A busca pela Estrela Gelada escrita por Mateus Kamui


Capítulo 6
6. A primeira aula e a primeira missão


Notas iniciais do capítulo

Capitulo meio grandinho e por isso demorou a sair, queria ter feito ele menor ou em duas partes, mas acabei deixando desse jeito por mais que esse não vá ser o tamanho usual dos capítulos, ou espero que não sejam, e espero que gostem :)



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6. A primeira aula e a primeira missão

Quando Rose acordou no outro dia sentiu sua cabeça doendo como se tivesse saído de uma terrível prova de exatas ou estivesse num daqueles dias quando na verdade só estava cheia de perguntas. Seus músculos latejavam, tremiam e formigavam como se tivesse feito horas de exercício pesado quando na verdade só havia dançado e ido dormir numa cama confortável após um banho quente. Sua vista doía como se ela olhasse diretamente para o sol no zênite quando na verdade só olhava pela luz que passava pela janela:

–Como está seu primeiro dia como ilder? – perguntou a elfa Lia se aproximando da jovem com um balde com água, uma toalha limpa e um prato com algumas frutas – Antes que comece com as perguntas já são nove e meia da manhã

–Tudo está girando – disse a garota se colocando sentada com cuidado na cama

–Normal, me surpreenderia se não estivesse

–É quase como se estivesse de volta a minha infância, mas bem pior, eu não tinha essas dores antes

–Antes era só sua mente tentando sobrepujar a falsa realidade que vivia, agora todo seu corpo tenta aceitar a nova realidade que se submeti, a energia feérica do seu atavismo está se manifestando e logo mais você não será mais tão humana quanto aparenta

–O que quer dizer?

–Talvez suas orelhas fiquem mais pontudas, sua visão noturna desperte, seu envelhecimento retarde, dons concedidos aos elfos, seus híbridos e a alguns gerações posteriores, mas em menores potencias, considerando que você tem graças ao atavismo um quarto de sangue feérico essas coisas podem se manifestar mais fortes do que imagina, ontem a noite foi só a primeira amostra

–Você disse talvez – ou Rose achou que ela tinha dito, seus ouvidos doíam com sons que ela não sabia da onde viam

–Sim, talvez, já disse que você é uma lenda viva, poucos registros falam sobre a vida daqueles que tem atavismo feérico e garanto que a gigantesca maioria não passa de fabulas

–Toda história tem um fundo de verdade

–Sim – disse Lia sorrindo com o comentário, um digno de seu pai – A questão é saber qual a verdade

A cabeça da ruiva voltou a latejar então qualquer discussão que pudesse ser gerada acabou por ali. A garota pegou o pano limpo e o molhou passando logo em seguida pela sua cabeça e por algumas partes do corpo. Aquilo não era para se tomar banho então ela deixou o pano molhado sobre a cabeça, bebeu algumas boas goladas d’água e comeu algumas frutas.

Não demorou para Lia começar a tirar suas roupas de linho branco, na noite anterior Rose tinha se surpreendido com o ato, mas aprendeu que os elfos tinham uma visão sexual, física e social diferente dos humanos e vários pontos. Banhos coletivos eram as coisas mais comuns ali e vislumbrar o corpo nu de alguém praticamente não significava nada para eles. O sexo era quase fútil para diversos membros daquele povo e não era raro mães darem aulas praticas para suas filhas de como se tocar, como tocar um homem, como agir na cama e as vezes pagavam homens de alto nível para desvirginá-las. Rose descobriu várias outras coisas, mas nada se mostrou mais significante do que a forma como eles viam a sexualidade ali.

Perguntando sobre como Ulf e Lia se conheceram a garota não ficou surpresa, parecia que o rapaz tinha sido aluno do pai da elfa, Galamion. A loira propositalmente contou o mínimo de detalhes possíveis sobre o passado dos dois, ela dizia que a ruiva ainda não era digna de saber tudo e mesmo que fosse aquela era uma história sobre duas pessoas e só deveria ser contada pelas duas pessoas juntas.

Agora as duas se banhavam igual como aconteceu noite passado, ambas dentro de uma espécie de banheira de madeira em forma circular e com um pouco mais de quatro metros de diâmetro e um metro e trinta de altura. Da primeira vez a ruiva não tomou banho muito confortavelmente, mas agora não se importou tanto em ficar na nua na frente da elfa e se banhar na sua própria velocidade no meio daquela água cheia de sais de banhos e pétalas de flores, faziam bem para o corpo e para o espírito dizia Lia:

–Por que Ulf saiu naquela hora ontem? – aquela pareceu a pergunta mais correta que Rose podia fazer naquele momento e aos poucos enquanto se lavava sentia suas dores passarem

–Não sei – disse Lia dando de ombros e passando uma esponja pelos seios por um tempo que a ruiva achou longo demais – Ele é mais atarefado do que pensa, talvez tenha ido fazer alguma missão real, ou apenas tenha se enjoado do local, ele não é muito sociável e extrovertido como já deve ter percebido

–Por que ele é assim? Deve ter algum motivo além de simples vontade de ser assim, ele não deve ter problemas com outras pessoas e não me parece alguém anti-social

–Não sei, é o jeito dele, eu não questiono e ele não fala – a elfa levou a esponja até suas partes baixas e começou a emitir pequenos gemidos que deixaram Rose vermelha de constrangimento e percebendo isso Lia se conteve, pelo menos por hora – Desculpe, as vezes esqueço que seu povo tem tabus diferentes do meu mesmo que coisas como zoofilia sejam vistas da mesma forma, no final você vai se acostumar

–Quem sabe – a garota queria dizer que não, mas se conteve pensando no ato da loira com mais cuidado e atenção do que tinha notado de antemão e então formulou mais uma pergunta que ela não entendia o motivo – Ulf já amou alguém?

–Já sim – a voz da elfa saiu tão estranha que a ruiva se arrependeu de ter falado aquilo – O nome dela era Lola, acho que é culpa dela ele ter a fama que tem hoje e de fazer alguns serviços nem um pouco puros por ai como você viu antes na feira

–Como assim?

–Foi ela que o desvirginou, que o ensinou boa parte do que sabe, que o colocou num mundo de luxuria e sexo quando ele completou seu décimo terceiro aniversario, lembro até hoje aquela data

–Vocês duas eram amigas ou coisa do gênero?

–Ela era a segunda mulher do meu pai, a única que ele amou após a minha mãe

–Desculpe – Rose se desculpou por algo que não compreendia, mas sabia que tinha cometido um grave erro perguntando aquilo

–Não se preocupe, não foi você que fugiu com um rapaz oito anos mais novo iludindo ele com promessas falsas que culminaram no fim que você ainda não pode saber por mais que esteja vivendo parte dele

–Não sou digna?

–Não ainda – disse a loira se retirando da banheira

Lentamente a elfa começou a limpar seu corpo naturalmente sem pêlos e a ruiva sentiu muito inveja dela por isso, depilação não era algo que a agradava, mas aos poucos percebia que não iria mais precisar disso. Ao sair da água Rose também percebeu que não tinha mais sardas acima dos seios, que agora estavam maiores e mais firmes, sua bunda também parecia ter aumentado e ter ficado mais empinada e sua pele mais clara e macia:

–Sua vagina parece mais rosada e seus pêlos pubianos mais claros – o comentário da elfa deixou Rose vermelha e ela se pegou observando sua genitália – Não tenha vergonha do seu corpo minha recente ilder, uma beleza como a sua bem utilizada pode ser mais mortal que qualquer arma ou discurso, lembre-se disso

A garota guardou aquele comentário consigo e começou a se vestir com o mesmo vestido da noite passada. A vestimenta não estava suja, de acordo com Lia aquele tecido se limpava sozinho com o passar de algumas horas por isso poderia ser reutilizado o quanto quisesse e não era uma roupa de festa, mas sim um simples vestido que ela poderia usar desde uma caminhada pelas feiras a um baile de gala como ontem.

Rose terminou de se vestir e sentou na cama comendo mais algumas frutas e observando a decoração do quarto com mais cuidado e continuava fascinada com o fato de alguém como Lia ter um arco e flecha na parede do quarto. A elfa havia dito que era um resquício da época em que os elfos ainda eram guerreiros e verdadeiros protetores da mãe-natureza, verdadeiros heróis e não sombras do que foram outrora.

Quando a dupla finalmente estava pronta e alimentada elas desceram a torre e cruzaram os corredores do castelo dessa vez para fora daquele enorme complexo de pedras. Não muito longe da entrada ambas chegaram a um enorme espaço aberto coberto de gramíneas e com uma longa colina a longe onde uma grande macieira repousava no topo toda solitária:

–Faça a pergunta que quer tanto fazer agora – disse Lia observando a colina

–Eu simplesmente não entendi ainda o porquê de vocês terem ido me salvar naquele momento e estarem fazendo tudo isso por alguém que nem conhecem – aquela pareceu a pergunta a fazer naquele momento e a garota parecia ter acertado em começar com aquilo

–O rei descobriu que a mercenária Hel tinha recebido uma missão bem cara, cara demais, e rapidamente agiu enviando uma equipe impedir a conclusão da missão, Ulf foi chamado por ser o único no momento que poderia enfrentar Hel caso fosse necessário confronto direto e eu fui chamada pelo rei ter achado que Ulf não saberia como lidar com o alvo da missão, ele estava certo

–Então devo a seu rei minha vida?

–Sim e a melhor forma de pagar por isso seria jurando fidelidade a ele, algo que seria muito bem visto por todos incluindo eu, o rei e Ulf, não necessariamente pelos mesmos motivos

–Ulf não é um humano comum não é?

–Não – a elfa suspirou ao sentir o vento tocando seu rosto e erguendo seu cabelo – Mas você ainda não é digna de saber mais do que isso, quando for ele próprio vai te falar isso

–Seria correto que pensar que o nível de alguém é proporcional ao seu número de títulos não é?

–Sim, normalmente é assim

–Mas até onde eu saiba você só tem um titulo e é mais importante do que eu devo imaginar, filha de Galamion – a elfa encarou a humana com um sorriso no rosto, ela tinha achado a pupila perfeita

–Sim é verdade, mas alguns títulos têm mais poder do que outros e o meu é bem poderoso, filha de Galamion, a única filha do irmão mais novo do rei, ou seja, sou sobrinha do rei e filha daquele que é dito um dos maiores sábios entre os feéricos

–Seu pai deve ter sido um grande homem

–Sim ele foi, mas sempre dizia que seus maiores feitos foram ser irmão de quem era, de ter sido marido de quem foi, de ter tido a filha que teve e de ter ensinado o pupilo que ensinou, sua humildade era uma de suas maiores virtudes juntos de sua calma e discernimento

–O pupilo dele...

–Ulf – a garota completou antes que da garota sem nem entender ao certo o motivo – Lembro quando conheci ele e meu pai o escolheu como pupilo, eram bons tempos aqueles, sem grandes preocupações e missões

–Ele era diferente naquela época não era?

–Se era – novamente a elfa suspira e então quando Rose nota ambas estão sob a macieira no topo da colina e então se sentam – Naquela época ele só queria saber de aprender o Nome das coisas e de tocar o alaúde como apenas Wiil Ian de Avalon conseguia tocar, naquele momento ele já tinha o titulo de domador de wargs, seu primeiro titulo e o suficiente para ele brincar com minha cara

–Como assim brincar com a sua cara? Ele não parece de brincadeiras

–Já disse que ele era diferente antes, principalmente porque foi antes do ocorrido com Lola, naquela época ele brincava com a minha cara pelo fato deu só ser conhecida como a filha de Galamion e nada mais enquanto ele já tinha seu próprio titulo, eu o odiava naquela época pelas brincadeiras que fazia e o amava pelo jeito de ser, das suas composições e do seu sorriso

–Então você era apaixonada por ele?

–Desde que me lembro – a elfa suspirou mais uma vez, aquele estava sendo um dia muito diferente na vida dela com as lembranças vindo a tona – Ele pegava o alaúde de meu pai e vinha para cá toda a manhã para tocar até cansar ou meu pai vir pegá-lo para as aulas, lembro até hoje deu e de outras meninas com sei lá quantas décadas a mais de vida ficarmos babando por um rapaz tão novo e habilidoso que já compunha desde novo, era um sonho das meninas ter uma canção escrita e cantada por ele sobre uma de nós

–Mas ai veio Lola – disse a garota olhando os olhos da loira que naquele momento lhe pareciam muito distantes e tristes

–Sim ai veio Lola e o estragou se assim posso dizer, não posso negar que adoro a forma como ele usa a língua e os dedos, de como se move e outras coisas que se contar vão deixá-la mais vermelha do que já esta ficando

Lia riu enquanto Rose tentava fazer sua vergonha passar e então a garota observou o sol por entre as folhas da macieira:

–O que são esses nomes que você tanto fala? – perguntou enfim a ruiva se virando para aquela que já considerava sua mestra – Ulf tem como titulo algo sobre isso não é?

–Ele é aquele que sabe o Nome do fogo, algo muito raro mesmo entre os melhores nomeadores, dizem que apenas um entre os Mestres do Ferro, o maior entre os piromantes e ele ainda sabem esse Nome

–Por que o fogo teria um nome?

–Por que não teria? – a elfa riu lembrando de quando fez a mesma pergunta a seu pai quando ainda tinha trinta anos e o quanto aquela discussão havia durado – Tudo tem um nome incluindo eu, você, o rei, Ulf, essa macieira, o sol, o céu, as pedras, os insetos e tudo mais, alguns nomes são mais fáceis de aprender do que outros, mas tudo tem um nome secreto

–E por que saber o nome de algo pode ser importante?

–Se você sabe o Nome de algo você pode então chamá-la, mandar nele

–Está falando que você pode dar uma ordem ao fogo e ele vai obedecer?

–Exatamente, se eu soubesse o nome da água eu poderia dizer para ela congelar mesmo estando no deserto e isso aconteceria, eu diria para a pedra virar pó com uma simples brisa e assim ele faria, diria a um verme para matar um dragão e ele assim tentaria mesmo que morresse, nomes tem poder por isso você nunca deve dizer seu nome a ninguém

–Por isso eles perguntam como você gostaria de ser chamado e títulos são tão importantes

–Sim, exatamente por isso, os nomes são mais importantes do que pensa e a habilidade de nomear é considerava uma das maiores, meu pai era o nomeador-mor do reino quando vivo por saber o nome de várias coisas, entre elas o nome do fogo, o nome do ferro, o nome de vários monstros e feiticeiros além de várias outras coisas

–Se eu soubesse o nome da terra eu poderia manipular o ferro já que o ferro é um mineral e vem da terra? – a elfa sorriu ainda mais e mordeu uma maçã que iria cair próxima dela, ela realmente tinha achado a pupila perfeita

–Quanto menos genérico um nome melhor, você pode aprender o nome de uma lâmina, o nome do metal do qual ela é feito, ou o metal da onde ela veio ou o nome da terra, quando menos genérico melhor e mais difícil, mas o que aconteceria se você soubesse o nome da terra, mas o metal da arma viesse das estrelas?

–Então seria inútil, mas o nome do ferro seria útil mesmo sendo mais genérico

–Exato – a loira se permitiu sorrir ainda mais e olhou para o céu, seu pai e algum devia estar sorrindo também de felicidade pela filha ter achado alguém como a ruiva – As vezes nem sempre o nome menos genérico é o mais poderoso

–Se eu fizesse uma liga metálica o nome dos metais participantes dela surtiriam efeito?

–Parcialmente, ele ainda surtiria efeito, mas seria bem mais fraco do que sabendo o nome da liga

–Mesmo o nome de uma liga sendo mais generalizado do que o nome de seus componentes – novamente a elfa se permitiu sorrir, ela estava quase com a mente aberta o suficiente para aprender o que Lia queria ensiná-la naquele dia e então mordeu mais uma vez a maçã

–Quero que entenda antes de continuarmos que o dom de Nomear e o dom da Arte são bem diferentes

–Arte?

–O que vocês humanos chamam de magia nós feéricos chamamos de Arte, a arte maior entre todas elas

–É como se ela fosse algo como musica ou poesia?

–Só que muito mais difícil de aprender e de dominar, mas é quase isso

–Então também tem regras, nomenclaturas e métodos?

–Sim e eles são bem chatos de se aprender no começo, mas quando se familiarizar se tornara bem fácil, mas claro que só aprenderá se assim desejar

–Em Roma faça como os romanos, não é o que dizem?

–Não sei, é? – Rose tinha se esquecido que não estava na Terra e talvez nem todos os provérbios ali ditos pudessem ser entendidos

–É meio que um provérbio ou sei lá o que, quer dizer que em um local faça como as pessoas de lá

–Frase esperta – a elfa deu mais uma mordida na maçã – E muito verdadeira dependendo do local em que está, então aprenderá a Arte?

–Sim, já estou aqui não é mesmo? Já vi tanta coisa e algo me diz que não vou voltar a minha vida normal então por que não?

–Não deve aprender apenas por simplesmente não ter nada melhor a fazer, Rose

–Desculpe se fiz soar dessa forma Lia – a garota se desculpou sinceramente e a loira percebeu isso e a perdoou silenciosamente

–Não vai ser algo fácil de aprender, talvez você nem aprenda

–É assim tão difícil?

–A Arte é como uma arte, existem aqueles que tem habilidade nata para aquilo, aqueles que aprendem praticando exaustivamente e aqueles que nunca vão aprender

–Você é boa com a arte?

–Eu sou algo que você chamaria de maga – a elfa ergue o dedo direito e o rodou pelo ar e então uma pequena luz azul na ponta de seu dedo acompanhou seu movimento deixando um caminho cintilante no ar – Por mais que esteja longe dos melhores, até Hel é atualmente melhor do que eu, a técnica de teletransporte dela e a habilidade de fusão de um ser animado com um inanimado são absurdamente elevadas, mas ela os domina bem

Rose lembrou de quando conheceu Hel e viu seu chicote que tinha a cabeça de uma serpente e parecia ter vontade própria e então as lembranças da morte de sua mãe vieram a sua cabeça, mas ela se manteve calma:

–Quero que junte as mãos assim – disse a elfa mostrando a garota que juntasse suas mãos formando uma espécie de concha

Lia pegou uma folha de macieira que estava no chão e caminhou até a ruiva colocando a folha dentro da concha que ela tinha formado:

–Quero que faça essa folha sair da sua mão apenas usando apenas sua vontade

–Como eu faço isso? – Rose ficou olhando para a folha ali parada separada das ventanias do lado de fora e de qualquer outra coisa

–Eu já disse, use sua vontade e nada mais, deseja que ela saia

–Então devo dar uma ordem a ela sem saber seu nome? – a elfa sorriu pelo raciocínio rápido, mas equivocado

–O que eu quero que você faça é bem diferente de Nomear, eu quero que você deseje que a folha saia daí e que ela saia, não que você a ordene fazer isso

–Como se eu estivesse usando telecinese?

–Quase isso, telecinese é um dom muito raro mesmo em Arcádia, não quero que use sua mente para mover a folha, quero que sua vontade faça isso

–Como?

–Descubra, tem até o horário do almoço e falta menos do que você imagina até lá, caso consiga me chame – a elfa sabia que no fundo ela não conseguiria, não era algo tão simples assim de se fazer principalmente sem o conselho correto que a loira fazia questão de não dar naquele momento

Não demorou mais do que alguns minutos para a ruiva ficar sozinha na colina com apenas o vento e a macieira fazendo lhe companhia. A garota pensou em talvez usar o vento ao seu favor, mas se ela não conseguia fazer uma folha levitar duvidava que pudesse fazer o vento ergue-la, mas algo dentro dela dizia que seu pensamente estava mais correto do que o anterior e que ela deveria tentar manipular o vento e não a folha.

Rose começou a observar o movimento do vento, a forma como ele movimentava as folhas, seus cabelos e a grama e então começou a se concentrar naquilo e começou a pensar que não havia sua mão entre a folha e o mundo exterior, que o vento poderia chegar ali e mover a folha. Mas novamente nada aconteceu:

–O que pensa estar fazendo? – perguntou uma sombra surgindo a poucos metros de distancia da garota e ela reconheceu o encapuzado

–Lia me disse para tentar mover a folha usando minha vontade – disse a ruiva se levantando – Ai vi que era inútil então tentei outra coisa, tentei fazer o vento entrar na minha mão e mover a folha por mim, mas inútil ainda

–Aquela elfa estúpida disse para você mover isso usando a sua vontade?

–Exatamente – antes que Rose percebesse Ulf já estava a menos de um metro dela e ela podia sentir seus olhos vermelhos sobre ela – Ela disse que iria me ensinar a arte e tinha que começar fazendo a folha levitar até o horário do almoço

–Vim buscá-la exatamente porque está atrasada a quase vinte minutos para o almoço Rose – novamente ela sentiu o escárnio na voz dele ao dizer o nome pelo qual ela escolheu ser chamada – Desista logo dessa brincadeira e vamos, você jamais vai conseguir fazer a folha levitar assim, você ainda não está apta para a Arte, não acordou sua Vontade

–Minha vontade?

O encapuzado suspirou e então com um rápido movimento estava a poucos centímetros da ruiva e pegou com cama suas mãos com as dele:

–Aquela elfa estúpida disse para você usar sua vontade não foi? Que deveria desejar e não ordenar que a folha voasse – a garota só concordou com a cabeça enquanto encarava aqueles olhos que lembravam ela de sua pedrardente no seu anel – Você jamais faria isso sem antes acordar sua Vontade e ser capaz de manipular o Fluxo

–Como é? Fluxo? Vontade? Alguém pode me explicar as coisas direito

–É isso que estou tentando fazer Rose – novamente a voz saiu com escárnio, mas ela não ligou quando percebeu o rosto dele quase colado ao dela, com o calor de sua pele chegando a ela junto do hálito quente dele – Lia provável-mente brincaria com você mais um pouco antes de te ensinar sobre o Fluxo, mas o rei está impaciente e sei que só sairá daqui quando fizer isso então vou apressar as coisas

Antes que a ruiva pudesse perceber algo as mãos do moreno pareceram ficar mais quentes e o olhar dele ainda mais severo. O vento começou a correr mais rápido e quando Rose percebeu a folha voava próxima dos seus olhos. A garota recuou assustada e largou as mãos do encapuzado mesmo não querendo aquilo:

–O que você fez? – perguntou ela tocando a folha que estava levitando em pleno ar

–Manipulei o Fluxo com a minha Vontade e desejei que ele se contrapusesse a gravidade erguendo a folha e assim aconteceu

–O que é esse fluxo que você falou?

–Não se preocupe, você vai vê-lo agora

A folha rapidamente voou na direção da testa de Rose e a acertou com a força de uma pedrada jogando-a para trás. A cabeça da jovem girou e quando ela deu por si Ulf a erguia pelo braço e diversas ondas douradas pareciam oscilar ao seu redor, um brilho dourado fraco que ela mal conseguia distinguir, mas parecia estar em todo o local:

–Isso que vê algo é o Fluxo – disse com calma o moreno guiando a garota lentamente rumo ao castelo – Para se ver o fluxo é necessário tê-lo sentido antes, e só quando se vê ele pode-se manipulá-lo, Lia a explicará melhor sobre isso no futuro, um futuro que chegará mais rápido do que ela gostaria

–Por que ela estava me escondendo isso?

–Porque ela queria brincar com você Rose – o rosto do rapaz esbanjava uma feição como se ele questionasse a estupidez da pergunta, como se a resposta fosse obvia até para uma criança – Aquela elfa estúpida não passa de uma criança que cresceu demais, mas será a melhor professora que pode desejar, isso lhe garanto, o pai dela provavelmente teria pedido para você erguer a macieira inteira e faria você despertasse sobre o Fluxo por conta própria

–Por que eu só o vejo agora? – a garota observou que aos poucos as ondas pareciam enfraquecer, por mais que ela ainda as sentisse ao seu redor

–Porque só agora você foi acertado diretamente pelo Fluxo, é necessário ser tocado por ele para poder vê-lo, em alguns casos raros há pessoas já nascem tocados por ele e assim podem manipulá-lo desde pequeno, mas normalmente não e por isso você deve ser acertado por algum ataque com a utilização da Arte deixando uma marca que chamamos corriqueiramente de estigma, assim você passará a vê-lo, o seu foi o ataque da folha – Rose passou a mão na testa e não notou ferimento algum por mais que sua testa estivesse vermelha – Não se preocupe, vai passar logo e em troca agora que vê o Fluxo você pode usar a sua Vontade para manipulá-lo e só com ele você pode usar a Arte

–A sua cicatriz no rosto é o seu estigma? – a garota observou melhor aquele corte que percorria o rosto do rapaz

–Não, eu sou um dos casos raros Rose – o rapaz suspirou pesado como se lembrasse de uma má lembrança – Você nasceu podendo ver a realidade desde pequena, com o Atavismo Feérico, uma bênção muitos dirão, mas você sabe como isso foi mais uma maldição não é?

A ruiva lembrou de toda sua infância, das coisas que passou, dos terrores que presenciou ainda muito pequena sem nem compreender porque via aquilo e porque ninguém parecia ver também abandonando-a num solitário e desconhecido mundo onde a realidade parecia enlouquecer:

–Eu nasci tocado pelo Fluxo, eu podia fazer coisas que ninguém podia, minha mãe dizia que eu era amaldiçoado, que era tudo culpa do pai que nunca conheci, uma maldição de deus pelo pecado que ela cometeu – por um momento a garota acreditava que os olhos dele fossem soltar alguma lágrima, mas seu rosto continuou na mesma feição seria – Eu, uma pobre criança, que nem entendia o que fazia era açoitado todos os dias por uma maluca que me dizia ser o filho de Satã, o Anticristo que veio trazer o apocalipse, quando na verdade eu só era fruto de uma vagabunda que traiu o marido com outro que ela conheceu num bar qualquer, ela trai o marido e colocava a culpa em mim, dizia que eu tinha destruído o casamento dela, que eu tinha destruído a vida dela quando tudo foi culpa do fato dela não saber ser fiel, dela não passar de uma vadia religiosa demais para ver que seu filho não era um demônio, mas sim apenas alguém especial demais para o mundo em que vivia

–Como você conheceu Galamion? – a garota cortou a fala do rapaz, ela sentia uma profunda raiva surgindo, algo próximo de um demônio emergindo

–Você ainda não merece saber – Ulf disse rispidamente e então Rose escutou o abrir de uma enorme porta de madeira, eles estavam dentro do castelo e ela nem se deu conta disso – Um dia talvez, mas não hoje

O moreno caminhou com calma até seu lugar, eles estavam no mesmo salão onde antes ocorreu o baile, mas agora o local parecia absurdamente vazio onde apenas seis pessoas contando com ela estavam sentadas comendo:

–Seja bem vinda Rose – disse o rei Auberon se erguendo de seu trono e erguendo um corno dourado com adornos em prata

–Muito obrigada vossa excelência, é um prazer revê-lo – disse a garota fazendo uma reverencia e observando que dessa vez o local a direita do rei estava ocupado por uma mulher de pele verde com cabelos castanhos e olhos azuis

–Então esta é a garota que todos comentam – disse a mulher se erguendo de seu trono e observando a ruiva de cima a baixo – Sou Titânia, rainha das fadas e de Arcádia, esposa de Auberon e mãe de seu primogênito

Rose fez uma reverencia a rainha e observou seus profundos olhos azuis, a mulher não parecia ter gostado dela:

–Ela me lembra aquele maldito – disse a rainha com calma e se sentando

–Quem vossa majestade? – perguntou a garota observando a rainha e sentindo seu olhar furioso em sua direção – Se não for incomodo perguntar

–Meu irmão do meio – disse o rei suspirando e tomando um gole do que quer que havia em seu corno – Feänor, dito por muitos como o maior guerreiro de Arcádia

–Até que o matei – disse com calma Ulf bebendo em seu corno negro algo de tonalidade escura – Ele era um bastardo maldito que só queria o fim de sua própria família, um homem capaz de matar seu próprio irmão por ganância, ele não é alguém que deva comprar a senhorita, minha rainha – Rose sentiu alguma coisa no peito pela frase do moreno, mas não soube identificar o que exatamente

–Só disse que eram parecidos, domador de Wargs, apenas falei a verdade, ou vai me dizer que não notou aqueles olhos verdes? Os mesmo dele, os olhos do único da família que não tinha o violeta real, os olhos do traidor, só digo o que os meus olhos vêem e nada mais

–Isso é inegável Titânia – disse o rei com calma – Mas não significa que deva ser algo dito aos quatro ventos, não é nada agradável ser comparado a meu irmão seja no que for

–Se diz isso meu rei então que assim seja e acredito que o motivo dela estar aqui não seja apenas uma simples apresentação

–Claro que não – disse o rei se erguendo novamente e sorrindo para a jovem – Vim cobrar sua lealdade a meu nome, a meu reino e a minha família, Rose

A garota observou Lia que sorria, Devro que fechou a cara e Ulf que permanecia com a feição inalterada. Então a garota observou a rainha que estava também inalterada e então encarou o rei, ela já esperava aquilo e sabia obviamente o que dizer, só havia uma resposta para aquela pergunta:

–Sim meu senhor, eu juro lealdade ao senhor, seu reino e sua família – disse a garota fazendo uma nova reverencia e então Auberon sorriu ainda mais

–Ótimo, ótimo – o elfo bateu palmas de felicidade enquanto novos pratos cheios de comida eram postos na mesa por empregados – E como prova de sua lealdade cumprira uma missão para mim obviamente?

–Como? – Lia se ergueu de sua cadeira visivelmente surpresa e Rose percebeu no mesmo momento que aquilo não era bom

–Ora Filha de Galamion ela me deu sua palavra e agora eu a coloca a prova, não mandarei a garota a uma missão suicida e ainda mais sozinha, vou mandar você que é sua mestra e protetora junto de meu maior campeão para uma simples investigação que não deve demorar mais do que um dia tirando o tempo da viagem

–Você vai mandá-la naquela missão? – Rose percebeu que Ulf estava visivelmente surpreso

–Sim, ela é bem simples não concorda?

–Sim, mas ainda assim acredito ser de extrema importância para alguém como ela ir, na verdade contestaria até chamar a filha de Galamion

A ruiva procurava nos olhos de sua mestra alguma dica sobre o que acontecia, mas não encontrou nada e então observou o rei que a encarava de volta:

–Ora não vejo problema algum nisso Ulf, ela estará em boas mãos com você lá e sei que ela não atrapalhara o seu ritmo

–Poderia saber sobre o que conversam vossa excelência? – perguntou Rose

–A claro, mil perdoes – Auberon sorriu e bebeu mais um gole de sua bebida – Vou mandá-la em busca de um item que dizem ter achado nas redondezas de Avalon a pouco tempo, um item muito raro e de extrema importância por isso falhar não é uma opção minha adorável Rose

–O que é esse item rei? – a garota estava curiosa até demais sobre a missão e não entendia o porquê

–Uma estrela cadente – disse Ulf – uma estrela que caiu do firmamento, uma filha renegada do deus do céu, ou como os Mestres do Ferro gostam de chamá-la, uma estrela de fogo gelado


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Notas finais do capítulo

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