A Caçadora - A Supremacia escrita por jduarte


Capítulo 19
O Desconhecido - £


Notas iniciais do capítulo

Desculpem-me pela demora!!! De verdade...
Coisas pessoais tendem a atrapalhar kkkkk
Espero que gostem!!!
Beijoooos,
Ju!



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Eu só conseguia pensar no quão cansada estava, e minhas mãos seguravam o volante tão fortemente, que acreditei por um minuto que fosse arrancá-lo de vez. Abri o vidro do carro de Claire com certa brutalidade, já que de repente tudo parecia abafado e desconfortável.

Meu casaco pareceu apertado demais, sufocando-me. O colar enganchava-se em meus cabelos, e se prendia à mim como se me pertencesse... E agora pertencia.

Parei num sinal vermelho e soquei a direção o máximo que pude com os punhos fechados. Eu odiava tudo aquilo que minha vida tinha se tornado.

Enquanto eu socava o volante com toda minha força percebi pelo canto do olho um carro parando do meu lado, mas não me preocupei muito. Eu podia sentir as veias de meus olhos praticamente saltando, podia sentir nas palmas de minhas mãos as batidas descompassadas de meu coração, e o tanto que minha cabeça doía deveria ser proibido.

Olhei para o lado, e a mulher do carro que estava parado junto a mim no farol me encarava de uma maneira esquisita, como se ela achasse graça, mas também ficasse relativamente com medo de tudo aquilo.

Hey, eu não vou arrancar sua cabeça!, quis gritar, mas quando fiz a menção de abrir a boca, ela pisou no acelerador tão forte que fez o carro derrapar alguns centímetros e sair praticamente cantando pneu no asfalto esbranquiçado, atravessando no farol vermelho mesmo.

Aquela mulher ou era louca, ou tinha visto algo que a tinha assustado mais do que o suficiente.

Olhei para minha minhas feições no espelho do carro, e ofeguei. Eu tinha manchas avermelhadas nos olhos, minhas pupilas completamente dilatadas, e a boca repuxada por conta do susto e da raiva. Meus olhos voltaram ao normal e eu respirei profundamente, tentando me concentrar na aparente calmaria ao meu redor.

Parecia que o poder dentro de mim precisava sair de alguma maneira.

Se não começasse a treinar com Sally e com Sierra, logo enlouqueceria.

Procurei controlar minha respiração e parei no mesmo café que Kaus tinha me levado depois do pequeno incidente na boate. Eu tinha a sensação de que iria encontrá-lo ali.

E então, antes de descer do carro, uma voz conhecida veio em minha cabeça:

Ele não está aí.

E com um “clique” de minha mente, eu sabia para onde ir.

A boate.

Cheguei em poucos minutos e ao estacionar na parte mais escura da rua, me impedi de continuar andando em direção a porta da frente, por alguns segundos.

Eu tinha certeza de que estar usando uma calça jeans colada, uma bata branca de cetim, um casaco também jeans e nem um pouco quente e coturnos não eram lá as melhores roupas para se utilizar em uma balada.

Mas que droga, não eram nem as melhores roupas para se utilizar para se sair de casa neste frio! O que eu tinha na cabeça?

No momento que coloquei os pés para fora do carro, me arrependi amargamente de ter ido. Eu poderia muito bem ter esperado Kaus sair de lá.

Eu tinha minha arma muito bem guardada, ninguém seria louco de tocar em mim.

Quer dizer, ninguém seria ao menos louco de sair num tempo como esse.

As duas opções que se estendiam à minha frente eram simples: ou eu morria de frio do lado de fora, ou morria de calor do lado de dentro.

Optei pelo lado de dentro.

Me lembrei sobre Claire ter dito algo sobre a boate não ser muito bem o que se esperava de uma normalmente frequentada por humanos, e entendi quando o segurança olhou para mim e seus olhos de vibraram com uma cor intensa azul piscina e voltaram ao seu tom normal.

Entrei sem pagar nada, e agradeci, tocando de leve em seu braço, sentindo uma corrente elétrica passar para minha mão. Seu mecanismo de defesa era extraordinário. Utilizar a eletricidade para manter as pessoas bem longes era um dom raro e muito apreciado.

Lá dentro não estava tão apinhado de gente quanto antes. Haviam uns cubículos como se fossem reservados, e eu tive vontade de vomitar só de pensar no que poderia acontecer ali dentro.

A música era mais alta, - talvez porque não tivessem pessoas impedindo de que o som chegasse diretamente em mim – as luzes de LED incomodavam minha visão, o DJ parecia animado, as pessoas dançavam freneticamente e bebiam de seus copos como se fosse água, e eu realmente duvidava que fosse algo assim.

Preferi me manter longe de tudo aquilo, ficando na ponta do pé para encontrar Kaus. O lugar era pequeno, o que significava que mesmo com poucas pessoas ainda parecia infernal.

Passados alguns minutos de ser esbarrada por pessoas dançando e se divertindo, finalmente encontrei o par de olhos verdes que fez com que meus joelhos quase amolecessem.

– Kaus. – sussurrei e ele pareceu ter me ouvido apesar de toda aquela barulheira.

Caminhei até ele com passos largos e parei quando vi uma garota morena com curvas além do necessário, trajando uma roupa que eu chamaria de ousada, se jogar em cima dele, se insinuando no ritmo da batida, balançando os quadris nojentamente.

A raiva que explodiu em meu peito não foi maior do que a vontade de arrancá-la de cima de Kaus. Ele percebeu, pois riu de leve, passando as mãos no cabelo desgrenhado. Até mesmo quando ele o deixava bagunçado, daquele jeito todo “não-to-nem-aí”, Kaus ainda conseguia parecer um tanto quanto irresistível.

Me concentrei em não pensar bobagens para não entregar o quão sedutor ele era, e então repreendi a vontade de bater minha cabeça na parede.

Eu já estava pensando.

A morena não saiu e eu me aproximei o suficiente para empurrá-la de canto, satisfeita por vê-la cambalear para trás com as feições chocadas.

– Ei, quem você pensa que é? – ela perguntou com as sobrancelhas finas demais quase se juntando, colocando as mãos na cintura forçosamente.

A ignorei por completo.

Ela tocou em meu ombro e me empurrou para trás com um pouco mais de força do que eu tinha feito, desnecessariamente.

Tirei a arma de seu apoio e apontei para ela firmemente.

– Caia fora daqui.

Seus olhos se arregalaram enquanto eu colocava a arma no lugar, e me virava para Kaus.

– Você tinha que me deixar fazer esse espetáculo? – indaguei com uma sobrancelha levantada.

Ele sorriu de canto e mordeu levemente o lábio inferior. Eu o observei fazer esse movimento quase como se fosse doloroso.

– É engraçado vê-la com ciúmes.

Revirei os olhos e lhe empurrei de leve, apreciando o pouco contato de isso causava, como se dissesse: “Parceiro, não tenho ciúmes de você”, quando na verdade o que eu queria dizer era: “Cara, eu dou graças a Deus que você não se lembra de mim, ou estaríamos com sérios problemas.”.

– Precisamos conversar. – Kaus disse, e olhando ao redor completou: - Em um lugar não tão cheio quanto esse.

– Mas você disse que estamos sendo observados. – constatei, dando uma leva olhada a minha volta.

Kaus sorriu.

– Eu disse. Por isso tenho um lugar muito mais seguro do que aqui. – ele sussurrou em meu ouvido, deixando os pelos de meu pescoço completamente eriçados.

Assenti debilmente.

Saímos pela mesma porta da vez anterior e seguimos até meu carro.

– Você não veio de carro? – perguntei. Não é que não queria entrar no mesmo carro que ele, eu queria, e muito. Só não sabia até que ponto seria seguro o suficiente para não fazer alguma besteira.

Kaus era irresistível, até mesmo para mim. E era importante manter uma distância segura dele.

Eu me lembrava do código que ele havia dito: não se namora ex de irmãos, e concluí que não tinha problema que ele pegasse uma carona comigo. A não ser que ele invadisse meu espaço.

Aí eu não responderia mais por mim.

Pigarreei alto e ele abriu a porta para mim, mesmo que eu não tivesse falado nada, como um verdadeiro cavalheiro.

– Obrigada. – sussurrei encabulada, sentindo o rubor subir por meu pescoço e se alojar em minhas bochechas, entrando no carro, esperando que ele entrasse pelo lado do motorista.

E então eu me dei conta:

– Ei, você não vai dirigindo! – ralhei com ele quando Kaus entrou no carro.

Ele se inclinou sobre mim, devido sua altura e então mirou em meus olhos, quase me hipnotizando. Seu nariz roçou no meu e eu me desarmei.

– Finnik... – eu sussurrei, minhas mãos roçando em seu peito, espalmando-o de leve, mas não de uma maneira que dissesse “vá embora”. A sensação do oco em seu peito fez com que eu fechasse minhas mãos em um punho.

Eu não sentia batimentos cardíacos vindos de Kaus e isso fez com que os meus se acelerassem. Da última vez que eu tinha ficado tão perto assim dele, senti seu peito bater fortemente. O coração tão forte quanto o de um cavalo.

– Shh... – ele sussurrou de volta, fazendo um bico proposital.

Sua boca ficou mais próxima do que nunca da minha, e então ele roçou os lábios de leve nos meus, impedindo-me de continuar, e subiu para me dar um beijo na ponta do nariz para meu descontentamento. Percebi que no momento de transe que estava, Kaus já havia até mesmo colocado meu cinto de segurança.

Meu coração parecia um bater de asas de um beija-flor, de tão rápido, e Kaus pareceu feliz por ter provocado tal reação em mim.

– Segure-se, Jameson, vamos dar uma volta por aí.

Minhas mãos foram instintivamente para o banco de couro do carro de Claire enquanto Kaus acelerava o carro. Minha respiração entrecortada o fez rir.

– O que é tão engraçado? – perguntei tentando parecer ríspida e rude, quando na verdade tudo o que eu pareci foi uma criatura indefesa, cheia de medo.

Meus olhos vagaram pelo velocímetro que já marcava quase 100 km/h.

Xinguei mentalmente e isso fez com que a risada de Kaus somente aumentasse.

– Mas que merda, Kaus, você quer matar a gente? – perguntei irritada suficiente para manter minha voz estável. – Se eu bem me lembro, a pista está escorregadia e isso poderia me matar! – gritei, lembrando por alguns segundos que Kaus não tinha o porquê de temer a morte. Ele já estava morto.

Esse pensamento fez com que eu me encolhesse no banco.

Kaus riu ainda mais, completamente alheio ao fato de eu ter receio de tocar em sua pele novamente e perder completamente o controle. Ajeitei-me no banco desconfortável, sentindo um frio de repente e tirei as mãos apertadas do banco, quase fazendo furos no couro com minhas próprias unhas, suficientemente rápido para abotoar o casaco e voltar à minha posição.

Kaus olhou para mim enquanto dirigia pelas ruas completamente escuras, e então esticou as mãos para tirar uma mecha de cabelo de meus olhos. Eu me afastei instintivamente e ele recuou. Algo como tristeza vibrou em seus olhos, mas sumiu tão rápido quanto surgiu que me perguntei se não seria coisa de minha cabeça.

Ele se virou para frente e diminuiu a velocidade consideravelmente, passando de 100 para 70 km/h. Quis agradecer por este gesto, mas um bolo se formou em minha garganta, impedindo-me de falar qualquer coisa.

O carro parou na frente de um prédio simples, numa área comum residencial, tão parecida com a minha que por uns instantes questionei se realmente estávamos no lugar certo.

– Chegamos. – ele disse e saiu do carro, vindo na direção do passageiro, abrindo a porta para mim.

Eu deveria estar acostumada com os gestos de cavalheirismo de Kaus, mas mesmo assim não consegui conter o rubor que cresceu em minha face, subindo por meu pescoço e se alojando em minhas bochechas coradas pelo frio.

Meu corpo pareceu tremer ainda mais quando alcançamos a entrada de um apartamento simples, com a entrada nem um pouco chamativa.

– É aqui que você mora? – perguntei sem acreditar.

Kaus deu de ombros e abriu a porta de madeira.

Subimos três lances de escada e quando vi já estava sendo empurrada levemente para poder entrar no apartamento. Meus pés travaram.

– A gente não pode conversar aqui fora? – perguntei novamente.

Um sorriso de canto surgiu na face de Kaus.

– Se você quiser ser morta antes nascer do sol, sem problemas. – ele respondeu enquanto cruzava os braços em cima do peito, deixando os músculos incharem por debaixo da camisa preta que usava.

Mordi o lábio inferior e o ouvi engolir seco.

– Vamos entrar. – disse por fim, deixando que Kaus me conduzisse apartamento adentro, e consequentemente para uma pequena parcela de sua vida.

Uma vida que eu agora desconhecia.


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Notas finais do capítulo

Continua?