Sabe aqueles momentos em que você apenas queria preservar? Poder sempre olhar, recordar e reviver quando quiser? Quando você apenas quer conseguir estender a mão e alcançar novamente aquilo que está atrás, algo que você lutou durante meses para poder ter perto de si.

Se tenho medo do futuro? Talvez... Ou melhor dizendo: sim, tenho. Não sei o que acontecera, já que nem sei direito o que esta acontecendo... Quero apenas guardar com cuidado todas as minhas lembranças que tenho de você... Todas essas recordações que são o único modo de manter o pouco de humanidade que me resta.

Mudamos muito nesses anos todos, mas algo não mudou: esse circulo infinito de sombras. Sempre foi assim desde que nos notamos nossa realidade, logo na infância... Near era como uma sombra do que L foi. Não importa o quanto tentasse, nunca chegaria a capacidade incomparável que L possuiu... Por outro lado, você se considerava sombra do Near. Ninguém além de você considerava isso, mas essa sua obsessão por aquele albino te enlouquecia. Você se obrigava a tentar supera-lo, mesmo nunca estando atrás dele... Sua maior fraqueza sempre foi exatamente essa, seu maldito complexo de inferioridade.

Mas não posso dizer que sou superior a isso... Sei melhor do que ninguém de toda essa corrente que foi criada, mas não tento escapar dela, apenas sigo-a. Sempre fui sua fiel sombra, aquele que mesmo quando não tentava, conseguia te encontrar onde quer que fosse. Durante anos tentei me convencer de que nunca te segui, apenas te acompanhava ou te encontrava por acaso, mas... Todos sabemos que é apenas uma mentira, certo?

Apenas queria lembrar disso... Todos essas recordações que tenho de você, o único a não me rejeitar e que consegue manter em mim o pouco que resta de minha sanidade e noção do mundo real. Você sempre soube, não é? O porque de eu sempre jogar vídeo games... Antes, necessitava de algo para me recordar da minha própria existência. Cada dia era tão cansativo, tão normal e rotineiro que não possuíam diferenças entre si... Não possuía nada para recordar de minha própria vida, então jogava.

O dia em que joguei Mario Kart foi o dia que fiz 5 anos, o dia em que zerei Zelda foi o dia que falei com Near pela primeira vez, o dia em que ganhei Mortal Kombat foi no natal que Watari apareceu pela primeira vez com um bolo de morango... O dia em que te conheci foi... O que mesmo...? Bem, creio que foi, simplesmente, o dia em que te conheci...

Antes não tinha nada para lembrar, nenhuma recordação importante que eu quisesse reviver. Apenas era perda de tempo, não tinha necessidade disso porque sempre soube que não importa quão bonito fosse o passado, ele simplesmente nunca mais voltaria. Agora, mesmo ainda sabendo disso, quero guarda-lo para mim... Todas essas memórias que passamos juntos e tudo aquilo que já conversamos...

Se antes eu não possuía nada para recordar, agora tenho tantas memórias que me é impossível poder guardar todas, mesmo assim, ainda queria formar mais recordações ao seu lado... Por isso te segui quando deixou o orfanato, quando entrou para a máfia, quando quase morreu, quando mesmo assim queria continuar lutando para derrotar Kira... Ou deveria dizer Near?

Todo esse tempo continuei te seguindo... Quando nos separamos para executar aquele ultimo plano para derrotar Kira, sabíamos o que provavelmente aconteceria. Havia uma estimativa de 79% de chance de você morrer. Mesmo sabendo, não te disse “não morra”. Pode morrer, tudo bem por mim... Se você simplesmente desistisse de algo só pelo medo da morte, não seria mais esse obsessivo em superar o Near que você sempre foi.

Se shinigamis existem, então provavelmente céu ou inferno ou até mesmo ressuscitar são possibilidades do futuro. Tudo bem se você morrer... Te segui em todas as coisas que você fez desde que nos conhecemos, porque agora seria diferente?

Ainda temo o futuro, como sempre temi... A possibilidade de me esquecer de todas minhas memórias me assusta... Mas aceito, apenas me deixe sair do carro e olhar o céu, antes de dar o ponto final nessa vida.

Qual seria meu ultimo desejo? Uhm, acho que seria dar uma ultima tragada em meu cigarro e poder sorrir um pouco. Ne, Mello... Sabe o que eu queria...? As lembranças foram tantas que começaram a transbordar de minha memória, por isso resolvi que não quero mais lembrar de nada... Agora, apenas quero algo para chamar de “para sempre”...