Wolf Prince escrita por Poliana Melo


Capítulo 7
Capítulo 7 - Adaptar-se e seguir em frente!




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Depois de um tempo pensando em silencio eu cheguei à conclusão que o melhor a fazer era seguir o exemplo do Joe, aceitar a nova realidade e me adaptar a como as coisas são agora. Pensamentos como “Isso é impossível, não pode estar acontecendo!” não me ajudariam em nada nessa situação, o jeito é seguir em frente.

Peguei algumas roupas e fui me trocar no banheiro. Vesti uma calça jeans e uma camisa cinzenta, já que estava muito quente para usar meu habitual suéter cor de grafite. Quase metade das minhas camisas são cinza, por algum motivo eu me sinto muito mais à-vontade com essa cor do que com qualquer outra, desde criança.

Quando saí do banheiro, fui me deitar na cama de baixo do beliche. Joe ainda esta sentado na cama de cima e aparentemente tinha tentado “dissecar” o celular.

― Você está bem? ― perguntou para mim.

― Não muito, mas vou sobreviver. ― respondi ― A propósito, talvez quem não sobreviva é o seu celular. O que você estava tentando fazer? ― indaguei.

Joe olhou para o celular completamente desmontado.

― Ele não esta funcionando. Tentei carregar, mas também não deu certo. Aí resolvi desmontar e montar de novo pra ver se voltava a ligar. Também não funcionou. Então o desmontei novamente pra ver se não tinha colocado nenhuma parte no lugar errado. ― disse ele.

― Você vai é quebrar alguma coisa. ― afirmei o obvio. ― Além disso, Lyka disse que o celular dela não funcionava no nosso mundo, é provável que os nossos também não funcionem aqui, por isso ele não liga.

― Hum... faz sentido. ― ele deu de ombros e começou a montar o celular de novo.

“Relaxado” é o que define o Joe. Sério, como ele consegue se manter tão despreocupado com tudo isso acontecendo?

Enfiei a cabeça debaixo do travesseiro.

― Joe, o que você acha dessa situação toda? É realmente estranho o jeito como você parece estar lidando bem até demais com isso tudo.

― Ah, não é tão difícil. Não é a primeira vez que de uma hora pra outra minha vida virada de cabeça pra baixo. Depois de ter passado por um grande choque uma vez, você acaba se tornando imune às grandes mudanças. ― disse ele despreocupadamente, seguido de uma risada.

Não importa o quão bom ator ele fosse, podia até enganar uma enorme plateia, mas eu consegui sentir a tristeza por trás das palavras ditas em tom alegre. Essa é uma tristeza que eu tinha ouvido em forma de desespero naquele mesmo dia, e agora eu entendia exatamente o era.

Diferentemente de mim, Joe já teve uma família. Ele já tivera pessoas que amava e que o amavam, tivera pessoas com quem podia contar, tivera um lugar para chamar de lar. Mas isso tudo foi tirado dele numa noite de outono á oito anos. Assim que a noticia do acidente dos seus pais chegou até a babá que tomava conta dele naquele dia, ela ligou para o conselho tutelar, e como Joe não tinha mais nenhum parente vivo, ele foi mandado para o orfanato. Isso tudo em menos de três dias. Quando ele chegou pra ser meu colega de quarto pensei que não fosse passar muito tempo ali, normalmente é difícil que garotos mais velhos sejam adotados, mas ele tinha boa aparência, com olhos verde amarelados e cabelo castanho que parecia meio dourado às vezes, ele certamente chamaria a atenção dos casais que viessem ao orfanato. Mas eu estava errado, ele causava tanto caos que se tornou logo uma pária como eu. Mas apesar dos estardalhaços durante o dia, durante a noite eu sempre ouvia um choro vindo da cama ao lado. Isso durou uns seis meses, então quando ele entrou pro curso de teatro organizado por uma ONG que trabalhava vinculada ao orfanato, ele parou de chorar.

É por isso que não acho tão ruim ter ficado órfão quando ainda era bebê. Não me sinto triste por isso, um pouco solitário de vez em quando, mas não é nada de mais. Porque, venhamos e convenhamos, não dá pra sentir falta de algo que nunca se teve. E depois desses pensamentos felizes, eu resolvi que o melhor a fazer era tirar uma soneca.

― Ainda faltam quase duas horam para irmos almoçar. ― constatei olhando para o relógio na parede do quarto ― Vou cochilar um pouco. Você me acorda ao meio-dia?

― Certo. ― respondeu Joe da cama acima de mim.

Então fechei os olhos e logo adormeci. Ao contrario do que esperava, eu não tive um sono agitado e repleto de sonhos estranhos. Dormi tranquilamente, sem sonhos nem pesadelos, apenas apaguei.

Acordei com Joe cutucando a minha barriga.

― AH! Não faz isso, idiota! ― eu disse assustado. ― Cara, não se cutuca a barriga de alguém que está dormindo, isso simplesmente não se faz!

Joe começou a rir.

― Foi mal! Não resisti. É muito engraçado o jeito que você dorme quanto está calor, você fica todo esparramado de barriga cima e joga o cobertor longe, além de sua camisa ficar levantando! ― disse ele entre risadas.

― Fala sério! ― joguei o travesseiro nele. ― Você é mesmo um idiota, sabia?

― É claro que eu sabia. Ser idiota é uma das minhas melhores qualidades! ― ele continuou rindo. Francamente...

Nesse momento alguém bateu na porta.

― Meio-dia! Almoço e depois compras. Teremos um dia cheio! ― falou Lyka em voz alta do outro lado da porta.

Eu me levantei.

―OK, já estamos indo. ― disse enquanto ajeitava minha roupa e penteava o cabelo com os dedos.

― Ah, sim. Meio-dia, foi por isso que foi te acordar! ― comentou Joe, com uma falsa cara de quem tinha esquecido.

― Ah, vá. Jura? ― disse ironicamente enquanto revirava olhos.

Enquanto eu desistia de pentear meu cabelo com os dedos e ia pegar um pente no armário, Joe a abriu a porta para Lyka.

― Uau, gostei das roupas novas Srta. Lyka Black. ― ouvi Joe dizendo.

Quando me virei vi do que ele estava falando. Lyka não estava mais com aquela roupa social de antes, agora era usava uma calça jeans cinza clara, uma camiseta azul folgada e de mangas curtas com o desenho de um bosque e da lua, e um all star. Tive a impressão de que aquela sim se aproximava mais da verdadeira Lyka.

― É, as roupas ficaram bem em você. ― consegui dizer.

― Obrigada pelos elogios. Mas vamos logo sim, temos realmente muita coisa para fazer. ― ela nos apresou.

Eu terminei de pentear o cabelo e acompanhei os outros dois pela porta. Saímos do hotel e seguimos para onde quer que Lyka queira nos levar para almoçar. Só espero que a comida nesse mundo seja normal.


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