Finalmente um sábado sem treinos! Que dia maravilhoso! Eu, Nagisa e Haru resolvemos aproveitar um pouco esse dia, como o trio de infância que sempre fomos. Mas claro que, com o Haru no meio, tinha que resultar em piscina... Resolvemos até chamar a Ama-sensei, mas parece que ela tinha uns assuntos pra resolver e deixou que usássemos a piscina da sua casa.

Entramos no local, bem organizado e carismático. Fomos até o jardim dos fundos e nos deparamos com uma piscina pequena, rasa e delicada, que mais parecia um ofurô enterrado, com piso de madeira em volta. Arquejamos ao ver pequenas bolhas saindo de um lado.

Hidromassagem!

Nagisa e eu cravamos o olhar em Haru, já prevendo sua reação. Seus olhos brilhavam de ansiosidade e pareciam refletir a luz do sol poente. Ele não demorou e foi logo se despindo, jogando as roupas para trás e ficando somente com a sunga típica.

– Haru-chan, não! - Gritou Nagisa.

Haru não hesitou e pulou com tudo na piscina sem sequer olhar. Tentei agarrá-lo, mas era tarde. Apenas pude segurar suas roupas que pousaram suavemente em minhas mãos. Fiquei fitando-as.

– Ai não! - Declarou Nagisa - Ele não reparou na profundidade da piscina!

– O que? - Larguei as roupas dele e olhei para a água.

Haru não estava se mexendo. Devia ter batido a cabeça no fundo ou na parede e estava expirando, pois dava para ver umas bolhas subindo, deslizando pela sua cabeça.

Rapidamente tirei o casaco e entrei na água. Peguei Haru e aninhei-o em meu colo, trazendo de volta ao piso seco, e o deitei ali. Pairei minha mão direita em seu rosto para sentir sua respiração, mas não senti nada.

– Haru, aguente! - Ajeitei-o numa posição adequada, reto, e me preparei para fazer um boca-a-boca. Apertei o nariz dele com o indicador e o polegar direitos, com a outra mão segurei seu queixo e me aproximei, quase encostando nossos lábios. Hesitei brevemente em continuar quando cogitei o que vinha a seguir. Meu desespero fora tão grande que nem reconheci a possibilidade de roçar nossos lábios.

– O que está esperando? - Irrompeu Nagisa, exasperado atrás de mim - Ele vai morrer!

Eu não tinha escolha, era inevitável. Era minha chance de finalmente beijá-lo, mas engoli meu desejo goela abaixo e retive na obrigação de salvá-lo. Enfim encostei nossos lábios e comecei a soprar. Separei-me, apoiei o ouvido em seu peito e voltei minha atenção à sua boca. Mas desta vez algo aconteceu. Pude sentir a língua de Haru se mover.

A princípio eu achei que ele estava apenas tentando dar um sinal de vida, tentando me afastar, mostrando que já podia respirar por si próprio ou algo assim, mas ela estava se movendo em direção à minha, enlaçando-me, o que me deixou atônito.

Ele está me beijando?! Mas... O quê?!

Pensamentos transviados nublaram minha mente. Um calor percorreu meu corpo, como se uma chama tivesse sido acesa dentro de mim, me motivando a prolongar o momento. Soltei os dedos do nariz dele e a mão que segurava seu queixo passou para seu pescoço. Foi um beijo terno, harmonioso e tocante. Uma lágrima de minha parte escorreu e caiu na bochecha dele, mesclando-se com a água da piscina. Separamos-nos e ficamos sem ação por parte de ambos, e ignorando Nagisa, que ainda estava de pé, ao nosso lado, totalmente perplexo com a situação.

– Anh.. Eu... vou... ali... ver se tem sorvete de morango... - Saiu rapidamente, acanhado por presenciar esse momento.

– Ha-Haru, você... eu... Por quê?

– Me desculpa, eu... fiz isso de propósito... - Virou a cabeça para o lado tentando evitar contato visual, apesar das bochechas visivelmente coradas.

– Mas por quê? – Sentei-me um pouco afastado, receoso pela resposta.

É óbvio o que eu sinto por ele, pelo menos parece. Mas será que ele pensa da mesma maneira? Ele não... Ele nunca demonstrou nenhum interesse por ninguém, e então fez isso. O que...

Minha linha de raciocínio fora interrompida pela sua resposta, que veio de súbito.

– Eu gosto de você... – Levantou-se e sentou-se de costas para mim – Eu sabia que se algo acontecesse você me ajudaria... Tentei corrigir o que quase aconteceu naquele dia na praia da ilha.

Espantado, retruquei:

– Você queria... Todo esse tempo você... E por que não me contou? Por que nunca falou nada para mim?

– Você também! Nunca falou nada, mas estava na cara. Eu... Eu apenas não tive coragem... Não sabia o que você faria depois. Eu não queria... que “certas coisas” acontecessem. Não ainda.

– Haru, - Passei para seu lado e pude olhar nos seus olhos. Sua expressão era a mais dócil já havia visto nele. Estava corado e lágrimas corriam preguiçosas pelas bochechas. Parecia um cãozinho abandonado. – eu nunca te machucaria. Se você não quer mais intimidade agora, sem problemas. Eu também não tenho interesse nisso no momento. Só quero saber uma coisa.

– O quê? – Virou o rosto para mim e eu segurei-o em minha mão direita, tocando com o polegar a sua bochecha quente.

– Se... – Dei-lhe um rápido selinho – você me ama.

Puxei-o para um abraço caloroso quando ele me respondeu:

– Eu te amo.

Dei-lhe um beijo na cabeça, aconchegada em meu peito, e terminei:

– Pois eu também te amo.