Em meio as sombras da noite escrita por Robert Hunter


Capítulo 2
O espelho do corvo




Este capítulo também está disponível no +Fiction: plusfiction.com/book/443108/chapter/2

17 de agosto de 2007

Os ponteiros que marcavam as horas no relógio ou até a fina garoa que caía do lado de fora da janela parecia ser mais atrativo que a aula de biologia. Rebecca perdia o foco com os mais simples detalhes do ambiente, mas não conseguia adentrar no mundo teórico das células.

O sinal tocou e todos se levantaram, menos a garota que preferia ficar dentro da sala de aula desenhando o que lhe vinha na cabeça. Desde a noite em que fugirá da casa em chamas, sua mãe ficava lhe alertando em como devia tomar cuidado com as pessoas. Rebecca sabia de seus poderes e do que eles podiam causar se não fossem controlados, mas esse não era o problema que a perturbava. Desde que voltara a cidade de Fozlan, seus pesadelos com sombras haviam recomeçado.

A garota agora estava completamente sozinha na sala, todos já haviam saído. Seu caderno de desenho com esboços de rostos e figuras que nem mesmo Rebecca conseguia descrever, era o seu melhor amigo nesse momento.

O silêncio da sala foi quebrado quando uma de suas colegas de sala entrou gritando pela porta.

– Rebecca! Venha comigo! Você precisa ver isso! – Dava para ver em sua voz que havia corrido.

As duas garotas se deslocaram entre os corredores do colégio. Rebecca sendo puxada pelo braço já estava com medo. As outas garotas a olhavam assustadas.

Quando chegou a porta do banheiro a garota a puxou para dentro no lugar sem nenhuma cerimônia. A expressão de desespero no rosto da colega de sala passou automaticamente para o de Rebecca.

No largo espelho do banheiro, fios de sangue escoriam das letras que formavam a frase: Os fantasmas de seu passado estão de volta - Rebecca.

O susto foi tanto que por alguns segundos nenhuma das garotas piscaram.

– Por que você fez isso? – Disse a colega para Rebecca.

– Que? Não, não fui eu. – O som das palavras saíram tão abafados que a garota pensou se alguém teria escutado.

– Mas está assinado com o seu nome. – Sim, a colega de sala havia escutado.

Outras garotas entraram no banheiro e ficaram paradas no vão da porta. Seus olhares se dirigiam do espelho para Rebecca.

O sinal bateu avisando para os alunos a hora de voltar para sala de aula, mas Rebecca percorreu o caminha da saída passando pelos outros estudantes que com certeza já sabiam do ocorrido. Antes que pudesse escapar dos olhares e atingir a fina garoa, Esteban parou em sua frente.

– Espere! – disse segurando Rebecca pelos ombros – Se você sair vai se encrencar. O melhor a fazer é contar a direção essa brincadeira que fizeram com você e...

– Não! – Disse interrompendo Esteban – Eu preciso ir.

– Então eu vou com... – Antes que ele pudesse terminar de dizer que iria com ela, a garota já tinha ido.

Rebecca correu e só parou na praça do quarteirão de baixo da escola, onde encostou-se à base de uma estátua de bronze do antigo prefeito da cidade. Os fantasmas de seu passado estão de volta. O que aquilo queria dizer? O homem que matara seu pai estava de volta?

Já no seu quarto, sentada próxima a sua estante de livros comprados em sebos. Rebecca encostou sua cabeça na parede e dormiu.

O vento frio atingia as gotas de suor ocasionado arrepios por todo o corpo de Rebecca. Na sua frente uma estrada apontava para escuridão, mas ao se virar viu que outras se abriam da onde estava. A garota se sentiu presa na encruzilhada cujo os lados davam todos para um nada sombrio.

As estrelas brilhavam sombriamente no céu. Um corvo pairou diante dela e ficou a encarando. No mesmo instante ela se lembrou do poema do corvo de Edgar Allan Poe, onde o animal de agouro esperava pela morte do eu-lírico, mas esse veio em direção a ela e começou a bater com o seu bico no rosto da garota. Fios de sangue como os do espelho da escola desciam pelo seu rosto.

Quando o corvo foi embora Rebecca se levantou com as mãos cheias de sangue, que junto com a dor dos cortes de seu rosto, a fazia sentir a pessoa mais incapacitada do mundo. Um espelho do tamanho da garota, com molduras que lembravam a realeza, surgiu diante dela. Quando percebeu seu reflexo viu que seus olhos haviam sumidos e no lugar buracos negros espiravam sangue.

O desespero tomou conta da garota que não fazia a menor ideia de como conseguia enxergar sem os olhos, até que um símbolo de sangue apareceu no espelho.

Rebecca acordou ofegante com sua mãe do lado.

– O que aconteceu minha filha? – Perguntou a mãe assustada.

A garota não conseguiu responder e percebeu que seu caderno de desenho estava aberto ao seu lado com o símbolo que havia sonhado.

– Eu sonhei com esse desenho e...

A mãe nem esperou a filha terminar e arrancou o caderno de suas mãos.

– Seu pai já havia me contado sobre esse símbolo.

– E o que ele significa? – Perguntou Rebecca ainda ofegando e a mãe respondeu:

– É a marca da perseguição.


Não quer ver anúncios?

Com uma contribuição de R$29,90 você deixa de ver anúncios no Nyah e em seu sucessor, o +Fiction, durante 1 ano!

Seu apoio é fundamental. Torne-se um herói!