A busca pela Estrela Gelada escrita por Mateus Kamui


Capítulo 4
4. A Corte


Notas iniciais do capítulo

Mais um capitulo fresquinho para todos agora no horário do almoço porque nada melhor do que comer lendo um bom capitulo ;) espero que gostem



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4. A corte

–Aonde nossa convidada está, Ulf? – perguntou Auberon tomando mais um gole de seu vinho de morango azul no seu corno branco adornado com ouro

–Lia, filha de Galamion, está preparando-a para a corte meu senhor – disse o encapuzado tomando um longo gole de uísque de Northudrank, dito o melhor do mundo com seu cinqüenta por cento de álcool, num corno negro extraído por ele próprio da cabeça de um Goeban, um tipo de touro negro com quatro chifres e o triplo do tamanho e da força de um touro comum, que atormentava uma pequena vila

–Por que meus convidados sempre demoram tanto para se arrumar? – perguntou o rei observando seus convidados dançando e rindo das bobagens do bobo que fazia seu espetáculo

–Porque eles precisam estar o melhor possível para a corte, querido rei – disse Ulf observando com cuidado todos os convidados, ele estava sentado a duas cadeiras de distancia da cadeira do rei, naquela noite o trono da rainha estava vazio, mas mesmo assim ninguém ousaria se sentar ali, aquele era o trono dela e só dela

–As vezes me esqueço desse bando de víboras – disse o rei bebendo mais um gole, alguém poderia confundir a sinceridade do rei com sua bebedeira, mas ele sempre era sincero não importava a situação e por isso o encapuzado gostava tanto dele e se tornou seu servo

–Mas elas nunca se esquecem do senhor então é bom ter cuidado, o esquecimento é perigoso – o jovem lembrou de seu passado ao ouvir sua própria fala e tomou mais um gole do uísque – Como vai seu filho?

Ulf tinha que ter certeza do humor do príncipe que naquele momento soltava um estridente riso de sua própria piada e bebia um longo gole de vinho servido na boca de uma cortesã tolamente apaixonada por ele. Devro e seu pai eram absurdamente parecidos com seus cabelos platinados, peles claras e olhos violeta típicos da realeza, mas diferente do pai o jovem príncipe era arrogante e odiava todas as espécies não-feéricas e quando provocado podia ser uma criatura bem instável para não dizer perigoso:

–Ele vai bem, desde que voltou da caçada está bem melhor – o rei bebeu mais um gole após terminar de falar e respirou fundo

–Desculpe ter faltado – disse o encapuzado bebendo mais um gole também

–Não se desculpe, você estava em missão esta manhã, ninguém poderia forçá-lo a ir sendo que eu mesmo o mandei nesta missão

–Sim senhor, mas ainda assim peço desculpas, soube que a caçada foi proveitosa e que finalmente capturaram o Erimantuno, o pior javali pelo que diziam

–Sim conseguimos, na verdade Devro conseguiu, ele desferiu a maior parte dos ataques e ainda deu o golpe final na fera, um adversário a altura da Corte, mas sei que se estivesse lá não teria demorado nem mesmo um terço do tempo

–O senhor me enche de felicidade com tais elogios

–Todos merecidos, você não é meu maior campeão a toa, Ulf, domador de wargs

–Se o senhor assim diz quem sou eu para negar? – o rapaz fez uma leve reverencia e bebeu mais um gole de uísque acompanhado de um gole de vinho por parte do rei

–A garota é como você diz ser? – perguntou Auberon observando o teto do salão que era adorando por diversos desenhos envolvendo a luta para a unificação do reino onde governava

–Sim, meu palpite estava correto, ela sofre de atavismo e a filha de Galamion confirmou, isso pode ser um problema

–Para quem?

–Para ela mesma, o atavismo feérico é uma lenda por um bom motivo e alguns gostariam que continuassem sendo apenas isso e algo me diz que o príncipe está entre eles

–Não se preocupe com meu filho, eu sei mantê-lo sob controle

Ulf queria contestar, mas jamais criticaria a criação de um pai então apenas ficou em silêncio tomando mais do seu uísque e observando os convidados, principalmente o príncipe Devro, alguém com tanto poder e com um nome recheado de graças, mas que teimava em ser apenas um moleque arrogante e ganancioso.

Estava próximo da meia noite, um pouco mais de meia hora para a virada do dia. Pessoas dançavam ainda mais, mas agora de maneira mais desajeitada, os músicos tocavam diversas sinfonias ao mesmo tempo, bebidas eram servidas aos galões por garçons que lutavam contra o cansaço, o bobo da corte fazia ainda mais graças e todos. Não demorou mais do que alguns segundos naquela situação para que os portões fossem abertos e duas figuras entrassem no salão.

Uma delas era a típica elfa de contos de fadas com seus longos cabelos dourados presos em um penteado complexo, as orelhas longas e o corpo esguio. Ela se vestia com um vestido longo e verde claro feito de linho e bordado com diversas pequenas pedras verdes formando o desenho de uma árvore. O sapato alto tinha a ponta fina e era todo feito do casco de algum tipo de inseto. Todos os elfos graças a seus costumes normalmente vestiam apenas roupas de linho e utilizavam calçados de cascos ou não utilizam, mas mesmo com essa combinação já esperada ela estava absurdamente deslumbrante e poucos foram aqueles que esconderam sua admiração ao verem ela entrar.

Mas se antes alguém conseguiu esconder o fascínio pela elfa ninguém tinha conseguido se conter ao ver aquela jovem, nova e belíssima criatura que adentrava o salão logo atrás dela.

A garota vestia um simples vestido branco de seda e tinha um cinto de ouro na cintura. Nos braços tinha apenas uma pulseira de prata e seu anel de ouro branco, ambos no braço direito. No pescoço ela trazia seu colar prateado e calçava um sapato prateado um pouco alto. Era um fato que ela se vestia da maneira mais simples que talvez uma mulher já tivesse se vestido ao entrar naquele salão, mas também era um fato que ela era uma das mais belas ao entrar ali e a simplicidade de sua roupa parecia combinar absurdamente com sua beleza apenas a realçando ainda mais.

Todos os homens no salão se virão de pé para observar melhor a nova convidada e Lia não conseguiu controlar a inveja que sentia da garota e o orgulho por ter escolhido sabiamente as vestimentas. A dupla andava calmamente por entre os observadores que aos poucos tomavam golpes de suas mulheres e cortesãs invejosas. Ambas estavam deslumbrantes a seu modo, mas mesmo assim a novata naquele local ainda era a predileta de todos, principalmente do rei, seu filho e seu campeão:

–Sejam bem vindas minhas jovens – disse o rei Auberon se erguendo de seu trono feito dos galhos de uma frondosa árvore que tinha galhos tão grandes que desciam até o chão formando uma cadeira de galhos – Como gostariam de ser chamadas?

–Lia, filha de Galamion, a seu dispor meu rei – disse a elfa fazendo uma reverencia e então o rei sorriu para ela

–Seja bem vinda de volta, filha de Galamion, e você minha jovem?

–Rose, rei, apenas Rose – a ruiva ainda se lembrava das palavras da loira no quarto, ela não passava de uma childer ainda, sem honrarias, sem família nobre, a única coisa que tinha para apresentar era seu nome e nada mais

–Seja bem vinda a minha corte, Rose – se perguntassem a todos os ali presentes todos diriam com certeza que só viram o rei sorrir daquela forma no dia em que encontrou sua futura primeira rainha, no dia do seu primeiro casamento, quando seu primogênito nasceu e naquela noite

A ruiva sorriu de volta para o rei e antes que percebesse vários garçons a cercavam com bebidas e comidas dos mais diversos tipos e tamanhos. Assim que pegou algo que parecia creme numa torrada os garçons se dispersaram e diversos nobres começaram a se aproximar, incluindo o príncipe, mas nenhum deles chegou próximo o suficiente, ao lado da garota surgiu o maior entre os guerreiros do reino, Ulf:

–Muito me agradaria se sentasse próximo de mim esta noite – disse o rei oferecendo o braço para a jovem

–Muito me agrada aceitar seu convite, majestade – Rose sorriu e acompanhou o rei até um trono, o segundo trono a esquerda do rei, o primeiro era para o príncipe e apenas para ele

Auberon colocou a garota com cuidado na enorme cadeira de carvalho negro, todas as quatro cadeiras mais próximas do rei eram feitas desse material, madeira raríssima e utilizado apenas para fazer moveis reais. O rei andou até seu lugar e encheu seu corno com mais vinho de morango azul e quando a garota percebeu um cálice de cobre adornado com desenhos de flores na borda lhe foi entregue cheio de vinho de morango azul acompanhado de mais uma torrada recheada daquele creme que ela tinha adorado tanto.

Rose comeu com calma sua torrada e antes que tomasse um gole do vinho percebeu o braço do príncipe passar pelos seus ombros e puxá-la para mais perto dele. Rose odiava caras como aquele, arrogantes e cheios de si e percebeu isso logo ao ver o rosto sorridente e corado de álcool do rapaz:

–De onde vem ser de tamanha beleza? – perguntou Devro se aproximando ainda mais da ruiva até ela sentir seu hálito com do vinho no seu cálice

–De uma terra muito distante, príncipe – disse Rose lembrando do aviso que recebera de Lia, apenas o rei devia saber que ela era uma humana vinda da Terra e ainda mais dona de Atavismo feérico

–Abençoada seja a terra que gera ser tão belo

A garota pensou que talvez até o príncipe pudesse ser alguém agradável de se estar com seu belo físico e rosto além de sua bela voz, mas naquele momento seu bafo fedendo a vinho e seu aperto cada vez mais intenso e indesejado só ajudava a ruiva a detestá-lo ainda mais. Ela queria dispensá-lo de uma vez, mas sabia que não tinha sangue nobre ou honraria nenhuma, no seu nível social atual não poderia fazer nada nem mesmo com o menor dos nobres quanto mais com o príncipe primogênito, apenas alguém num altíssimo patamar poderia tirá-la dali e ela acreditava que não havia ninguém além do rei com nível tão alto e naquele momento Auberon dançava ao som de uma adorável música com Lia e não olhava para ela como fez todos os minutos anteriores:

–Que tal deixá-la em paz, príncipe? – Rose virou para ver de quem viera a voz, mas já sabia que aquele tom calmo e aquela voz grossa só podia ser do encapuzado

–Isso foi uma ordem, domador de wargs? – o príncipe se levantou de sua cadeira visivelmente irritado, mas pelo menos tinha tirado o braço dela

–Não, príncipe, foi um pedido e agradeço por tê-lo acatado calmamente como alguém de seu nível deve fazer – Devro olhou ao seu redor e viu que seu pai e alguns nobres o observavam, ele estava na corda bamba e não tinha percebido

–Não foi nada, adorado Ulf – disse o príncipe fazendo uma leve careta e grunhindo bem baixo uma ofensa

Quando Rose percebeu uma mão se oferecia a sua frente e ela percebeu que era do encapuzado. A garota não perdeu tempo e pegou sua mão sendo levada com calma para o centro do salão. A música mudou e se tornou ainda mais lenta, o relógio gigante que havia num dos cantos do salão marcava poucos instantes para a meia-noite, pessoas pararam ao redor do casal mantendo uma distancia razoável e isso incluía Auberon, seu filho e Lia:

–Perdão pela ação do príncipe, mas agradeça por ter sido só isso e nada pior – disse o encapuzado no ouvido da garota e ela sentiu seu hálito quente e com um cheiro agradável que ela não reconheceu do que era, um estranho arrepio correu pela sua espinha

–Não precisa pedir desculpas, a culpa não foi sua, na verdade eu devia agradecê-lo pelo que fez

–Não foi nada, Rose – a garota não deixou de perceber o tom de escárnio dele ao dizer seu nome, mas não conseguiu sentir raiva dele por mais que tenha batido de leve no peito dele que ela percebeu ser duro e quente como aos poucos ela percebia ser o resto do seu corpo enquanto dançavam calmamente

–Por que esconde seu rosto sob o capuz? – ela perguntou vendo dos brilhos avermelhados pela escuridão do capuz

–Não tenho nada a esconder, não tenho culpa se seus olhos não podem ver além da escuridão – a garota tirou uma das mãos do corpo dele e tocou na ponta do capuz colocando-o para trás e então seus olhos verdes se encontraram com aqueles que tinham a íris vermelha

Sob a luz do local seus olhos pareciam dois orbes flamejantes, sua pele era branca, mas não como a dos elfos ou a dela, mas de um branco bronzeado e castigado pelo sol. Longas madeixas negras brotavam de seu couro cabeludo e uma cicatriz ia desde um pouco abaixo do seu olho direto até o final do rosto e aquilo tudo dava a seu rosto uma aparência muito mais velha do que realmente deveria ter.

Uma grave badalada cortou o salão e então Rose percebeu que os olhos vermelhos do não-mais-encapuzado encaravam seus olhos:

–Meia noite – ele disse com sua calma habitual – Feliz Aniversário, Rose

E pela primeira vez a garota não sentiu escárnio na voz grossa dele ao dizer seu nome e quase como num passe de mágica pó dourado começou a cair do céu e começou a cobrir o corpo da garota. Antes que a ruiva pudesse perceber o pó parecia dançar ao redor e então ela estava presa dentro de uma dança dourada.


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Notas finais do capítulo

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