Estava voltando pra casa na esperança de que Patrick já estivesse acordado, do contrário deixaria que ele relaxasse um pouco.

Me sentia mal por ele, quando olhei para seu rosto antes de sair de casa vi que estava roxo e inchado. Seus olhos estavam maiores do que os de um daqueles bichos de pelúcia com olhos esbugalhados. Se bem que não eram literalmente os olhos mas, ah vocês entenderam!

A praça e minha casa eram separadas por uma rua. Estava nevando bastante aquele ponto, eu não via nada. Atravessava devagar, bem devagar. Podia ser perigoso correr, a rua era grande.

Quase no meio da rua, eu comecei a chorar. Minha vida não é nada normal, eu amo tanto ele. Minhas lágrimas impediam ainda mais minha visão, fora o fato de que meus olhos também estavam bem inchados.

De repente, um carro veio correndo na minha direção. Pude ver que ele tentou parar mas a neve não deixou.

O carro me acertou em cheio, pensei numa única pessoa antes de apagar.

Eu ouvia vozes ao meu redor mas estava difícil abrir os olhos, gente chorando e gritando. Ouvi uma voz feminina familiar, parecia com a de Jullie que dizia chorosa: "Ela vai ficar bem, vai ficar tudo bem."

Me veio á cabeça que talvez eu adore hospitais. Cirurgia no útero, quase- coma, enfarte e agora atropelamento.

Talvez eu estivesse sedada mas era difícil dizer. Vagas memórias de faróis me atingindo numa tentativa falha de parar, neve por todos os lados e sirenes de ambulância atormentavam minha mente.

Eu morri? Provavelmente não.

Meus olhos foram se abrindo devagar, me dando a visão de um quarto branco, parecia um hospital. Tudo estava se "desembaçando", consegui ver que tinha alguém no quarto mas não conseguia ver quem era.

Depois de alguns segundos consegui abrir meus olhos por completo e olhei ao redor. Avistei meu namorado sentado na cadeira ao lado da cama, segurando minha mão. Seus olhos estavam ainda mais inchados, estava chorando e suas lágrimas escorriam pela face quase que sem controle. Quando me viu abriu um sorriso enorme.

– Vick! Caramba você quase me matou.- Ele disse ainda sorrindo e me olhando, mas com um certo medo de me tocar. Ele tentou me abraçar, mas quase não encostou em mim.

– Você não precisa ficar com medo de me tocar.- Disse feliz por vê-lo ali.

– É que você deve estar bem machucada, não quero piorar a situação.

– Eu to bem, sério. Ai!- Senti meu corpo latejar.

– Que foi? Tudo bem?

– Meu corpo ta todo dolorido.

– Você foi atropelada, era de se esperar. Deve estar provavelmente toda roxa e inchada.

– Ai…- Tentei me ajeitar na cama.

– Pelo menos você não quebrou nada.

– É. Nós precisamos conversar.

– Eu sei, mas não agora. Você tem que descansar.

– Eu descansei muito, não quero mais adiar isso.

– Sei disso, só que eu não to pronto.

– Patrick, nós não estávamos juntos e você apenas beijou a Jullie. Mas isso me magoou muito, porque eu sempre sofri por você mas nunca tentei me consolar com algum amigo seu. Sei que pode parecer besteira, é mesmo, mas é a besteira que mais me machucou e se vai ser assim toda vez que ficarmos juntos então nós não podemos ficar mais juntos.

– Vick por favor não…- Ele disse chorando.

– Acabou, Patrick. Desculpa, eu te amo, mas não da mais.

– Não. Por favor.

– Desculpa.

Ele estava chorando, ele já chorou demais. Eu não queria chorar, pra mim já deu. Eu já chorei demais, não quero que o mesmo aconteça com ele. Tarde demais, já estava chorando.

– Eu vou embora, vou deixar você descansar.- Ele disse saindo do quarto.

Patric parou na porta, chorando. Nada de choro, nada de choro. Isso não ajuda nada. Porque eu fiz isso? Cometi um erro?