A vertigem passara completamente. Eu agora olhava seu rosto, que trazia o mesmo olhar de ternura de sempre, pude reconhecê-lo.

-Sakura... – ainda assim minha voz saiu lenta, devagar demais. Eu queria conversar com ela, saber o que ela tinha pra me contar sobre os últimos anos de sua vida, mas um sono maluco tomava conta de mim, lentamente, sem que eu quisesse.

-Deixe assim, Sasuke. - ela colocou um pano bastante dobrado perto do tronco da arvore e me fez deitar, usando-o como travesseiro. – você vai dormir muito pelo jeito. – um sorriso brincalhão apareceu em seu rosto. – há quanto tempo você não dorme bem, hem?

Bem, eu podia dizer que há dois longos anos e meio, desde que me juntei ao Orochimaru, deixando-a, mas meu sono me impediu de dizer o que quer que fosse.

-Não sei... – pronunciei, deixando os olhos se fecharem pesadamente.

Quando os abri novamente, a primeira coisa que vi foi que Sakura estava sentada ao meu lado. A cabeça pendia pra baixo, em um cochilo profundo.

Olhei pra cima. A pouca parte do céu que eu podia ver, graças às folhas das arvores, estava azul-claro.

Um dia bonito que surgia pra mim.

Sentei-me e, indeciso, passei os braços em torno dela, deitando-a onde eu dormia antes.

Meus cuidados para que ela permanecesse em seu sono profundo e calmo deram certo. Ela suspirou e virou pro lado, ainda dormindo.

Sentei-me onde antes ela estava e senti um sorriso aparecem em minha face. Algo que ela tinha, que eu não sabia o que era, me fazia me sentir em paz.

 Fazia-me sentir meus sentidos de volta, quando sua voz mergulhava pelos meus ouvidos. Ou quando ela me olhava, fazendo eu me perder na minha consciência; e quando seu toque, estranhamente, queimava em minha pele, fazendo arder.

O que era aquilo, afinal? O que era aquilo que eu tinha prometido contar a ela quando estivesse melhor?

Eu queria contar, mas minha consciência não tinha noção do que era.

Ela abriu os olhos lentamente. Quase pulou em vez de se sentar, quando me viu do seu lado.

Ri.

-O que foi? – eu disse.

Ela corou.

-Nada... se sente melhor, Sasuke-kun? – ela estendeu a mão para tocar minha testa, mas eu peguei em sua mão e deslizei pelo meu rosto, cheirando-a, querendo gravar o aroma maravilhoso que ela tinha, se aquele fosse o fim pra mim.

Ainda que eu dissesse o que eu não tinha idéia naquele momento, se ela me rejeitasse, eu queria ter seu cheiro comigo ate o final.

Eu realmente não tinha idéia do que era aquilo, muito menos de como falar. Mas eu tinha impulsos. E meu plano era deixá-los agir.

Senti sua mão se enrijecer quando a passei pelo mau rosto.  Seria aquilo? Ela me rejeitaria? Eu não agüentaria, mas daria um fim em mim assim que pudesse, quando ela me deixasse.

Suspirei profundamente. Se o que eu fazia era absurdo ou insano, já não me interessava.

-Você me curou, obrigada. – eu não deixava de olhá-la nem por um momento. Ainda que eu conseguisse, não queria.

Ela ficava mais vermelha a cada instante.

Apertei com as pontas dos dedos suas bochechas bem de leve.

-Pare de ficar vermelha, Sakura. Converse comigo. Naruto está aqui?

Ela se entristeceu e abaixou a cabeça.

-Não... ele... não quis vir.

Não negarei que foi um peso ouvir aquilo, ainda que eu pudesse prever.

-Ele está certo... – murmurei, claro, sem deixar de olhá-la – ele não pode perder o tempo precioso dele comigo. Mas você...

Ela me olhou de novo, acanhada.

-Veio atrás de mim,.... sozinha, Sakura?

Ela assentiu com a cabeça.

-E... por que?

Aquela era a pergunta mais dolorosa que eu faria. Se não fosse a mais dolorosa, seria uma delas.

Ela não respondeu, atônita.

-Eu... eu te magoei, Sakura. Por que esse sacrifício? Por que a mim?

Ela ainda me encarava, incrédula.

-Eu não tenho nada de especial, Sakura. Não tenho nada. Tantas pessoas querendo proteger você! Lee, sabe que ele é forte, não é? Ele morreria por você. Naruto... ele é... bem... o mais fiel possível com os outros, sabe como  ele é com você também. E ainda assim... deixá-los e vir atrás de mim! Eu não entendo...

Ela olhava, querendo explicar, sem achar palavras ou coragem.

-Ainda assim.. se não fosse você.. eu não estaria aqui. Mais uma vez... Sakura, mais uma vez... você me salvou.

Eu me aproximei dela. Queria ouvir ainda que fosse qualquer som, qualquer um, seria o suficiente pra mim.

Segurei o rosto dela em minhas mãos.

-E agora, Sakura?? – eu ainda a olhava, querendo entender – e o que eu faço com isso? O que? De novo você me salvando, de novo eu devendo mais um pedaço da minha vida inútil pra você. Me diga, Sakura, o que eu faço agora?

Ela segurou meus pulsos, o desespero em seu rosto.

-Sasuke-kun, volte! Volte pra Konoha comigo! – de repente, ela corou – quero dizer – olhou pra baixo por um momento, depois voltou a olhar pra mim – você não precisa estar comigo, mas volte! Naruto não deixou de vir porque te odeia, ele só não acreditava mais que você pudesse querer voltar! Mas eu sempre acreditei!

-Nem eu acreditaria nisso – sorri pra ela – mas o que eu posso fazer? Isso é loucura, Sakura! Como me pede pra voltar e não estar com você? É absurdo. Eu só vou se você for. – eu ainda segurava seu rosto em minhas mãos, e senti sua pele gelar.

-Sakura? – eu me preocupei.

Ela não tinha reação nenhuma.

Até que me abraçou, como se sua vida dependesse daquilo. Eu a apertei contra mim e cheirei seus cabelos.

Daí em diante tudo ficou claro em minha mente. Desde o inicio a resposta estava comigo, mas apenas Sakura poderia fazê-la vir a tona em mim.

Na verdade, Karin foi a única pessoa que chegou perto disso. Naquele momento onde eu pensei:

Flashback on

Por que alguém queria me ajudar? Essa não era a parte da historia onde eu ficava sozinho e procuraria o melhor caminho para a minha morte?? Por que Karin, ou qualquer um, interferiria nisso?

Então um pensamento passou rapidamente pela minha cabeça:

A menos que...

Flashback off

Naquele momento eu não tinha me atrevido a pensar numa conclusão pra frase, até porque não fazia sentido pra mim.

Mas agora era bem claro: Sakura me amava.

E isso era recíproco, eu também a amava.

Talvez eu nem mesmo soubesse a intensidade disso, mas não iria desistir nem por um segundo daquilo.

Ela apertou o abraço.

-Sasuke-kun, está pronto pra voltar? Nós teremos alguns problemas em Konoha com a Tsunade-sama, e com os caçadores ANBU, mas...

Então eu segurei seu rosto a uma pequena distancia do meu.

-Nenhum problema vai ser grande o suficiente pra me tirar de perto de você. Nunca mais.

Experimentei tocar seus lábios com os meus e vi que isso era muito bom.

Um dia bonito à minha frente?

Não.

Uma vida perfeita de agora em diante.

O vingador estava salvo de seu destino sombrio pela doce Pétala que ele sempre teve por perto, e nunca enxergou.

Mas agora ele estava seguro em si mesmo. Pra sempre.

F I M.