Jogos Vorazes - Instinto de Guerra escrita por Joanne Kathleen Rowling
Muitas pessoas me vêem como a "garota em chamas", outras me deixam com a impressão de ser "a garota que provocou tudo isso", mas existe aquelas pessoas que me notam como "a garota que fez de tudo para nos salvar". Desde que toda a rebelião aquietou em seu distrito de forma ligeira e tênue, eu tenho conseguido viver normalmente com Peeta. É claro que o choque de ter perdido a pessoa pelo qual era minha razão de viver me deixou abalada e depressiva por longos meses, chegando a ser insuportável. Minha mãe morava conosco, e Gale morava com sua família na casa ao lado. Haymitch residia ao outro lado da minha casa, e conseguíamos nos dar muito bem desde então.
Obviamente, tudo deixou de ser como antes, afinal, não haveria mais jogos vorazes, logo, não haveria mais aquelas pessoas doidas - mas, que eu amo com todas as minhas forças - vindo me visitar para me arrumar, para ter uns acessos de loucura de vez em quando. Demorei muito tempo para engolir a realidade, para engolir o fato de que eu havia perdido para sempre algumas pessoas, e me culpei muito por isso. O fato é que até os dias de hoje eu ainda choro num canto isolado do mundo lá fora, sem que Peeta veja, sem que ninguém veja. Talvez esse seja o meu momento.
Eu estava deitada, Peeta dormindo ao meu lado, e eu de olhos abertos pensando, mais uma vez, na vida que eu tinha e na vida que eu tenho. Peeta conseguia árduamente se mexer pouco na cama durante a noite, completamente diferente de mim. Por isso, quando eu meditava durante a noite, fazia isso especialmente por ele, para que ele pudesse dormir pelo menos algumas horas sem ser interrompido.
Tirei suavemente o cobertor de meu corpo quente e levantei calmamente e sem fazer sequer um barulho. Não sei como Peeta não acordou com a claridade que vinha lá de fora. A janela de vidro estava fechada, a cortina também, porém a luminosidade ainda assim conseguia penetrar nosso quarto. Fui serenamente até a janela para fechá-la, e tomando todo o cuidado possível para não acordar meu marido, e tive uma surpresa agradável. O inverno tinha chegado, e junto com ele, vieram os gritos e risos dos moradores do Distrito 12. Tudo por que a neve já cobria o chão das ruas como num manto macio e confortável.
Fui até a escadaria e desci degrau por degrau sem pestanejar. Eu estava com uma preguiça maior do que tudo, e jamais pensaria em fazer o café da manhã num dia como esses. Quando entrei na cozinha tive a segunda surpresa do meu dia: Haymitch, Gale e minha mãe estavam murmurando algo. Sim, murmurando, pois quando me viram mudaram subitamente de assunto. Eu podia ver claramente o rosto pálido de Gale, a face abalada de Haymitch e o desespero de minha mãe. Eles estavam convictos de que eu não tinha ouvido nada que eles pudessem estar falando, mas entendi de que se tratava de algo péssimo.
- Katniss, minha filha, eu preparei o café da manhã hoje! - Bradou minha mãe, abalada desde a morte de Prim, porém recuperada da profunda depressão que sofrera. Fiquei tão pasma com a situação em que me encontrei que não tinha nem reparado que o café da manhã já estava na mesa. De qualquer maneira, não saí do lugar, isto por que meus olhos estudavam rigidamente os olhos apurados de Gale.
- Bom dia pra você também, Catnip! - Disse ele, tentando disfarçar a voz rouca. Haymitch jogou uma garrafa de uísque contra a boca e começou a beber fartamente.
- Bom dia nada, Gale, eu não sou tão idiota assim. - Esbravejei.
- O dia mal começou, Katniss. Senta e toma seu café. - Falou Haymitch finalmente, porém seu tom me parecia desgostoso.
- Sobre o que vocês estavam segredando, posso saber? Afinal, eu mal entrei na cozinha e já mudaram de assunto, não é? O que está acontecendo? - Perguntei rapidamente, e me mantive imóvel.
- Não está acontecendo nada, Katniss... - Engodou Gale, mas fui capaz de interrompê-lo antes de deixá-lo prosseguir.
- Eu ouvi vocês murmurando, eu não sou... - Eu disse, mas dessa vez fui interrompida por Haymitch, que tentava dizer em tom sereno, mas não conseguia.
- Katniss, sua mãe está inteiramente em aflição, completamente desesperada, será que você pode relevar pelo menos até a hora do almoço?!
- Como é que é? - berrei, e não tinha medo de berrar ainda mais alto. - Será que alguém pode me explicar o que está acontecendo?
- Houve uma fuga, Katniss. - disse uma quinta voz atrás de mim. Ainda pude distinguir o som de passos chegando no último degrau da escada. - Snow tinha todo seu esquema armado, tinha suas fontes, tinha poder fora dos distritos. Atacaram a capital ontem para pegarem Snow, e conseguiram. Agora só nos resta saber onde aquele inútil está.
- A última coisa que desejamos é que haja uma ascensão de poder vindo da parte do Snow! - Observou Gale, aflito.
- Não, não! - Indagou minha mãe, em tom de choque e medo. - A última coisa que desejamos é que Snow torne a te perseguir, Katniss!
Eu ainda estava parada no mesmo lugar. Como assim até minha mãe já sabia dessa tal fuga e eu ainda não? Resumindo, quando eu acho que vou ter paz até que eu possa me desligar desse mundo, descubro que estou errada e correndo um perigo. Quero dizer, não só eu corro perigo, mas minha família também, e isso pode ser só o começo. Eu estava prestes a ter um acesso de loucura descontrolado, e na realidade, a última coisa que podiam desejar seria isso.
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