Branco, foi essa a primeira cor que vi quando abri lentamente os meus olhos. Estava numa espécie de cama, parecia que tinha dormido há dias e por um momento pensei que tudo aquilo ao qual tinha vivido nesses últimos tempos fora um grande pesadelo, mas ao notar vários aparelhos ao meu redor e algo injetado na minha veia constatei que tudo aquilo era, infelizmente, verdadeiro. Forcei um pouco minha cabeça para tentar me lembrar dos últimos acontecimentos um sorriso sarcástico surgiu nos meus lábios ao recordar das cenas e a única pergunta que pairava sobre mim era o que aconteceria agora? Depois de tudo que fiz, será que iria ser presa? Pensamentos rodavam a minha cabeça quando escutei uma batida na porta e num impulso disse.

- Pode entrar.

- Vejo que esta muito bem, ate falando já esta Catnip.

Gale mantinha uma expressão fechada, mas ao mesmo tempo parecia ter algo a dizer só que ao mesmo tempo possuía certa recua, como se estivesse pensando nas palavras certas para me dizer.

- O que vai aconteceu comigo agora? - minha boca ficou seca minha expressão deve ter deixado a crer que estava com um pouco de receio do meu futuro, mesmo que não ligasse mais para nada, pois logo então Gale respondeu.

- Não se preocupe você foi constatada como uma pessoa com problemas mentais só irá voltar para o Distrito 12 e nada ira te aconteceu - ele forçou um sorriso, como se pelo menos algo tivesse valido a pena.

Ficamos um tempo em silencio, um tanto quanto desconfortável até, mas para mim e para ele era bom ate porque nenhum de nós sabia como começar aquela que talvez fosse a nossa ultima conversa.

- Você me perdoa? - Gale perguntou rapidamente. Tirando-me completamente dos meus devaneios.

Eu confesso que aquela pergunta me chocou um pouco, eu não tinha sequer parado para pensar em tudo que aconteceu na realidade não o odiava, mas lembrar do fato que ele de uma maneira indireta foi o responsável pela morte da minha irmã, doía bastante. Porem eu tinha a plena convicção de que ele não tinha feito por mal só que ao mesmo tempo não conseguia olhar nos seus olhos sem lembrar.

- Não.

Deixei minhas palavras morrerem ao vento, meus olhos se fecharam e um leve suspiro vindo de Gale como se tudo aquilo já fosse o esperado. Infelizmente eu não era como Peeta, não sabia perdoar e embora soubesse que aquilo não era justo nem comigo nem com Gale, eu ainda não estava pronta.

- Eu entendo, no seu lugar também faria o mesmo – falou sorrindo forçado.

- Eu não posso simplesmente esquecer tudo que aconteceu ainda mais agora, a memoria da minha irmã sendo morta ainda ronda meus pesadelos sei que você não teve culpa então não acho justo te culpar, mas ainda não estou pronta para te perdoar - confessei.

Ele me olhou e começou a andar pelo quarto, em seus olhos via tristeza e angustia, como se aquilo tudo fosse a mais dura realidade que ele pôde ter escutado. Depois de dar um grande suspiro o mesmo foi ate a janela e encarando a paisagem ali perguntou.

- Algum dia você irá me perdoar?

- Não sei, isso só o tempo irá dizer - respondi.

Minhas palavras parecem ter acalmado ele, pois o mesmo respirou fundo e passou a mão por entre os cabelos, sinais claros que estava pensando no que eu acabara de dizer. Mais um longo silencio se estabeleceu naquele quarto.

- Acho que tem razão, então talvez deva aceitar a proposta que recebi faz alguns dias – disse e quando eu franzi o cenho sem entender ele completou - eu irei para o distrito dois, fui chamado para servir, acho que serei útil lá - ele sorriu pela primeira vez verdadeiramente, um pouco feliz com a possibilidade de estar fazendo algo que goste.

- Sei que será útil você detesta injustiças vai se sair bem - retribui o sorriso, mostrando a ele que apoiava sua decisão.

- Espero que Peeta cuide de você como eu nunca fui capaz de fazer da melhor forma - a frase me deixou surpresa, o que Peeta tinha a ver com a conversa? Quero dizer eu sentia algo por ele e sabia que os dois tinham falado sobre a minha decisão, mas Gale falar dessa maneira me surpreendeu bastante.

- Não entendi? Como se mesmo depois de tudo eu e Peeta temos alguma chance - respondi um pouco triste, depois de tudo que aconteceu não acreditava em um futuro com ele se bem que nem a palavra futuro entra no meu dicionário.

- Vão ter sim, Peeta ainda te ama mesmo depois de tudo - ele sorriu acolhedoramente vindo em minha direção e tocando com o polegar meu rosto - antes eu pensava que éramos perfeitos um para o outro, mas quando vi a forma como Peeta e vocês são tão bons um para o outro confesso que fiquei com ciúmes, mas aos poucos fui vendo que na verdade éramos nós que não combinávamos - falou com um meio sorriso.

- Eu sempre achei que um dia ficaria contigo - confessei rindo um pouco.

- Katniss, você precisa de alguém que te proteja nos dias tristes que esteja ao seu lado acima de tudo, uma pessoa na qual saberia que sem não viveria e essa pessoa só poderia ser o Peeta - disse com o semblante um pouco triste, como se aquilo tudo também doesse no mesmo - você sabe que comigo só tornaria tudo pior, não sabe? - assenti concordando- É foi o que pensei.

Ele me deu um beijo na testa e se levantou forçando um pouco o sorriso, andou ate a porta girando a maçaneta e suspirou um pouco, mas antes de sair e abrir a porta ele virou-se em minha direção e disse por fim.

- Espero que isso não seja um adeus, não gosto de despedidas então nos vemos Catnip e fique bem - sorriu.

- Nos vemos Gale - retruquei com um sorriso, antes que ele pudesse se virar de novo para ir embora me apressei em dizer - e, por favor, seja feliz - completei.

- Vou tentar - respondeu virado de costas.

Naquele momento percebi que sim, era um adeus e que provavelmente não o veria nunca mais, uma lagrima brotou em meus olhos e senti como se finalmente tivesse fechado um capitulo da minha vida não sei por que, mas a sensação de estar sem ele me fez bem, como se eu tivesse tirando uma parte ruim minha. Então naquela hora tive a certeza que Gale estava certo, não podíamos ficar juntos o estrago todo já tinha sido feito, ficar com ele seria como alongar mais e mais o meu sofrimento, no final talvez esse seja o melhor para todos: esquecer.