Harmonia Agridoce HIATUS escrita por Mare Waters


Capítulo 2
Recomeço




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As estrelas brilhavam forte naquela noite. O céu estava cheio de pontinhos brancos e parecia ser a noite perfeita para acampar na varanda, ou no telhado. Eu estava preocupada com amanhã. Entrar em um colégio novo não é fácil para ninguém, a não ser que você esteja no jardim de infância. Principalmente para mim. Não que eu esteja morrendo para fazer novos amigos. Não, não é isso. Eu finjo que não me importo, mas sim, isso me afeta bastante quando eu chego em casa e começo a ter um daqueles momentos estúpidos de reflexão. Como agora.

Olho para o relógio. Já passam das oito. Logo Karina chegará do trabalho morta de fome, como é o usual. Talvez eu devesse descer e preparar alguma coisa. Passei a morar com ela há uma semana. Meus avós eram ótimos, mas sempre pareciam ter aquele olhar perdido, quebrado, quando olhavam para mim. Estava farta daquilo. Então eles me mandaram para "tia" Karina. Ela não é realmente a minha tia, mas era como uma. Pelo que eu me lembrava, conhecia-a desde quando era pequena.

Karina também havia se mudado para cá recentemente. Na verdade, não fazia mais de um mês que ela estava aqui. O porquê dela ter se mudado para uma cidade como Minneapolis sendo que ela morava em Miami, era um mistério para mim. Algumas caixas ainda enfeitavam a sala, fechadas. Peguei o telefone e pedi uma pizza. Tentar fazer algo na cozinha estava fora de questão para mim, principalmente depois da minha última tentativa.

Liguei a TV enquanto esperava o tempo passar. Tinha que manter a minha mente ocupada se eu não quisesse que as memórias de um ano atrás me atingissem em cheio. Ainda não havia decidido o que mais me machucava: meus pais terem quebrado sua última promessa ou o fato de eu ter os abandonado. Eu estava determinada a achar os responsáveis e aniquilá-los lentamente depois. Só precisava esperar até a minha maioridade. Sem essas burocracias idiotas de tutor, guardião, ou algo assim. Não que eu não gostasse deles, mas eram o único empecilho que me impedia de fazer o que eu quero.

― Olá, terra para Emma! – Karina estava estalando os dedos bem na minha frente.

― Quando é que você entrou? – perguntei, confusa.

― Há uns dois minutos atrás? Quando você ainda estava encarando a TV como se a sua vida dependesse disso?

― Ah, não percebi.

― Deu pra notar, querida.

― Então... – comecei, um pouco sem graça. – Pedi pizza.

― Pepperoni?

― Sim.

― Está perdoada por ter me ignorado. – ela piscou para mim.

Sorri e voltei a prestar atenção na TV enquanto Karina subia as escadas para, provavelmente, tomar um banho e trocar de roupa. Estava passando uma reprise de The Big Bang Theory, e antes que eu percebesse, estava quase chorando de tanto rir. [a/d: Sheldon ♥] Alguém tocou a campainha e levantei-me, pegando o dinheiro na mesa.

― Já vai!

Abri a porta e lá estava. Um garoto segurando a minha preciosa. E mesmo que o cheiro da pizza estivesse roubando quase toda a minha atenção, não pude deixar de reparar que o entregador também era, bem, bem apessoado.

― Perdeu alguma coisa aqui? – perguntou, divertido, levantando a sobrancelha.

― Estava fascinada com a sua falta de beleza – respondi, com um sorrisinho.

― Você também não é lá essas coisas, sabia?

― Vá se foder.

Ele começou a rir e aproveitei e peguei a pizza já de sua mão. Não queria mais ficar perdendo o meu tempo com aquele idiota.

― Sem gorjetas? – perguntou, assim que contou o dinheiro.

― Pelo que eu saiba, as pessoas só recebem gorjetas quando merecem. – sorri e fechei a porta, sem esperar por uma réplica.

Podia ouvi-lo me xingar de vários nomes e sorri, enquanto seguia para a cozinha.

― Parece que teremos que mudar de pizzaria. De novo. – disse Karina, do alto da escada.

― Ou talvez não. Adoraria vê-lo voltar – comecei a rir e logo Karina me acompanhou.

Começamos a comer em silêncio confortável, que já estava se tornando familiar visto que nos últimos dias, a rotina era a mesma. Ainda não tinha tido vontade de explorar a cidade e conhecer seus pontos turísticos.

― Então, como foi o trabalho?

― Hm, nada demais – Karina respondeu, evasiva. Até agora eu não tinha ideia da onde ou com o que ela trabalhava. – Está nervosa com amanhã?

― Não – menti.

Ela me encarou com um olhar de quem sabe das coisas e concentrei-me em encarar meu prato vazio. Não queria me preocupar com uma coisa tão banal quando tinha coisas mais importantes.

― Pode deixar que eu cuido da louça. Vá descansar para amanhã – ela sorriu.

Eu já ia falar que ela era quem tinha trabalhado o dia inteiro quando ela lançou-me aquele olhar que dizia que era melhor fazer o que ela estava pedindo. Suspirei e subi as escadas lentamente. Meu quarto não era muito grande, mas era espaçoso o suficiente. Sem contar que eu tinha um banheiro só para mim, então estava mais do que grata. Tranquei a porta e fui tomar um banho, trocando os shorts jeans e a regata por um moletom que batia na metade das minhas coxas. A rua já estava silenciosa àquela hora, e pouco tempo depois de deitar e me cobrir com aquela colcha enorme, perdi a consciência.

x

― Emma, já são sete horas!

Abri os olhos, sonolenta e confusa, sem saber onde eu estava, até que Karina apareceu bem na minha frente.

― Meu Deus, Karina! – pulei de susto.

― Eu provavelmente deveria ficar ofendida, mas não há tempo agora. Você tem que estar no colégio daqui a uma hora! Levanta e vá já se arrumar! – ela gritou, praticamente me empurrando da cama.

Tranquei-me no banheiro e, após escovar os meus dentes e tomar um banho bem relaxante, o que demorou, no total, cerca de meia hora, saí para escolher as roupas. Atraso no primeiro dia? Não é tão importante assim. Peguei um shorts jeans rasgado e um suéter que quase o cobria todo, além de all star básico de cano longo. Minha mochila, que estava praticamente vazia, tinha vários elefantes tribais estampados. Prendi meu cabelo loiro em um rabo de cavalo desajeitado e passei uma camada de rímel sobre os cílios. Desci as escadas correndo, me deparando com Karina, que estava terminando seu café.

― Qual é o problema de vocês, jovens, que usam blusa de frio mas ficam com as pernas nuas? Não entendo. – disse, assim que me avaliou dos pés a cabeça.

― É uma coisa chamada estilo, tia. – ri, enquanto pegava uma torrada.

― Você está insinuando que eu não me visto bem, senhorita?

― Apenas dizendo que esse é um estilo jovial, moderno.

― Agora você está insinuando que eu sou velha? – ela levantou a sobrancelha.

Revirei os olhos e olhei para o relógio. 10 minutos.

― Vamos sair ou você vai continuar implicando sobre as minhas falhas de comunicação?

Saímos apressadas da casa. Sorte a minha de que o colégio ficava a cinco minutos de carro, e a vinte minutos, se por acaso algum dia eu fosse andando. Antes que eu me desse conta, minha tia já estava estacionando na frente do portão.

― Bom, já adiantei o seu trabalho e peguei os seus papéis na secretaria. Aqui está o seu horário, um mapa do colégio, e a senha do seu armário – ela falou, ansiosa, entregando-me um envelope de papel pardo.

― Bom saber que está ansiosa para se livrar de mim – respondi, brincando, enquanto saía do carro e olhava os papéis.

Com o meu trabalho adiantado, ainda restavam cinco minutos para eu achar o meu armário, pegar os meus livros, e achar a sala certa. É claro que ainda assim não ia dar tempo. Ignorando alguns olhares que iam do meu cabelo até a minha roupa naqueles corredores amarrotados de gente, estava procurando o meu número. 687. Eu ainda estava no corredor dos duzentos. Droga. E como se não bastasse, o sinal tocou. Era a única coisa que faltava para me atrasar mais ainda. Um mutirão contra uma garota de 1,60m.

Assim que os corredores se esvaziaram, o que não demorou muito tempo, finalmente consegui respirar. O dia mal havia começado e estava louca para que terminasse já. Achei o meu armário depois de vários minutos andando. Para quê gastar tantos metros quadrados para construir um colégio? Totalmente desnecessário! Girei os números do cadeado e a porta se abriu, revelando um monte de livros totalmente organizados em um canto, um adesivo do emblema do colégio e uma agenda, também com o emblema do colégio. Outras coisas totalmente desnecessárias.

― Além de mal educada, é surda? O sinal tocou há dez minutos, querida. – alguém disse, atrás de mim.

Só me faltava essa. Virei-me lentamente, e encarei, com o meu olhar mais enfurecido, o garoto entregador de pizza.


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Notas finais do capítulo

Reviews, por favor ;)
Bem, eu vou viajar dia 23 e só vou voltar dia 4 de fevereiro. Vou tentar deixar uns capítulos programados, mas como não garanto nada... se essa fic ficar sem atualização por muito tempo, será por causa disso, ok?
Até mais xxx



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