Todos os dias, Sandy se levantava, acordava sua irmã e ia até a cozinha para tomar café.

Todos os dias sua mãe colocava cereal e leite na mesa e dava um beijo de bom dia em sua testa.

Todos os dias Rebbie e Sandy iam juntas para a escola e voltavam juntas.

Claro. Isso exceto aos sábados e domingos, quando o pai delas as acordava as 5 horas da manhã para treinar.

Jerry foi caçador por toda sua vida. Tudo que sabia tinha aprendido com seu pai, que também era caçador. Alguém tão experiente não poderia deixar suas filhas em mundo tão perigoso sem nenhum preparo. Por isso toda semana ele as ensinava a usar armas, facas, ensinava outras línguas, principalmente latim. Ensinava exorcismos, feitiços. Ensinava de tudo.

Às vezes Jerry e sua esposa Emily precisavam sair para resolver algum caso em outro lugar. Nesses dias, Sandy tinha que colocar sal nas portas e janelas da casa e manter sua irmã salva. Semanas assim, as garotas levavam facas escondidas para a escola e as garotas não conversavam com ninguém sobre assunto algum. Sei que parece chato, mas elas já haviam se acostumado. Provavelmente essa é a parte mais triste da história.

Mas tudo isso mudou. Há uns cinco meses.

Era quinta feira. A família García não tinha nenhum caso, então estavam em casa como de costume. Eles moravam numa casa simples, porém aconchegante, pouco afastada das outras casas.

As garotas voltavam da escola a pé. Tudo parecia normal, até passar um carro de bombeiros. Sandy se assustou, mas ignorou o fato. Até passar uma ambulância e um carro de policia. Tudo em direção a sua casa.

A mais velha agarrou a mão da mais nova e correu até a casa, mas já era tarde. O que ela temia tinha acontecido.

Sandy viu sua casa sendo incendiada. Chamas tomavam conta do lugar. Havia muita fumaça e os bombeiros estavam tentando conter o fogo. Vizinhos olhavam atentamente e comentavam o acontecido.

— Sandy? — Rebbie amedrontada segurou firme a manga do casaco da irmã.

— Está tudo bem Rebbie! — A garota mantinha o semblante sem expressão. — Vamos.

As duas se retiraram sem ninguém perceber. Seguiram a estrada até um galpão mais afastado. Sandy sabia o que fazer em uma situação como aquela. Foi treinada a sua vida inteira, mas nunca imaginou que sentiria tanto medo. Claro que era preciso escondê-lo. Era preciso manter a calma para não piorar a situação e deixar Rebbie ainda mais assustada.

No Galpão velho e sujo hvia um arsenal.

Espingardas, facas, machados, balas de prata e de sal, livros antigos...

Sandy acendeu a luz fraca do local. Ajoelhou-se no chão e esvaziou sua mochila. Em seguida fez a mesma coisa com a da irmã, deixando o material escolar espalhado pelo assoalho.

— O que você vai fazer com nossas mochilas? — Rebbie estava nervosa e lágrimas escorriam pelo seu rosto.

— Vou enchê-las de armamento. Tudo o que for necessário.

— Necessário para quê? Sandy, o que vamos fazer?

Sandy se levantou. Colocou a mochila nas costas e olhou nos olhos da irmã.

— Nós vamos caçar.

Continua...