamadas não atendidas. Será que tinha demorado tanto assim? Liguei para Esme. Ela atendeu quase que imediatamente. Ela estava aflita e bem nervosa, dizendo que eu demorei demais. Eu segurei para não rir, achava extremamente lindo quando ela ficava nervosa daquele jeito. Disse para ela se acalmar e nos encontrar no carro. Segui com Sophie para o estacionamento e ficamos esperando até que os outros aparecessem. Fiquei observando que a expressão de Sophie estava mais serena. Fiquei feliz com a descoberta. A tarde tinha sido conturbada, mas me sentia vitorioso por ter conseguido me aproximar um pouco mais da minha filha.

– Está mais calma agora, não é? – perguntei.

– Estou. – ela sorriu docemente e eu me encantei com aquilo.

– Me esqueci de dizer. Depois você vai se desculpar com o doutor Henry e seu filho, entendeu?

– Tudo bem.

Encostei-me ao carro e trouxe minha filha para perto. Ela ficou de costas para mim enquanto meus braços desciam por seus ombros, como em um abraço. Eu não conseguia soltá-la. Queria compensar os anos que ela passou sem ter aquele tipo de afeto. Vimos Esme e os meninos se aproximando. Esme praticamente voou em cima da gente.

– Florzinha, florzinha! Minha linda, não faz isso com a mamãe não! Eu fiquei tão preocupada. – ela abraçou Sophie e percebeu a queimadura na mão. – O que foi isso na sua mão?

– Desculpa. – foi a única coisa que Sophie conseguiu responder.

– Vamos dar um jeito nisso quando chegarmos em casa. – disse.

– Tampinha, você sabe mesmo como fugir. Pelo visto não poderemos tirar os olhos de você. – disse Emmett bagunçando os cabelos da irmã, que lhe sorriu.

– Ah! Deixa de drama! Ela está bem, então vamos para casa. Esse dia já deu o que tinha que dar. – disse Rose.

– Rose, eu não vou falar de novo! – disse olhando para ela seriamente.

– O que é? Eu não disse nada demais! Que saco! Não me obrigue a dizer que estou feliz! Por conta dessa pirralha, eu perdi quase que meu dia todo! Ninguém merece! – ela voltou a reclamar. – Feliz por estragar nosso dia? – ela disse cheia de sarcasmo para Sophie, o que me irritou profundamente, e depois saiu em direção ao carro em que veio.

Sophie apenas abaixou a cabeça. Senti que ela estava tremendo, talvez tentando se conter novamente. Eu não permitiria que todo o trabalho que tive fosse em vão. Rose ainda se veria comigo por aquela atitude infantil. Ela que esperasse.

Continua...


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Notas finais do capítulo

Yoo pessoitas ^^/

Bom, tá aí mais um cap ^^!! Espero que tenham gostado... Comentem, please XD!!
Até o próximo cap o/



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