“Verde. Tudo em que eu consigo pensar é em verde. Não qualquer verde, verde-água… a cor dos olhos dela”

A primeira vez que eu os encarei fiquei perdido, parecia que todo aquele verde tinha roubado uma parte minha. Uma parte que eu não sabia existir, mas que era totalmente importante uma vez que tomei consciência de te-la.

Quando me voluntariei senti tudo que eu era capaz, senti tamanho poder que soube naquele momento: nada mais importava além de mim mesmo.

Caminhei seguro até o palco e me aproximei da mulher da Capital que usava roupas tão coloridas que doía aos olhos, me distrai olhando rostos perdidos das crianças do meu distrito. Não tinha percebido que o sorteio feminino já havia sido feito até estar olhando dentro daqueles olhos profundamente verdes.

A garota que havia sido sorteada era pequena, quase metade do meu tamanho, e seu vestido florido a deixava com um ar de inocente, uma olhada rápida e pode acabar cometendo o erro de acha-la fofa, mas seus olhos entregavam o jogo. Ela com certeza é muito mais letal do que aparenta e seus olhos mostravam uma violência, uma sede por sangue, que ao mesmo tempo me intimidou e me deixou fascinado.

Seus cabelos escuros descem por suas costas como ondas no mar: você nunca sabe se estão calmas ou furiosas. Possuía um pequeno nariz coberto por uma quantidade razoável de sardas, o que ajudava em sua aparência infantil e delicada.

Nós provavelmente treinamos no mesmo centro de treinamento.Como eu nunca reparei nela antes?

As águas verdes presas dentro dos olhos da garota mostravam´se inquietos e impacientes quando notei a pequena mão estendida em minha direção. A segurei rapidamente e no pouco tempo em que nossas peles estiveram em contato pude perceber alguns calos, provavelmente pelo duro treinamento.

– Clove - disse ela com a voz mais forte e segura do que pode supor que estaria.

– Cato - eu respondi. Depois do tradicional aperto de mão dos tributos fomos ovacionados pelo povo do distrito 2 e guiados em direção ao edifício de justiça.

Após a despedida onde meu pai me disse para ganhar os jogos e minha mãe dizer que quando eu voltasse estaria me esperando com uma torta de morango, minha preferida, fomos levados aos trens da Capital.

Eu finalmente estava indo para os jogos, indo fazer o que fui treinado a minha vida toda para, infelizmente não estava indo sozinho. A garota dos brilhantes olhos verdes estava indo junto. Tristemente em pouco tempo aquele brilho verde-água se extinguiria e não há nada que se possa fazer a respeito. Ou há?