Estou dentro do banheiro feminino na área dos treinamentos, dentro de dois dias estarei na Arena, não consigo pensar em outra coisa a não ser isso. Todas as estratégias para matar usando facas ou combate corporal caso necessário ficam rodando na minha cabela como um filme.

Eu e Cato, o garoto do meu distrito, formamos uma aliança com os dois tributos do 1, o garoto é bom com a lança e se chama Marvel e a garota é, como dizer gentilmente, o que tem de peito falta em cérebro. Não que eu não considere a hipótese de ser uma estrategia, seria bastante esperta se for mas não me parece o caso, ela é apenas burra e esse tipo de pessoa tem o dom de me irritar com suas perguntas idiotas, o Cato vai ter que lidar com ela pois eu não consigo, não sem mata-la pelo menos.

Por falar nela, que não me deixou em paz um instante desde que formamos a aliança, vem entrando no banheiro logo atrás de mim com seu rebolado exagerado e cabelo extremamente loiro.

- Clove o que você achou do garoto do 12? - ela me pergunta com sua voz irritante.

- Pequeno mas forte, não acho que nos atacaria porém é melhor ficarmos de olho nele - respondo a pergunta mais importante que ela me fez durante a manhã inteira.

- Não estou falando disso, eu perguntei se você acha ele bonito? - ela me responde como se fosse óbvio. Não consigo evitar revirar meus olhos, estou prestes a ser atirada em uma arena onde terei de sobreviver entre 23 jovens tentando se matar e ainda tenho que aturar isso.

- Sei lá - respondo apenas dando de ombros.

- Vocês combinam sabe, os dois são pequenos e fofos - ela diz a depois aperta levemente a minha bochecha. Sinto meus pulmões se encherem com todo o ar que fui obrigada a puxar para dentro de mim, eu não vou conseguir esperar até os jogos para mata-la, ela apenas fez as três coisas que eu mais detesto: me chamou de pequena, de fofa (ok, essa é nova) e apertou a minha bochecha. Qual seria a punição por matar um tributo antes de estar na Arena?

- Não acho - disse encerrando qualquer questão sobre isso e saindo do banheiro em direção ao refeitório.

Agora estamos eu, Cato, Marvel e Glimmer sentados na mesa mais ao fundo do refeitório. Glimmer continua a falar coisas sem nexo e a minha vontade de matar ela apenas cresce, Cato presta atenção em sua comida e vez ou outra dá uma olhada para ver se algum dos outros tributos está nos encarando e Marvel apenas olha para um ponto fixo qualquer.

- Então Clove pensou no que conversamos? - me perguntou Glimmer com sua extremamente irritante voz. Quando eu conversei com essa louca? me perguntei internamente mas apenas disse:

- Claro - minha voz estava fechada e sem nenhuma nota de entusiasmo, eu esperava que isso fechasse a questão seja ela qual for.

- E então, você realmente está apaixonada não é? - ela me perguntou como se fosse minha melhor amiga desde que nasci e de repente todos na mesa estavam concentrados na conversa.

- Tenho certeza que não - falei tentando manter meu tom neutro

- Eu sei quão estranho isso é, ter de ser sorteada e sair de seu distrito para encontrar alguém que combine perfeitamente com você, acredite somos iguais sei o que você está passando - ela continuou a dizer e olhou de modo significativo para Cato que parecia estar se controlando para não explodir em gargalhadas e Marvel está com um meio sorriso bastante irritante no rosto, detesto quando riem de mim.

- Mas então Glimmer por quem a Clove está apaixonada? - perguntou Cato dando um enorme sorriso no final de sua ridícula pergunta.

- Ora pelo garoto do 12 é claro, eles combinam tanto. Os dois tem alturas ideais um para o outro sem dizer que enquanto ele parece um ursinho fofo a Clove tem toda essa personalidade de não-me-toque-ou-quebrarei-seu-pescoço, eles são tão perfeito um para o outro - ela diz sonhadoramente e histericamente, como se estivesse arquitetando trezentas maneiras de me casar com o garoto. O sorriso de Marvel cresceu mais e subitamente o de Cato diminuiu, ele é totalmente bipolar.

- Nem sei por onde começar mas eu não gosto daquele garoto por que ele tem cara de idiota, provavelmente morrerá no banho de sangue, depois se eu fosse gostar de alguém seria uma pessoa um pouco mais... mortífera digamos e por último nós não somos parecidas - encerrei o meu discurso e dessa vez espero que essa perua loira entenda por que se ela falar mais uma vez em mim e no 12 na mesma frase que não tenha haver com morte, irei arrancar os olhos dela e a farei engoli-los.

- Eu sei que é difícil de aceitar o amor mas você verá que assim que fizer isso seu mundo ficará todo rosa, assim como o meu - ela diz parecendo ofendida e saí rebolando em direção ao elevador, Marvel a segue.

- Prefiro o meu mundo vermelho - sussurro para mim mesma e me viro para falar com Cato - Vamos voltar para o apartamento?

- Sim - ele diz e vamos em direção ao elevador que já havia partido com a perua loira e Marvel.

- Então o que achou dos outros tributos? - pergunto á Cato

- É melhor tomarmos cuidado com o do 11 mas fora ele ninguém me parece ameaçador, talvez o seu ursinho fofo tente se aliar a nós, isso está fora de cogitação, só para constar - ele diz, parece estar me zoando mas ao mesmo tempo está sério, será que todos se uniram para bugar meu cérebro e me matarem enquanto eu durmo?

- Eu nunca faria aliança com ele - digo, por que parece que ele quer que eu me desculpe por algo?

- Ótimo, porque se você fizesse isso teríamos que desfazer nossa aliança - ele diz ainda sério.

- Por que todo mundo aqui tem problemas mentais, acho que seja-lá-oque-for que a Glimmer tem está te afetando Cato, tome cuidado - eu digo finalmente descontando o meu descontentamento em alguém.

- Talvez você desperte isso nas pessoas com a sua postura de não-me-toque-ou-quebrarei-seu-pescoço, Clove - Ele está brigando comigo? Alguém por favor me explique o que está acontecendo aqui, por que eu não entendi nada.

O elevador finalmente chegou e quando nos dois estávamos a ponto de entrar, o garoto do 12 desce todo sorridente, ele lança alguns sorrisos na minha direção o que só me dá vontade de querer voltar para casa e chorar. Cato entra no elevador esbarrando no ombro dele e eu também passo por ele mas sem toca-lo. Quando a porta se fecha sinto o ódio fluindo de Cato como idiotices fluem de Glimmer.

Não posso esquecer de transformar a perua loira em uma avox assim que eu ver ela novamente.