Kiss, Lição de Coragem e Persistência escrita por Moonlighted B


Capítulo 1
Capítulo 1




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Este texto é dedicado à Néllida,

minha mana bro,

que pela primeira vez viciou em uma banda junto comigo.

A Paul Stanley, Peter Criss, Ace Frehley e Gene Simmons,

por serem quem são.

“Puta merda, cara, pare com isso!” - gritou um zangado Peter para Ace, que continuou a mirar bolinhas de papel perto do colega de banda, sem se abalar.

Era noite de show, o camarim estava parcialmente iluminado, e naquela noite apenas Peter e Ace o ocupavam, Paul e Gene estavam no camarim vizinho.

Ace arriscou um olhar para o Catman, que sentado em uma confortável poltrona - luxo que há uns anos atrás não seria possível - tentava cobrir os olhos e os ouvidos com as mãos, resmungado coisas incompreensíveis.

Spaceman girou o braço e mirou na cabeça do baterista. Apertou os olhos e com um rápido movimento dos dedos a bolinha atingiu o meio da testa de Peter. Ele levantou possesso.

“Merda, Ace, vá se ferrar!”

Ace começou a rir. Ele se levantou para encarar Peter melhor.

“Pet, você está muito arisco hoje...”

“Va à merda. Tô tentando relaxar e você fica atirando bolinha pra todos os lados feito uma criança! Saco!’’   

“O malvado do Gene esqueceu de trocar a areia do gatinho, foi?” - provocou Ace, fazendo uma voz afetada. Ele estava de braços cruzados e um ar de riso.

Rápido como um raio, Peter encurtou a distância entre eles e agarrou Ace pelo pescoço e o empurrou contra a parede. Estava com os dentes trincados e uma expressão furiosa, os olhos pareciam faiscar. O Spaceman só encarava o colega com sua expressão de sempre: chapado.

“Vá. Se. Danar.” - o baterista disse tudo bem devagar, e pelo tom de voz o guitarrista percebeu que Peter estava mesmo bem furioso. Com ele. O aperto no pescoço não chegava a machucar, mas estava firme. Firme e perigoso.

“Peter, eu...” - mas Ace não terminou a frase, a porta do camarim foi aberta e a figura de Gene apareceu. O baixista olhou os dois um tanto curioso.

“Ahn, detesto interromper a ceninha, mas é melhor você se ligarem, já está quase tudo pronto.”

“Ok, Gene, deixa eu só terminar de matar o Ace” - avisou Peter sem desgrudar os olhos do Spaceman, e soltando a mão do pescoço dele.

Gene deu uma risadinha.

“Certo, mas não fiquem se pegando aí por muito tempo, você podem se animar demais e perder a ho...”

Ele parou a frase na metade e se escondeu atrás da porta, bem a tempo de evitar um objeto-voador-não-identificado arremessado por Ace.

“Ok, Ok, estou indo.”

A porta estava quase batendo quando a cabeleira de Gene voltou.

“Sério, vão meditar ou sei lá o que, mas não subam no palco parecendo que vão se matar.” - disse num tom mais sério. Sempre preocupado com a banda. Esse era o Gene.

E saiu. Peter e Ace ficaram em silêncio se encarando.

“Idiota” - Peter deu as costas ao colega e voltou a sentar na poltrona, massageando as têmporas.

Spaceman ficou uns segundos olhando o colega.

“Foi mal, Pet, estava só brincando. Relaxa.”

“É o que estou tentando fazer!” - retrucou o baterista com a voz alterada. Estava perdendo a paciência com Ace e sua cabeça latejava.

Peter recostou-se na poltrona e começou a massagear a lateral da cabeça. Uns minutos depois sentiu um alívio. Abriu os olhos. Ace estava parado do mesmo jeito em que estava quando Peter se sentou. O Homem-Gato percebeu que estava sendo observado. Ace era estranho.

“Que foi?” - perguntou Peter levantando para pegar a garrafa d’água na mesa a sua frente.

“Você ainda está chateado comigo?”

Peter deu um gole na água fresca e olhou-o. Teve vontade de rir. O jeito com que Ace falara parecia uma criança. Uma criança com maquiagem e roupas espaciais.

“Estou.”

“Aw.” Ace piscou e abaixou a cabeça.

Peter deu mais um gole, dessa vez mais longo, e esvaziou a garrafa.

Quando se virou na direção de Ace para jogar a garrafa em cima da mesa, notou pela visão periférica que Ace tinha dado um passo em sua direção. Por precaução, pensando que ele poderia aprontar alguma, recuou.

Mas Ace apenas se aproximou e o abraçou. Peter não pareceu ter entendido bem o ocorrido e um tanto confuso com o gesto, abraçou Ace de volta, que falou:

“Desculpa, cara, não queria deixar você piradão, ainda mais antes de um show. Foi mal, OK?

“K-Kay.”

Ace o soltou e sorriu.

“Amigos?” - ele estendeu a mão.

“Amigos” - Peter apertou a mão de Ace e foi sua vez de puxá-lo num abraço. Brigas iam e vinham, mas sempre se entendiam.

“Anda, vamos ver o que Paulie e Geney estão aprontando.” - convidou o baterista com um sorriso travesso no rosto. Ace o imitou.

Ele apanhou sua guitarra e seguiu Peter, que já tinha as baquetas em mãos.

O camarim dos outros dois estava no outro lado do corredor. Ace e Peter notaram que porta estava entreaberta. Algumas sombras se projetavam no halo de luz que saía dela. Os dois se aproximaram.

“AI!” - eles pararam ao ouvir o grito e trocaram olhares indagadores. - “Vai devagar, Gene!”

“Devagar? O show vai começar daqui a pouco!” - a voz de Gene saía impaciente.

“Então pare com isso e vamos logo. Ai!”

“É? E como você vai pular pelo palco com isso dentro de você? É grande, confie em mim.”

Epa. Ace olhou Peter com uma sobrancelha erguida.

“Eles estão...?”

“Nem quero saber!“ - o Catman parecia horrorizado.

“O que vamos fazer?” - tornou a perguntar Ace.

Mas o guitarrista ficou sem resposta. Outro grito de Paul os fez voltarem a atenção à porta. Eles ainda permaneciam a uns passos dela.

“Meus Deus, Gene, você tinha que tirar tão rápido? Merda! Agora vai ficar sangrando!”

“Ia ficar assim do mesmo jeito, eu falei que era grande. E você se mexe demais.”

Houve um pequeno silêncio. Ace e Peter só trocavam olhares confusos e espantados.

“Putz, é mesmo, é bem grande. Não sei como não senti muita dor com isso me perfurando...”

Paul parou de falar e olhou para a porta, que fora aberta com violência. Gene e Paul viram Ace e Peter parados lá com expressões bem estranhas.

“Que aconteceu?” - perguntou Gene.  

“Vocês estão com uma cara...” - ajuntou Paul. “Que houve?”

A verdade era que Ace e Peter esperavam ver algo no mínimo estranho, mas não foi bem assim. Viram Paul sentado em uma poltrona com o pé direito descalço e Gene do lado dele, com algo manchando sua mão. Parecia ser sangue.

“Quer dizer que...” - começou Ace.

“Não estavam... Ah, esquece.” - Peter parou ao ver as caras dos colegas.

“Peter, você está bem? Ace, que aconteceu?” - era Gene.

“Er... nada, esqueçam. Nós só... nós só pensamos ter ouvido coisas” - disse Peter, pasmado.

“É, é, coisas.” - completou Ace debilmente.

Gene e Paul trocaram risinhos.

“Mas é claro que ouviram, Paul estava com um arame enfiado no dedão, e berrando feito uma cabrita parindo enquanto eu tentava tirar.” - Gene disse isso num ar de mais puro tédio, como se fosse uma dona perdendo a novela das seis.

Ace e Peter se olharam e caíram na risada, depois de perceberem a idéia maluca que tinha passado por suas cabeças.

“Não acredito!” - exclamou Ace, soltando sua risada única. 

“E eu pensando besteira!” - riu Peter.

Paul se levantou e ficou num ângulo estranho, pois o pé esquerdo estava num salto de quinze centímetros.

“Pensaram o quê? Que eu estava sendo torturado?”

Gene levantou para lavar a mão.

“Esses dois são loucos.”

“Olha,” - começou Peter - “ torturado não era bem a palavra certa, mas pelos seus gritos e umas coisas que nós ouvimos...”

Gene se virou para eles com uma sobrancelha erguida.

“Ah, não vão me dizer que...”

Os quatro se olharam por uns segundos até que Ace soltou sua risada estridente.

“Cara, eu nem queria imaginar a cena!”

Peter acompanhou o amigo com uma risada tímida.

Paul fez uma careta.

“Gene não faz o meu tipo.”

“Nem você o meu!”

Mais risadas.

“Seus completos idiotas!” - exclamou Gene. “E não pensem que vou esquecer de ter visto vocês lá no camarim!”

Ambos baterista e guitarrista evitaram se olhar.

“Gene” - começou Peter num tom baixo - “Vamos todos esquecer, ok?”

Ace percebeu que a última frase era direcionada especialmente a ele.

“Ihhhh... acho melhor nem perguntar o que foi.” - Paul estava enrolando o dedo em uma gaze para calçar novamente a bota.

“Faz muito bem.” - disse Peter um tanto ríspido.

Um silêncio incômodo pairou entre o quarteto. Para alívio de Peter, apareceram para avisar que a cortina já seria abaixada. Ainda em silêncio, Paul pegou sua guitarra e Gene, o baixo. Estavam prontos.

Lá fora, a multidão estava em expectativa. Dali a alguns instantes estariam berrando junto com Gene em Rock ‘n’ roll all nite e com Paul em Love Gun. Ansiavam para ver a guitarra de Ace soltando fumaça, Gene voando pelo palco e cuspindo fogo, Paul pulando pelo palco e arrasando corações, encantando todos que sabiam apreciar seu sex-appeal.

A banda caminhava calada pelos pequenos e estreitos corredores, algo raro de acontecer, visto que Gene e os outros hora ou outra implicavam com Paul, chamando o Starchild de He/She, ou trocando cutucões entre si.

Eles se posicionaram para subir no palco e, juntos, respiraram fundo.

Em momentos como aquele, a magia inexplicável acontecia. Eles esqueciam qualquer briguinha, mal-entendido, fosse o que fosse. Ali, com as maquiagens e as roupas, prontos para o “Rock’n’roll all nite”, eles lembravam.

Lembravam dos primeiros passos dados naquela grande jornada.  Dos momentos, meses depois de formarem o quarteto, da diversão nos ensaios. A sintonia era perfeita. Era uma melodia tão perfeita e surreal que deslumbrava e inebriava quem estivesse ao redor. Era uma energia sem limites.

O mestre de cerimônias tomou seu lugar.

You wanted the Best?

Gene, Paul, Ace e Peter. A força de vontade deles superava qualquer coisa. E era por isso que, mesmo com quase nada em comum, os quatro sabiam exatamente o que queriam. Eles tinham um sonho. Eles acreditaram em si mesmos.

E ali estava ele, a alguns passos de distância, bem em cima do palco.

You got the Best!

As areias do tempo não parariam de correr. Passar-se-iam dez, vinte, trinta, cinqüenta anos, e mesmo depois de suas mortes o nome KISS seria lembrado. Passado de pai pra filho, como a mais preciosa herança. Desde aqueles que acompanharam os quatro na década de setenta até as futuras gerações, todos se lembrariam deles, de suas roupas, suas maquiagens, suas músicas, suas histórias. Sua perseverança.

The hottest band in the world!

A formação original teve os seus dias de glória. Os que nasceram sem conhecê-la ouviram as histórias. Os que ainda não vieram ao mundo irão sabê-la também. Porque Paul Stanley, Gene Simmons, Ace Frehley e Peter Criss foram, são, e sempre serão uma lenda. A maior de todas.

                                                KISS!!!!!!!!!!!!!                      

A cortina tinha caído. O show começou.


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Notas finais do capítulo

REVIEWS, PLS

PS: Essa fic foi escrita quando eu ainda gostava de Peter Criss, hoje eu sei que ele é um FDP que só soube encher o saco de Paul e Gene no fim de seus dias no KISS. Posso até estar exagerando um pouco, e foi mal aí se alguém gosta dele. Enfim, o cara teve lá sua participação na criação da lenda, vamos dar um desconto. :)



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