Imortais escrita por Guto Ramos


Capítulo 2
Capítulo 2




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O feroz animal encarava de longe a mim e ao Daniel. Eu tentava imaginar como o animal havia parado ali, já que quando eu tinha entrado no beco não havia nada ali. Olhei para o alto tentando ver algum lugar por onde o animal pudesse ter caído, mas descartei a teoria, pois não ouvi tombo algum enquanto estava de costas. Aquele momento me fez lembrar as aulas de biologia do ano passado, onde a professora mostrou alguns vídeos de ataques de animais selvagens e como reagir em caso de algum ataque. Mesmo sendo um animal incomum aqui no Brasil, o vídeo mostrava como evitar o ataque de um urso. Parei de fazer contato visual com ele, e pela primeira vez ele rugiu. Aquilo fez com que todos os pelos do meu corpo se arrepiassem. Tentei não demonstrar medo, mas sabia que meu corpo fazia o contrário. Fui me afastando para a esquerda do beco, tentando dar espaço para ele continuar seu caminho. A cada passo que eu me afastava para a parede, o urso dava um passo à frente. Quando recostei totalmente minhas costas na parede, fui olhar para Daniel, em questões de segundos ele também me olhou e logo após correu para o caminho contrário. O urso deixou de me dar atenção e foi persegui-lo. Não me arrisquei a gritar, isso poderia chamar a atenção dele. Daniel corria com passos largos por trás do campo coberto, até tropeçar em uma pequena elevação na calçada. Imaginei que ali seria seu fim. Parei de persegui-los no mesmo momento em que o urso parou em frente a Daniel, e se equilibrou sobre as duas patas traseiras. O urso se preparava para golpeá-lo, e foi o que fez. Ele levantou uma das patas, como se tivesse tentando pegar impulso, e a pressionou sobre o peito de Daniel. Ele deu um largo grito de dor e desmaiou. Fiquei extasiado, em choque, não consegui reagir, tentei não imaginar se Daniel havia morto. Voltei a mim, e corri para chamar a atenção do urso, assim teria chance de salvar a vida de Daniel despistando-o. Comecei a gritar chamando sua atenção, mas seu olhar continuava fixo sobre Daniel, que estava sendo pressionado sob a sua pata. A camisa azul que Daniel usava, já estava ensanguentada e rasgada, mas dava para perceber que seus pulmões ainda inflavam. Gritei novamente, mas o urso não me dava atenção alguma, então ele se levantou novamente sobre as patas dianteiras, pensei ter conseguido fazer com que ele me olhasse, mas ele estava se preparando para mais um ataque. Tinha que fazer algo rápido, ou resto de vida que o Daniel ainda apresentava ter iria acabar neste último ataque. Peguei uma lata de refrigerante vazia que havia no chão para arremessar nele, mas acreditei que isso não iria causar efeito algo, avistei outro objeto, uma pedra do tamanho da palma de minha mão, seria ela que eu iria arremessar. Peguei a pedra, mirei na cabeça do urso e acertei em cheio. Mas o ele não se abalou, ele virou o resto tentando me olhar, inclinou o corpo junto, e voltou a ficar em quatro patas. Consegui salvar a vida de Daniel, agora era vez de salvar a minha. Algo que estava difícil de acontecer já que o único caminho para o colégio estava bloqueado pelo urso. Desesperei-me ao perceber que ele estava me encarando com uma expressão de raiva. Ele começou a dar passos em minha direção cada vez mais largos e velozes. Naquele momento tive uma epifania, não conseguia ver mais o urso, penas um homem em uma túnica branca com largas asas, ele estava vindo em minha direção, empunhado uma longa foice em suas mãos. Era o anjo da morte. Ele veio buscar a minha alma e a de Daniel.

_Saia daqui! – gritei, e não havia mais anjo algum, nem urso. Eu estava de volta ao beco. Daniel estava no mesmo lugar onde o vira da ultima vez. Mas o urso havia desaparecido do mesmo jeito que surgiu.

_Ali, eles tão atrás na quadra coberta, no beco! – disse uma voz que vinha da porta do colégio que dava ao corredor. Também ouvi alguns murmúrios.

A senhora Paiva, diretora do colégio, estava com o zelador, ele estava com uma espingarda em punho. Atrás deles uma garota, talvez a que teria falado onde estávamos. Logo atrás dos dois, apareceram alguns outros alunos curiosos. A senhora Paiva e o zelador, olhavam para Daniel, que ainda parecia estar respirando. Já a garota me olhava, como se estivesse preocupando algo em mim, ou se perguntando como não podia haver um arranhão se quer em mim. Será que ele viu o urso? Só se ouvia murmúrios dos alunos atrás deles. A garota foi a primeira a falar.

_Senhora Paiva, precisamos chamar uma ambulância.

_Ah, é claro que sim. – disse ela saindo do transe, e continuou, dizendo ao zelador – João, por favor, use seu celular para ligar para a emergência... Enquanto converso com o Josué. – ela olhou para mim com um pouco de desconfiança! – Por favor, Bethânia, poderia nos acompanhar? Acredito que você possa nos ajudar a esclarecer os fatos. – ela disse a garota.

_Claro, diretora. – respondi

A senhora Paiva abriu caminho pelos alunos curiosos, enquanto o zelador ligava para a emergência. Todos nos olhavam.

_Ele só pode ser mutante, como poderia haver um urso no Brasil, ainda mais aqui no colégio?

Ouvi alguém dizer, mas a única atitude que tive foi olhar para a garota, ela estava atrás de mim, acreditava que ela seria minha única alternativa para se safar dessa situação. Ela pareceu me entender, pois balançou positivamente a cabeça. O olhar dela me confortou.

Passamos pela porta, e entramos no corredor das salas da ala B. No colégio havia quatro alas, cada uma representada pelas quatro primeiras letras do alfabeto. Todas as alas eram ligas a um corredor principal. No final desse corredor se encontrava a diretoria. No corredor por onde passávamos, havia mais alunos. Muito deles ainda não sabia o que tinha ocorrido, por isso perguntava a outros alunos. Passamos pelo corredor principal até chegar à diretoria. Entramos na sala da senhora Paiva.

_Sentem-se, por favor, vou pedir a Gisele para que nos traga água. – Gisele era a secretária da diretora. – Então, por onde começamos? – disse ela encarando a mim e a Bethânia.

_Eu começo! – falei, ao juntar o resto de coragem que me restava.

Após ter contado minha versão do acontecido, foi à vez de Bethânia. Ela viu quase tudo o que aconteceu, desde quando eu entrei no beco, perseguido por Daniel, até a hora em que o urso apareceu, o que a fez ir chamar a diretora. Ela tinha visto tudo no alto de uma árvore onde lia um livro. Ela disse que sempre fazia isso no intervalo. Com a versão dela, foi possível explicar a diretora que não era eu quem havia atacado o Daniel, e sim um urso que ninguém viu. A diretora Paiva acredita que o urso na verdade seja um mutante que tenha capacidade de se metamorfosear em um urso. Não me convenci disto. Primeiro porque não havia motivos para um mutante nos atacar – não um motivo lógico – e segundo, porque o urso não parecia pensar, ele agia como se fosse um urso qualquer, mas, essa era a única versão possível de se acreditar. E pensar que há apenas vinte anos atrás, tudo isso teria sido considerado loucura.

A diretora pediu para que no dia seguinte pela manhã, fossemos a delegacia prestar queixa a polícia, e disse que nos acompanharia. Ao sai da sala de diretora, vi que meus pais estavam sentados em uns bancos que havia na diretoria. Os cabelos cacheados de minha mãe estavam presos para trás, e seus grandes olhos transmitiam preocupação, tão quanto as do meu pai. Os dois estavam abraçados, aquela cena me confortou. Eles estavam em divergências nos últimos meses, até acreditava que não faltava muito para eles se separarem. Ao perceberem que eu havia saído da sala, os dois vieram me abraçar e perguntar se estava tudo bem comigo.

_Quero ir para casa. – respondi apenas.


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