Ao Cair da Noite

Capítulo Único

O seu Mestre é cheio de surpresas, não é mesmo, Sebastian?

Um garoto tão jovem e, ainda sim, tão arrogante para a idade. Os onze anos daquele corpo nunca o fizeram desistir da fachada séria e agir como um garoto da mesma tenra idade. Mas isso nunca foi um problema para você. Isso apenas aumenta sua carga de diversão diária.

Você ri.

No começo, era simples tratar de suas necessidades e atitude petulante. Apenas cumpria as ordens e tinha mais um motivo para rir na calada da noite. Porém, agora, és obrigado a encarar situação que lhe trazem repulsa. Ver Ciel tão frágil ou bondoso revira seu estômago, e você começa a se preocupar com a possibilidade de ter feito o contrato com a pessoa errada. Afinal, nesses momentos, você quer o rude Conde, e não um menininho magoado por ser órfão.

Entretanto, você morde a língua até que sangre e se contém. É difícil não acelerar o processo de destruição do rapaz, mas você consegue. E sente orgulho. O Cão da Rainha merecia uma lição, todavia você se controla.

Bom demônio, Sebastian.

Nos tempos atuais, ao cair da noite, ele costuma chamar pelo seu nome como a criança delicada que ele deveria ser. Os pesadelos o atormentam e são os reais culpados pelo nervosismo do Mestre, mas você sabe que já não é mais somente isso.

Você se senta ao lado dele, acatando as ordens de permanecer ali até que ele adormeça, contudo, isso não o impede de sorrir brevemente em escárnio –– gesto que ele não veria na escuridão.

As mãos pequenas se encaixam nas suas desajeitadamente, algo que poderia ter demorado menos tempo pelo teu bem, mas ele não sabe. Você coloca a mão livre na boca e segura uma risada, porque ele ficaria envergonhado e irritado, e você não está com paciência para aguentar outro surto de ira vindo dele.

Assim que ele adormece, Sebastian, você se livra daquele incômodo e sai do aposento, porém não sem antes cobri-lo e apagar a vela. Ele pode se virar no escuro sozinho. Basta que chame pelo seu nome novamente.

Você sempre irá atender aos chamados do jovem.

Não há laços que os liguem além dos do Contrato, mas o Conde é o único humano que lhe faz rir como nunca fizera antes, não é mesmo, Sebastian?

Enquanto ele se mover corretamente nesse tabuleiro, não há do que reclamar.

Tudo valerá à pena pela alma.