Shiroi escrita por Yasu Tanizaki


Capítulo 1
Inferno


Notas iniciais do capítulo

Yoo Minna-san! *O* Não é minha primeira fic no Nyah, mas é a primeira nessa conta nova. Espero que leiam e gostem! >

Sobre o capítulo: Esse começo está super dramático e depressivo, desculpem por isso kkk mas é a vida da Kaori u.u Logo logo ela vai melhorar, prometo :3



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Acordei assustada arfando e suando frio depois de um pesadelo. Os pesadelos eram rotina para mim, mas meu corpo nunca se acostumou então sempre acordo aterrorizada. Como sempre, também não me lembro dos sonhos que tenho, então respiro fundo e me acalmo, voltando a me deitar e olhando para o teto enquanto espero o despertador tocar.

Levantei da cama arrastando os pés e indo até o banheiro para tomar uma ducha morna antes de me vestir para o colégio. Me olhei no espelho embaçado enquanto secava meu cabelo e quase me assustei. Eu estava a cada dia mais pálida e minhas olheiras mais fundas e aparentes, meu cabelo não cresce faz mais de um ano, então ele continua com o corte mal feito e torto que fiz com navalha, me deixando com uma aparência mais suja e pobre. Saí de casa e me deparei com Naomi-san. Ela é uma vizinha velha que tenta fazer um papel de avó para mim e sempre me ajuda quando pode, além de ser a única pessoa na face da terra que me deseja felicidades em datas festivas.

- Kaori-chan! – ela acenou com um sorriso.

- Ohayo Naomi-san. – respondi desanimada, mas fui até ela por educação.

- Ohayo. – cantarolou. – Tome, fique para você. Preparei hoje cedo e sei que você deve estar com fome.

Ela me entregou um embrulho em papel toalha, abri e senti o aroma quentinho e doce do pão.

- Obrigada Naomi-san. – forcei um sorriso e dei as costas acenando de volta para ela. – Estou atrasada, até mais!

Sim, sou naturalmente rude com as pessoas. Me sinto mal por ser assim com Naomi porque foi ela quem cuidou de mim e impediu que me levassem para um orfanato depois que meus pais me abandonaram, mas é meu instinto ser assim.

Segui o caminho da escola mastigando devagar os pedaços do pão e desejando que um carro me atropelasse no mesmo momento, pelo menos seria uma morte com um sabor doce. Sim, sou depressiva e paranoica. Fui obrigada a tomar alguns remédios, mas nada nunca deu certo. E é impossível que algo dê certo na minha vida. Sou órfã, pobre e sustentada pelos outros e por algumas misérias do governo – que vai acabar assim que eu fizer 18 anos –, sempre fui alvo de chacota para todos, nunca tive amigos, não sei o que é ser uma boa pessoa, não nutro sentimentos bons por nada nem ninguém, seria anormal se eu não fosse depressiva com meu estado mental.

Passei pelos portões do inferno e as vozes rotineiras já começavam. Já nem me atormentavam mais.

- Woooh chegou a suja, leprosa! – gritou alguma garota que passava.

- Dormiu bem com os cachorros no lixo, Hashimoto-san? – um garoto puxou meu cabelo e gargalhou com os amigos.

Ignorei a todos e não ouvi mais nenhuma palavra que diziam. Nada mais tinha efeito sobre mim, eu era quase um robô, o brinquedo que fazia a alegria de todos.

Segui para a primeira aula e tomei meu lugar de sempre: última fila, última carteira. Sou péssima na escola e nem me importo em melhorar, não tenho planos para o futuro, apenas vivo cada dia odiosa de tudo e todos, sempre desejando morrer. Para os professores eu sou invisível. Na verdade eles sempre me oferecem ajuda com olhares de pena, mas eu sempre recuso, até acho que no fundo eles mesmos sabem que é impossível eu ser uma boa aluna, minha mente é cheia de coisas ruins, não tem espaço para aprender matemática ou qualquer outra ciência idiota que a humanidade inventou.

Debrucei-me sobre os livros da minha carteira, fechei os olhos ouvindo a voz rouca do professor de inglês e voltei aos meus devaneios. Todos os dias, como uma rotina, minha mente martela na minha cabeça os piores acontecimentos da minha vida: o dia em que fui deixada para trás sem explicações, o dia em que recebi a notícia que meus pais haviam morrido e o dia em que entrei para o ensino médio.

Eu tinha cerca de sete anos, lembro-me que meu pai era o único que trabalhava e minha mãe sempre se queixava de mim. Ela engravidou de meu pai, mas nunca quis ter uma criança, o sonho deles era viverem juntos e sozinhos para o resto da vida. Um dia, precisamente em uma terça-feira de abril, cheguei da escola em casa e não havia nada lá. Nem móveis, nem roupas, nem mamãe ou papai. Apenas o cheiro deles, apenas alguns bagulhos que foram esquecidos na rápida mudança que fizeram. Aquele dia foi tão corrido que tudo o que me lembro foi eu me sentando na calçada, abraçando minhas pernas e chorando até meus olhos secarem por si só. A vizinhança e amigos de meus pais foram quem se desesperaram por mim, até a polícia foi chamada, mas nada os trouxe de volta.

Com dez anos morei na casa de uma família de jovens que não tinham filhos, o governo vivia me enviando para lares diferentes e depois de um ou dois anos eu ia embora. Nessa época eu me sentia um pouco melhor, era uma cidade diferente, pessoas diferentes, ninguém sabia a minha história e os jovens pais eram carinhosos e acolhedores. Me sentia bem até receber a notícia da morte de meus pais. Morreram juntos em um acidente de carro. Depois de três dias trancada parti para morar sozinha na minha cidade natal. A vizinha que tínhamos na antiga casa, Naomi-san, foi quem me recebeu e conseguiu fazer a prefeitura me dar de volta a casa. Ela conseguiu para mim doações e até hoje não deixa de me visitar ou de me fazer companhia.

Por fim, o ensino médio foi a dose final de inferno na minha vida. E tenho mais um ano de escola pela frente, então vou levando do jeito que dá porque Naomi-san me obriga a estudar. Certamente, se não fosse por ela, eu seria semianalfabeta e provavelmente já teria morrido desidratada ou sem comida.

* * *

Quando o sinal bateu fui a primeira a sair da sala de aula, apressei meus passos em direção ao portão para finalmente voltar para casa. Meus passos continuavam acelerados até eu virar a primeira esquina e tropeçar em um garoto alto que fedia a cigarro. Seu cabelo era desgrenhado e atrás dele havia mais dois rapazes, ambos de braços cruzados. Eu ia me virar para seguir meu caminho, mas fui impedida pela mão áspera do garoto. Percebi então que estava praticamente morta. Os garotos estavam com os uniformes da minha escola e o loiro em que esbarrei estava com uma garrafa de cerveja na outra mão.

- Acho que você nos deve algumas coisinhas, Kaori-chan. – ele falou meu nome quase cuspindo.

- Fomos tão bons em esperar todo esse tempo por você. – disse o mais baixo dos três, se aproximando mais de mim.

- Mas não podíamos nos esquecer de algo tão grande. Kaori-chan, você pensou que se livraria dessa? Escolhemos um dia para nos vingar e aqui estamos nós. – o loiro abriu um sorriso no canto da boca e apertou mais os dedos no meu braço.

Me lembrei então do dia em que ouvi a frase “você vai me pagar”. Muitos já me disseram isso, então não temi, ele era só mais um rebelde da escola. Quando o ignorei no primeiro ano e o xinguei de um nome feio, não imaginei que ele fosse levar o sério essa vingança. E aqui estou eu pronta para a morte.

Eles me empurraram contra a parede e eu gritei por socorro. Me arrependi no mesmo segundo. O loiro quebrou a garrafa de cerveja no meu ombro e estapeou minha face com força, me xingando e puxando meu cabelo. Os outros dois se aproximaram para me socarem na barriga e chutarem minhas pernas. Desfaleci nos primeiros segundos e não vi mais nada, quando acordei, já anoitecendo, estava jogada perto do lixo em um beco sujo e escuro. Meu corpo estava quase dormente de tanta dor e eu mal podia me mover, minha visão estava embaçada, a boca com gosto de sangue e fel, cacos de vidro grudados na carne do meu ombro e meu uniforme todo molhado de cerveja. Não tinha forças para chorar, então me arrastei para casa.


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Notas finais do capítulo

Se você chegou até aqui, por favor, dê um review! >< É rapidinho, só para eu saber se alguém está lendo, isso me motiva também :3 Aliás, quem tiver fics e quiserem me mandar os links (pode ser por mensagem) eu aceito e lerei com prazer ^_^ Domo arigatou!
Nee nee até o próximo~ ^_^



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