-Não se acanhe por minha culpa. – ele sorria exibindo a dentição perfeita. - Foi magnífico. Com certeza foi.

Quando eu voltei meu rosto para o palco, as figuras encapuzadas haviam desaparecido. E junto com elas todo o resto, inclusive as manchas de tinta laranja que estavam por toda a parte.

As luzes se acenderam por completo me deixando ver claramente Baltazar que agora estava a alguns passos a minha frente no chão.

- E então minha querida o que achou? – ele perguntou enquanto vinha se aproximando lentamente até mim.

-Foi magnífico Baltazar. – eu me sentia pouco confortável perto dele. – Foi realmente incrível, eu nem acreditaria se eu não tivesse vindo e visto com meus próprios olhos.

Eu sorri.

 O tipo de sorriso que você solta quando alguém fala algo e você não entende.

-Maravilha, agora que você sabe do que somos capazes deve estar certa de que deseja fazer parte disso tudo.

Fazer parte disso tudo.

Eu aquiesci.

De repenteTom e Kathe cruzaram as cortinas e vieram caminhando até nós.

Kathe veio se aproximando e de repente me abraçou.

- Audrey, e aí? O que você achou? – ela podia ser efusiva demais, mas era sincera, era natural dela. E eu gostava disso.

 - Foi incrível, você estava incrível, realmente linda.

Ela novamente me abraçou.

-Que bom que você gostou, e eu também adorei a sua participação especial.

Eu sorri.

-Onde estão os demaisTom? –Baltazar perguntou a ele. - Preciso de todos aqui imediatamente.

Baltazar agora falava num tom sério, quase hostil. O sorriso sarcástico havia sumido de seu rosto que agora sustentava uma carranca séria.

- Já devem estar vindo. –Tom respondeu. – Mas o que houve? O que há pra nos contar?

-Quando todos estiverem presentes eu me pronunciarei. –Ele respondeu por fim.

Logo em seguida Dama apareceu por detrás das cortinas sendo seguida por Kiro.

-Olá Audrey! Como está?  - Georg  cumprimentou quando se aproximou do grupo.

-Bem Georg, e você?

Ele estava absolutamente impecável como a irmã. Trajava uma camisa de mangas branca, e uma calça preta que se ajustavam perfeitamente ao corpo.

Olhei para Dama, e essa me fez um aceno com a cabeça.

-Agora que vocês já estão todos reunidos precisamos ter uma conversa urgente.

Todos permanecerem em absoluto silêncio enquanto ele se pronunciava.

-Creio que haverá uma pequena mudança de planos. – Ele continuou.

-Baltaz...- Kathe tentou falar, mas foi interrompida.

-Peço a vocês dois que fiquem bem longe da minha mente nesse momento! – ele subiu o tom de voz falando de forma enfurecida.

Kathe e Georg  enrijeceram o corpo.

- Eu havia lhe dito que esperaríamos umas duas ou três semanas até que você melhor se organizasse até partimos- ele falou olhando diretamente para mim. – Sinto lhe informar que isso não será mais possível. Teremos que antecipar nossa ida.

-Como assim Baltazar – Tom perguntou. – Então quando iremos?

-Amanhã mesmo filho, ou no mais tardar em 48 horas.

Tomamos um susto em conjunto.

Parecia que havia caído uma pedra sobre meus ombros

-Por quê? Porque isso agora? –Tom  parecia o mais assustado com o fato. – Mal chegamos o que está acontecendo que você não está querendo contar Baltazar?

Tom se posicionou de forma autoritária. Ele ainda conseguia ser mais bonito assim;

- Não há tempo para explicações, mobilize os empregados, e desmontem tudo o mais rápido possível. Estamos de partida. – ele novamente moveu os olhos em minha direção. – Audrey agilize sua mudança, não tolerarei atrasos.

-Como assim? – eu falei ainda embasbacada. – Mas..está muito em cima, não há como esticar o prazo?

-Absolutamente não Srta. Shandow.                            

Ele se dirigia a todos dessa vez.

- O Circus está partindo. Apressem-se.

-Baltazar isso não está certo, não...

-Chega Tom , o assunto está encerrado.

Com essas palavras ele saiu caminhando apressadamente para detrás da coxía.

-Já estava demorando pra ele surtar de alguma forma. – Dama falou com seu habitual desinteresse.

-Kathe, Georg...vocês viram alguma coisa?- Tom os perguntou.

-Baltazar sabe esconder muito bem seus segredos quando assim lhe deseja. – Georg respondeu.

-Mais há algo acontecendo, algo de muito estranho Tom. – finalizou Kathelin com um olhar sombrio na face.

-É melhor nos aprontarmos. – Disse Dama se retirando.

Eu estava completamente perdida. Parecia que novamente eu estava fora dos eixos.

-Você vem mesmo com a gente Audrey? – Kathelin perguntou.

Eu achava que estava decidida. Mas tudo havia tomado proporções tão urgentes.

-Eu...eu fui pega de surpresa. – respondi. – Eu achava que teria mais tempo. – olhei para Tom que me encarava de modo pensativo.

-Vamos. – ele disse a mim. – Vou lhe deixar em casa.

E assim ele passou por mim indo em direção a saída.

Despedi-me rapidamente deGeorg e Kathelin, tendo quase que correr para alcançá-lo, que a essa altura já estava quase dentro do carro.

Entrei e antes mesmo de fechar a porta ele já havia dado a partida. Fomos mais da metade do caminho em total silêncio.

-Qual é o problema agora? – eu perguntei não conseguindo me agüentar de inquietação.

Ele dirigia feito um louco.

- O que você acha? – ele falou asperamente. – Baltazar está escondendo alguma coisa de mim, e eu não gosto disso.

-Você acha que eu estou adorando a situação também? Eu terei que me desfazer de toda a minha vida em menos de dois dias.

Desfazer minha vida novamente.

-Você não entende não é mesmo?! – ele retrucou. - Ele diz que me trata como um filho, que somos muito parecidos, mas ele está sempre um paço a frente de tudo, sempre escondendo algo. Nunca consigo confiar plenamente nele.

Eu estranhei um pouco aquilo. Era como se pela primeira vez Tom estivesse realmente baixando a guarda perto de mim. Não que eu esperasse isso, afinal mal nos conhecíamos.